tag:blogger.com,1999:blog-3554052009589816612023-11-16T01:27:40.618-05:00Meus contos, minhas contasA IDÉIA DESTE BLOG É A DE BRINDAR AO PUBLICO QUE ME LÊ DE UM CONTO SEMANAL PARA PODER DESFRUTAR NO FIM DE SEMANA E AO LONGO DA SEMANA SEGUINTE
ESPERO QUE VOCÊS GOSTEM E COMENTEM, POIS, EXISTE LUGAR PARA TAL, BEM NO FINAL DO TEXTO.
VAMOS VER ATÉ ONDE A INSPIRAÇÃO ME LEVA...Friends of Hallandale Beach Clubhttp://www.blogger.com/profile/10565044858800447212noreply@blogger.comBlogger18125tag:blogger.com,1999:blog-355405200958981661.post-82924336261431905892017-08-15T12:29:00.001-04:002017-08-17T22:57:37.604-04:00O GARANHÃO DO RIACHUELO X LURDINHA BATALHÃO<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="-webkit-text-stroke-width: initial;">O cara foi por muito tempo conhecido nas rodas masculinas do Rio de Janeiro, como o garanhão do Riachuelo. Não que tivesse nascido ou sido criado no bairro - de mesmo nome - na cidade, que um dia foi maravilhosa. A razão de tão sutil apelido, foi por ele ter devastado a população feminina do Oiapoque ao Chui, como a marinha brasileira o fizera na batalha de mesmo nome, no rio Paraná, com os paraguaios. Ele comeu a tudo e a todas. Sem perdão.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Seu nome. Roberto Bueno. Sua altura 1,90. Louro de olhos azuis, calçava 44 e segundo as más linguas, era portador de um aparelhamento sexual inacreditável. Pois como dizia o Lelé, seu melhor amigo e chefe de seu fã clube, sua devastação nunca fora por causa de seus olhos azuis...</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Pois bem, um dia o garanhão de Riachuelo, conheceu na gafieria do Águia no Vidigal, uma moreninha, de olhos verdes, pequena mas muito jeitosa, que atendia pela alcunha de Lurdinha Batalhão. Nada poderia ser somado a aquela paraguaia ou mesmo subtraido, pois, era simplesmente uma obra de arte. Tudo nos seus perfeitos guaranis nos lugares.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Bebeto sentiu que ela era a bola da vez, e embora advertido pelos amigos que Lurdinha, só se deitava com quem queria e como queria, não se fez de regoda, soltou aquela sua sempre bem recebida tirada: <i>Deus deve ter perdido a forma</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Bebeto, não havia perdido tempo. Porém, Lurdinha, embora tenha soltado um sorriso daqueles de fazer padre viras vedete de rebolado, voltou-se para as amigas e continuou a sambar sem se importar com ele. Bebeto acabara de pela primeira vez ser rejeitado. E o pior, na frente de seus amigos. A moreninha, não lhe dera a minima bola. O tratara como uma coisa qualquer. Quem morou no Rio sabe que mesmo que um individuo coma, numa mesma tarde, em sequência 99 mulheres e venha a brochar na centézima, aquela grande platéia que freneticamente o aplaudia. imediatamente puxa um coro unissono, de: brocha, brocha, brocha!</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">O tempo passou e o garanhão do Riachuelo não se deu por vencido. Estava para nascer uma mulher que fosse capaz de rejeita-lo, ainda mais uma reconhecida como Lurinha Batalhão, que já havia passado o rolo, de São Conrado a Copacabana. E os amigos como sempre o atiçando, afinal a roda de apostas comia solta: come ou não come.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Até que um dia, ela pareceu ceder. Foram a um motel na Avenida Niemayer e quando Lurdinha se pos nua, Bebeto sentiu, o porque ela era reconhecida como uma musa. Mas quando foi a sua vez de tirar a roupa e seu aparelhamento sexual se fez presente, já pronto para o uso e abuso, Lurdinha chiou: <i>com este ai</i> - e apontou acintosamente para o dito cujo - <i>só casando</i>. Recolheu suas roupas e se mandou.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">A coisa mecheu tanto com Bebeto que em menos de um mês estava ele de terno, gravata e cercado pelos amigos, na Igrejinha da Gávea, esperando pela entrada da noiva, a Lurdinha. Casaram e por quase três meses foram felizes. Aqueles que apostaram no primeiro pulo de cerca de Bebeto, nos primeiros seis meses de casamento, começaram a ficar apreenssivos. O garanhão sussegara. Seria isto possível? Mas foi só a loura do 302 dar mole, que o garanhão voltou a lida e depois dela via a mulata do 604 e aquela nordestina do 802. Lurdinha, que todas as tardes invariavelmente malhava das 15 aos 19 horas, não seria capaz de sacar nada, na visão do garanhão do Riachuelo.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Mas Lurdinha, que de boba nada tinha, ao cruzar com a loura do 302 pela primeira vez no elevador, sentiu cheiro de sangue no ar. E descobriu. Largou o Bebeto sem direito a defesa ou mera discução. Que aquele galo fosse cantar em outro galinheiro. Não era mulher de posar de corna, principalmente para os vizinhos. Colocou um advogado no caso e pediu por seu divórcio. </span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">E Bebeto sentiu por pouco tempo a falta da mulher. Para ser mais preciso 48 horas. Foi aquele banho de banheira, que delimitou o divisor de águas. Trouxe para si a certeza da liberdade qie necessitava.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ele estava nu, andando pelo apartamento coisa que ficara proibida desde a entrada de Lurdinha em sua parada. Aquela sensação de liberdade de fazer o que quizesse, por ser ele perdida depois de Lurdinha e agora capaz de retornar com a saida de cena de Lurdinha. Imediatamente assumiu-se como dono de seu próprio nariz. E isto o fez sentir’se maior, livre, pronto para qualquer outra. Podia deixar a tampa do vaso sanitário em pé. Fumar na hora que desse na telha em seu quarto. Deixar a televisão acesa e ver futebol a hora que assim o desejasse. Mesmo na hora da novela. Não precisar fazer a cama, Ouvir a música que queria, no volume que decidisse. E o principal, não tinha mais que conter seus peidos e só poder salta-los no banheiro com a porta fechada. Era novamente um homem livre!</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Que a Lurdinha e aquele seu advogado de divórcio, morador do 501 fossem catar coquinhos em Caruaru. Ele vivera a maior parte de sua vida sózinha e acabara de decidir que viveria o resto da mesma forma, pois, se existe uma coisa que o homem preza, é a sua liberdade. Mas até que sua honra, ou paixão futebolistica.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Lembrou que Lurdinha não o deixava tomar banho de banheira, pois, a bagunça era imensa. Então ele resolveu encher a banheira, e nela mergulhou, quando a água se mostrou morna e gostosa. Como havia derrubado uma garrafa inteira de espuma, quando sentou no interior da banheira, foi água para todos os lados. Olhou a bagunça, soltou uma gostosa gargalhada e soltou um sonoro foda-se! A empregada amanhã secaria o banheiro.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Acabado o longo banho de imersão, foi molhado mesmo pegar a sua toalha que esquecera sobre a cama. Enxugou-se e jogou a toalha no chão. Era um brado de independência. A empregada se encarregaria de limpar no dia seguinte. Ele voltara a ser um homem livre.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Pegou o maço de cigarro e se recusou ir para a varanda fumar lá fora. Uma das imposições de Lurdinha, a falecida, foi quando a campaínha soou estridente. Ele odiava aquele barulho. A trocaria, o quanto antes.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Foi até a porta e nem de dignou a olhar pelo olho mágico de sua porta. A escancarou e tomou um susto era Lurdinha, com roupa de ginática e com a cara de poucos amigos.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">- Lurdinha?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">- Sim. Pensava ser sua mãe?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">- Mas o que...</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ela não deixou que ele terminasse a pergunta e caminhando até o banheiro, constatou o lago que se formara no mesmo.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">- O que está acontecendo aqui?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">- Acabo de tomar um banho de quase meia hora. daqueles que você se recusava a me deixar tomar. Algum problema, querida?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ela o olhou com aquele olhar próprio do Lula para com o juiz Sergio Moro e complementou: - Aqui não vejo nenhum problema, mas você acaba de alagar o 501. E isto é um problema que vai lhe sair bastante caro.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">- 501? Mas este não é o apartamento daquele seu advogadozinho de merda?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">- Sim o 501 é agora na verdade o NOSSO apartamento, seu corno. Ou vocè acha que eu, quando casada com você, precisava malhar cinco horas por dia, para manter este corpinho?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">E assim a nação guarani finalmente teve a sua revanche-</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<br />
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
Friends of Hallandale Beach Clubhttp://www.blogger.com/profile/10565044858800447212noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-355405200958981661.post-64788882257424095672017-06-17T18:29:00.000-04:002017-06-17T18:29:58.697-04:00AS CONFISSÕES<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; line-height: normal;">
<span style="-webkit-font-kerning: none;"><span style="font-size: x-large;">AS CONFISSÕES</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Houve um tempo, que eles eram vistos na faculdade como os três mosqueteiros. Onde estava um, estavam todos! Adalgiza cursava a cadeira de psicologia, Martha a de engenharia e Pedro a de arquitetura. Mas nos intervalos entre as aulas, invariavelmente se encontravam no campus da faculdade. Tinham até um local favorito, à sombra daquela grande árvore que devia ser a mais velha ali plantada. Era uma amizade que dificilmente seria destruída. Afinal quando se é jovem tudo parece eterno e indistrutivel.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Porisso, para Adalgiza era deveras estranho, estarem os três ali reunidos, passados tantos anos, em seu consultório, para um consulta profissional. Martha e Pedro, estavam tendo problemas conjugais e cabia a ela ouvi-los e tentar decifrar o que estava realmente acontecendo com aquele que era considerado pela imprensa carioca como o casal 20.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Depois de perguntar como ia indo o Juquinha, seu filho, Pedro finalmente quebrou o silêncio sobre a questão daquele encontro, que já estava deixando a todos constrangidos. <i>Sei que o problema, está sendo causado por mim, mas acredito que com a sua ajuda, poderemos se não saná-lo, pelo menos minimizá-lo</i>. <i>Nós nos conhecemos a anos e creio que ninguém pode ter mais chances de decifrar o que está acontecendo</i> Martha soltou um som que demonstrava, que ela não estava de acordo. Adalgiza não sabia se pela escolha de seu nome, ou apenas pela impossibilidade do problema de ser sanado ou minimizado. Tudo parecia nebulozo entre aquele casaç que na cociedade parecia ter uma união da mil e uma maravilhas.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Adalgiza olhou para ela, procurando não demonstrar sua desaprovação pelo expressado, porém, não se conteve e perguntou: <i>algo que está em desacordo, Martha</i>? A resposta foi seca e direta: <i>acho que isto não nos levará a lugar algum</i>. <i>Uma total perda de tempo</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Uma linha havia sido traçada. Pedro queria ultrapassá-la, Martha não. Mas a ela cabia apenas ouvir. Porém, precintia os indícios de um grande impasse, que na maioria das vezes, separa um casamento considerado feliz. Para Adalgiza, tratava-se claramente de um pulo de cerca. Pedro, havia traido Martha, com outra mulher e esta dificilmente o perdoaria. Martha tinha escrupulos, embora fosse aparentemente para muitos - e certamente para a profissional - uma porra louca e Pedro sempre fora um galinha. E ademais, Martha detinha a grana da familia, e nunca fora, desde os tempos da faculdade de dividir <i>sandwich</i>, quanto mais marido.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Na faculdade fora sempre assim. Adalgiza era aquela que pensava antes de falar. Martha a que falava sem pensar. E Pedro era o recluso que pouco pensava, mas que agia sem falar. Na época achavam que se completavam. Mas na juventude acha-se de tudi. o que fazer? O que lhe sobrava de beleza fisica, faltava-lhe de massa cefálica. Na verdade era um um trio que se completava, numa época de descobertas e conquistas que eram parte do cotidiano.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Adalgiza se apaixonara por Pedro, ao primeiro olhar. Mas foi Martha, com seu jeito brejeiro e ousado, e por que não dizer com a força financeira de sua família, que havia conquistado, definitivamente, o coração de Pedro. Uma história que a humanidade vê repetida, enumeras vezes.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Mas Pedro, sempre teve em Adalgiza, seu porto seguro. Era nela que sempre despejava seus problemas. E Martha sentiu sempre o desafio que Adalgiza podia se constituir na mente de Pedro. Eram interesses distintos, mas que se atraiam como polos opostos. Depois de casada abandonou a convivência com a amiga e confidente e o galinha aceitou.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Vou tentar colocar, de uma forma sucinta, como a coisa começou</i>. Demonstrou novamente a iniciativa, Pedro, que para Adalgiza, de sucinto nada tinha. Sempre fora um cara prolixo, dono dificuldades intransponiveis de colocar em ordem tanto idéias quanto mais soluções. Era lindo, consagrado em sua profissão, mas prolixo. Sempre o foi, e sempre o seria, ao ver da psicóloga A não ser que tivesse sido sujeito a uma recente lobotomia.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">***********************************************************</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Para Pedro, estar em Buenos Aires, como já formado e casado, era um “must”. Desde menino, quando a primeira vez colocou seus pés na capital Argentina, ainda acompanhado de seus pais, que se sentiu parte daquela atmosfera. Era um ambiente sofisticado, com requinte europeu e um povo que além de politizado, sabia onde queria chegar. Estar de volta, quando seus sonhos pareciam estar em plena realização, era algo que o deixava com o coração acelerado. Tanto assim que não viu, a principio, Dolores lhe comentar algo.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Estavam esperando as malas em Ezeiza, e a mulher a seu lado, que era de uma beleza invulgar, havia lhe dito algo. Pedro a olhou. Era extraordinária. Do tipo que teria que ser esculpida ou retratada a óleo, para fazer juz a tamanha beleza. Ele recém chegado do Brasil. Ela da Espanha, via Brasil. Não haviam se visto no avião. Tinha certeza disto, pois, um rosto como estes, nunca passaria a desapercebido a ele. Talvez, só havia notado naquele momento, pelo simples fato, de viajarem em classes diferentes. Ele na “business” e ela provavelmente na turista.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Dolores, como posteriormente apresentou-se tinha uma beleza distinta da de Martha, sua esposa. Uma era loura, brejeira e avassaladora a outra morena com mechas e simplesmente perfeita em todos os seus traços, inclusive na forma de atrair a atenção de quem quer que fosse. E sabia explorar seu corpo, com trejeitos faciais, um incrivel par de olhos negros, e um vestuário digno de um arquiteto, coisa que Pedro, não tardou a descobrir, no taxi, que os levava a cidade, e que resolveram dividir, para não perder o fio da meada, iniciada naquela bendita e demorada espera das malas. Recém formada e de familia de posses, ela imediatamente passou a ser o presente que Pedro sempre pedira a Papai Noel.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Buenos Aires era realmente a sua cidade. Sentiu isto aos nove anos de idade, quando pela primeira vez ali pisou e agora tinha certeza aos vinte e oito, depois de mais três confirmações em visitas anteriores. Mas ele estava perdidamente interessado em Dolares. Que Buenos Aires se danasse! Ela ia para Palermo Chico, onde disse morar, e ele iria para onde ela o levasse. Ao inferno se necessário fosse. Todavia, tinha reservas mo Plaza na Recoleta, onde iria se hospedar o tempo necessário até conquistar aquela mulher. Era caminho e o prazer da compania os levou a seguirem juntos e marcarem um jantar ainda para aquela noite.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Sorte que havia tirado a aliança, colocada no bolso e esquecido de colocá-la de volta no dedo, após lavar as sua mãos no banheiro do avião. Ela, a aliança, estava frouxa em seu dedo, e em casa havia caido na pia do banheiro. Por pouco não escorreu pelo ralo. Mas depois de Dolores, ela achava que a aliança, permaneceria no bolso de seu colete, por algum tempo. A vida toda se necessário...</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Em sua suite no Plaza, depois de telefonar para Martha e informá-la que havia chegado bem, e que a noite voltaria a telefonar, logo após um jantar que teria com aqueles que o haviam contratado, como de hábito, desfez sua mala e colocou toda a sua roupa nos lugares de direito. Mania que sempre teve e que irritava a Martha, a imperatriz da desorganização.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Pedro, achava que coisas belas, deviam ser prezervadas, desde as ruinas gregas as suas camisas e meias Bugati. Mas não pode cumprir a sua promessa, pois, o jantar com Dolores se alongou e o resto da noite foi perpetuada em sua suite. Apenas um detalhe lhe chamou a atenção. Ela estava de cabelo ainda molhado, mas usava a mesma roupa do avião.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Pedro ignorou as três chamadas feitas por sua mulher a seu celular e as duas para o quarto do hotel. No dia seguinte arrumaria um motivo. Pois o motivo maior estava agora acima de si, perfazendo um sexo estonteante.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Foi uma noite de prazer, mas acima de tudo divertida. Dolores e ele, pareciam almas gêmeas. Gostavam das mesmas coisas e curtiam viver o momento sem se preocupar o que pudesse estar a sua volta. Aceitou o convite de jantar no dia seguinte em sua casa, pois, tinha certeza, que aquilo não seria um caso passageiro. Mas foi, e por dois bons motivos.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Dolores tinha pais maravilhosos e duas irmãs menores, respectivamente de 24 e 23 anos. A produção havia sido em serie, já que Dolores tinha 25 anos, incompletos, segundo ela própria.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Conhecendo sua mãe, era fácil de se entender o porque daquela escadinha. Olga Imaculada, fazendo juz a seu nome, deveria ter sido, quando jovem, de um beleza nobre e pura. Ao contrário de seu marido Stefan, um homem tosco, de origem dinamarquesa, porém afável e do tipo de bem com a vida. Tinha um sorriso bonachão e parecia ter sido uma pessoa simples. Era forte para burro e Pedro imediatamente admitiu que ir as vias de fato com ele, seria um êrro, pois, acima de tudo era faixa preta de jiu’jitsu, Graças ao bom Deus, e para o bem da humanidade, os gens de Olga Imaculada tinham sido mais preponderantes que o de Stefan.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Olga - a filha de 24 quatro anos - era calada, não tão linda como suas duas irmãs, mas igualmente bela. Tinha uma presença marcante, daquelas que deixa qualquer homem interessado. E agradava a cada minuto passado pela firmeza de suas atitudes. Lembrava a ele, uma colega de faculdade que muito prezara, Adalgiza. Mercedes, a caçula, era espevitada e cheia de vida. Com aquele seu sorriso, e aquelas duas covinhas formadas pelo mesmo em sua face, conseguiria o que quizesse, até do Papa.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Mas dois motivos, fizeram daquele relacionamento que Pedro achava que poderia se manter por algum tempo, mais do que passageiro, fora relâmpago. Dolores era noiva, e Juan - que chegou logo a seguir - tinha cara de ser um bom rapaz. Seu aperto de mão foi extremamente forte, como que ele quizesse com ele, delimitar o seu perimetro de ação, que tinha como centro gravitacional, sua noiva. </span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">O segundo motivo foi Olga, ou melhor algo que Dolores disse a ele na varanda do apartamento de seus pais, aproveitando a ida de Juan ao banheiro e que fez para Pedro todo o sentido. <i>Pedro desculpe não avisa-lo de Juan, mas o que passou passou. Foi divertido, pois, teve inicio, meio e espero que um fim, Leve em consideração que foi uma despedida de solteira</i>. Como Pedro estampasse em sua face uma expressão de total estupefação, ela complementou; <i>não faça esta cara de espanto, pois, para quem na fila do check in portava uma aliança na mão esquerda, e na espera das malas nenhuma, você estava afim de uma aventura. A teve. Espero que tenha se divertido, e tente se contentar com isto. Andiamo baby!</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Abandonado a seguir na varanda, ele concluiu imediatamente que Dolores estava certa. Talvez não fosse a frouxidão da aliança em seu dedo, a verdadeira razão de não estar usando sua aliança, Gostava de Martha, de todo o pacote que vinha com ela, mas nunca tivera convicção daquele casamento. Mas Mercedes, não o deixou prosseguir em seu pensamento: <i>estou no terceiro ano de arquitetura. Dolores se formou este ano, e estamos pensando em montar um escritório. Fale-me de sua profissão</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ele olhou para aquele prototipo de mulher linda e sorriu. Não havia muito a se falar. Era mesmo arquiteto, mas esta não era na realidade, a sua primeira função. A primazia recaia no fato de ser marido de uma mulher muito rica que tinha contatos extraordinários em virtude de ser filha, de um casal abastado, que representou a um certo tempo, a união de dois únicos herdeiros, de duas, das mais importantes fortunas do Rio de Janeiro. E isto imediaramente selou a sua vida profissional. Uma chuva de projetos caiu em seu colo, sem que ele precisasse lutar pelos mesmos. Ele mesmo não sabia como explicar para aquela pirralha sua história, outrossim, ao invéz de responder ao que a ele fora perguntado, fez a sua própria pergunta: <i>e Olga, o que faz</i>? A resposta foi instantenea: <i>psicologia, ela é o lado racional desta familia</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ambos riram, mas Pedro sentiu de pronto, que de alguma forma tinha que se aproximar de Olga. O destino o colocara ali, por caminhos tortuosos, para ele a conhecer. Afinal, desde o primeiro minuto foi ela que o atraíu, como Adalgiza o fizera anos atrás na faculdade. Ao voltarem a sala, para a sua tristeza, foi informado, que Olga havia se recolhido, enquanto o casal Dolores e Juan trocavam caricias no sofá, a chefe da familia desaparecida na cozinha e Stefan se encontrava a minutos de encapotar. Hora de levantar acampamento.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Mais algumas ligeiras palavras trocadas com Stefan e Olga Imaculada, - a mãe - e um convite, com aceite e garantia de sua presença, no comparecimento, para um fim de semana no haras da familia, Pedro se despediu, sendo beijado pelas três mulheres remanescentes, na sala.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">***********************************************************</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Mas Olga - a filha - não saiu de sua cabeça, e nem tampouco o deixou adormecer logo que chegou a sua suite. Parecia ser uma mulher intrigante e que não fora muito com a sua cara. Pois, foi a única, na mesa do jantar, a não rir com suas piadas E não dirigir-lhe uma palavra sequer. O desafio que gostava de enfrentar.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Desceu encima da hora. Stefan havia avisado na véspera que um carro o estaria esperando na entrada do hotel, as oito em ponto. Eram 8.10, o que para um carioca nunca foi um atraso, pois, a outra parte nunca chegaria também na hora. Mas isto que é usual no Rio de Janeiro, não funciona em Buenos Aires. E Pedro, ficou ainda mais sem graça, ao descobrir que era Olga - a filha - que estava por trás do volante e com cara de poucos amigos. Seria pelo atraso ou por ter que servir de motorista para ele, especificamente? <i>Desculpe-me Olga, mas a portaria esqueceu de me acordar</i>, A resposta foi laconica: <i>estamos atrasados</i>. Hora de permanecer calado</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Se Olga - a filha - era como dizia Mercedes, o lado racional da familia, isto, de maneira alguma, era refletido em sua forma de dirigir. Era uma louca desvairada. Não conseguia se manter em uma mesma pista e queria ultrapassar a tudo e a todos. Provavelmente a reeincarnação de Juan Manuel Fangio. Sem dizer uma palavra, colocou aos dois na estrada, em coisa de minutos, sem que deixa-lo em momento algum, tranquilo. Pedro se sentiu na obrigação de iniciar um dialogo, que de alguma forma amenizasse aquela situação, possivelmente criada por seu atraso.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Você é rapida no volante</i>. Sem olhar para ele, ela respondeu: <i>vocês cariocas não deviam se espantar com o fato</i>. Em uma frase ela provou não só conhecer o Rio, como a mentalidade de um carioca ao volante. Pedro sorriu, mas nem isto trouxe Olga para o convívio dos mortais.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Olga, desculpe pelo atraso, Não foi minha intensão</i>. Ela novamente sem olhar para ele, perguntou a queima roupa: <i>e também não foi sua intenção dormir com minha irmã no dia anterior ao jantar em nossa casa</i>? Pedro arregalou seus olhos. Aquela menina era direta demais. Ia ao ponto sem subterfujos. Como Adalgiza, na época da faculdade, que fez semelhante pergunta a ele, quando bebado tentou em uma oportunidade levá-la para cama, no dia seguinte de ter dormido com Martha. Até hoje suas palavras reverberavam em sua mente: <i>Martha não está saciando seus desejos na cama</i>?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Existem horas que ficar calado lhe trás maiores ganhos do que se tentar dialogar. Ele perdera a oportunidade, Todavia, iriam ser mais duas horas de estrada, segundo pesquisara e manter-se aquele clima, seria ao ver de Pedro, insuportável. Quanto a Olga, tinha certeza que ela o deixaria com prazer no primeiro posto de abastecimento.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Tratou de tentar colocar em sua voz uma certa firmeza e perguntou: <i>o que a faz a levar a fazer este comentário</i>? Sua resposta foi instantanea, só que desta vez, acompanhada de um olhar penetrante: <i>conheço os cariocas e mais do que isto minha irmã</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Estava na cara que algum carioca já estivera naquela horta e os resultados não haviam sido agradáveis. A hortaliça fora degustada e depois abandonada. Mas era sua obrigação contornar aquela ilha de ódio. Pensou um pouco e chegou a conclusão que era hora de se tentar reverter a situação: <i>nem todos os cariocas são farinha de um mesmo saco</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">A curva abrupta que Olga fez para não perder o posto de gasolina, foi um misto de necessidade e ira. Ela, realmente, havia acusado o golpe. E parecia que sua racionalidade chegara ao limite. E ele seria certamente abandonado no posto</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Por acaso é psicologo</i>? Arguiu ela ao estacionar o carro junto da bomba, encarando-o de uma forma que lhe lembrou Adalgiza. Livrando-se de seu cinto para sair do carro e caminhar até a bomba, Pedro não perdeu a oportunidade de retrucar: <i>não sou psicologo, mas reconheço esta sua reação. Qual a octanagem que usa</i>? <i>Faço questão de colocar a gasolina</i>. </span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Volte para o carro, aqui temos quem ponha a gasolina. Isyo é um pais civilizado</i>. Ela tinha sido mais uma vez laconica, mas Pedro pode sentir, pela primeira vez, que não havia tanta rancor em sua voz. Até ela cientificara.se da belicosa forma que estava tratando uma visita, que era inoportuna, mas não deixava de ser uma visita.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Um silêncio foi mantido com o enchimento do tanque. <i>Quer beber algo</i>? Perguntou ela, após Pedro fazer questão de pagar pela gasolina. <i>Não mas se você quizer irei buscar</i>. Pela primeira vez ela fez menção a deixar seus lábios formarem um sorriso, mas imediatamente retraiu-se. Ele era o inimigo e ela de maneira alguma seria a caça. Não podia, em momento algum, esquecer deste fato.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">De volta a estrada, Pedro se sentiu mais a vontade e achou que ser honesto haveria de amenizar em muito aquele contato. Desde o jantar que sentiu algo de diferente em relação a ela, e sabia que de alguma forma ela o evitara. Algo inicialmente lhe fez crer que fosse um medo dela em relação a ele. Agora tinha certeza da verdadeira razão, mas que de maneira alguma afastava a hipótese dela ter tido medo: mas medo porque? De ser conquistada? O pensamento o fez sorrir.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Está sorrindo por estar feliz</i>? Perguntou ela sarcasticamente. Ele aumentou a amplitude de seu sorrizo e respondeu: <i>Buenos Aires sempre me fez feliz</i>. Ela acelerando ainda mais, voltou a perguntar: <i>Buenos Aires ou as argentinas</i>? Era hora de colocar um ponto final naquela troca de fogo. E Pedro decidiu o fazer, nem que fosse abandonado naquela estrada. <i>Olga, desculpe se dormi com sua irmã e no dia seguinte fui dividir o convivio com a sua familia. Desculpe se alguma experiência no Rio ou com um carioca, esteve abaixo de suas expectativas. Sou grato pela maneira educada que fui recebido por sua familia e o convite que recebi para este fim de semana no haras. Não sabia que sua irmã era noiva . Eça se esqueceu de comentar o fato e achei que eu e você poderiamos ter um relacionamento adulto. Mas se a minha presença a irrita tanto, deixe-me no próximo posto de gasolina, que eu dou um jeito para voltar a Buenos Aires</i>, <i>e depois invento uma desculpa a seus pais.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ela se manteve impenetravel, e após alguns segundos de silêncio, complementou: <i>pelotudo</i>! Até nisto ela se assemelhava a Adalgiza. Antes de responder raciocinava o que iria dizer. Lembrou de um jornalista que disse que era perigoso de discutir com uma mulher de óculos.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Seguiram por mais alguns kilômetros calados, quando ela resolveu quebrar o silêncio: <i>Perdoname. Tenho estado num estado de stress com meus exames finais</i>. <i>Não tenho direito de me meter na vida de minha irmã, quanto mais da sua. Só achei uma sem vergonhisse, você parecer na casa de meus pais e ainda mais na presença do noivo de minha irmã</i>. O ponto era válido, porém não justo. Era hora de se colocar a verdade sobre a mesma, Ou melhor parte da verdade: <i>Repito, por achar importante, sua irmã nunca me disse que era noiva e que o Juan estaria presente no jantar. Se houvesse revelado o fato, não teriam acontecido as coisas que vieram a acontecer e nem eu aceitaria o convite para o jantar</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">A explicação pode não ter convencido de todo a Olga, mas pelo menos suavisaram a situação, que não era ainda amigavel, todavia, poderia a partir de agora, se manter, pelo menos, respeituosa.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ela concordou com a cabeça e ele sentiu que sua fisionomia tornara-se menos bélica. era hora de acabar de uma vez por todas com aquele clima de animosidade: <i>olha aqui Olga, comessamos com o pé esquerdo. Que tal apagarmos o que aconteceu e conviver com o que vem pela frente. Juro a você, que depois deste fim de semana, se você assim o decidir, nunca mais irei aceitar convite algum de estar com os seus. Serei passado</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Pela primeira vez sua face se tornou realmente serena, como se um peso houvesse sido tirado de suas costas. <i>Assim espero</i> e sorriu, Continuou a dirigir calada e calados ele chegaram a San Antonio de Areco, a região do haras de sua familia. Mas antes de chegar ao destino final, ainda na rodovia 41, ela diminuindo a velocidade, e desferiu a sentença: <i>Volto a me desculpar. Vamos conviver neste fim de semana e no Domingo a noite aceito ou não a sua proposta. Combinado</i>? Pedro limitou-se a um consentimento com o movimento de sua cabeç, pois ainda temia por sua integridade fisica...</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">***********************************************************</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Cavalos de corrida, sempre foram para Pedro um mistério. Quase um desafio. Maior até que as mulheres. Eram criaturas de extrema beleza e alta irritabilidade, mas que em sua maioria das vezes se tornavam dóceis e competitivos ao serem montados por profissionais do ramo. Ele nunca fora frequentador do hipódromo da Gávea, mas lá compareceu em dois ou três Grande Premios Brasil. E gostou do que viu, embora não tenha sentido vontade de voltar, em outras datas, ou sequer pertencer a aquele outro mundo. Sua vida já era composta de muita fantasia, para ele necessitar de outras.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">O haras era lindo. Sua arborização, seus pastos, as cercas brancas, os animais soltos a correr e a pastar, os estábulos, tudo em um magnificente estado de conservação. Porém, nada podia a ser comparado a sede. Uma casa simples, mas de imenso carácter. Olga Imaculada - a mãe - e Stefan, este de bombachas, os estavam esperando à porta o que mais tarde foi descrito como uma “hacienda”. Montravam-se felizes em recebe-los e logo Pedro veio a descobrir, que Olga - a filha - era o centro de equilibrio daquela familia. Ou como diria a espevitada Mercedes, o único elemento racional da mesma.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Dolores e Juan, não estavam, presentes, haviam ido a uma estação de ski, que ele não guardou o nome, mas Mercedes estava mais espevitada que no dia do jantar. Imediatamente se prontificou a levar a Pedro a conhecer o haras, enquanto o almoço não viesse a ser servido. Pedro aceitou o convite, mas teve o cuidado de antes olhar para Olga - a filha - que soltou aquele seu penetrante olhar como que dizendo: não toque nela, pois, sei do que você é capaz.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">No jeep e no meio dos campos, Pedro e Mercedes tiveram seu caminho cruzado por Olga - a filha - e seu pai, montados em dois cavalos de lida. Pareciam curtir o que faziam, e nem bola para eles deram. <i>Olga é campeã de equitação, como meu pai o foi</i>. <i>Eu tenho pavor dos cavalos</i>. Pedro sorriu e perguntou: <i>e Dolores</i>? A resposta daquele azougue foi imediata: <i>nem sabe que os cavalos existem. Nunca vem ao haras</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Eram na verdade três distintas personalidades e cada vez mais viu Mercedes, a seu lado, como sua Martha, avoada e cheia de atitudes. Uma das caracteristicas próprias da grande maioria de meninas ricas.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Você é casado?</i> Pedro se assustou com a pergunta. E ela notou. <i>O que achou de estranho? Quero saber onde estou pisando</i>. Pedro a principio não sabia o que dizer, mas seu senso de auto defesa voltar a funcionar. <i>Não sou tapete para ser pisado. Não casado e gostaria de manter-me assim</i>. Ela sorriu e retrucou. <i>Quer dizer que não tenho chance alguma?</i> Ele a encarou e sorrindo zobeteiramento, respondeu: <i>zero</i>! </span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Mas ela sabia que ela era exatamente seu número...</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">No almoço sentou-se ao lado de Olga, - a filha - não porque assim o quiz, mas porque assim o foi determinado. E gostou da escolha. Muita coisa foi conversada no farto e inacábavel almoço, porém, Olga - a filha - foi a que menos emitiu opiniões. Parecia uma coruja, nada falava, mas prestava uma atenção imensa. Ela o mirava sempre que respondia a pergunta de seus pais. Era como o estivesse estudando, nos minimos detalhes e decidindo a medida a se tomar no domingo a noite. Não se importou, sabia como encenar o papel do sujeito politicamente correto. Ma subitamente sentiu o pé de Mercedes tocar sua perna e acusou o golpe. Olga Imaculada, perguntou. O tempero está forte demais? Ele usou todas as suas forças para não fraquejar e soltou um lacônicos, <i>absolutamente</i>. Mercedes a sua frente, sorriu.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Na hora da sesta, a única a se manter acordada foi Olga - a filha - que se sentou na grande varanda com um livro, já metade lido, de Mario Vargas Llosa. Pedro sentou numa cadeira frontal a que Olga estava sentada e comentou, a titulo de puxar conversa: - <i>Llosa é seu autor favorito</i>? E ela sem tirar os olhos do que lia, concordou com a cabeça. Estava mais do que claro, que não queria ser interrompida. Mas algo nela o atraía e ele não se deu como satisfeito: <i>Este é um bom romance, mas não melhor que a Cidade e os Cachorros e aquele que escreveu sobre a guerra dos Canudos</i>. Ela sem tirar os olhos do que lia, comentou: <i>são realmente dois dos melhores</i>. <i>La guerra del fin del mundo...</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>O que? </i>Pedro perguntou, pois não tinha ouvido bem, devido o barulho da passagem de um trator.<i> La guerra del fin del mundo, é o livro que descreve a guerra dos canudos. </i>Complementou ela, agora pela primeira vez olhando para ele<i>. </i>Havia uma tenue chance de conversação, pensou Pedro. <i>Desculpe, mas o barulho do trator tirou a minha atenção. Este que você está lendo parece ser um dos livros mais espirituosos de Llosa</i>. <i>A moça em questão faz dele de gato e sapato</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ela sorriu: <i>e isto normalmente deixa os homens inquietos, pois, acham que são eles os inventores tanto do gato como do sapato</i>. Ela o estava testando, o que já era um bom começo, pois, no inicio era uma mera carta descartada do baralho. Pedro sorriu e retrucou: <i>nem tanto ao mar, nem tanto ao vento</i>. Era hora de enveredar com uma nova conversação: <i>Llosa, Garcia Marques e Jorge Amado, são os meus três autores favoritos entre os sul-americanos</i>. Ela concordou com a cabeça, mas voltou ao que lia.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Sentindo-se sobrando. Pedro se pôs de pé e ao fazer menção de se retirar, ouviu atonito uma quase ordem de Olga: <i>deixe eu terminar este capitulo e conversaremos. Sente-se por favor</i>. Ele se sentou, procurando não demonstrar alegria com a iniciativa dela, se bem que ela nem se dignou a encará-lo e o mais importante de tudo, manteve-se calado.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Em menos de três minutos, ela fechou o livro e tirando os óculos, que tanto faziam de sua expressão, uma obra de arte, sorriu para ele, dizendo: <i>para mim, Llosa é uma mistura de Faulkner e Flaubert. Tudo nele me inspira fantasia e realidade</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Pena que vocês brasileiros leem Llosa e Garcia Marques em português. Perde-se muito do teor dos pensamentos</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ela não perdia uma única oportunidade de apedreja-lo. Se Maria Madalena estivesse à sua frente, certamente primeiro seria alvejada por Olga. Mas dizia seu avô que cavalo chucro e mulher maliciosa, tinha que se ter bridão curto. Hora de mandar a pedra de volta: <i>Nada há de melhor escrito que The Sound and the Fury, mas perde-se bastante se não for lido em inglês</i>. <i>O mesmo deve ser dito em relação a Flaubert em francês</i>...</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ela sorriu e não demonstrou ter acusado o golpe e prontamente perguntou: <i>Você gostaria de cavalgar no final da tarde</i>? Estava na cara que ela como campeã de equitação, gostaria de trazê-lo para o ambiente onde ela pudesse dominar e ele ser ridicularizado. Porém, antes que ele pudesse responder com uma desculpa esfarrapada qualquer, ela complementou de maneira suave, mas com uma nitida pitada de provocação: <i>sei do lugar que melhor pode-se se assitir o por do so desta região</i>. </span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Dolores tinha provavelmente lhe contado uma conversa que haviam tido, entre as volupias de amor. Que diga-se de passagem foram muitas e sucessivas. Neste breve momento de calma, Pedro havia lhe dito, que nada mais o cativava no Rio de Janeiro que o por do sol, do fim do Leblon, visto da outra extremidade da praia, a pedra do Arpoador. Perdera-se em minutos decrevendo a sensação que aquilo lhe causava. Mas ele achava que era hora de jogar a isca no mar: <i>quem disse a você que curto o por do sol</i>? Mas ela não caiu na armadilha e respondeu: <i>qual o arquiteto que se preza que não admira um por do sol</i>? Escorregadia como uma pedra de sabão molhada, soltou um sorriso malicioso.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Elr queria aquela mulher a todo custo.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">**********************************************************</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Boludo, fazia juz a seu nome. Era um completo idiota, em forma equina que dormia quando andava. Um apalermado dominado pela letargia. Olga - a filha - ao notar o descontentamente de Pedro, para com a sua montaria, atalhou: <i>ele é o mais manso que temos na cocheira. Você não tem cara de ser eximio na equitação. Só quiz ter certeza que chegarias ileso para ver o por do sol</i>. O sorriso de Pedro foi amarelo, ainda mais que a bufante montaria de Olga, se chamava Lucifer.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Mas cada vez aquela mulher lhe interessava mais. Era escorregadia, letal, mas ele sabia que no fundo no fundo, poderia de alguma forma traze-la a normalidade, sem ter que enfrentá-la no campo por ela armado para uma batalha campal. Aliás, era aquele tipo de mulher que queria ser dominada, mas ditaria quando e onde. Era uma questão de tempo e ele um cara paciente</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">O por do sol foi um espetáculo bonito de se ver. E acompanhá-lo com Olga a seu lado, cresceu ainda mais a intensidade de seus sentimentos. Se Dolores havia lhe impressionado com sua beleza e sua maneira descontraída de fazer as coisa, Olga havia lhe arrebatado tudo. Do dedão do pé, a seu último fio de cabelo. O tomara de roldão. Pedro, não se importou com o fato de ter uma mulher no Rio de Janeiro, que se constituía em toda a sua base, emocional e financeira, e que sua passada por Buenos Aires seria passageira. Mais duas ou três semanas e pronto. Volta a realidade. Não lhe importava. Queria viver, como sempre viveu o momento, e Olga passou a ser o centro daquele seu momento. O resto que se danasse!</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Passei no teste</i>? Perguntou ele, tão logo Olga parou seu carro a frente do Plaza. Fora um Domingo agradável e a volta no carro alegre, pois, o relacionamento passara de belico para cerimonioso de ele tratou de manter as coisas amenas e na maioria das vezes, agradáveis.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Pedro tinha certeza que aquela mulher sabia exatamente o que queria, e ele estava em seu cardápio. Porém, como era bastante seletiva não era assunto a ser decidido em um primero, segundo nem num terceiro encontro. Mas com certeza teria um desfecho e ela trataria de lhe dizer como, quando e onde. Não era uma hortaliça...</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Olhando fixamente em seus olhos, Olga, respondeu: <i>sim, mais ainda não com louvor</i>. O coração de Pedro veio quase até a boca, mas ele se conteve e se limitou a sorrir. Tudo naquela mulher o atraia. Do desaforo ao comentário cerimonioso. O simples desafio de conquista-la, fazia seu peito quase explodir. Haveria uma outra oportunidade, pensou ela, pois, uma luz apareceu no fundo daquele tunel. Seu foco estava inteiramente ligado a Olga, e ao sair do carro despediu-se como não tivesse sido abatido por aquela mulher fascinante. Subiu as escadas sem olhar para trás.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ao passar pela portaria, ouviu seu nome e imediatamente olhou na direção da qual ele fora pronunciado. Era o mesmo concierge que havia conversado dias antes sobre futebol. Um fervoroso torcedor do Boca Juniors, que acreditava que Maradona havia sido melhor do que Pelé. Não lhe importava, pois, já conhecera até um que acreditava no juizo final...</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Senhor Pedro Tavares, sua esposa o espera no salão de chá</i>. </span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">De repente foi como um piano tivesse caido sobre sua cabeça.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">**********************************************************</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Adalgiza estava atônita. Em seus cinco anos de clinica, nunca ouvira um relato igual. Aliás da maneira como Pedro expunha, aquilo, com tanta naturalidade e desfaçatez, mais parecia uma confissão e ela não era um padre e Martha muito menos uma santa. Algo lhe dizia que aquilo não acabaria bem, mas sua curiosidade agora era gtande. Mais forte do que ela. <i>Continue, Pedro</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Pedro não estava entendendo absolutamente nada. O que Martha estaria fazendo ali? Suspeitara de algo? Saudades não deveria ser. Desconfiança? Falta do que fazer? Todavia, antes de seguir em direção ao salão de chá, perguntou ao rapaz que lhe dera a noticia: <i>Você sabe a que horas ela chegou</i>? E a resposta veio imediata: <i>a cerca de quinze minutos, no máximo vinte</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Era tudo muito estranho. Mas resolveu ir ao lado prático da questão. Vocês subiram com as suas malas? E o rapaz sorrindo de forma matreira, respondeu: <i>ela veio sem malas</i>...<i>Parece que a Aerolineas Argentinas extraviou-as. Chegam amanha</i>?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Aerolieneas Argentinas? Marta? Estava ai duas coisas que nçao cominavam. Martha sem as suas malas? Impossivel, era como pai de santo sem terreiro. Onde ia, fosse por um dia ou uma semana, seja para o Caribe ou para o Alasca, eram no minimo três malas e cada uma mais pesada que a outra. Mas tudo podia acontecer com a Aerpleneas Argentinas... Agradeceu e foi em direção ao salão de chá, já com a pulga atrás da orelha.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Seu susto foi amenizado, pois, algo de estranho estava acontecendo com o fato de Martha poder estar ali presente. Quem o esperava era Mercedes, a espevitada, já com uma diferente roupa do que trajava no almoço no haras. Sentiu ir do inferno ao purgatório. </span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Pedro, tentou conter seu grau de estupefação: <i>Mercedes, o que faz aqui</i>? Ela soltou uma gargalhada e perguntou: <i>não vais sentar</i>?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Pedro virá quando Olga Imaculada e Stefan haviam partido do haras minutos antes dele e Olga - a filha. Com o casal estava Mercedes. Para ela estar ali de roupa trocada, era por que seu pai tratava-se da reincarnação de Ronnie Peterson. Pelo jeito a velocidade corria nas veias de toda a familia. Mas isto era o que pouco importava no momento.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Mercedes, o que está fazendo aqui</i>? Ela voltou a sorrir e desta vez perguntou: <i>você enguliu um gravador</i>? <i>Mercedes, o que está fazendo aqui</i>?<i> Mercedes, o que está fazendo aqui</i>? <i>Não me parece um galanteador que levou Dolores para a cama e está fazendo tudo agora levar Olga. Quem será a próxima na lista? Minha mãe? Vim logo me escrever para não ficar no final da fila</i>. Pedro estava atônito. Não tinha palavras. Só uma certeza: <i>era era a caça</i>. O que aquele demoniozinho, em forma humana, estava querendo? Sentou-se mas algo dizia que não devia fazê-lo.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Nâo tivemos a oportunidade de nos conhecermos melhor no haras. Por isto resolvi passar aqui. não está feliz?</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Sim, mas...</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Você prefere conversar aqui ou em seu quarto? </i>A pergunta deixou ele mais pasmo. Como era atrevida aquele pingo de gente. Mas sua resposta saiu imediata, como não pudesse ser contida:<i> - Aqui.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Tem certeza? </i>Ele concordou com a cabeça. Ela não se dey por vencida<i> É talvez você tenha razão... O que vai tomar? O garçon a seu lado estava a espera para anotar o pedido. E Pedro, o queria ver longe dali. Ele Merecedes, enfim, quem quer que fosse: um cortadito.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>O croassant daqui é divino. </i>Disse o demônio<i>. Acredito que seja, mas ainda estou com aquele almoço aqui no pescoço. Mas em que posso ajuda-la, Mercedes?</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Parece que você não ficou muito satisfeito com a minha presença. Pensou que era quem? Sua esposa? </i>Perguntou ela de forma maliciosa<i>. Não sou casado, mas a última pessoa que poderia supor ver hoje a noite, seria você.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Você não é casado? Dolores nos contou tudo. Detalhe por detalhe. Da aliança, do encontro para pegar as malas e de como foi grande a noite que tiveram..</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Pedro arregalou seus olhos O que ela queria dizr com nos contou?<i> A quem Dolores contou mais? Sua mais? </i>Ela riu<i>. Evidentemente que não seu deficiente mental. Só a mim e a Olga.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Então Olga sabia que ele era casado<i>...</i> A encomenda estava melhor que a receita.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Mercedes não era do tipo de pessoa de guardar para si qualquer coisa. Ia direto ao assunto, sem meias palavras: <i>decidi em fazer uma produção independente. Como não quero me casar e muito menos ter que um dia dividir a atenção de meu filho, com um pai, apenas biológico, achei que você seria a solução aos meus problemas</i>. <i>O candidato ideal.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">A curiosidade tomou conta dele: <i>e porque seria?</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>È bonito, jovem, fino, agradavel e o mais importante de tudo, mora em outro pais, é casado e parece não querer qualquer tipo de compromisso</i>. <i>O c</i>andidato ideal.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ele estava pasmo. Seria aquilo um ninho de ninfomaniacas? Ou ela era uma tremenda de uma cretina? Estava com pinta de gigolo? Qualquer que fosse a situação, esta não lhe parecia confortável. Mas não seria ele a perder a linha: <i>Mercedes, você sabe o que está dizendo</i>?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Evidentemente que sim. Você é o candidato perfeito e eu não sou de se jogar fora</i>. <i>Meu pai fica bolando o dia todo o cruzamento ideal para sua éguas. Você é minha cruza perfeita! Já pensou que filho lindo que vamos ter?</i> E não era mesmo, que seria uma beleza? Mas ela deu continuidade a sua idéia maluca, como estivesse tratando de um assunto corriqueiro: <i>evidente que deveriamos nos conhecer melhor, mas como você disse que vai ficar aqui por mais duas semanas apenas, e meu período fértil deu seu inicio hoje, acho que a coisa tinha que ser aqui e agora</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Você já conversou com seus pais sobre isto?</i> Ela fez uma cara de surpresa e perguntou: <i>você acha que isto é coisa para se discutir com os pais. No Brasil pode ser, aqui, nunca</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">O café de Pedro foi trazido e mesmo ainda na presença do garcon, ela perguntou com a maior naturalidade: <i>vamos ou não vamos fazer este filho hoje a noite</i>?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ele deixou o garçon que arregara-la os olhos afastar-se e perguntou. <i>E todos em sua casa saberão quem é o pai?</i> Ela deu um sinal negativo com um movimento de cabeça. <i>Ninguèm sequer suspeitará. Palavra de escoteira. E beijou por duas vezes seus dedos em forma de cruz</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Não era a idéia de Pedro se tornar pai, ainda tão jovem. Muito menos ir para a cama com a segunda irmã de Olga. Outrossim, como a própria Mercedes deixara bastante claro, ela não era de se jogar fora, seu período fértil tivera seu inicio e ele não estaria aqui quando o mesmo voltasse. Pedro, engoliu de uma só vez seu cortaditoe chamou novamente o garçon pedindo pela conta</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">**********************************************************</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Adalgiza ouvia tudo abismada, mas mantinha-se impassiva. Tinha horas que tinha que se conter para não rir. Ela pensava já ter ouvido de tudo. Naquele consultório, que agora mais parecia um confessionário, já passara gente que tivera relações sexuais com marcianos e até um profeta que afirmava ser o presidente Lula, a alma mais pura do universo.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Olhou para Martha que parecia pocessa, já que Pedro contava tudo com grande naturalidade. O que estava havendo ali? Perguntou a si mesma a psicologa. Era iverossimel demais para ser real, mas ela continuava curiosa, no que aquilo iria dar. <i>Então voce manteve relações sexuais com Mercedes naquele Domingo?</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>No Domingo e na segunda, por exigência dela, como uma especie de garantia...Era melhor ir em frente ou ela não sabia do que Martha poderia fazer. Estava a pono de engolir o sofá: Pedro, continue, ms sem tantos detalhes...</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">A semana de Pedro transcorreu traquila e as reuniões que participou sobre o projeto da nova sede de uma empresa brasileira em Buenos Aires, foram altamente produtivas. Seu projeto havia sido aprovado e agora passaria as mãos da equipe de engenharia, uma semana antes do que inicialmente ele esperava. Sua missão na capital argentina estava finda, e no fundo de sua mente, algo dizia que para o bem de todos, principalmente o dele, estava na hora de levantar âncoras e voltar para a tranquilidade de sua existência. Mas não ter ouvido de Olga, o deixara triste. Inseguro. Mesmo sabedor agora que ela tinha conhecimento de seu estado de matrimonio. Todavia o que ele queria? Emplacar as três irmãs? </span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Era quinta feira, e ela nem se dera ao trabalho de dizer um alô. Muitas coisas estavam passando sobre a sua cabeça. Será que a louca da Mercedes havia comentado com ela o seu projeto de produção independente? Duvidava, pois, esta fora uma das condições que impôs aquele demoniosinho, a de ninguém saber daquela aventura. Mas quem podia confiar na descrição de uma mulher? Ela cinicamente telefonara para ele pela manhã, avisando que parara de ciclar, e terminou com um d+gelante, parabéns papai!</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Marcou sua passagem para sábado, ciente que aquela era a melhor opção. Tinha uma vida equilibrada e nada parecia que poderia abala-la se ele assim não o desejasse. Mas a chamada que recebeu o fez duvidar: <i>Pedro, Olga, podemos ir ao haras amanhã</i>? A surpresa do convite o deixou perplexo. Precisava alguns minutos para colocar de volta seus pés no chão: <i>Na verdade estava pensando em voltar para Rio amanhã pela manhã</i>.<i> </i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Evidentemente que não era esta, a resposta que ela esperava, e o silêncio que se seguiu foi atterador. Mas ele tentou manter a conversação<i>. Haveria uma razão maior?</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">O tempo que Olga levou para responder era teoricamente normal, pois, ela era uma pessoa que raciocinava antes de dizer o que fosse, mas aquele tempo maior exercido por ela, naquela oportunidade, fez Pedro crer que realmente havia um algo maior e sua resposta apenas confirmou sua suspeita:<i> Que tal o por do sol?</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Caralho! Ela queria<i>. Seus pais estarão lá? </i>Perguntou temendo pela resposta que veio a seguir:<i> não. estaremos sózinhos. </i>Pedro tinha certeza ao desligar o telefone o que deveria ser feito para o bem de todos. Sua presença ali seria apenas mais um complicador. Havia pedido por alguns minutos para responder, mas sabia que o desafio o atraía mais do que a tranquilidade de evitar qualquer tipo de perigo.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Quando ainda na faculdade havia ouvido de algum personagem aquela celebre frase, mantenha os amigos perto, e os inimigos ainda mais perto. E na situação presente o perigo era o inimigo maior naquela especifica situação. Tinha cabeça, tronco e membros e ainda por cima atendia pelo nome de Olga. As previsões do tempo estavam sendo feitas na televisão e ele pode saber que sábado seria um dia de fortes chuvas em quase todo o território argentino. Principalmente na zona periférica de Buenos Aires. Logo, não haveria por do sol a ser visto. Ligou para a TAM e desmarcou sua passagem por tempo inderteminado.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">*********************************************************</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">O sábado amanheceu com forte vento e rajadas de chuva em Buenos Aires. Tudo parecia ao avêsso, até o fato de Olga atrasar-se dez minutos: - <i>Desculpe o atraso. Esta aqui a muito tempo</i>? Pedro sorriu e com prazer complementou: <i>estamos atrasados</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">A chuva ia se intenssificando, quanto mais eles se afastavam da capital argentina. Pedro se contera desde que entrara no carro, mas aquilo era mais forte do que ele. Foi quando comentou: <i>acho que não teremos um por do sol</i>. A resposta foi seca e imediata: <i>e quem está interessado num por de sol</i>?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Do momento em que chegaram ao haras até o inicio daquela noite. Pedro e Olga só fizeram uma coisa: amar-se com tremenda intensidade. Recusaram o almoço bem como o chá, das cinco. Uma tradição que os ingleses implantaram naquele pais. Poucas foram as palavras ditas. Menor ainda as explicações trocadas e como era esperado, não houve por de sol. mas como diria Olga, que está interessado num por do sol?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Não havia mais ninguém no haras. Somento os dois e uma chuva intensa. A frente da lareira que fora acesa, por uma repentina queda de temperatura havia sido grande, envoltos em coberturas, Pedro e Olga, mantinham-se calados. Afinal, nada precisava ser dito. Mas ele quiz quebrar o silêncio. Era necessário que palavras viessem a ser trocadas: <i>Desde ontem que o serviço de meteriologia anunciava chuvas fortes para a região? Você sabia</i>?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Evidente. Eu também assisto televisão</i>. Respondeu ela deixando um ligeiro sorriso brotar de seus lábios, antes dos mesmos encontrar a xicara que lhe mantinha o chá quente.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>O que quer dizer, que tudo isto estava planejado</i>? Ela sorriu e o encarando respondeu: Vo<i>cê acha que tudo isto aconteceu por um impeto momentaneo e impenssado? O que você acho que sou? Dolores, Mercedes</i>... A simples menção do nome de Mercedes, o fez tremer. Será que ela estava ciente do que acontecera entre os dois? Não achou possivel. Por mais dura que Olga fosse, ela era ainda uma mulher, não uma máquina. E sobre a questão de ser casado? Nada ela comentara sobre o assunto.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Sabia que nunca há de se querer intensificar a fumaça, se a idéia e se manter escondida a fogueira. Mas aquilo era mais forte do que ele e mais uma vez se pos de peito aberto em frente a um possivel fogo cruzado: Porque você citou o nome de Mercedes? Ela levantou os olhos e sorrindo desafiou: <i>Porque não poderia? Algum problema</i>? Sua reação tinha que ser imediata: <i>Porque eu realmente dormi com Dolores</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">E não com Mercedes?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ela suspeitava mas não tinha certeza, Era hora de assumir o papel do indignado em sua honra: <i>O que você pensa que eu sou</i>? Ela aumentou o grau de seu sorriso no rosto e complementou: <i>um cara bonito, casado e que acha que pode conquistar o que quizer</i>. Hora de voltar ao papel do galinha: <i>Dolores não foi minha culpa. Ela é atraente e veio a mim</i>. O que ela imediatamente contratacou: <i>não foi o mesmo em relação a mim</i>? Hora de bancar o ser apaixonado: <i>Você me conquistou. É diferente</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Não teria exatamente sua certeza</i>. <i>E sua esposa, suspeita de suas aventuras</i> E sorriu como tivesse dito a coisa mais racional possivel. Se aquele era o lado racional da familia, Pedro imaginou o que seria o lado irracional da mesma.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Hora de assumir a posição do macho ultrajado: <i>Quer dizer que para você sou um homem objeto</i>? <i>Que sabia desde o inicio que eu era casado e mesmo assim resolveu ter um lance?</i> Ela se levantou, deixando o cobertor correr por seu corpo nu e com aquele andar que Pedro já tinha gravado em sua mente, caminhou para as escadas que a levariam ao segundo andar e consequentemente aos quartos. No terceiro degrau, parou e olhando para ele, o convidou: V<i>amos tomar um banho... homem objeto</i>?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Foi exatamente neste hora, que Martha não se conteve? <i>cafageste</i>. Aldalgiza, fazia uma força tremenda para mater seu lábio inferior, colado ao superior e não fazia a menor idéia de como Martha suportara toda aquela descrição feita por seu marido, até aquele momento. Pedro havia emplacado as três irmãs, num espaço de duas semanas, Coisa a ser publicada no livro dos recirdes, imaginem se resolvesse mudar definitivamente para Buenos Aires.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ela conhecia Pedro. Sempre fora um galinha. Desde os tempos da faculdade. Poucas foram as que resisitram as suas investidas. E tinha cee´rteza que Martha sabia de todas as conquistas e fazia vista grossa e ouvidos de mercador, quando alertada para os fatos. Mas o que não podia creditar era a rapidez como que ele colecionava presas e porque Martha ainda não tinha pulado em seu pescoço.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Mas ai é que os problemas tiveram seu inicio</i>...</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Adalgiza encarou Pedro. Então tudo aqui que passara, até então, não haviam sido para ele, problemas? Já supunha o que seria para ele um real problema? Assassinatos? Abortos? Suicidios?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Desculpe Pedro, continue</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ele respirou fundo e continuou: <i>Transferi minha passagem para a semana seguinte, pois, Olga veio me visitar no hotel todas as noites, a partir daquela segunda feira. Em cada uma, me deixou ainda mais inseguro. embora ao contrário de Mercedes que tinha os cabelos longos e Dolores, que o tinha com reflexos, ela foi aceita pelo mesmo rapaz da concierge, aquele que acreditava que Maradona foi superior a Pele, como minha esposa.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Na Argentina a virilidade é vista ainda com mais enfase que no Brasil. O garanhão, merece todo os respeito dos demais.É um simbolo a ser seguido. E naquelas duas semanas, Pedro recebera o titulo de pastor chefe do rebanho, entre os membros da portaria. Era recebido sempre com sorrisos e mesuras especiais, da mesma forma que Olga nem precisava se aprensentar. Subia direto. Afinal, parecia ser a matriz principal do rebanho.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Na segunda, voltou ao escritório e inventou que talvez tivesse que fazer pequenas modificações no projeto original. Todos ficaram abismados com seu tremendo profissionalismo, afinal o projeto já fora aprovado e visto como perfeito para as necessidades da empresa. Porém, era a única maneira que Pedro encontrara para se manter em Buenos Aires, por mais uma semana, e não levantar maiores suspeitas na cabeça de Martha.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Martha suspeitava de alguma coisa</i>? Perguntou Adalgiza, olhando agora fixamente para amiga. E esta simplesmente fez um aceno positivo com sua cabeça, mantendo-a baixa. Mas foi Pedro, que respondeu: <i>Eu suspeitava que sim, principalmente quando combinamos dela me telefonar para o hotel antes das oito.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Olga chegava depois disto</i>?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Desta vez foi ele que concordou com um aceno de cabeça. O silencio permaneceu por alguns segundos, quando então Pedro deu continuidade aquilo que agora parecia a parte mais sensível de confissão: <i>Martha sabe que em Buenos Aires tudo acontece a partir das dez. Antes das vinte horas, é ontem para os argentinos. E por duas vezes ela me ligou durante a semana mais tarde, e eu não respondi. Sempre justificava, no dia seguinte, que tinha ido me recolher cedo ou que estava no meio de um jantar de negócios.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Adalgiza, acreditou, pois, pela primeira vez, viu lágrimas nos olhos de Martha. Ouvir aquilo, provavelmente pela segunda vez, era duro demais para qualquer mulher, principalmente para uma que podia ser dar ao luxo de escolher o que quizesse.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">A semana correu mais rapida do que esperava. Durante o dia, Pedro arrumava o que fazer. Até a Palermo compareceu parea assistir um par de corridas de cavalos. Conheceu lugares que antes não tinha visitado e contava os segundos para estar com Olga no hotel. Olga estava na faculdade e em época de exames finais. Desde cedo ela lhe deixara claro, que primeiro sempre seria sua profissão, segundo ele, se fizesse juz.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Obedeceu pois, se sentia apaixonado. Totalmente dominado pelos encantos de Olga. Todavia, o fim de semana se aproximava e ele sabia que não teria mais desculpas a dar a Martha. Teria que voltar. Foi quando um imprevisto veio a acontecer. Ligaram do escritório e disseram que a equipe de engenharia achara um problema na execução em um de seus detalhes. O que normalmente soaria para ele como um tremendo chute no saco, naquela oportunidade caiu como uma dádiva do céu. Marcou uma reunião para segunda feira, transferiu sua passagem e justificou-se junto a Martha.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Olga e ele foram para o haras no fim de semana, e lá permaneceram sózinhos. Na volta, a idéia era Olga ir direto com ele para o hotel, mas ela quase na última hora resolveu que passaria em casa e três horas depois o encontraria no hotel. Pedro se despediu dela e quando cruzou a portaria, sentiu que havia algo no ar. Encarou o fâ de Maradona e este lhe fez um sinal que precisavam conversar: <i>Sua mulher está no quarto</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>A de mechas ou a de cabelo comprido</i>? Perguntou temendo pela resposta.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ele parecia engasgado, porém teve forças para responder, sem contudo encara-lo nos olhos: <i>esta é loura e veio com três malas</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">****************************************************</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ele tinha três horas para resolver o problema. Ou menos do que isto. No elevador foi criando uma maneira de levar em frente um plano que não desagradasse as duas partes. Só havia uma saída. Ele arriscaria na mesma, todas as suas fichas.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Sentiu Martha esquisita, mas tratou de ser o mais natural possível, abraçando-a no papel de marido apaixonado e saudoso. Poderia não colar, mas não havia outra saida: <i>Porque não me avisou para eu ir busca-la no aeroporto?</i> Ela ainda suspeita, deixou bastante claro que deveria ser uma surpresa, e na realidade o fora e quiz o destino de não se tratar de uma surpresa desastrosa.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Você está arrumada? </i>Perguntou com certa ânsia.<i>Sempre, porque?</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Aquela era a primeria parte de seu plano: <i>Quero a levar a um restaurante aqui que é a sua cara. Fui semana passada e jurei que um dia lhe traria a el</i>e. <i>Mas temos que ir agora, pois, depois das dez, já deve estar lotado de reservas. Aliás por isto lhe pedi para ligar sempre antes das oito. Nunca fui chegado a fazer reservas. Você sabe disto</i>?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Manteve a mão no bolso, a maior parte do tempo para sua mulher não notar a falta de aliança e tratou de buscá-la logo que foi possivel,, - a aliança não a mulher - no bolso do colete.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">No restaurante, pediu licença para ausentar-se da mesa e ir ao banheiro e deu duas telefonemas, uma para Olga, avisando que havia um imprevisto, pois, acharam um erro seu em um dos detalhes, e seu sócio na Argentina, pois, necessitava jantar com ele, para decidirem o que diriam no dia seguinte na reunião com o cliente. Pelo menos esta era a segunda parte de seu plano. Maõs a obra A seguir ligou para seu sócio Ramon Rodriguez e pediu para ele mandar um bilhete para o hotel marcando um outro restaurante onde estariam presentes: <i>Ramon, isto não pode falhar, pois, é caso de vida ou morte. O bilhete tem que ser entregue ao Juan Manuel da concierge, e no envelope coloque instruções que vou lhe ditar</i>. <i>Juan Manuel, se a esposa de cabelo curto chegar, não a deixe subir e avise que estarei a esperando por ela, no restaurante, e coloque o nome do restaurante que escolher. Entendido? E mande Juan manuel destruir as instruções e ficar de olho aberto, pois, minha vida depende dele e que será bem recompensado. </i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">E que lhe ligasse em dez minutos para dizer onde seria o encontro. Deixou claro para Ramon, reservar num restaurante, possivelmente o mais caro, que a conta era por conta dele. Sabia que Ramon era um glutão sovina e que se Olga por lá aparecesse, não suspeitaria de nada. Afinal, ninguém iria pagar uma conta astronomica, apenas para ludibriar a namorada.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Pedro, creio que isto não é caso de vida ou morte. É coisa que envolve mulher</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>O que na realidade, é para mim, a mesmissima coisa. Carinos</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ele sabia que havia uma grande chance de Olga não acreditar e aparecer no hotel. Já a conhecia muito bem. Tinha que fazê-la crer na história pelo menos até o dia seguinte a tarde, onde colocaria Martha num avião, nem que para isto viajasse com ela, para o Brasil.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Na volta a mesa, fez o papel, do homem de negócios preocupado. Sentou-se e pegou o cardápio. <i>Algum problema</i>? Perguntou Martha assustada. <i>Nada a se preocupar, apenas um dos detalhes do projeto não está funcionando</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Mas isto não é a razão do porque você aqui ficou para ter uma reunião amanhã</i>?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Merda, esquecera-se deste fato. Mas teve tempo de engatar uma segunda: <i>outro detalhe, Ramon vai me explicar ainda hoje</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Como hoje</i>? Estranhou ela.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Ele já marcou um jantar comigo as dez e não tive como desmarcar. Coisa de gente chique, tem até multa pelo no show e o escambal Deixo você no hotel, me encontro com ele. Traçamos rapidamente uma estratégia e amanha, logo após a reunião voltamos para o Brasil.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ela se espantou<i>: Eu não gostaria de voltar amanhã para o Brasil, Pedro. </i>Disse ela séria e com certeza do que estava falando<i>.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Querida, se for o que eu estou pensando, só terei condição de refazer o detalhe, no escritório do Rio de Janeiro. É algo significativo. </i>Disse ele chateado, fechando o cardápio e complementando<i>: escolha algo que eu perdi meu apetite. </i>Afinal não conseguiria jantar uma segunda vez, naquela noite.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Seu celular tocou. Ele pediu licensa e sem sair da mesa, atendeu: <i>Fala Ramon. Ok, Latina sei exatamente onde é. Nos encontramos lá a que horas? Dez está bom para mim</i>. <i>Se atrasar vá bebendo por nós. Escolha um bom vinho</i>. <i>Não se esqueça de levar a planta. Obrigado, para você tambem</i>. E virando-se para Martha, falou de forma seria: <i>tudo combinado</i>. </span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Você deveria pedir algo. Vai sentir fome</i>. Atalhou Martha com visivel preocupação, ao que ele respondeu ainda com aquela expressão de preocupação no semblante: <i>se tiver fome como lá</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">O restaurante da Villa Crespo, era sofisticado e bem caro, exatamente o que Pedro tinha em mente. </span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Pedro, esta merda aqui é cara para caralho, mas a qualidade de degustação, a apresentação, a combinação de sabores de cada um dos pratos, e atenção dispensada é digna de um restaurante em Londres e Paris</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Isto quer dizer que você jã esteve por aqui</i>? Perguntou Pedro, realmente impressionado com a escolha:<i> Muito me surpreende, pois você sempre me disse que não gostava de gastar com restaurantes sofisticados</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ramon sorriu. <i>As duas vezes que aqui estive foram por convites. Não sou louco de encarar uma conta destas</i>. <i>Mas vamos ao que interessa. Aqui estão as plantas. Qual seria o plano</i>?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Pedro sorriu: <i>Iremos jantar, mas se uma moça morena pintar por aquela porta e vir a mim, temos que encenar ter aqui se encontrado para estudar um detalhe, que teremos que modificar até a manhã</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Posso saber de quem se trata</i>? E esperou ansioso pela resposta. <i>Se ela aparecer a conhecerá</i>. Deixou claro Pedro, que evitaria até o fim, declarar quem quer que fosse. E continuou: <i>mas tem o seguinte, se ela aparecer vamos discutir até o fechamento do restaurante sem achar um solução. Ai direi a ela que teremos que ir ao escritório e assim ela desiste pois, tem faculdade amanhã</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Pedro, é a primeira vez que o vejo recusar uma mulher. O que está acontecendo</i>? Pedro, estava enrrascado até as tampas, pensou Ramon, mas a resposta que ouviu a seguir, esclareceu a ele, todas as duvidas que ainda pudessem existir: <i>Martha apareceu e esta a minha espera no quarto. Isto responde a sua pergunta</i>? </span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Fazendo uma careta, Ramon concordou com a cabeça. A situação era mesmo periclitante para ambos, pois, era do dinheiro do pai de Martha que as despesas maiores do escritório, tinham como garantia. E o <i>marketing</i> que tinham adotado era dispendioso: <i>vamos torcer para que o tal do Juan Manuel da concierge, detenha esta zinha, antes dela subir para o quarto, se realmente ela der as caras</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Sem saber, Ramon o havia irritado. Como poderia achar que colocaria seu futuro em risco com uma aventura com uma zinha qualquer: <i>Ramon, primeiro que este Juan Manuel é safo e sabe que só tem a lucrar se a coisa funcionar. Segundo, que conhecendo esta menina como a conheço, ela vai dar as caras no hotel. Sempre foi suspeitosa a meu respeito, já que a conheci por que comi uma sua irmã. Na verdade duas, mas isto não vem ao caso, pois, ela só sabe de um caso.</i> E dando uma parada para que melhor fosse compreendido, para um Ramon que estava com os olhos arregalados, completou: <i>terceiro que não se trata de uma zinha. É uma mulher por quem sempre esperei um dia encontrar</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ramon estava sem palavras. O maluco tinha comido três irmãs e só descobriu a mulher de sua vida, na terceira. Estaria agora usando o método do teste drive? E ele que não comia ninguém, e ainda tinha a sua mulher, uma tanajura, no seu pé todo o momento, fora quase preso por tentar cantar uma vizinha: <i>É, parece que a situação não é simples</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">O telefone de Ramon tocou. Devia ser sua mulher, pensou Pedro. Mas não era: <i>Ele mesmo. Certo...certo...a quantos minutos ... você tem certeza... </i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>ok, Pedro conversará com você quando voltar ao hotel.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Desligou a seguir: <i>Ramon era o Juan Manuel? </i>O amigo ascendeu com a cabeça, já iniciando a degustação do primeiro prato, que pela forma que se portava, devia estar a seu gosto<i>: Você pode me dizer o que aconteceu? </i>Ele sorriu: <i>está uma beleza. Perfeito</i>. Como a cara de Pedro se mantinha de poucos amigos, achou por bem, dar o recado: <i>ela acaba de sair de lá, e o Juan Manuel que ela está a caminho daqui</i>. Graças a Deus que a coisa funcionara. Olhou para o amigo que parecia embevecido pelo que degustava e lembrou: <i>vamos abrir as plantas</i>. Ramon sorriu: <i>relaxa cara, de lá até aqui é no minimo 15 minutos</i>. </span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Ela estará aqui em menos de 10 minutos.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ramon não se impressionou: nem Fangio o conseguiria</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Acredite em mim, ela conseguirá. E uma prgunta, você anexou seu telefone nas instruções para o Juan Manuel</i>? Ramon simplesmente agradeceu com os braços abertos como estivesse sendo ovacionado: <i>Eu também dou os meus pulinhos de cerca</i>...</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Em oito minutos, Olga deu entrada no restaurante.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">***********************************************************</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">O telefone soou a frente de Juan Manuel: <i>Concierge</i>. Olhou em seu monitor. Era a esposa loura das três malas.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Voces tem um serviço de taxis que me possa levar a um restaurante chamado Latino?</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Juan Manuel arregalou seus olhos. Como poderia fazer? O Plaza tinha o serviço, não poderia negar, e ai a esposa do cabelo curto seria surpreendida pela esposa loura com as três malas: <i>sim senhora, mas não creio que a estas horas, eles não aceitem mais reservas</i>. </span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Meu marido está lá</i>. <i>Estou descendo</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Estamos sem carros disponiveis agora. Em 20 minutos</i>... Ela deligara.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ele tinha que ganhar um tempo. Carajo! ele triturara as instruções, onde estava o telefone do amigo do garanhão, como lhe fora instruído.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Por favor senhora, acho melhor a senhora esperar no minimo 10 minutos, que é o tempo que necessito para ter o carro a sua disposição, aqui na frente do hotel.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Tenho medo de não o encontrar mais no restaurante. Não haveria a chance de se arrumar outro carro. Nem que seja um taxi normal?</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Ele pensou alguns segundos e usou a única alternativa que poderia freiar uma mulher:<i> Buenos Aires há muito deixou de ser uma cidade segura a noite. Não me sentiria seguro de lhe colocar em uma viatura que não fosse do hotel. Se a senhora tem medo de desencontrar, ligue para seu marido.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Quero lhe fazer uma surpresa.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Certamente seria uma surpresa...: <i>em dez a quinze minutos pode descer que o carro estará a sua espera. </i>Mas ele tinha que garantir que ela não pegasse um taxi, para não desencontrar de seu marido<i>: Vou tentar me contactar com o restaurante para ter certeza que seu marido está lá. Por favor. não saia antes da senhora chegar. O farei isto sem avisar que a senhora está a caminho. Apenas atrasando a impressão da conta.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Por favor, faça isto: </i>Disse ela desligando a seguir.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Juan Manuel correu a frente do hotel e chamou Dimas, um dos motoristas que dirigiam os carros do hotel. Era brasileiro e entenderia imediatamente a situação. O negro, riu com a rápida apresentação do problema feita por Juan Manuel, mas nem tanto com o pedido final: <i>Faça o caminho mais longo e não chegue no Latina em menos de 30 minutos.</i> O negro arregalou aqueles seus imensos olhos igualmente negros. <i>Mas só se furar um pneu</i>!</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Então fure o pneu, se necessário for. Só não me apareça no Latina com esta mulher</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Agora era conseguir o telefone do amigo do garanhão que fora escrito nas instruções, mas que ele obedecendo ordens despedaçara. Correu para a sua lata de lixo e tratou de juntar os pedacinhos que pudessem ser juntados. </span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Estava entretido, tentando decifrar o telefone, naqueles pedaços de papel e quase não notou que a loura das três malas estava â sua frente. Haviam se passado dez minutos. <i>Em que posso servi-la? </i>Perguntou ele, fingindo não saber de quem se tratava.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>O carro que pedi, já está na porta</i>? </span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Acredito que sim, deixe-me constatar</i>. E como num pace mágico, estacionou a entrada do Plaza, onde Dimas,esperava em seu interior.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">De volta a seu ponto de origem, perguntou, como se aquilo fosse um assunto delicado: <i>a senhora tem algum problema de ir com um motorista negro</i>? <i>Ele é brasileiro e da nossa total confiança</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Não me importa se ele é negro, budista ou Flamengo, quero apenas saber onde está o carro que devo pegar</i>? Juan Manuel a levou, sem mais delongas, ao mesmo, abrindo e fechando a porta.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">De volta ao lobby do hotel, Juan Manuel correu em direção ao <i>check in</i>, onde pediu a seu colega de trabalho, se na ficha do senhor Pedro Tavares, havia a informação de um número telefonico que pudesse se utilizar. Havia. Era de um celular brasileiro. Ligou </span><span style="-webkit-text-stroke-width: initial;">e a loura das três malas atendeu. Era o dela que constava na ficha de reserva.Dios mio, o garanhão estava perdido.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Queria apenas saber da senhora se está satisfeita</i>? Foi a única coisa que lhe veio a mente de perguntar. <i>Nenhum problema nestes dois primeiros quarteirões</i>. <i>Vais me ligar nos próximos</i>? Ela pelo menos tinha espirito esportivo, Juan Manuel só não podia precisar até quando.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Sem outra alternativa Juan Manuel, ligou para o telefone de Dimas e ordenou; <i>fure o pneu</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">*********************************************************</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Diz o velho dito popular que Deus ajuda a todo aquele que merece. Pedro hoje tinha certeza que Deus era magnanimo, pois, ajudara na véspera a ele, que realmente não merecia. Deus e São Juan Manuel, que levou um vultuoso bonus de natal em pleno outono.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">A aeromoça trouxe os drinks que para ele e Martha. Haviam decolado de Ezeiza a poucos minutos e Pedro se sentia aliviado. Triste por abandonar Olga, naquelas condições, mas em contrapartida feliz, por ter mantido Martha. Ela era ainda era o leme de sua embarcação. </span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Assutara-se ao ver Juan Manuel entrar no Latina sem seu uniforme. Viu’o sentar numa mesa próxima e quando este lhe acenou para um encontro no banheiro. Ciente da situação é que um pneu furado lhe salvara o pescoço, pelos próximos 15 minutos, do banheiro mesmo ligara para Ramon, lhe passando instruções do que havia ser feito. Foi simples,Pedro quando voltou a mesa foi oficialmente certificado da nova posição. Pediu desculpas a Olga, a levou até seu carro, dois minutos antes que Martha decesse à frente do restaurante</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Pedro era um cara de poucas horas de sono. Seis no máximo. Martha ao contrário era boa de cama, dormia um minimo de nove horas. Assim cedo pela manhã, ele se levantou, colocou uma roupa de ginastica e desceu. Do lobby ligou para Olga e disse que teria que voltar imediatamente para o Brasil, pois, sem o apoio da equipe do Rio de Janeiro, seria impossivel consertar o problema.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Olga tinha faculdade e não poderia sequer o levar ao aeroporto, o que ambos lamentaram. Mas a promessa que na semana seguinte estaria de volta, a deixou feliiz.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Que pena que não pudemos passar uns dias em Buenos Aires, Pedro, mas sinto por este problema de projeto que você e Ramon, tiveram</i>. O que não deixava de ser verdade, mas foi facilmente sanado na reunião que haviam levado a efeito naquela manha. Mas Pedro concordou com a cabeça: <i>ossos do oficio, o importante é que conseguimos sanar a coisa ainda a tempo</i>. <i>E você o que fez pela manhã</i>? A pergunta não tinha para ele nenhum significado, mas pelo menos manteria a conversação.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Fechei as malas e antes de fazer o check out, que aliás já tinha sido feito por você, sem ter me avisado, fui tomar café</i>. Ele sorriu e então perguntou: <i>Pena que não pudemos nem tomar café no Plaza, que um dos pontos alto do hotel. E por experiência própria sei o que é tomar café sózinho...</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Pena menos, mas tive compania.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Compania?</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Sim uma moça muito simpática que sentou a mesa ao lado e puxou conversa.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Brasileira?</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Não argentina. </i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Os fios de cabelo do pescoço de Pedro se erissaram. Mas ele procurou demonstrar tranquilidade e que nao estava aparentemente, nem um pouco interessado, na identidade daquela moça.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>E sobre o que conversaram</i>? Perguntou ele sorvendo seu vinho.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Infidelidade conjugais</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Pedro quase engasgou. <i>O que houve querido</i>? <i>Quer ajuda</i>? Ele tentou disfarçar e apenas disse: <i>não obrigado, foi o vinho que desceu pelo canal errado</i>. Quem seria a moça em questão? Pensou numa forma de interessar-se sem se interessar, usando uma pergunta bem humorada: <i>E a que conclusão chegaram</i>?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Que você homens são todos iguais</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Pedro engoliu em seco. Não teria mais condições de se manter calmo se não dissipasse imediatamente aquela dúvida: <i>e esta moça tem um nome</i>?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Sim, mas não me lembro. Sei apenas que estuda psicologia e que foi campeã de equitação</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Pedro sentiu que um piano caira do décimo andar sobre sua cabeça. Só podia ser Olga. Ela de alguma forma desconfiara e estava jogando verde para colher maduro.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>E vocês trocaram telefones? </i>Pedro perguntou, mas de uma forma despreocupada, que parecesse a Martha, que perguntara por perguntar<i>.</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Não só telefones como endereços, pois, por estas grandes coincidências da vida, a irmã cacula dela vem este fim de semana para o Rio de Janeiro e eu a convidei a ficar conosco. Você não se importa, não querido?</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Adalgiza ouvia com atenção tudo e na realidade nem ela conseguiu conter sua curiosidade, Sem sentir, não conteve sua curiosidade: <i>Era Olga</i>? </span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Os dois concordaram simultaneamente com a cabeça. Sua pergunta foi constrangedora a Martha, mas Adalgiza, não aguentava mais de curiosidade, para descobrir o desfecho de toda aquela situação que lhe parecia, no minimo, piracotécnica. Pedro era mesmo uma galinha, e Martha uma corna passiva.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Mas foi a própria Martha que complementou com um ar de indignação: <i>foi a tal de Mercedes que em minha casa, sentada em meu sofá disse com a maior desfasatez que Pedro era filho da criança que iria parir. E foi ainda mais longe. </i>Poderia aquela pouca vergonha ir mais longe? Pensou Adalgiza, e logo a seguir descobriu que podia? <i>Ela extrevasando de felicidade, disse a este traste, que achava que estava grávida da primeira tentativa, e não da segunda</i>. <i>Logo foi premeditando por ambos</i>! Sem sentir Adalgiza transferiu seu olhar para Pedro, que se mantinha calado, e como o olhar dela era inquisitivo, obteve dele uma confirmação com um aceno de cabeça.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Então Mercedes ralmente conseguiu o que queria. Fazer uma produção independente? </i>Perguntou Adalgiza, dando vazão aos pensamentos que agora passavam por sua cabeça. <i>Não tão independente, e muito menos solitária, pois, segunda ela, sua irmã Dolores, estava grávida também, E adivinhe de quem? </i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Caralho ! </i>Foi o que escapou dos lábios de Adalgiza, mas imediatamente ela pediu desculpas<i>. Caralho, sim... ambas foram engravidadas pelo mesmo caralho, deste traste que está aqui conosco. E isto é apenas o começo da história...</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Ouve mais? </i>Adalgiza não podia crer.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Sim um mes depois, a tal que me procurara no hotel, a Olga, me telefonou e se disse igualmente grávida de Pedro. Uma para este traste era pouco, duas bom, e três demais para mim</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">O silêncio reinante naquela sala, pareceu eterno. Martha chorava, Adalgiza encarava Pedro sangrando nos olhos e este se mantinha calado, que aliás era a única coisa plauzível de ser feita, dada aquela situação.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Pedro só não entendia, porque Adalgiza o estava recriminando tanto. Afinal eles pularam a cerca de Martha, não foi uma nem duas vezes. Foram várias. Era um caso de anos. E agora a psicologa dava aquela de intelectual, exigindo aquilo pela qual ele não fora criado para dar, fidelidade. Sua vontade foi de levantar e jogar tudo para o alto. Se não já houvesse sido jogado.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Pedro, na faculdade formamos um trio. Enfrentamos muitas coisas e na grande maioria das vezes, vencemos juntos e eu sempre me vi como uma pessoa que pensava muito antes de falar, Martha, agia impulsivamente antes de pensar e você era uma coisa bonita que nunca pensou. Só uma lobotomia o faria transformar-se em algo útil. Pelo andar da carruagem, acredito que uma lobotomia tenha sido feita, pois, seu ardil e sua vivacidade aguçaram-se</i>. Mas as intenções permaneceram as mesmas</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Pedro estava de saco cheio de ser enxovalha-do por aquelas duas que deviam dar graças a Deus de tê-lo ainda por perto. E foi enfático: <i>neste caso, você me conhece muito bem. Mas a gente sabe muito bem, que a coisa não parou por ai</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Martha de repente parou de dar vazão as suas lágrimas, pois algo lhe havia chamado a atenção. Afinal o que Pedro queria dizer com aquela a coisa não parou por aí. Olhou para Adalgiza, e notou que a mesma estava por mais constrangida. Será que os dois...?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Giza, você e o Pedro tiveram algo</i>?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Adalgiza, que já estava com sua paciência no limite, achou que o melhor era colocar tudos em pratos limpos de uma vez por todas. A merda estava no ventilador e nada mais poderia ser feito para evitar a grande cagada.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Sim Martha. Eu e o seu marido querido, estamos tendo um caso há anos. Melhor precisando, desde que vocês voltaram da lua de mel no Tahiti. E este traste, é o pai do Juquinha</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Desta vez foi Pedro que demonstrou total estupefação: <i>e você, sua beata de meia tijela, nunca me contou nada? Que eu era pai do Juquinha, seu filho? Você me disse que o pai era outro</i>. Adalgiza enfureceu-se: <i>e o que aconteceria de diferente se eu houvesse contado? Você assumiria a paternidade, seu merda</i>!</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Espera ai, vocês vão discutir agora a paternidade do Juquinha, aqui na minha frente, como eu fosse uma coluna de mármore</i>? <i>Um caso de anos, embaixo de meu nariz... todo este tempo... e eu que fui escolhida para ser madrinha do filho bastardo de meu marido, com minha melhor amiga? Isto é justo? </i>Adalgiza estava com Martha pelo gargalo<i>. Era a hora daquela riquinha cheia de mimos, conhecer a história do Brasil. Não Martha, nada é justo, mas por favor não se faça de virgem imaculada, pois, sei muito bem de suas puladas de cerca...</i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Adalgiza, estou ouvindo de você que sou corno? </i>Perguntou Pedro indignado em sua honra. Olhou para Martha. Como aquela vadia tivera coragem de traí-lo, se nunca lhe faltou nada dentro e fora da cama?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Adalgiza, você é uma puta</i>! Bramiu Martha. <i>E você o que é</i>? Perguntou Pedro. <i>Santa Rita de Cassia</i>?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Puta ??? Pedro pergunte a esta santinha de pau oco, quem é a Marthinha do baixo Leblon. Pela noite estremada mulher, durante o dia uma dadeira de marca maior. Até para o porteiro de seu prédio deu</i>.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>O Antenor</i>? Perguntou ele ferido em seu orgulho. <i>Mas logo o Antenor que é careca</i>?</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Giza, você acaba de quebrar um sigilo profissional. </i>Lembrou Martha que parecia estar pronta para pular no pescoço de sua amiga, e psicologa. </span><i style="-webkit-text-stroke-width: initial;">Querida, seus casos de infedelidade são de dominio publico, apenas este corno idiota ai a seu lado, nunca descobriu que você é uma ninfomaniaca.</i></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"><i></i></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i>Ninfomaniaca</i>? Indignou-se Pedro. <i>Fazia uma verdadeira drama. Só papai com mamãe. E com os outros era uma ninfomaniaca. Vou entrar com um pedido de divórcio</i>. Martha pulou do sofá e com o dedo em riste embraveceu: </span><i style="-webkit-text-stroke-width: initial;">Não antes de mim</i><span style="-webkit-text-stroke-width: initial;">. </span><i style="-webkit-text-stroke-width: initial;">Nosso advogado na verdade é somente meu advogado, e garanto que você não sairá nem com as calças do corpo</i><span style="-webkit-text-stroke-width: initial;">.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<i style="-webkit-text-stroke-width: initial;">E quem vai assumir a paternidade do Juquinha e das três pobres crianças que vão nascer de um trifecta que este canalha fez numa familia inteira argentina</i><span style="-webkit-text-stroke-width: initial;">?</span><span style="-webkit-text-stroke-width: initial;"> </span><span style="font-kerning: none;"></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal; min-height: 21px;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<br />
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 18px; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;">Os três se entreolharam. A cortina finalmente fora fechada com aquelas confissões.</span></div>
Friends of Hallandale Beach Clubhttp://www.blogger.com/profile/10565044858800447212noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-355405200958981661.post-33004316569236714502012-07-07T10:01:00.001-04:002012-07-07T10:01:45.599-04:00O PEIDO BIBLICO<br />
<div class="post-body entry-content" id="post-body-1048373497909052245" itemprop="articleBody" style="color: #787878; position: relative; width: 498px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 14px; line-height: 18px;"><br /></span></span><div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Adão foi um cara sem infância. Afinal erigido à imagem e semelhança do Senhor, como o foi, não poderia ser de outra forma. Nasceu maduro e desenvolvido. E com todas as características de ser um futuro corno manso. </span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Dizem as más línguas, que solto no paraíso e sem nada para fazer, ele um dia descobriu que o macaco tinha achado uma outra finalidade para com o seu pinto. Resolveu experimentar em si próprio e aquilo pareceu diverti-lo, pois, já conhecedor de toda a flora e fauna, precisava de algo que lhe trouxe-se distintas sensações. E foi ai que o Senhor, para evitar que o primeiro ato libidinoso impetrado pelo nosso mais antigo ancestral, viesse a se tornar um vício, resolveu criar-lhe uma companheira. Para tal, inventor da genética, como o era, o Senhor utilizou-se de uma das costelas de Adão. E foi assim que igualmente desenvolvida, mas longe de ser madura, nasceu Eva.</span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Se bem que outras opções não houvessem, comenta-se que foi amor a primeira vista. Conheceram-se, tornaram-se amigos, e de mãos dadas eram vistos em todos os rincões do paraíso. Mas levou algum tempo para que Adão descobrisse que havia em Eva uma função a mais para seu pinto. Quando descobriram, fizeram aquela “coisa”, amaram-se, pela primeira vez, e como era proibido a utilização de qualquer tipo de preservativo, Eva engravidou. Aquele calombo que ora crescia na altura do abdomem de Eva, deixou Adão apreensivo. Seria seu pinto o causador daquela inflamação? Seria o destino de Eva inflar e explodir? Como livrar sua amada daquele negócio?</span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">A primeira reação de Adão foi apertar o ventre de Eva. O fez por seguidas vezes até que na quinta ou sexta vez, ouviu um estrondo seguido de um cheiro não muito agradável. E foi assim que o primeiro peido da humanidade, foi desferido. Só que Adão não entendeu e Eva muito menos. Aliviada, mas com o mesmo inchaço a altura da região abdominal, Eva olhou para Adão e perguntou.</span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><br /></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> - </span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">O que foi isto?</span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> - Não sei. O que sei é que saiu do fundo de você.<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Eva que desde sua criação se mostrara dissimulada, se fez de desentendida e com aquela expressão angelical, perguntou.</span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> - Você tem certeza?</span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Adão com um aceno afirmativo de cabeça, demonstrou que sim.</span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> - E você acha que foram estes apertões, que você meu deu?</span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Adão não só tinha certeza, como nenhuma dúvida, que era preferível deixar sua amada explodir, a ter que sofrer novamente com aquela terrível sensação produzida por aquele tenaz cheiro, que agora entrava em suas narinas. E assim nenhum outro apertão veio a ser dado na barriga de Eva, nenhum outro peido foi desferido pela mesma e ao final de mais alguns meses, nasceu algo pequeno, que não parava de chorar, mijar e defecar. Mas pelo menos, Eva não havia explodido e seu calombo desaparecera. </span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Dizem que em hebraico Caim, seria escrito Qayin, o que significaria lança, Todavia, o nome de Caim pode também estar associado a outra forma verbal, como Qanah, que significava provocar ciúmes. Nunca foi determinado quem escolheu este nome, afinal filho feio não tem pai. E Caim era feio, tinha um pinto pequeno, sempre se mostrou um cara meio estranho e revela-se que como Eva deu a luz de pé, ele caiu, dai a escolha do nome ser Caim, que na língua paradisíaca, deveria significar algo como aquele que caiu, ou coisa que o valha.</span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Caído ou não, Caim era uma peste. Matava todo ser vivente com seus gases, desobedecia a seus pais, gostava de colocar fogo nas coisas, corrompia seus irmãos com pagamentos mensais de coisas que não lhe pertenciam, adorava fazer experiência de dissecação com todo o ser que respirasse, e tinha no estrangulamento sua maior forma de divertimento. Adão não o compreendia. Suspeitava apenas, que da junção daqueles apertões que dera no calombo de Eva, com a batida de cabeça no chão ao de Eva despencar, Caim de alguma forma fora afetado. O tempo provou a ele, que esta não era a verdadeira razão.</span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Sem sacar ainda, que aquela “coisa”, era a razão da origem daqueles calombos, Eva ficou grávida uma segunda vez. Sem apertos no calombo e agora encontrando uma posição deitada para parir, nasceu outro ser de pinto, a quem deram o nome de Abel. E que por estas coincidências da vida era amável, dócil, muito chegado a seus pais e para desespero do primogênito, tinha um pinto grande e vistoso. O oposto de Caim, que por ele encharcou-se em ciúmes desde o primeiro dia. </span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Com as duas experiências, agora escancaradas às suas frentes, Adão e Eva, não precisavam ser gênios, para sacar como as coisas dali para frente deveriam ser feitas. E ademais ter filhos, naquela época não era um problema, pois, não haviam pagamentos da casa própria, despesas com uniformes, cadernos e escola e a comida sobrava por todos os lados. E a partir dai, nasceram meninas e meninos, pois Eva era uma “parideira” de primeira linha e acima de tudo, realmente gostava da “coisa”.</span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Um dia, chegando sem avisar, Adão resolveu tirar uma prova da fofoca que andava rondando as cercanias do Eden. E viu Eva cheia de intimidades com uma serpente, que nela se enroscava, passando com certa lentidão pelas partes mais intimas. Surpreendeu-se, pois, a sensação que teve, era que a mãe de seus filhos, estava tendo muito prazer com aquele contato. Será que o macaco Lula, estava com a razão? Custara-lhe crer a principio, afinal o macaco Lula era reconhecido por sua demagogia, fraco caráter e pela capacidade que tinha em corromper todo aquele que dele se aproximasse. Mas que mesmo assim, com sua lábia, agradava aos símios, e os tinha nas mãos para poder fazer dele o que quisesse. Para tal distribuía cestas básicas de bananas.</span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">De volta a selva, resolveu saciar sua curiosidade</span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> - Macaco Lula, que tal é esta serpente?</span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><br /></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> - Cumpanheiro. Esta serpente, é homi. Se chama-se Dirceu, e é o pai do Caim. E Caim vai cagar a tua vida e do paraíso, que além de tudo, está cheio de uma ave maldita chamada tucano. Cheio de cores e cum bico maior que eles. Cuidado com estes também. Criticam tudo sem poder provar. - como notou uma certa perplexidade na expressão do primeiro corno da humanidade, o macaco Lula complementou - Escuta aqui ô Adão, você não vê que a Eva é mulher fácil? Foi logo dando para o primeiro que viu... O que se pode esperar de alguém que veio de uma costela?</span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Era difícil de acreditar, mas o macaco Lula poderia estar certo. De volta a sua maloca, Adão descobriu que Caim, dentro todos os seus filhos era o que destoava em caráter e atitudes. Na verdade, não tinha mal caráter. Pior, tinha completa ausência do mesmo. Era o único que soltava gases, por cima e por baixo, para irritar a todos que o cercavam. Fazia-o com sadismo. E não mais para sua surpresa, era assim mesmo, o grande preferido de Eva, que pelo pilantra, fazia todo e qualquer sacrifício. Até o de fingir não notar as intenções do provável bastardo para com sua irmã, a formosa Avan.</span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Diz a história que um dia Abel pegou Caim, explicando a Avan de como ela deveria levar a boca seu pinto, como se fosse uma jaboticaba, sem morder. Os dois brigaram e Abel levou a melhor. Era menor em tamanho, porém maior em força, coragem e determinação. A partir daí, Adão não teve mais dúvidas, Abel era seu filho e Caim era da serpente.</span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Mas para se vingar, a história retrata que Caim um dia pegou Abel desprevenido e lhe deu com uma pedra na cabeça. O que mais tarde foi descoberto, com mais uma das representações dadas pelos livros sagrados, em sua habilidade de dourar a realidade. Na verdade, Caim, que era hábil na arte da fratulência, aproveitou-se de Abel ter um sono pesado, e peidou junto ao nariz do irmão, que morreu asfixiado. Este foi o primeiro homicídio da história humana e a verdadeira arma foram os gases fecais de Caim, e não a pedra defendida pelos livros sagrados. Compreendo que explicar a real versão do acontecido, em um livro sagrado, seria dose! </span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Malandro como era, Caim sacou que o castigo viria de alguma forma: ou por seu pai oficial Abel, ou por aquele tal do Senhor, que nunca vira, mas que por todos era respeitado. E naquela mesma noite, na calada da mesma, sequestrou a Avan, transformando-a em sua amante, e impetrando assim o primeiro incesto de nossa história. E pôs o pé na estrada. Encontrou a Terra da Fuga, reconhecida como o Nod. Com o nascimento de seu primeiro filho, Henoc, cujo apelido era o Dirceuzinho, em homenagem a seu pai biológico, decidiu criar raízes e formar uma cidade, que os livros sagrados teimam em dizer tratar-se de Henoc. Não é verdade, depois de ter vários filhos, quase todos machos com sua mulher Avan e duas de suas filhas, que por razões de discreção aqui me recuso a citar seus nomes, ele os fez erigir seu sonho. A todos chamava de candangos e ele construiu no meio do nada, algo que se chamou Brasilia, um templo à corrupção, demagogia, a seu pai biológico e onde a lei, ou melhor a falta da mesma, era por ele ditada.</span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Dizem os antigos que <i>o castigo vem a cavalo</i> e <i>quem envenena, bebe do mesmo veneno</i>. No caso de Caim, o cavalo custou a chegar, mas o veneno não. Um dia, quando dormia, teve um sonho estranho. Soltou um fulminante peido, que o fulminou, já que com o deslocamento do ar, fez o teto cair sobre sua cabeça, e como o irmão que assassinara, morreu por insuficiência respiratória. Mas infelizmente, deixou imensa prole, que não foi dizimada como defendido nos livros sagrados, com o evento do diluvio, que fez Noé construir seu barquinho. do qual seus mais importantes descendentes foram Nero, que dele pegou o cacoete de colocar fogo em tudo, Hitler que adorava a utilização de gases para eliminação de seu próximo, Jack o estripador, que estrangulava suas vitimas, Joseph Mengele, que tinha prazer em fazer experiências com o gênero humano e muitos que o copiaram e assim inventaram o mensalão.</span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Por nunca ter soltado um peido sequer, consta que Adão morreu aos 130 anos, mesmo tendo sido expulso do paraíso. Não é conhecido o paradeiro de Eva, que com saudades de Caim, passou a se utilizar daquilo que tinham em comum; a arte da fratulência. </span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span></span></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; font: normal normal normal 12px/normal 'Bookman Old Style'; line-height: 1.4; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Segundo o macaco Lula, a serpente abandonou Eva e depois daquela história mal contada da maça, o Senhor decidiu dar um fim a toda aquela história, que ele mesmo criou e agora se arrependia. Mas o que fazer, se agora tinha criado uma tal de humanidade?</span></span></div>
</div>Friends of Hallandale Beach Clubhttp://www.blogger.com/profile/10565044858800447212noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-355405200958981661.post-23123883932892082412012-06-29T14:22:00.000-04:002012-06-29T14:48:28.919-04:00SOU PENTA CAMPEÃO<br />
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Fazem
10 anos que o Brasil conquistou a sua última Copa do Mundo. Todo
brasileiro que se preze sabe exatamente o que fazia naquele 30 de junho
de 2002. Até eu que acompanhei, sozinho com minha mulher o jogo, em
nosso então apartamento, em lexington Kentucky. Outrossim, isto me fez
lembrar de um história, que agora aqui passo para vocês, acontecido com
um cara que ganhou uma viagem dos amigos aos Estados Unidos, pois, por
ser considerado pé frio, pelos mesmos, não teria então a chance de
assistir a final do brasil no Japão. Vamos a ela.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Orozimbo
estava de volta a São Paulo pronto para pegar seu avião que o levaria a
seu destino final; a cidade de Miami. Estava agora a espera em seu
telefone. Aquela musiquinha irritante parou e finalmente a atendente da
American Airlines deu o ar de sua graça. Se é que possa haver graça na
American e em suas atendentes...</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Obrigado por ter chamado a American Airlines. Aqui fala a atendente Marilyn. Em que posso servi-lo?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Senhorita
recebi um recado aqui no hotel que sua companhia estava precisando
falar comigo. Estava hospitalizado em Fortaleza...”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“É o senhor é? </i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Orozimbo Malaquias Lafayette... Reliquias.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Senhor Reliquias</i>?<i>”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Ele mesmo, a seu inteiro dispor”. -</i>
respondeu o próprio, ciente que não haver a menor possibilidade de
constar outro com o mesmo nome, na lista de passageiros daquele vôo. A
n’ao ser sua esposa. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Orozimbo,
não era um nome. Era um insulto, uma praga que trazia desde criança e
que o mantinha distinto de todos os demais seres humanos. Se bem que
depois do Eventivo e do Elêncio, ele não se sentia tão só em suas
agruras... Agora o pior era ser Reliquias...</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Nosso
voô do dia primeiro infelizmente foi cancelado e nós estamos tendo uma
certa dificuldade em realocar os passageiros devido ao grande número de
reservas”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Em outras palavras, vocês para variar estão overbook?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Não
necessariamente, mas poucas são as vagas que restam. Assim realocamos o
senhor e dona Cristina Antônia novamente para o dia 29...”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Como a senhora disse?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Dia 29”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Dia 29? Sábado? Este sábado, a senhora quer dizer?</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Exatamente. Sua data inicial”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Mas
eu não quero ir dia 29. Por isto mudei com antecedência a data, paguei a
multa e a diferença de preço na passagem e creio aceitaram a mudança,
pois tenho até o código da nova reserva”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Entendemos e o terá creditado em seu cartão todas estas dispesas, anteriormente lhe cobradas...”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Desculpe,
mas parece que é a senhorita que não está entendendo a situação. Eu náo
quero ir dia 29. Por isto mudei a data e me assujeitei a pagar esta
exorbitância que vocês me cobraram”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“
Entendo. Se o senhor não quiser ir dia 29, eu creio que o senhor poderá
viajar depois do dia... deixe-me ver aqui... depois do dia oito de
Julho? Nós teríamos vagas...”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Depois do dia 8? A senhora está delirando</i>?<i>”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>
“Infelizmente não. O senhor desejaria confirmar sua viagem para o
dia 29 de Junho nestes dois lugares, que são os últimos, ou prefere após
o dia oito?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Era
incrível a apatia com o que aqueles autômatos de viações aéreas o
tratavam pelo telefone. Apatia e total desprezo pela natureza humana. A
verdade é que depois da vitória sobre a Turquia ele pessoalmente
remarcara seu bilhete pelo telefone. Haviam aceito e lhe deram até um
código de confirmação. E agora vinham com aquela conversa mole de cerca
pimenteira. Mas fora época que ele aceitaria passivamente aquela
mudança.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i> “A
senhora não está entendendo. O Brasil joga as sete horas da manhã do
dia 30. Eu não gostaria de estar dentro de um avião quando isto
acontecesse. É a final da Copa do Mundo! FINAL! Agora acredito que até a
senhora possa entender. Por isto remarquei minha viagem para o dia
primeiro. Depois do jogo. Depois da comemoração. A senhorita entende, ou
vou ter que desenhar?”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“ Evidente que sim. Mas dia 29 era a sua data original”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>“Pois
é, foram uns amigos meus que me deram esta passagem. Eles temiam que eu
assistisse o jogo. Mas isto foi no tempo que se acreditava que eu era
pé frio. Resolvi adiar por dois dias e assistir o jogo aqui no Brasil”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>“Pé o que?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>“Pé frio. É um termo brasileiro. Azarado. Sem sorte”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span></i>A mulher fingiu ter entendido.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>“Se
este é o caso, a boa noticia é que o nosso voo aterrisa as 6:00 horas
da manhã no Aeroporto Internacional de Miami. O senhor terá ainda tempo
mais do que suficiente de assistir o jogo em algum local de Miami. Logo,
não haverá problema algum”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span></i>Aquela
mulher estava realmente vivendo um conto de fadas, pensou Orozimbo
tentando manter-se calmo. Como ela poderia acreditar que hoje em dia
você consegue aterrissar na hora. E se este milagre acontece graças ao
bom Deus, tem ainda o privilégio de abandonar o aeroporto menos de duas
horas depois? Impossível com as medidas de segurança dos aeroportos
norte-americanos. Só se for o próprio Bush! Você tem que se despir, ser
ascultado por aquelas máquinas detectoras de metais, passar por
descargas de raio-x, entrar em filas quilométricas, sorrir e agir como
uma verdadeira ovelha a caminho do matadouro. Todo o passageiro é um
hoje um terrorista em potencial para as autoridades norte-americanas.
Mas ela não parecia ser a pessoa adequada a ele dirigir aquelas
observações de cunho estritamente pessoal. Logo, preferiu deixar de lado
os aspectos operacionais e ir direto ao âmago da questão.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>“Primeiramente
eu gostaria de lhe dizer que eu gostaria de assistir o jogo no Brasil, e
não me consta que Miami esteja dentro de nossos limites. Aliás, aonde a
senhorita me sugere que eu deva assistir a este jogo, chegando em
Miami? Na casa de sua avó? Ou quem sabe a senhorita tenha outra
sugestão, tipo na embaixada do Iraque?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span></i>Ela se manteve calada. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Eu
quero assistir este jogo aqui! Meu voô foi remarcado para o dia
primeiro. Paguei por isto, o que me pediram. Vocês naquela oportunidade
disseram que haviam vagas e selamos a mudança. Creio que deveriam honrar
o contrato que fizeram comigo. Ou estou enganado?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>“Infelizmente não é nossa culpa…”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“E
de quem é? Minha? Do Saddam Husseim? Do Osama Bin Laden? Minha senhora
vamos falar sério. Algo aconteceu para que me colocassem de volta no dia
29. Vamos e venhamos. Pela primeira vez na vida seja sincera.”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“O senhor não precisa perder a calma”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Muito
pelo contrário. Eu não estou perdendo a calma. Estou apenas perdendo a
oportunidade de ver o Brasil de ser Pentacampeão do mundo. E é senhorita
é que está criando esta possibilidade. Pode entender a diferença?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>”Absolutamente. Estamos tentando resolver o seu problema...</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Meu
problema? Eu não tenho problema algum. Tenho um ticket para o dia
primeiro e vou embarcar. Se há um problema, este problema é da American.
E a senhora está tentando resolver o problema de sua empresa, não de
minha vida”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Com certeza, mas estamos com problema em uma das aeronaves e assim tivemos que suprir um de nossos vôos”. </i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i> <span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>“Não simplesmente um de seus voôs. Mais especificamente apenas o meu voô. Estarei correto?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>“Pode se dizer que sim...” </i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Porque
não o voô do dia 29? Porque logo o meu? Será que aí na American ainda
acreditam que eu seja pé frio? Vocês não viram a bola desviar no bico da
chuteira do belga?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Senhor Reliquias..”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“E a encaçapada que o Ronaldinho deu no ângulo do goleiro inglês? </i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Senhor Reliquias...”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“E
o gol de bico do Ronaldinho contra a Turquia? Vocês acham que foi obra
apenas obra da imaginação fértil dos meninos? Vocês acreditam que eu não
tenha vindo nada a ter com estas mudanças?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">O cara tinha desvairos mentais, pensou a atendente.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i> “Senhor Reliquias. Por favor. Como lhe disse, podemos marcá-lo para depois do dia oito se assim o senhor desejar.”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Ela parecia ter a objetividade e a rapidez de uma centopéia manca.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Dia
oito? E os compromissos que tenho ai no seu país, como farei? As
reservas de hotel os tickets da Disneyworld? E a semana que terei que
passar em um hotel daqui de São Paulo? Quem os paga? Quem? Quem?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span></i>Cristina
assumiu o comando telefônico pois sentiu que dali para frente o papo
tenderia a escorrer pelo ralo e depois de muito disse, não disse, topou
mesmo ir no dia 29. Não havia outro jeito. Era ir ou não ir. Agora era
torcer para o avião não atrasar, a alfândega não estar repleta e não
acharem o Orozimbo com cara de terrorista. O que, com a sorte dele, não
era uma possibilidade impossível de ocorrer.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span><i>“Você falou, falou e acabou fazendo exatamente o que a mulher da American queria.”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span><i>“Lógico.
Tudo culpa sua. Eles deixaram recado aqui terça-feira de manhã. Eu lhe
avisei e você só ligou agora na quarta depois do almoço. Se tivéssemos
falado com eles na terça, talvez estivéssemos no avião do dia primeiro.
Mas você não fez caso e agora seremos obrigados a ir dia 29. Como sempre
é você que faz a cagada, Oró”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span></i>Depois
de 25 anos de casado Orozimbo aprendera que nunca tinha razão. Mesmo
agora que fazia com que as coisas acontecessem em uma Copa do Mundo nos
conchinchins do final do mundo, sua mulher não acreditava nele. Até o
Ronaldinho dando bico, e sua reputação continuava a mesma. A American
Airlines, uma companhia falida, possuía mais credibilidade que ele
próprio. E assim sendo, recolheu-se a sua insignificância matrimonial.
Não seria a primeira e com certeza não seria a última também. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; min-height: 15.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: center;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>II</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; min-height: 15.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i></i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span></i>No
dia 29, o voô saiu com um atraso de quase uma hora e completamente
lotado. Gente saíndo pelo ladrão. Todos, ou asiáticos, norte-americanos e
argentinos. Poucos brasileiros. E não se poderia esperar ser de outra
forma, afinal qual brasileiro iria viajar numa noite como aquelas com
chances de perder a transmissão do jogo final da Copa na manhã seguinte?
Apenas um idiota como o Orozimbo e mais três dúzias de argentinos, que
estavam loucos para esquecer que eram os brasileiros e não eles, que
entrariam em poucas horas em campo para enfrentar a Alemanha em
Yokohama.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">A
comida para variar estava péssima, o atendimento superficial e o avião
jogou mais que prato de gelatina na mão de bêbado. Mas além das malas
não chegarem com a rapidez que se esperava, Orozimbo teve que entrar
naquela fila dos pobres coitados que tem que tirar o sapato, as meias e
praticamente se despir à frente de uma gorda escalafobetica sedenta para
achar qualquer metalzinho que pudesse incriminá-lo. Enfim, o calvário
de se passar por um aeroporto norte-americano e não ser nascido no
Texas. E quando tudo parecia estar resolvido, eis que um dos
funcionários do serviço de segurança do aeroporto de Miami resolveu
encrencar com sua peteca.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“What is this</i>?” (O que é isto)</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Peteca.” -</i>
respondeu prontamente Orozimbo, como se aquela terminologia fosse de
fácil compreensão por parte daquela autoridade nascida em Oregon e
criada em Iowa, onde uma peteca parecia mais um objeto terrorista do que
propriamente a peça de um jogo idiota muito utilizada pela colônia
mineira. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Mas a pobre da peteca tamborilava entre as mãos dos dois policiais. Olhavam-na por todos os seus ângulos.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Pitica?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“More or less. Peteca. To play. Play. Did you understand?” </i>(Mais ou menos. Peteca. Para jogar. Jogar. Você entendeu?)</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“To play? How you can play that thing?”</i> (Para jogar? Como você pode jogar com esta coisa?)</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Exactly what you are doing now”.</i> (Exatamente o que vocês dois estão fazendo neste momento).</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">A
discussão se tornou ainda maior quando uma crioula do estado de New
Jersey se aproximou. Ela conhecia bastante bem aquele artefato, pois
havia trabalhado seus últimos cinco anos no serviço de segurança do
aeroporto Kennedy. E uma turma clandestina de uma tal de Governador
Valadares, sempre trazia aqueles artefatos com eles.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Are you from Governador Valadares?” (Vocês são de Governador Valadares</i>?<i>) - </i>perguntou
na lata com aquela delicadeza própria da autoridade norte-americana de
funcionários de segurança, que acredita estar a frente de mais um
clandestino latino.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“No, Governador Valadares. Me from Rio de Janeiro. She from Recife. This is to play. Did you understand</i>?”</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Eles
pareceram ter mais fé em Cristina. Mas se recusaram a liberar a peteca.
Era a peteca ou a final da Copa. Quando já pareciam liberadas a
goiabada e o queijo catupiry foram descobertos...</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Felizmente só estes três ítens vieram a ser apreendidos. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">"Decidi. Vamos perder nossa conexão para Orlando. Vamos pernoitar aqui em Miami".</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Só você Orozimbo, para trazer uma peteca para Miami. Com quem você pensa que iria jogar</i>? <i>Como o Mickey Mouse?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Orozimbo se manteve calado. Cristina estava possessa. Viajar com o Orozimbo, era pior do que com duas crianças. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">“Não vamos entregar nossas malas. Vamos sair com elas. <i>Temos que achar alguém. Já deve estar rolando o primeiro tempo. Olha aquele crioulo ali</i>”
- comentou Orozimbo, já no hall do aeroporto, com um carro cheio de
malas à sua frente, apontando para um negro uniformizado, magro e alto,
com a cabeça coberta de trancinhas. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Pergunta a ele Cristina, se ele sabe quanto está o jogo”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>“Porque sempre sou eu?” - perguntou ela levando as mãos as cadeiras.“ </i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>“Porque um cristão tem que ser a vitima para carregar suas pesadas malas. E quem sabe ele esteja acompanhando o jôgo”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i> <span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span></i>Cristina o olhou de esguelha. Aquele era o primeiro aviso.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“E
como você sabe se aquele cara tem alguma idéia de quanto está o jogo?
Para mim ele parece estar mais ligado a um reggae do que em futebol”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Pelo
menos é crioulo. Existe alguma chance. Branco nem pensar. Vão imaginar
que estamos falando de Hokey no gelo. Pergunte a ele. Vai ser dificil se
achar um outro carregador para estas SUAS malas”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Cristina se aproximou do cara meio a contragosto, porém sorridente como sempre, perguntou em inglês. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>”O senhor sabe quanto está o jogo?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">O cara olhou para a Cristina como se ela estivesse aportado de Marte e com um sotaque jamaicano retrucou em forma de pergunta. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Que jogo?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>”O da Copa do Mundo” - t</i>entou pacientemente Cristina mais uma vez.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>”Que Copa do Mundo?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Agora
ela tinha plena convicção que eles realmente haviam chegado aos Estados
Unidos. O país virado para dentro. Uma Copa do Mundo estava sendo
disputada e aquele bucéfalo não tinha a menor noção. Aliás, por sua
expressão, Cristina diria que sua próxima pergunta poderia ser. <i>“Que mundo?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Não importa. Mas rrecisamos de seus serviços”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Achou melhor ir ao encontro de seu marido. Ciente do ocorrido, Orozimbo tomou a decisão das decisões. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Vamos arrumar um taxi e correr para algum hotel aqui perto”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Porque não vamos ao Delano? Afinal seus amigos estão pagando”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Porque o Delano fica longe para burro. Me disseram que está localizado em frente a praia. South Beach”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Mas pelo menos deve ser animado”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Não, se chegarmos depois que o jogo acabar”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Não
exagere. Não tenho culpa se você trocou a passagem e resolveu trazer
sem meu conhecimento peteca, goiabada e queijo catupity. Vamos ao Delano
e está resolvido. Táxi!”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Se
há uma coisa que você não deve fazer quando está correndo contra o
tempo é discordar de sua esposa. Esposas tem aquele sexto sentido. “<i>Vamos pela escada</i>” Aí você opta pelo elevador e se estrepa. <i>“Não tome Coca-Cola”.</i> Você desobedece e se estabaca da escada. <i>“Ligue para American”</i> Aí você não liga e as reservas terminam. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Enfim, contrariar esposa é o mesmo que pisar no calo de um bruxo. Você acaba pagando muito caro.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; min-height: 15.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: center; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>III</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; min-height: 15.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Hotel Delano, please!”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Brasileiro?”</i> - perguntou o chofer de táxi de forma instantânea.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">“<i>Deu para sacar que eu era brasileiro, só pelo please?”</i> - perguntou Orozimbo atônito com tamanho senso de observação.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Não. Pelo número e o peso das malas”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Para
uma pergunta idiota nada melhor que uma resposta não menos idiota. Mas
pelo menos ele deveria saber alguma coisa sobre o placar. E isto é o que
mais o interessava no momento. Afinal era brasileiro.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Você sabe quanto está o jogo?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Não
sei e não quero nem saber. Sou daqueles que quando estou em casa, ligo a
televisão e vou para o outro quarto. Quando o cucaracho da Univision,
grita gol, corro para ver. Não tenho mais coração para assistir jogos da
seleção brasileira em Copas do Mundo. Sou do tempo do Garrincha e do
Pelé. Do tempo em que a gente ia para o estádio dando gargalhada, já
imaginando de quanto seria o placar. Agora com Zagalo, Parreira, Felipão
e companhia, prefiro dar uma de morto”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Eu não aguentaria. Passei também anos sem ver os jogos da seleção”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Coração?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Não, pé frio mesmo”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">O
velho o olhou pelo espelho retrovisor. Coração era coisa que poderia se
tratar. Pé frio não. Mas pelo sim e pelo não, alertou ao passageiro.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>
“Posso apenas lhe garantir que o Brasil ainda não fez nenhum
gol. Se fizer, minha patroa me chama imediatamente no celular. Logo, ou
estamos perdendo ou empatando em zero a zero”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">
Aquilo era reconfortante de saber. Orozimbo consultou o relógio.
Devia estar no meio do primeiro tempo. Se não houvesse trânsito,
chegariam ao Delano com cinco ou dez minutos da segunda etapa. Melhor do
que nada.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“O que o senhor acha?”</i> - perguntou o taxista, puxando conversa.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Sobre o que?””</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Do jogo, é lógico”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Acho
que dá Brasil. Mas creio que vai ser no final uma guerra entre
goleiros. De um lado o Muro de Berlim e de outro o São Marcos nos
salvando das bobeiras do Lúcio e das irresponsabilidades do Edmilson”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Foi o Orozimbo acabar de falar e o telefone tocou. O motorista quase perde a direção. Quase a largou e gritou<i>. </i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Fizemos um, fizemos um”. </i>- E apertando o botão de recebimento de seu aparelho o levou ao ouvido. - <i>“Elvira, minha cocadinha branca foi de quem? Do Ronaldo ou do Rivaldo?”. - </i>Sua fisionomia mudou nos segundos seguintes. - <i>“Na
trave? Sei... E você sua pata choca me chama para dizer que o Kleberson
carimbou a trave da intermediária? Escute aqui Elvira, trave não é gol,
sua dromedaria! Quase bati com o carro por causa de uma bola no
travessão?. O que você quer, mulher? Me matar do coração? Receber o
seguro e quitar a casa</i>?<i>”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Por
segundos ele se manteve calado, mas espumava perdido no mais alto
estágio de sua indignação de ter dado vazão, as suas mais íntimas
alegrias, inutilmente. Mas como Orozimbo, o taxista tinha plena
consciência que discutir com esposa era sinônimo de uma noite mal
dormida no sofá. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Ok…,
ok… desculpe meu bem. Sei que você está fazendo um favor. Ok... sei que
Portugal já foi desclassificado?... Sei de tudo. Mas dá pelo menos para
você me dizer quanto está o jogo? </i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>O</i>s
segundos se passaram e dentro daquele carro a carga de ansiedade se
tornou sufocante. O coração de Orozimbo ia de um lado ao outro do
peito. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Zero
a Zero ainda. E o Ronaldinho já perdeu duas em frente ao goleiro? Meu
Deus, o que? Não desliga. Não desliga. Deixa eu escutar, pelo amor de
Cristo. Vai... Vai... Puta que Pariu!” </i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">E
olhando para Orozimbo e Cristina que estávamos no banco de trás, loucos
para lhe arrancar aquele telefone do ouvido, comentou. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Desculpe
o português, mas o Ronaldo chutou a queima roupa da marca do penalty e o
tal do Khan defendeu com os pés! O cara é um monstro. Uma muralha...
Não... Não estou falando com você. Estou falando com os passageiros meu
bem. Sei... sei... Querida vou desligar. Mas lembre-se só me chame se o
Brasil fizer gol. Não vale na trave ou antes de cobrar o penalty. Só
depois. Entendeu, meu amor?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Pelo jeito ela tinha entendido, pois, ele desligou.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">“<i>Minha esposa é portuguesa...</i>”</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Devia ser a forma educada de dizer tratar/se de um toupeira, pensou Cristina </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Parece que estamos jogando bem. Pelo menos isto…” - c</i>omentou Orozimbo, tentando arrancar mais alguma informação que saciasse, pelo menos que momentaneamente, sua inquietude.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Não
tenho a menor ideia. A Elvira não entende patavina de futebol, é mÍope
qual um chimpanzé e se recusa a usar óculos por pura vaidade. O senhor
sabe. Mulheres...”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Por
puras razões de segurança pessoal, Orozimbo preferiu não concordar com a
assertiva do chofer que apresentou-se a seguir, como já fosse um
conhecido de longa data.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Icaray dos Santos, para o que der e vier?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Orozimbo
achava que não iria dar. O cara não dirigia. Se arrastava. Parava em
todo o sinal de Stop e olhava para todos os lados com o trânsito vazio.
Ver o jogo, estava parecendo uma probabilidade cada vez mais remota.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Mas se não levamos um gol ainda, temos chance. Quanto tempo você acha que precisamos mais, para chegar ao hotel?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“De
doze a quinze minutos. Depende de quando chegarmos a South Miami Beach.
A esta hora creio que não haverá muito trânsito por lá. Mas nunca se
sabe”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Puxa vida, não dá para o senhor acelerar um pouquinho</i>?”</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Cristina encrespou-se.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Deixa o homem dirigir. Estamos atrasados por única e exclusiva culpa sua. Quem mandou trazer peteca e goiabada</i>?”</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">O
telefone voltou a tocar, e o carro quase se chocou com o da frente no
pedágio. O Icaray se esqueceu de frear, levou as mãos a cabeça e
consequentemente abandonou o volante e todos ficaram a centímetros do
parachoque da Mercedes à frente. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Gol do Brasil, gol do Brasil”. </i>Gritava ele apoplético, sem atender ao telefone. - <i>“Meu Deus santíssimo, muito obrigado!”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i> “Porque você não atende para confirmar?” </i>- perguntou Orozimbo, agora temente pela própria vida.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i> ”Porque se for a Elvira me dizendo outra bobagem eu juro que estrangulo aquela vadia”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span></i>E ficar na dúvida? Aquilo não pareceu uma boa idéia para o Orozimbo. Tão ansioso se encontrava, que não pensou duas vezes<i>. </i>Ao tilintar seguinte se apossou do celular do Icaray, sem o mesmo dar permissão para tal.<i> </i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>”Sim”. </i>- respondeu ao chamado.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">O motorista o olhou surpreso, mas agora tinha que achar as moedinhas. Mas surpresa estava a voz do outro lado ao perguntar.<i> </i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Quem é o senhor? Aonde está o Icaray?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>
“Dona Elvira sou o passageiro. O senhor Icaray, está ocupando
pagando o pedágio e me pediu para atender e perguntar a senhora de quem
foi o gol?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Ninguém fez gol. Acabou o primeiro tempo. Me passa o Icaray”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Elvira era evidentemente uma toupeira, pensou Orozimbo, passando as mãos do taxista o telefone.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Não foi gol e ela quer falar com o senhor”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Icaray
deu uma porrada com os dois punhos eu seu volante. Suas mandímbulas
tremelicavam de raiva. Como, aquela besta da Elvira o podia chamar sem
que houvesse sido gol? O que ela queria? Receber seu seguro mais cedo?
Engoliu o fel do desrespeito à raça humana, principalmente a lusitana, e
olhando para trás, deixou claro o que sentia no fundo de seu peito
dilacerado. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Eu mato esta mulher. Ela quer me matar do coração. E vai conseguir.” - </i>respirando fundo ele levou o aparelho a seu ouvido e já mais calmo atendeu com clareza<i>.
- “Sim Elvira... Não nada disso... De maneira alguma eu disse que a
mataria. Você ouviu mal... O que você quer querida? O que?... Repita...
Que traga pão? Você quase me mata do coração para pedir que eu não deixe
de passar na padaria?” - S</i>e manteve calado por segundos. - <i>“Escute
aqui, você enloqueceu mulher? Ou está querendo que eu empacote de uma
vez, para embolsar o seguro de vida? Desliga e só me liga de volta em
caso de gol”. <br />
</i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Mas o Icaray não conseguia se desvencilhar do telefone. A Elvira parecia ser realmente dose.<i> </i>Orozimbo olhou para a Cristina e antes que pudesse dizer alguma coisa ela deixou claro sua posição.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i> “Tudo
culpa sua. Se tivesse ligado para a American como eu lhe falei, isto
não estaria acontecendo. Tudo culpa sua. Peteca, goiabada, queijo
catupiry...O que você pensa que os Estados Unidos é? Pindamonhangaba?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Discutir
era a última coisa que Orozimbo queria naquele momento. Ele ansiava por
uma televisão e queria chegar até uma delas antes que fosse tarde. O
pedágio vou vencido.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Elvira
eu vou levar o pão. Pode deixar que não vou esquecer... ontem não é
hoje querida... Vou levar... Sim... Não se preocupe que não vou me
esquecer... mas por favor preste atenção. Está me ouvindo?” - </i>por segundos esperou por uma resposta. - <i>“Bom. Você gosta de sua casa, de nosso filho e de nossa vida, não?” - </i>nova pausa. - <i>“É melhor que aquela que você tinha em trás-os-Montes, não é?” - </i>esperou mais alguns segundos diligentemente. - <i>“Ótimo. Melhor também daquela que moramos em Bento Ribeiro, antes de nos mudarmos para aqui, você não acha? - </i>os segundos de espera foram repetidos como da vez anterior. - <i>“Pois
bem, se você preza tudo isto e também a sua vida, por favor, NÃO ME
LIGUE A NÃO SER QUE O BRASIL FAÇA UM GOL! BRAZIL, NÃO ALEMANHA OU BOLA
NA TRAVE. – </i>e diminuindo o teor de ferocidade em sua voz, complementou de forma suave<i> – “Entendido? Agora vá para a frente da televisão e assista ao jogo bonitinha. Ti amo”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i> </i>E
dizendo isto, desligou o aparelho jogando-o no assento ao lado. Era uma
maneira muito estranha de amar, pensou Cristina penalizada pela
situação de Elvira, uma mulher objeto. Todos os homens eram iguais, Não
valiam nada. Egoístas.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Era
a vez do Orozimbo respirar fundo. Ele tinha que me manter calmo para
não sobrar para ele. Afinal o dia estava lindo, Miami estava linda, mas
se não chegasse a tempo à frente de uma televisão poderia ter um troço, e
certamente a Elvira iria ficar viúva. Ele mesmo se encarregaria deste
detalhe.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; min-height: 15.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: center; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>IV</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; min-height: 15.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>O
rapaz da recepção do Delano, uma flor na mais fidedigna expressão da
palavra, sentiu a aflição futebolística do Orozimbo e mesmo o achando um
vândalo de imprevisíveis proporções, apontou aonde havia uma televisão
ligada. Seu movimento de mão não deixou o menor resquício de dúvida,
qual era as sua opção sexual. E Orozimbo, embora tivesse dentro do sexo
que mais agradava a Pierre, não parecia estar enquadrado dentro de suas
perspectivas. Era velho, previsível e gostava de esportes brutos. Um
lixo!</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"> Era
no bar, a poucos metros dali, que a televisão estava ligada. Orozimbo
deixou Cristina e as malas, garantindo a flor do recepcionista, que
voltaria após o termino do jogo, para cumprir com o restante das
formalidades do <i>check in</i> e pegar as chaves. Saiu qual um leopardo faminto a caça de sua presa, o televisor. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Cristina
não o seguiu, a principio, pois, estava preocupada com o destino de
suas malas. Afinal estavam em Miami, cuja diferença para o Rio é apenas o
idioma. Aqui se falava espanhol.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">O jogo ainda estava zero a zero. Minutos depois Cristina chegou com cara de poucos amigos, para juntar-se a ele.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Você me deixa lá plantada na recepção que nem um poste”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Benzinho, o jogo está comendo solto. Está ainda zero a zero..”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Logo, não perdemos nada”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Aquele era o típico raciocínio de uma mulher.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"> “<i>Você notou quanto deu de gorjeta para o tal do Icaray?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>
“Notei, mas não quis esperar o troco. Vamos gastar uma fábula por
esta sua idéia de ficar aqui no Delano hoje a noite e você está ainda
preocupada com um troco de oito dolares que deixei para um pobre coitado
de Bento Ribeiro que é casado com uma anta miope e que escuta jogo de
final de Copa do mundo por telefone?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>“Ué, pelo que me consta, Bento Ribeiro é a terra do Ronaldo”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>“Mas o Ronaldo deu certo. O Icaray não!”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span></i>O
bar estava superlotado e vazando estrangeiros por todos os lados.
Todavia, a exceção de meia duzia de alemães e dois argentinos, todos os
demais pareciam estar torcendo pelo Brasil. A Alemanha é a Argentina da
Europa. Ninguém consegue suportar.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>“Estamos dominando. Poderiamos já estar ganhando de três se não fosse este filho de uma moreia”. </i>Comentou um moreninho ao ver o <i>close</i> dado no goleiro alemão. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">O
rapazinho notara de cara que Orozimbo e Cristina deveriam ser
brasileiros. Talvez pela camisa do selecionado brasileiro que ele
teimara em usar durante a viagem, mesmo sendo Cristina terminantemente
contra.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span><i>“Meu medo é, quem não faz leva!” </i><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>- respondeu de forma polida Orozimbo.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span><i>“Vira esta boca para lá! Quer dar uma de pé frio?”</i> - comentou o guri fazendo o sinal da cruz, por três vezes consecutivas. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Aí
o tal do Jeremias, um mal encarado jogador da Alemanha. que parecia ter
escapado de Dachau, deu um peixinho que o Edimilson salvou
milagrosamente com os pés. Aquela bola tinha endereço certo. Orozimbo
cobriu seu rosto com as mãos e por um minuto invejou o Icaray. Mas pode
ouvir, o comentário desairoso do baiano para sua companheira
desenxavida. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Depois que este cara chegou, as coisas começaram a desandar. Tá com pinta de pé frio!”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Cristina que também não deixara de escutar, imediatamente ordenou.<i> </i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Acho melhor irmos para o quarto”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Eu já disse a você que estou totalmente curado”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Mas pode ter tido uma recaída com a pressurização do avião. Vamos subir. Eu já tenho as chaves”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Orozimbo
fingiu não ter escutado. Dali ninguém o iria tirar. Mas onde estavam
aquelas vozes, que anteriormente lhe haviam alertado o que iria
acontecer? Consultou seu celular. Estava ligado. E tinha recepção. Logo,
a voz poderia ser ouvida a qualquer momento.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"> O
coração de todos veio a boca logo a seguir. A meia dúzia de gatos
pingados alemães pularam de suas cadeiras. Falta na entrada da área
brasileira. O anão do número sete corre para a bola e chuta. A bola
passa pela barreira, Marcos a espalma com a mão esquerda e ela beija o
poste. Os alemães foram a loucura. São Marcos! São Marcos, o Brasil todo
deve ter gritado, pensou o Orozimbo tendo na cabeça a consciência que
algo teria que ser feito antes que fosse tarde.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Eu acho melhor subirmos”</i> . - comentou Cristina em voz baixa. Era o segundo aviso.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">“<i>Eu também acho”</i>. - completou o petulante guri demonstrando que havia ouvido.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Cale a boca seu filhotre de babaçu!” - </i>se tornou incisiva, Cristina. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Afinal, o Orozimbo podia ser pé frio, mas o problema era dela. De mais ninguém. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">A televisão deu um close no Ronaldinho que suava aos borbotões. O italiano a frente comentou. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Ronaldo ha fatto un gol alla Romario di quelli che fa lui di solito”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Ele
deveria estar se referindo ao gol de bico de chuteira contra a Turquia,
que o Ronaldo havia feito, dentro do feitio Romário, na partida
anterior. Aquela que classificara o Brasil para a final que agora
jogava. O chamado gol do contrapé do goleiro. Pedido sobre medida pelo
Orozimbo e aceito de bom grado pela voz, a que tinha pai e parecia até
ali a mais comportada das duas. Mas o que isto tinha a ver com aquele
jogo? Será que tínhamos aqui uma versão calabresa da Elvira do Icaray? O
bico fora na verdade o detalhe da sacana da voz, que não queria apenas
que o Brasil ganhasse naquela oportunidade. Ele queria que os otomanos
nunca se esquecessem das cruzadas. Queria que a derrota viesse em um
lance desmoralizante. Por alguma razão aquela voz queria provar algo aos
turcos. E na verdade conseguira seu intento, como o fisera contra os
gregos e os britânicos.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Os
minutos passavam e o jogo se mostrava truncado. A Alemanha querendo
levar a partida visivelmente para a prorrogação e consequentemente para
os penaltys e o Brasil ansiando por uma vitoria no tempo normal, mas não
se abrindo, de forma conveniente, para conquista-la. Só um lance de
gênio poderia mudar o cenário daquela partida. Um lance de gênio ou uma
intervenção de uma delas. Mas as ditas cujas mantinham-se mudas.
Porque? </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; min-height: 15.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: center; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>V</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; min-height: 15.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">O
compositor Tim Maia disse uma vez em linguagem douta com bastante
propriedade, que o Brasil não dá certo porque aqui prostituta se
apaixona, cafetão tem ciúme e traficante se vicia. E isto era uma
verdade. E no caso presente até voz se silenciava na hora H. Todavia, o
criador ter uma preferência ecológica em detrimento de uma
antropológica, como era pregado na piada; “<i>Vocês vão ver o povinho que vou colocar lá”</i>. Para Orozimbo, um exagero. Para Cristina uma realidade.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">E
a prova disto é que em qualquer mundial, sempre haverá um sopro divino
favorecendo o selecionado brasileiro. Este é o inequívoco destino desta
nação futebolística, fadada a inflação, a desordem, a violência urbana e
as sucessivas más administrações. Uma nação obscurantista em termos
políticos, genocída em termos sociais e de uma ambivalência impossível
de ser descrita. Mas na hora H, aquela que realmente decide, alguém lá
de cima, sempre salva a pátria em se tratando de futebol, usando o jogo
de cintura naquele jeitinho bem brasileiro de consertar situações que
para outros não tem o mínimo conserto. É a inspiração divina que desce e
mostra o caminho. E assim o seria, na concepção de Orozimbo que
tornara-se um otimista e o foi. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Se prepara que eu estou de volta”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Era a voz. Soara nítida a seus ouvidos.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Orozimbo
chegou a tomar um susto. Ela estava de volta. Ele a poude ouvir
nitidamente. Cristina sentiu que algo aconteceu e arregalou seus olhos.
Seria a tal voz?</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Onde estava você? O jogo já está quase no seu final”. </i>‘ perguntou Orozimbo abrindo seu celular para disfarçar, que estivesse falando com alguém, que não aquela misteriosa voz.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Tinha
umas tarefas para cumprir Ou você acha que não tenho obrigações, Não
sou filho do homem?... Ups daisys... Comigo, não há bem bom. Mas vamos
lá, chegou a hora de darmos um empurrãozinho. Está preparado? Como você
quer?”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Não importa como. O mais rápido possível, pois se a Alemanha faz um, se fecham em copas e vai tudo para a cucuia”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">O baianinho olhou de esguelha desconfiado. Com que aquela taquara estava conversando? Mas Orozimbo não estava preocupado com ele<i>.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Escolha a forma. Você não quer deixar de ser chamado de pé frio?</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Ok. Se o senhor me dá este direito. Faz este goleiro largar uma bola fácil.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Você sempre escolhe pelo lado mais difícil...Olhe bem e deixe o seu celular ligado”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Orozimbo trouxe de volta seus olhos para a televisão. Algo estaria por acontecer. Hora de se concentrar.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Orozimbo o que o diábo desta voz lhe disse?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Orozimbo não teve tempo de sequer responder.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Diga a sua esposa que apreciamos o reconhecimento”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Orozimbo gelou. Será? E olhando para o baianinho, vosciferou. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Agora você vai ver quem é pé frio seu descamisado do pelourinho”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Ronaldo
foi desarmado e caiu na entrada da área alemã. O mais normal seria ele
fingir que havia sido cutucado no tornozê-lo para forçar uma falta. Mas
aquela mesma voz vinda do além, bramiu de forma autoritária. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Levanta Fenomeno que a bola é tua!”</i> </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">O
Orozimbo ouviu e o Ronaldinho também. Não era a primeira vez. Mas
parecia que ninguém mais! O Fenômeno apoiou-se em suas mãos, e babando
sangue, de um pulo se pôs de pé. Partiu dali qual um chita esfomeada e
atropelou o desajeitado alemão que estava com a posse total do balão.
Desarmando-lhe, como só o Nilton Santos o saberia fazer, num toque sutil
e curto fez a bola chegar aos pés de Rivaldo. E este, com aquelas suas
pernas de garça real, equilibrou-se e com a ginga própria de seu corpo,
conseguiu se colocar em posição de chutar. Chutar ou tentar ir a diante?
Naquela fração de segundos, foi aquela mesma voz que decidiu por ele. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">“<i>Chuta no meio do gol que o polaco aceita!”</i> </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Orozimbo
novamente ouviu, O Ronaldo também e o Rivaldo que já ouvira em outra
oportunidade ainda assim exitou por alguns segundos. Chutar dali contra
uma muralha como era o Khan era desperdicio na certa! </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">- CHUTA !</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Mas
o bom cabra da peste não pestanejou, ao segundo comando daquela
estranha voz, chutou. Da outra vez, contra a Bélgica, ouvira também,
obedecera e dera certo, com ajuda bico de chuteira adversária. E o fez.
Fora da área, sem muita base e no meio do gol, aonde o muro de Berlim se
encontrava. Khan sorriu, com aquela superioridade dos algozes. Ele
tinha certeza que aquela bola era sua e que morreria como tantas outras,
suavemente em seus braços. Ele nunca a poderia largar. Estava escrito
desde o tempo dos <i>kaisers</i>. Não daquela distância e não com aquela
ínfima potência. Sorriu com desprezo próprio dos crápulas, recalcando
no interior de seu peito largo, toda a tristeza de ser um ariano sem
graça com cara de chofer de caminhão. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Ai o Orozimbo ouviu pela terceira vez aquela mesma voz conclamando nosso fenômeno. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">“<i>Vai Ronaldo, que o choucrute vai largar”.</i> </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Orozimbo
ouviu, o Ronaldo ouviu, o Rivaldo também, pois, sorria desbragadamente,
antes da bola chegar a seu destino. Mas aquilo era impossível. Todos
poderiam largar aquela bola, menos o Ghegis Khan de Munique. Mas, o
Ronaldo obedeceu incontinente. Saiu correndo que nem um desvairado, com a
mesma velocidade que a bola e por um segundo, ambos, ele e a bola
pareciam estar ultrapassando a velocidade da luz. A bola aumentou
gradativamente sua velocidade e batendo no peito do Khan, fugiu do
controle de suas pegajosas mãos e foi dar nas chuteiras prateadas de
nosso Fenômeno. O alemão sai de gatinho, voa qual um Boeing 747, mas não
consegue chegar a tempo. Ripa na xulipa! Era o gol do Penta!</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Orozimbo pulou e se abraçou com Cristina e em seu ouvido só conseguia dizer. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Foi ELA. Foi o ELA. Eu ouvi. O Ronaldo e o Rivaldo também. Eles também ouviram. Que maravilha!”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Mas quem é ela?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Confie em mim, foi ELA. </i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">O
delirio foi geral. O Icaray, que Orozimbo descobriu no dia seguinte
lendo os jornais, que batera em uma árvore ao ouvir seu telefone tocar,
estava em êxtase hospitalar. O Romario pulou de alegria, na igreja onde
fora fazer uma promessa em caso de completar os mil goals. Só o Maradona
se manteve impassível em meio as seus baseados... </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; min-height: 15.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: center; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>VI</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; min-height: 15.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">O italiano a frente, uivava ao ver a imagem de Ronaldinho comemorando o gol. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Porca miseria. Una gioia incontenible!”</i>
- E quando a imagem da televisão mostrou Khan caído, vencido e
desconsolado olhando para os céus, exclamou, mirando os desolados
alemães presentes. - <i>“Deficiente!” </i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Aquele <i>pajaro de guantes</i>, que o locutor da <i>Univision</i>
não cansava de enaltecer até aquele minuto do jogo, tinha finalmente
levado o peteleco do Rivaldo e a seguir com o sutil toque do Ronaldo. E o
muro ruiu, como o de Berlim. A malícia, a perspicácia e a malandragem
brasileiras, acabavam de escrever outra história épica para a lenda
futebolística mundial. Ronaldo ria, qual um menino que acabara de
tornar realidade o seu sonho.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Mama mia come sono larghi I dentoni di Ronaldo”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">E
o Fenômeno ria com aquele seu dedinho da mão direita balançando ,
correu em direção do banco onde o Felipão o esperava para abraçá-lo.
Aqueles longos quatro anos de convulsões, contusões e recuperações
forçadas haviam finalmente abandonado a mente daquele moleque de Bento
Ribeiro, de dentes longos e joelhos operados. O fantasma estava vencido,
morto e definitivamente enterrado a sete palmos. O menino de ouro de
Bento Ribeiro estava de volta. Feliz, como nos seus tempos de pelada nos
terrenos baldios dos subúrbios cariocas. Do campo do São Cristóvão. Do
tempo que era respeitado como Ronaldo fenômeno. E este não era apenas
mais um gol. Era o seu sétimo gol em sua sétima partida. E o gol que
faria a Alemanha se abrir, ou se contentar com a medalha de prata. Nosso
menino do Rio, com aquele seu penteado ameaçador que estava fazendo as
mães brasileiras entrarem em apoplética loucura, jogara para o alto a
frieza Belga, destronara o o cinismo inglês, abafara o barbarismo turco e
agora estava enervando, os até então nervos de aço germânicos. Ronaldo
não tinha a facilidade verbal de Goethe, mas seus gols eram mais
poéticos que as linhas do grande pensador. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">O
telefone celular de Orozimbo tocou. Quem seria? Era a outra voz, que
agora se utilizava do satélite para comunicar-se diretamente com o
estupefato Orozimbo. Mas antes que o mesmo pudesse dizer alguma coisa,
Orozimbo tratou de se desfazer em mesuras e agradecimentos.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Ok. Quem quer que você seja. Você é grande. Eu ouvi”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Pois é, mas não fui eu”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Então você é outra voz?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Cristina
a que tudo ouvia e temia que fosse a cafeína da Coca Cola destruíndo os
neurônios de seu marido, fez o sinal da cruz. era verdade. O Orozimbo
ouvia vozes.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Agradeça a sua esposa pelo reconhecimento”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Orozimbo iniciou uma exsécie de tremedeira. Será que ele estava falando com ELE?</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Pois se prepare, que vai ter mais. Mas desta vez sem subterfugios. Não aceito mais interferência dele”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Dele quem?”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Você sabe exatamente a quem estou me referindo”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Um barulho estranho foi ouvido no telefone.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Alô...alô...”</i> - E voltando-se para a esposa, comentou. - <i>“Desligou, mas garantiu que vamos fazer mais um”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Cristina estava mesmo se tornando desconfiada a seu lado e lhe puxava issistentemente o braço.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i> “Oró, quem é esta voz? Uma vez vem do além, a outra via telefone. De a pouco irá mandar fax e e-mails...”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Não
interesse quem seja. Sei apenas que esta tem pai e a outra não. Se está
dando certo, é o que interessa. Não me preocupo em saber de quem,
afinal até eu deixei até de ser pé frio. Tenho minhas suspeitas de quem
sejam, mas você não iria acreditar...”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Tente”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“A sem pai deve ser o capeta e acho que a outra é ELE”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i> </i>E Orozimbo apontou para o céu.<i> </i>E olhando para o baianinho que acabara de largar a magrela que estava a seu lado, exclamou. - <i>“Quem é pé frio, seu baiano de merda? Espere mais alguns segundos e verá, o segundo?”</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; min-height: 15.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i></i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: center; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>VII</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; min-height: 15.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i></i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Voeller,
o treinador choucrute, com aquele seu mesmo terno de cor de vômito,
trocou o polaco Klose pelo experiente mais claudicante Bierhoff e o
fugitivo de Dachau Jeremies, por um crioulo que mais parecia um touro e
que tinha até nome, Asamoah. Tudo isto na tentativa de tornar a Alemanha
mais ofensiva. O negão Asamoah entrou rangendo os dentes, qual um chefe
africano, mas a defesa brasileira permanecia firme qual um rocha e São
Marcos lá atrás, tinha hoje o seu dia de Oliver Khan.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Quantos minutos faltam?”</i> - perguntou Cristina sem prestar a atenção na tela da televisào.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Uma eternidade”.</i> - respondeu Orozimbo instintivamente, pois, era aquilo que parecia realmente para ele. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Ai
Kleberson pegou uma bola na direita, correu de cabeça erguida e divisou
a Rivaldo. Ouve uma quase imperceptível troca de olhares. Kleberson
lançou para Rivaldo e a voz foi ouvida. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Deixa passar”.</i> </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Mas como deixar passar?</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">A
voz estava mais rouca, séria e completa destituída de humor. E não lhe
avisara nada, simplesmente ordenara com a superioridade daqueles que
nunca são contrariados.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Passar?
Como deixar passar pensou o Rivaldo com a àrea escancarada à sua
frente. O Tony Tornado recém entrado estava batido. Era só necessário
uma ginga de corpo. Mas em sua clarividencia de craque, não desobedeceu,
apesar ter notado também a diferença no timbre da voz. Levou o defensor
consigo e permitiu que a bola passasse por entre as suas pernas numa
deixada bíblica. Uma caneta. E a bola veio a dar nas chuteiras prateadas
do Ronaldinho, como um ima a estivesse atraindo. Nesta hora até o
poderoso Khan gemeu. Pressentiu o cheiro de cagada no ar. Ele já não
tinha mais aquela empáfia própria dos conquistadores hunos. Seus olhos
tremiam e suas mãos não se sentiam mais firmes. Khan agora tinha plena
convicção, que se os suíços eram exímios construtores de relógios, os
ingleses de impérios, os alemães de carros, os norte-americanos de
cachorro quentes e os japoneses de transistores, os brasileiros eram os
reis da bola. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Chuta que ele aceita”.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">E
o fenômeno não pestanejou. O balaço de Ronaldo foi certeiro e mortal,
sem chance para ele. Era o golpe de misericórdia na combalida Alemanha.
Era um gol de raiva. Um gol de placa! Nem Stalin teria feito melhor para
destruí-los. Um gol de quem havia lido e não gostado nada das últimas
duas manchetes do jornaleco espanhol Olé.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"> <i>“Brasil a dois dias do fracasso”</i>. E o do dia seguinte. <i>“Vamos, Brasil! Como em 98!'”</i> </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">Aquela
era a resposta de Rivaldo, de Ronaldo, de Orozimbo e das vozes, à
imprensa européia. Um gol de malícia, classe e muito dendê. E o menino
do Rio voltou a correr com aquele seu dedinho em pé que balançava. Que
agora dizia aos quase 70,000 expectadores presentes à aquele estádio. <i>Eu não disse, eu não disse.</i></span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">As
moscas pararam de voar. Os alemães iniciaram a sua retirada do bar. O
baianinho deu um nó na amígdala da magricela e o Brasil inteiro
acreditou que tudo é possível. Até a volta do Collor ou na honestidade
politica do Lula. </span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"><i>“Brasil Penta Campeão”. </i>Gritou o locutor mexicano.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;">E num brado huno, Orozimbo acreditou que deixara de ser pé frio, e a todos ali no bar do Delano, bradou quem realmente era.</span></div>
<div style="font: 12.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; min-height: 15.0px; text-align: justify; text-indent: 36.0px;">
<span style="font-size: small; letter-spacing: 0px;"></span></div>
<div style="font: 40.0px Verdana; margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; text-align: center;">
<span style="letter-spacing: 0px;"><i><span class="Apple-style-span" style="color: #660000; font-size: small;">SOU PENTACAMPEÃO!</span></i></span></div>Friends of Hallandale Beach Clubhttp://www.blogger.com/profile/10565044858800447212noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-355405200958981661.post-82394509485354992842011-02-06T08:31:00.002-05:002012-06-29T14:39:24.802-04:00A GUERRA DAS PALAPAS<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"></span><br />
<div style="text-indent: 0px;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br />
</span></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Sentada embaixo da palapa 113, com o mar do Caribe à sua frente e as torres do grande hotel atrás de si, Hillary Jones via duas crianças de nacionalidades distintas brincar e não muito longe das mesmas um casal de namorados de mão dadas demonstrarem estar tendo prazer, no simples ato de estar de mãos dadas abaixo daquele sol de inverno em Cancun. Mantinham-se com os pés enxovalhados pelo mar que constantemente os beijava e os abandonava num ritual místico e despretensioso – não para ela, escritora e jornalista com vivência de duas guerras e inúmeros conflitos – que via naquele vai e vem, situações de muito maior significado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Estava só. Mais uma vez só. Irremediavelmente sozinha a mercê de suas próprias decisões. Era uma abandonada a sorte, que vivia em sua solidão, renegada ao convívio de seus iguais. Tentara, mas até aqui nada conseguira. Os homens que conhecera que tinham cérebro, não traziam a ela o prazer que ela tanto necessitava. Os sem cérebro, por sua vez a entediavam após três encontros. Até o lesbianismo estivera dentro de suas opções. Queria um dia ser guiada por alguém. Acordar e não ter que decidir. Alguém já o teria feito para ambos. Era só seguir, sem necessitar analisar cada situação. O medo flamejou na obscuridade de seu interior. Sentiu um furioso desejo de libertar-se. De deixar de ser a fortaleza que todos diziam ela ser. Queria estar no mesmo estágio de inconsciência que muitos viviam. A alegria dos ignorantes, que não imaginavam o que poderia acontecer a sua volta. Um patamar de inércia que não a pressionasse a tomar decisões a cada segundo de sua existência. Queria ser subjugada. Comandada. Vislumbrou o imenso abismo que havia cavado com sua arrogância. A estranha ressonância de seu próprio som. Estaria ela condenada a observar a vida escorrer-lhe pelos dedos? Amores, amigos, ânsias e alternativas mortas uma a uma. Como num piscar de olhos, tudo desaparecia de sua vida. Transformavam-se em substâncias gasosas. Invisíveis aos olhos humanos. Mas mesmo assim, sobrevivera aos destroços do naufrágio que sempre a afligira. Sobrevivera, o que não era o mesmo que dizer vivera.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Muitos invejavam sua vida. De avião em avião. De cidade a cidade. De hotel a hotel. Cada dia um diferente restaurante. Cada hora uma distinta op</span><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">ção</span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Cobrindo tudo o que ocorria no universo. Em pouco tempo tornara-se os olhos e os ouvidos de uma humanidade que a ouvia e acreditava naquilo que ela dizia ser a verdade. Mas que verdade? Suas opiniões passaram a ser vistas como verdades. Como ela poderia ser a portadora de uma verdade se a sua própria verdade ela sequer conhecia? Silhuetas fugitivas de um delírio que não a abandonava. Seus instintos a levavam a continuar. Mas não sabia o porque? Estabelecera um circulo em torno de si, exigências de sua tirania intelectual, mórbida, solitária. Ela era uma disfunção.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">O mundo estava a seus pés. Dizia sua editora. Mas que mundo se ela não tinha a mínima certeza onde pisava. Você conquistará tudo aquilo que desejar. A lembrava sempre a editora do Jornal que apresentava na TV. Poderia ela conquistar algo mais? E onde estava o prazer? O jubilo? A simples felicidade do afago da mão amiga, do sorriso daquele que a ama, do olhar afetuoso de quem a pudesse admirar?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Colocou os óculos escuros. O sol estava cada vez mais forte e a luminosidade estava afetando suas pupilas. Era inverno, final de 2008 um ano em que se vira obrigada a estar constantemente entre Bagdad e Kabul tentando transmitir de forma sã e imparcial, a insanidade que George W. Bush havia implantado no mundo com a desculpa de estar a procura de Bin Laden e das armas de alta destruição de Saddan Hussein. Armas estas nunca encontradas, nunca explicadas, a não ser o fato de agora o Iraque, o segundo maior reservatório de óleo no mundo, estar sob o domínio norte-americano. Como era inoperante o processo de se implantar pretensas democracias em países que não estavam preparadas para conviver com a mesma. Como era cínico apenas se querer se implantar democracia em países que estavam sobre frutíferos lençóis de óleo. Ninguém parecia preocupado com os ditadores na África. Preocupados porque. Eram nações que não tinham óleo? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Nações? Desculpem, mas não as via como tal. Não passavam de tribos unidas durante décadas pela mão firme e impiedosa de um ditador, e que agora se viam soltas graças a uma pretensa democracia que as fazia guerrear entre si. Afinal durante milênios, foi o que os seus antepassados travaram. Guerras. Lutas pelo poder, posse de terra, assentamentos religiosos. O que os sucessivos gestões da Casa Branca fizeram, foi apenas inventar Bin Ladens, Saddan Husseins e outros menos votados, com o único objetivo de que não viessem a ser dominadas por ditadores de esquerda. Quando estes ditadores viravam a mesa e deixavam de ser ditadores amigos, a democracia tornava-se necessária.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">O mundo era uma total imundice. Cabia a ela analisar e tornar factível de ser publicado toda aquela porcaria que os governos de altas nações tentavam impingir aos de menor porte. Dava-lhe asco, mas pagava seu morgade e todas as suas mordomias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Voltara a um mês do extremo oriente e pedira quinze dias de férias, que lhe foram dados. Cancun lhe pareceu uma ótima opção. Tinha o clima que hoje Chicago não lhe poderia proporcionar e era relativamente perto e barato, com o dólar a quase 13 pesos mexicanos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Viera para descansar e principalmente tentar esquecer do que vira e fora obrigada a relatar. Não queria competir, raciocinar nem mesmo decidir. Ali estava para ser um nada. Um nada perdido nas areias brancas a frente de um mar cristalino. Nada mais do que isto. Não era pedir muito...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">A principio relutou em levantar-se. Queria sacudir aquela inércia que tomara poder de seu corpo desde que descera do avião. Mas um desejo obscuro a mantinha presa ao leito ainda morno do contacto com seu corpo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Acordara as nove em seu primeiro dia, fora ao café da manhã e somente depois veio a ter na piscina e na praia. Surpreendeu-se. Não teve onde sentar. Todas as cadeiras e as palapas tomadas. Partindo-se que o hotel deveria ter uns 750 quartos e pouco mais de duas centenas de cadeiras, explicava-se o fato que aquele que queria dormir mais, teria que ficar em pé pelo resto do dia. Tratava-se apenas de uma questão de matemática, ou como bem explicariam os economistas de uma disfunção entre a demanda e a oferta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Estava claro que para se conseguir uma palapa tinha que lutar por elas, pois, fora instaurada um verdadeira guerra para consegui-las: a guerra das palapas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Abnegados turistas, que teoricamente aqui tinham vindo para descansar, acordavam antes do sol raiar e colocavam suas toalhas naqueles lugares onde se achavam no direito de passar o resto de seu dia. Subversão da realidade. Moral da história. Quando ela chegou por volta das dez, as cadeiras permaneciam vazias, mas todas cobertas de toalhas amarelas. E ninguém respeitava aquelas plaquinhas escritas em dois idiomas, que não era dado ao direito de ocupar uma palapa e abandoná-la por mais de uma hora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Tinha perfeita convicção, que mesmo no México, a meia hora não poderia passar de 45 minutos. Mesmo tendo consciência que lei de primeiro mundo, não funciona nem em primeiro mundo, que dirá em outros mundos, algo lhe parecia errado. Mas onde poderia haver certo e errado num paraíso tropical? O certo seria relaxar e gozar. Mas ela viera de dois mundos onde as atrocidades se verificavam a cada hora. Estava com os nervos a flor da pele e o mínimo que necessitava era um lugar para se sentar. Queria apenas relaxar, mas nunca o aprendera a fazê-lo de pé. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Voltou a seu apartamento e na varanda ficou. Aproveitou por duas horas o sol que nela batia, tomou um banho e saiu para as compras. Este havia sido o seu primeiro dia. Dormiu cedo e acordou no dia seguinte as sete. Iria conseguir a sua palapa e sua cadeira. Foi aí que descobriu que sete horas, naquele SPA, era amanhã. Todas as palapas e cadeiras tanto da praia quanto da piscina já estavam tomadas. Nem viva alma, mas as toalhas lá estavam. Impávidas a espera de regiões glúteas gordas, celuliticas e gelatinosas. Paciência. Iria usar a lei que lhe dava o direito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Esperou uma hora e tentou tornar real aquilo que fora esculpido em madeira em toda e qualquer palapa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Estimado Huéspud<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Los Camastros y palapas no podrán ser reservados<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">com toallas o artículos personales.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Los objetos dejados por mas de una hora<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Ser</span></i><i><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">á</span></i><i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">n considerados como um objeto olvidado</span></i><i><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<i><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Le suplicamos non dejar sus objetos desatendidos<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<i><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">ya que el hotel no se hace responsable pelo los mismos.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<i><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Por su atenci</span></i><i><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">ón y cooperación, muchas gracias.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">A encantava a maneira suplicante e educada daquele aviso em língua espanhola, principalmente pelo fato que ele a garantiria sua palapa, pois, ninguém parecia preocupado em vir a sentar nelas antes das nove, pois, tudo parecia garantido a aqueles que madrugasse. Ela o iria provar tratar-se de um ledo engano. Chamou um segurança e afirmou que aquela palapa estava tomada a mais de uma hora e ninguém a ocupara. Queria que as toalhas fossem recolhidas para ela assumir o lugar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">O olhar do segunrança, lhe garantiu apenas que nada seria feito, afinal segurança mexicano é mais apaziguador que diplomata da ONU. Foi um <i>pero que si</i>, <i>pero que no</i> e nada de se fazer cumprir a lei. Irada, retirou-se. Foi a <i>concierge</i>, explicou a situação a uma menina que tinha um inglês de Tarzã e depois de um longo e nauseante período gastos pela atendente com quatro ou cinco ligações para as autoridades competentes descobriu que como em qualquer <i>costume service</i> nada se resolve, tudo se complica. Mandaram-lhe Chita. E depois de mais alguns minutos de total <i>nonsence</i>. De positivo apenas conseguiu que o segurança que não lhe havia obedecido levasse uma espinafração medonha e ter dele a promessa que não mais aconteceria. Grande ganho. Sentiu que o jeito era voltar a sua varanda, aproveitar o restante de sol e colocar o despertador para as dez para seis da manhã seguinte. Se eles queriam uma guerra a teriam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Nascera no Texas e com o Texas não se brinca. Os mexicanos e Santaana sabiam isto melhor do que ninguém. O Álamo foi uma andorinha de verão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">E as seis da manhã, com a sua toalha, seus livros e todo o seu aparato de banho ela apareceu na piscina. Ela e mais cento e cincoenta outros hospedes do hotel em sua grande maioria dentro do patamar geriátrico. Esta era a vantagem física que tinha. Podia ser mais rápida do que muitos ali presentes. Correu, ultrapassou a um que tinha dificuldades de se locomover, outro que parecia nada enxergar e chegou segundos a frente um terceiro de origem asiática a uma palapa. Jogou sua toalha e olhou para o japonês triunfante que acabara de derrotar. <i>Pearl Harbor</i> havia sido finalmente vingada!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Os dois se entreolharam, e o japonês apenas sorriu. Fora-se a última palapa, mas em seu semblante Hillary pode notar aquela velha expressão que dizia. A batalha fora perdida, mas não a guerra..<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Como todas as necessidades se transformavam em guerras. Uns faziam por óleo, outros por liberdade e havia até ela que hoje brigava por uma palapa. Era a nova faceta da vida moderna, onde hoje qualquer coisa soava como sobrevivência.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Em meia hora o tempo cerrou e dez minutos mais a água desabou. Ela recolheu seus pertences da melhor maneira que podia e correu para dentro do prédio, mal notando que ninguém fizera o mesmo. Em quinze minutos o sol voltou assim como ela a piscina para ter o desagravo de ver o japonês sentado naquela que fora a sua palapa com aquele mesmo sorriso de mandarim maquiavélico. Outras duas lições que acabara de aprender: Em Cancun a chuva vai e vem que nem eleitor republicano. E que asiático, mesmo na era do <i>stress</i>, ainda conseguia manter sua paciência intacta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Quarto dia. Colocou o despertador para as 5.30 da manhã, tendo o cuidado de deixar tudo pronto antes de dormir, bem juntinho a porta. Optou por sequer escovar os dentes e desceu em desabalada carreira. Decidiu em sair pela porta da pirâmide 1 que notara na véspera ser o caminho mais curto de seu quarto ao destino que tinha em mente. Foi a sua sorte. O japonês estava na saída da torre três e quando a viu iniciou seu <i>sprint</i>. Ela fez o mesmo. A diferença de chegada não foi superior a fração de segundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Novo triunfo e desta feita por via das dúvidas até uma capa ela havia trazido. Daquela palapa ninguém a iria tirar. Sentou-se e pôs-se a ler. Estava feliz qual um passarinho. Aquele som que tanto odiava, que a perseguia onde fosse, soou. Abriu a sua bolsa e conseguiu achar seu <i>blackberry</i>. Quem lhe estaria mandando um <i>e-mail</i> a uma hora destas. Passava pouco das sete horas em Miami. Abriu a mensagem<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Estamos a espera de sua chamada como o combinado. Tenho John Reich em Londres na outra linha. Ligue seu Skype.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Alex.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Esquecera-se por completo. Tinha uma entrevista com Miami e Londres via Skype. Fora marcada com antecedência por ela própria, no tempo em que acreditava que não haveria uma guerra por uma palapa em plena madrugada. Deixara seu computador no quarto. Levantou-se e notou que o japonês a mirava com aquele mesmo sorriso sacana. Ela sorriu de volta. Não levaria mais de uma hora e mesmo que levasse aquela lei não funcionava mesmo. Era coisa para inglês ver. Colocou sua saída e dirigiu-se para o quarto. O fez lentamente para provocar ainda mais a ira nipônica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">A entrevista com seus dois editores levou mais de uma hora, mas felizmente todos os pontos haviam sido esclarecidos e de uma vez por todas o seu livro iria finalmente para o prelo. Voltou a piscina e seus queixo quase caiu. O desgraçado do japonês estava refestelado em sua cadeira abaixo daquela palapa que conquistara por direito em um <i>sprint </i>que quase leva com as solas das sandálias. Sua toalha, bem como os seus pertences não estavam a vista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Ela tentou controlar-se e aproximando-se do inimigo o interpelou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- O senhor poderia me dizer o que está fazendo em minha cadeira?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Quem foi ao vento, perdeu o assento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- O senhor deve estar delirando...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Ela estava tão irada que nem notou a aproximação do mesmo segurança.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Com licença, algum problema?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Foi ótimo o senhor chegar. Este senhor tomou a cadeira que eu estava usando. E onde estão as coisas que aqui deixei?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- As recolhi.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Ela olhou atônita para o segurança. O mesmo que na véspera havia lhe dito aquela série de <i>pero que si, pero que no</i>. Agora parecia cônscio de suas obrigações. Tivera algum derrame cerebral?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Mas o descendente dos Maias, mantinha-se sereno ciente que estava seu direito de fazer cumprir a lei do <i>resort</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- E com a ordem de quem o senhor fez isto?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Com ordens superiores.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Não estou entendendo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Ele sorriu, o mesmo sorriso do japonês. Sem tirar nem por. Talvez tivessem passado a noite treinando juntos. Mas ele não deixou ela perder-se em mais divagações. Gentilmente lhe contou a história do Texas:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Se a senhora ler com um pouco de mais atenção a plaquinha de madeira que quase me esfregou na cara dias atrás creio que entenderá. Inclusive está igualmente em seu idioma. Quem sai por mais de uma hora perde o direito a palapa que está usando.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Quando lhe mostrei isto, o senhor dizia que a lei não estava sendo aplicada. Que deveria haver um entendimento entre os usuários das palapas e muito <i>pero que si pero que no</i>. E agora? As coisas mudaram?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Mudaram. Sua reclamação foi atendida por meus superiores e eu chamado a cumpri-la, caso contrário perderia meu emprego, como a snhora mesmo sugeriu para com a minha superiora. Simplesmente fiz o que a senhora exigira que fosse feito, inclusive sob a ameaça de uma intervenção por parte de seu advogado. A senhora por acaso se esqueceu, do que exigiu?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Mas eu nem demorei uma hora...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Penso que a senhora deva ajustar seu relógio, porque no meu passaram-se uma hora de dezoito minutos. Dei dez minutos de consolação e repassei sua palapa a este senhor que a queria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Aquilo não podia estar acontecendo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 0in 0.75in; text-align: justify; text-indent: -0.25in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">-<span style="font: normal normal normal 7pt/normal 'Times New Roman';"> </span></span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Quem foi ao vento, perdeu o assento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 0in 0.5in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Ela olhou e volta para o japona<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Estava acontecendo... Hillary conteve-se para não lhe mandar a bolsa que tinha as mãos nas fuças daquele sobrevivente de Hiroshima. Fora pega, e envenenada por seu próprio veneno. Moral da história, teve que voltar a sua varanda e lá passar a maior parte de seu tempo estudando uma forma de quebrar com aquele japonês pelo meio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Sua consciência despertou para o inevitável. Ela estava perdendo terreno para o japonês. Ela que nascera rica, crescera preguiçosamente protegida das doenças, da violência da infâmia, que freqüentara os melhores colégios, convivera com a mais refinada sociedade, que cursara Harvard e era formada em todo e qualquer curso, não estava conseguindo dobrar um japonês que devia vender verdura em alguma Chinatown da vida. Opressa pela volúpia de vencer, espumava. Tinha agora o receio do perigo, do desconhecido de tudo que estava no exterior de suas entranhas. Estava agora mirando um mundo desconhecido, despojado das certezas com que sempre acostumara-se. Faltava-lhe os serviçais, a limousine, a secretaria que lhe resolvia todo e qualquer tipo do problema. Estava só. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Era um período de novas descobertas e amargos reconhecimentos. Conhecera países, dirigentes, distintos idiomas, mas todos recaiam em uma mesma necessidade: a da sobrevivência. Sua eterna luta contra si própria. A de ser melhor do que no dia anterior. Mas em Cancun tudo cessara. Um principio de angustia seguido por uma estranha sensação de pânico lhe mudaram a forma de ser. Ali sentia-se dominada pela indecisão. Aquela indecisão que sempre lhe enojara vislumbrar naqueles que com ela conviviam. Indecisão que naquele momento dominava sua mente. Matar ou morrer? Os dias se sucediam e o japonês sempre encontrava uma maneira de estar um passo a sua frente. Mas quem era aquele suíno amarelo que não parava de rir?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Descobriu seu nome, graças a uma nota de 100 dólares, e com outra mais, tanto seu endereço, quanto seu telefone. Repassou todos os detalhes descobertos a sua secretária e exigiu um dossiê em questão de horas. Até a CIA, foi contactada. Antes do final da tarde, o tinha em suas mãos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Yoko Noku havia nascido no Japão, mas de há muito abandonara seu pais de origem. Chegara pouco mais de uma criança aos Estados Unidos trazido por parentes de seus pais para trabalhar em um pastelaria. Vivia em New York, onde prosperara no Queens, desde que montara a sua primeira pastelaria aos vinte e um anos de idade. Hoje eram duas, além da original. Noku era um nome que impunha respeito e inspirava confiança aos locais. Tinha força e penetração naquela área. Tanto que ele, de dois anos para trás, podia se dar ao luxo de vir a Cancun, com sua família e ali passar as duas semanas finais do ano, pegando o Natal e o Ano novo, sendo estas as mais concorridas no balneário. Seus quatro primos, que ele importara, seguravam a barra enquanto ele usufruía do descanso que tanto merecia. Tudo nos conformes. Pagava seus impostos e não demonstrava ter preferência pelos democratas. Estava fora de perigo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Sem saber que tinha agora sua vida esmiuçada, toda manhã bem cedinho Yoko Noku acordava, como o fazia no Queens e pegava uma palapa para poder ter sua mulher e seus quatro filhos reunidos em volta da piscina sul e tudo ia indo bem até que aquele esquizofrênica norte-americana resolvera lhe fazer frente. Não entendia porque, mas ela cismara exatamente com a palapa que ele vinha usando os últimos 10 dias. A de número 113. Não entedia, pois, o número 13 era um número para o qual os norte-americanos acreditavam trazer muito má sorte. Sua aversão para com o mesmo era tanta, que não haviam décimo terceiro andares na maioria dos edifícios. Seriam impossíveis de serem vendidos. As companhias de aviação, por exemplo, evitavam filas de número 13. E a idiota contrariando tudo aquilo que seu povo acreditava, queria justamente a 113. A sua 113. Aquele bem em frente ao <i>camastro Isla Blanca</i>, normalmente ocupado por aqueles brasileiros que falavam uma língua que ninguém entendia cheias de Baaaá, trilegal e tchê. As três únicas coisas que seus ouvidos conseguiam captar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Mas decidira não esmorecer. Sua vida fora dura, mas ele vencera todos os percalços. Colocara desta feita seu despertador para as 5.00 horas da manhã. Tinha a impressão que a esquizofrênica imperialista iria tentar ainda mais cedo do que na véspera. Sentira isto no jantar da noite anterior quando no restaurante Tempo teve o infortúnio de se sentar na mesa ao lado da mesma. Houve uma troca olhares. A animosidade imperou entre ambos. Sentia nos olhos daquela solitária mulher a necessidade que ela tinha em o humilhar. Não haveria outra Hiroshima ou outra Nagasaki. Nunca Mais! E sim uma nova Pearl Harbour. Faria como seus antepassados. A pegaria de surpresa. Afinal ele não poderia arriscar. Seus filhos dependiam disto. Eles haviam se acostumado com a 113. Desceria com a lua ainda a pino e garantiria seu lugar. E a imperialista com cara de biblioteca que fosse sentar seu raquítico bum bum em outras pairagens. Não na 113. A 113 era dele! BANZAI!!!!!!!!!!!!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">O despertador obedeceu a aquilo que lhe fora pedido. Yoko Noku pulou da cama e nem beijou sua esposa, um hábito que adquirira e o tratava como religioso. Não estava afim de dar um segundo sequer a sua adversária. Rapidamente colocou seu calção, a blusa e deixou para escovar os dentes mais tarde. A importância daquela disputa assim o exigia. Correu até a porta, alcançou o corredor e com as cinco toalhas em punho, trocadas na véspera saiu em desabalada carreira em direção do elevador. Lá chegando, verificou que o mesmo estava no andar zero. Não teve dúvidas. Decidiu pelas escadas e de dois em dois degraus não tardou a chegar ao piso da praia. Haviam sido 37 segundos até ali.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">O hotel estava as moscas a aquela hora da madrugada. Afinal, quem iria se levantar a uma hora como aquela? Só uma esquizofrênica de mal com a vida e ele que tinha um nome a zelar, uma nação a defender e uma tradição a ser mantida a qualquer custo. A 113 fora sua desde o furacão de 2005 e assim o seria por mais aquela temporada. Um sólido ímpeto de para quem quer alcançar seus objetivos, apóia-se na secreta esperança que seu ato fará uma diferença. E o faria para a sua família que dependia dele para ter um dia completo a volta da piscina. Estavas a segundos de sua vitória definitiva.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Foi se aproximando da palapa e imediatamente um sorriso jubiloso tomou conta de seus lábios. Sentia a conquista a seus pés. Bem não eram propriamente seus pés. Pés? Sim aquilo eram pés e estavam acompanhados de membros, trono e uma cabeça. A cabeça que mais odiava. A cabeça da esquizofrênica imperialista. E ela dormia. Dormia e não parecia ser de a pouco. A desgraçada havia dormido na 113. Virara a noite ali e com isto conquistara a única coisa que ele almejara.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">O desânimo da derrota. A sensação sufocativa do ar esvaindo-se de seus pulmões. Lassidão intermitente. Inconsciência de uma existência esfacelada pela fadiga do esforço inútil e não recompensado. Um notável instinto de revolta avolumou-se em seu interior. Pensou em algo que não teria coragem de fazer, embora tenha tomado contornos nítidos. Suas mãos aquele pescoço. Unidos poderiam determinar o resultado final daquela disputa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Sem sentir, as cinco toalhas que trazia comprimidas contra seu sovaco, foram ao chão. Uma a uma. Ele perdera a razão para as mesmas. Haviam outras palapas. Centenas delas. Na verdade nenhuma ainda fora garantida por outras toalhas. Todos ainda dormiam. Mas a sua 113, aquela por quem lutara e conquistara nestes últimos anos fora usurpada de seu poder. Seu império demoronara. Um novo MacCarthy sobrepujara a força e o sentido de luta nipônico. Nada mais lhe fazia sentido. Ele sucumbira em sua missão, como seu pai o fizera em Nakagima e seu avô em Nagoya. Ele em Cancun...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Olhou em volta de si. A noite estava linda, pacifica. Estrelas no céu. nenhuma nuvem para empaná-las. Uma lua resplandecente, como em Tóquio. Outrossim, a luz da lua que o iluminava o desnudava em toda a sua humilhação. Largou o resto das coisas que tinha as mãos, desceu as escadas até o mar. Sentiu o frio da temperatura do oceano em seus pés. Voltou as vistas para trás. e água adentro entrou, perdendo-se em segundos na imensidão do mar do Caribe. Fora um <i>harakiri</i> que lhe restauraria a honra. Sua família entenderia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;">
<span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Enquanto isto Hillary, esparramada na 113, sonhava com um semblante feliz em sua face. Era a face de um anjo. Não era para menos, seu personagem principal era um japonês que se suicidara por não conseguir fazer frente a ela em uma guerra de palapas. Coisa que só acontecem em sonhos...<o:p></o:p></span></div>Friends of Hallandale Beach Clubhttp://www.blogger.com/profile/10565044858800447212noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-355405200958981661.post-19275013021257859602010-07-14T04:15:00.001-04:002010-07-14T05:29:14.652-04:00A PELADA E O TUBERCULOSO<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Vou contar uma história quase verídica. Eu diria até melhor do que verídica, pois, verdade é coisa muito real. Coisa que não inspira atenção. Faz perder a imaginação e o sonho que todos nós temos dentro de nós mesmos. Mas vamos a ela, pois esta merece ser contada em seus mínimos detalhes.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Toda vez que vou a um campo de futebol me lembro do Alvarenga. Que craque ele poderia ter sido? Não sei exatamente porque me sinto teimosamente arraigado, presente e intimamente integrado em meu escasso mundo de reminiscências, sejam elas verdadeiros ou apenas produtos de minha imaginação. Hoje que mais de 40 anos já se passaram, ainda nisto penso. Não sei se foi verdade ou não. Não importa. A versão é sempre mais agradável que a realidade. Mas, já que falamos de fictícia realidade, diria que a verdade é que sempre me preocupei com o Alvarenga. Sentia-me como responsável por ele. Se ele existiu ou não, pouca importância tem perante a magnitude de sua história.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Meu zelo para com o Alvarenga era tanto que meu apelido passou a ser Ranchinho, entre os garotos do bairro. Mas eu tinha minhas razões. Alvarenga era órfão, vivia com uma tia de poucas posses e quando menino era franzino e sempre atacado com qualquer tipo de doença. Teve sarampo, catapora, meningite, caxumba, coqueluche, piolho... bem piolho não pode ser considerado doença, mas é chato para burro, e naquela época todos os tiveram. Aliás, chato ele também teve em suas partes íntimas. Não eu! Enfim, o Alvarenga era um estacionário de doenças. Qualquer uma que pintasse em nossa cidade, ele era o primeiro a pegar. Qualquer que fosse a epidemia que aflorasse, era no Alvarenga que ela incubava. Dai partia para o resto da humanidade. Mas em momento algum ele reclamava ou se deixava abater. Nunca se viu tomado, como muitos, por iniludíveis sintomas que determinassem que sua vida estava por um fio. Tinha força de vontade, acreditava em Deus e pensava que no dia seguinte estaria melhor. E sempre esteve.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Alvarenga era quieto, pois, sabia que as pessoas o evitavam, com medo de pegar a doença da vez. De sua boca poderiam ser expelidos bacilos e outras coisas mais. Ademais tinha mal hálito. Resignava-se com o fato. Enquanto os demais meninos se divertiam lendo a revista da Luluzinha, Alvarenga lia bulas. As conhecia décor e salteado. Seu conhecimento era tanto que o senhor Fagundes, o farmacêutico local, sempre que tinha uma dúvida o chamava. E o pequeno Alvarenga relatava ao cliente as vantagens e as contra indicações de todo e qualquer remédio existente da farmácia Santa Alice. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">O senhor Fagundes depois de alguns meses o contratou em regime de meio-expediente, já que Alvarenga as aulas nunca faltou. Até de maca assistiu a algumas. Alvarenga não pode conter sua felicidade. Finalmente estaria cercado por aqueles que o ajudavam a combater as suas doenças: os remédios. O cheiro de éter para ele soava qual um perfume francês. Aquelas tarjas coloridas nos invólucros dos remédios o atraíam. As seringas lhe traziam prazeres inolvidáveis. Johnson </span><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">& Johnson, Byer, Squibb e </span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Norvatis soavam para ele como Balzac, Machado de Assis e Beethoven para outros. Era avesso a qualquer tipo de esporte. Mas um dia o convenci a jogar futebol. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Lembro de nossa primeira partida oficial, pelo Ameriquinha. Foi ali no terreno baldio do senhor Ananias, um filho de português de poucas maneiras, mas que fazia vistas grossas para a garotada, quando esta queria se divertir. Depois descobrimos que ele era boióla. Mas, tinha seus escrúpulos. Só atacava aos de mais de 15 anos. Nós estávamos na </span><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">é</span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">poca com por volta de 12 anos, logo tínhamos 3 anos ainda de carência. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Pois bem, confesso que convidei o Alvarenga, não por remorso ou diletantismo. Na verdade faltou um para completar o time e o pavor juvenil de ter menos um – em qualquer que fosse a situação - me fez trazer o Alvarenga, que nunca havia sequer, treinado conosco. E muito menos colocado seu pé em uma bola. O senhor Garcia – nosso técnico honorário por ser dono do jogo de camisas adquirido na casa dos esportes - o olhou de cima a baixo e não acreditou que ele pudesse dar um peteleco em uma bola, porém, não tendo outra alternativa o escalou na ponta esquerda. E foi claro em sua preleção: </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">“</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">menino fica ali na ponta esquerda fixo e bem aberto, pois assim pelo menos você prende o lateral deles”.</span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> E o Alvarenga obedeceu. Ficava ali pela ponta tossindo e tirando sua temperatura com aquele termômetro que sempre tinha pendurado no peito, como não quisesse nada. Assistia a peleja em de uma posição privilegiada. O jogo corria e ele não pegava na bola. Aos poucos foi totalmente esquecido pelo lateral direito. E quando isto aconteceu, não sei porque e propriamente quem o acionou, o milagre se deu. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Foi um lançamento a distância. O Alvarenga saiu qual um raio em direção a bola e quando nela chegou de primeira soltou um tirambaço em diagonal. A bola chegou até a furar a rede de nossos adversários, e todos nós do time, tanto quanto os adversários ficamos totalmente abismados. De onde aquela coisa franzina, molengona e doente conseguia tirar tanta energia e força para dar um tiro como aquele?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Abraçado, ele sufocou-se. Arrastou-se até o banco em convulsões e lá chegando utilizou-se de seu aparelhinho particular de combate a asma. Ali ficou sentado por uns dez minutos, até refazer suas forças e então voltou quieto que nem um coelho velho. O lateral que não estava mais afim de levar outra por suas costas não o largava. O olhou no fundo dos olhos e ele todo sem jeito sorriu de forma amarela, quase desculpando-se. A partir deste momento, passaram a ser dois postes inanimados.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Termina o primeiro tempo. Todos sentados a volta do senhor Garcia, que além de técnico era o genitor do Júlio beque central, do Otacílio que jogava no meio campo e do Elias – em seus 132 quilos ainda em crescimento - que não tinha jeito para o negócio mas que era escalado, para não reclamar em casa que seus irmãos mais velhos eram protegidos do pai, na ponta direita. Entediados ouvíamos aquela mesma história de sempre. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Otacílio não prende a bola, solta de primeira”. </i></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">“Zeca para de co</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">çar o saco, presta atenção no jogo e cola no meia deles, que é quem está distribuindo toda a armação</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">”.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> “Julião entra mais manso que o juiz já está de olho em você”. “Ranchinho fica mais fixo dentro da área e espera um cruzamento...Alvarenga, se der faz outro como aquele...”<o:p></o:p></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Cruzamento? Cruzamento de quem se em uma ponta estava o Elias e do outro o Alvarenga? Mas mesmo sabendo que na hora eu teria que procurar o jogo e sair da área, aquiesci com a cabeça. Técnico é para ser ouvido fora do campo e desobedecido dentro do mesmo. Foi exatamente nesta hora que o Alvarenga teve aquele surto de tosse. Foi sangue para todo o lado. Não satisfeito, constatou-se que ele havia igualmente pego uma tuberculose.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">O seu Garcia, o acudiu. Usou o seu próprio lenço e avisou que ele teria que ir para casa. Jogaríamos a partir dali com apenas 10. Ou melhor com 9, pois o Elias não contava. Mas Alvarenga fez que não com a cabeça. Não conseguia sequer falar, mas deixar o time na pior, neca de pitibiriba. Ele iria continuar. Manteve-se irredutível e assim voltou ao campo, com a camisa toda vermelha de seu próprio sangue.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Começada a segunda etapa o lateral direito adversário, um tal de Djalma Santos, que do craque da seleção tinha apenas a cor e o lóbulo da orelha esquerda, notou a camisa do Alvarenga empapada em sangue. Sorriu de alegria. Poderia apoiar seu ataque, já que o cara que tinha que marcar, estava prestes a colocar o pé na cova.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">E o time do Flamengo de Itapecirica da Serra, passou a nos pressionar. Foi bola na trave, espalmada pelo Saca-rolhas, nosso goleiro e até uma salva em cima da linha pelo Julião. Outrossim num córner, o Julião vai lá em cima e cabeceia para fora da área e a bola cai em meus pés. Eu estava em nossa intermediária. A matei e senti ela mansinha sobre o meu domínio. Girei o corpo. Olhando para o ataque, vi que o beque central deles vinha em minha direção. Apenas um pequenino, que defendia a posição do quarto zagueiro que fora para a nossa área, estava a espera do que eu ia fazer. Passar para o Elias aberto na direita, para o Alvarenga todo ensanguentado na esquerda ou driblar aquela locomotiva enraivecida? Se ele fosse mais atento saberia que o Elias estava fora de qualquer suposição e que eu nunca tivera vocação para herói.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Juro que me apavorei ao ver aquela locomotiva bufando e vindo em minha direção e só por isto lancei a bola para o Alvarenga. Na verdade não lancei em direção dele. Lancei no vazio. E aquela coisa franzina e banhado no seu próprio sangue partiu dali novamente como um raio. Com um jogo de cintura tirou o baixinho que fazia as vezes que quarto zagueiro, da jogada e com a saída desesperada do goleiro adversário deu um lençol perfeito. E a bola foi morrer suavemente no fundo da rede.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Ninguém teve coragem de abraçá-lo e nem haveria a possibilidade física de, já que o Alvarenga, sucumbiu e saiu de campo de maca, direto para o ambulatório de nossa pequena cidade. Ganhamos de 2x0.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Dois dias depois bate a porta de minha casa um tal de Zé Letrinha. Tinha bigode de pilantra. Tinha cabelo de pilantra. Usava um terno e uma gravata de pilantra. E era realmente pilantra. Apresentou-se como olheiro do Cruzeiro e me perguntou onde eu poderia encontrar aquele menino de quem todos pareciam tecer maravilhas. O raio das alterosas!<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Como sempre tive tendência ao comércio, imediatamente respondi que era o dono do passe do Alvarenga, mas que não poderia levá-lo a ele naquele exato momento. O Zé Letrinha que era uma chato de galocha, não se deu por vencido e perguntou o porque? E eu, por sua vez, que era coroínha da igreja e nos fins de semana escoteiro, não me senti a vontade de mentir: ele está no CTI, ainda inconsciente. Mas o Zé Letrinha não era homem de perder a viagem. Se o Alvarenga respirava, a toca da Raposa o esperava.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">No primeiro treino na toca, quase seis meses depois daquela famosa pelada, já que o Alvarenga custara a se recuperar, a coisa funcionou da mesma forma. Ele quieto entre a garotada juvenil, o lateral um tal de Nelinho dono de um chute poderoso a marcá-lo e nada acontecendo. A turma do meio de campo não lhe passava a bola, descrente que ele pudesse fazer algo de útil com a mesma. Pouco a pouco o tal do Nelinho foi lhe dando espaço. Ai, quando faltavam, três minutos para o encerramento do treinamento, um creoulinho também piá chamado Dirceu, se esqueceu de quem estava na ponta esquerda e fez o passe. A bola foi direta nos pés do Alvarenga. Ele não exitou, olhou para o Nelinho e quando este piscou o olho, já o perdeu de vista. Qual um foguete o Alvarenga se desvencilhou dele e em alta velocidade foi em direção do gol. O goleiro, um sujeito elegante e bonitão, chamado Raul saiu da meta, foi driblado e o Alvarenga só não entrou com bola e tudo, pois teve piedade de um outro baixinho e franzino que nem ele, passando-lhe a bola. O baixinho deu um tostão na bola e correu para o abraço. Dai passou a ser chamado de Tostão.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Do arco, o Alvarenga não saiu pois, ali mesmo apagou. Imediatamente o mesmo menino menino, que assinalara o gol - que diga-se de passagem sempre teve como vocação a medicina – esqueceu da alegria em que estava mergulhado e veio a seu socorro. Fez respiração boca a boca, pressionou seus coração e o fez voltar a vida. De maca o Alvarenga foi levado ao hospital e eu que estava presente como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">manager</i> do Alvarenga segui na ambulância. O contrato foi assinado quatro dias depois, quando o Alvarenga ressuscitou, saiu do CTI e pode assinar seu nome.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">A fama do Alvarenga, como tudo em Minas, imediatamente correu solta. Pela montanhas, planaltos e planícies todos falavam daquele garoto que em uma jogada modificava com o panorama de qualquer partida. A diretoria do Cruzeiro estabeleceu a sua estreia contra o América Mineiro e para que talvez conseguisse duas jogadas de seu mais novo contratado, montou um ambulatório a beira do campo, com uma unidade física de CTI. Sua estreia foi tremendamente divulgada. O América Mineiro era a segurança, pois, de ninguém ganhava. Mas o ti-ti-ti estava por conta de um falado fenômeno de apenas 13 anos já nos juvenis. Encheu o estádio ainda na preliminar. Mas pouco se viu do Alvarenga, que sempre quieto se manteve em sua ponta. Terminou o primeiro tempo e ele sequer tocou na bola. A torcida mostrou-se impaciente quando da volta do time ao campo. Que fenómeno era aquele que nem na bola tocava? Alvarenga foi mantido em sua posição empunhando a 11. O time jogava bem pois aquela turminha do Dirceu, Tostão e Nelinho estavam dando um banho de bola mas não conseguiam movimentar o placar. O América aquele dia, como por milagre divino, acordara e ganhava por 1x0.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Lembro-me, como se fosse hoje, que no intervalo eu no vestiário perguntei ao Alvarenga se ele estava sentindo algo, ao que ele respondeu: </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">“</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">o de sempre, febre alta, pressão arterial, dor de cabeça e entupimento nasal. É doença nova”.<o:p></o:p></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Por volta dos 12 minutos, uma falta foi cometida perto do bico da área do América e o Nelinho imediatamente pegou a bola e tomou a iniciativa de mostra-se batedor. Pediu apenas ao Alvarenga, que passasse encima da bola para tirar a atenção do goleiro. O Alvarenga concordou, só que ao invés de pular a bola, mandou um torpedo que entrou na forquilha. O goleiro adversário nem conseguiu se mexer. Gol de Placa!<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Todos correram em sua direção, mas sabedores dos problemas de sufocamento do Alvarenga apenas deram uns tapinhas em suas costas. A turma da maca aproximou-se da lateral do campo, mais o Alvarenga fez o sinal com a mão que não era necessário. 1x1, a torcida mais satisfeita e todos cientes que o dever fora cumprido. Todos, menos o Alvarenga. Sabia que podia fazer melhor. Olhou para o Dirceu e suplicou: </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">“</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">me passa a bola”.</span></i><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> O neguinho olhou para o Tostão, e como este consentisse com a cabeça, sorriu de volta.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">A turma do Cruzeiro começou a passar a bola de pé em pé, mas não para ele. O tempo passava e o Alvarenga continuava esquecido lá pela ponta esquerda, A torcida, que já era grande para a partida principal, se mantinha apreensiva, até que a bola veio a ter as chuteiras daquele que parecia um tostão. Ele que ouvira a suplica do Alvarenga para o Dirceu, apiedou-se e tocou para seu ponta esquerda. Alvarenga parou a bola, olhou para frente e viu que pelos menos sete adversários estariam entre ele e o gol do adversário. O publico silenciou-se. Até o zumbir de uma mosca poderia ser escutado. Alvarenga encheu o peito de ar e qual um touro na arena, resfolegou, raspou seu calçado na grama e partiu qual um cometa. Foram pelo menos sete, os adversários driblados um a um, se minha memoria não é falha e meio exagero contido. Agora frente a frente com o goleiro fez que ia para um lado e meteu a bola no outro.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">A torcida veio a baixo. A torcida e ele. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">No CTI, ele pegou a minha mão e disse com aquela candura que lhe era peculiar: </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">“</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Acho que devo trocar de esporte. Talvez o biriba fará menos mal a minha saúde</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">”.<o:p></o:p></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Foi sua primeira e última partida em um clube profissional. Não importa. O que importa é se vocês perguntarem ao Dirceu Lopes, ao Tostão, ao Nelinho e ao Raul quem foi o maior jogador de futebol que viram jogar, todos dirão que foi o Pelé. Se perguntarem pelo segundo, certamente o nome de Garrincha será o escolhido. Mas não tenham dúvidas que do terceiro nome, o Alvarenga não escapa. Na lista de qualquer um deles. Acima até do Maradona.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Hoje, farmacêutico, Alvarenga continua tendo suas doenças e convivendo com elas. Se auto medica, já que seu amigo Tostão especializou-se na oftalmologia e só nele o Alvarenga confia. Continua o mesmo. Franzino, quieto e arredio. Só sai de sua farmácia para jogar um biribinha com os amigos, do qual é craque reconhecido. Tem quase 60 anos e uma saúde de cão... Em cima de sua mesa de trabalho. A foto que saiu no Diário de Minas com ele sendo levado ao CTI e a manchete em letras garrafais. O Raio das Alterosas!</span><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div>Friends of Hallandale Beach Clubhttp://www.blogger.com/profile/10565044858800447212noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-355405200958981661.post-34997372017141733562010-05-30T16:44:00.000-04:002017-01-23T07:30:12.667-05:00O RÉU<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: auto;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: "bookman old style"; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: "times new roman";"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 29px;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: "lucida grande"; font-size: small;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 11px; font-weight: normal;"><br />
</span></span></b></span></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Porque? Porque? Porque?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Eram muitos porquês. E todos vindos de uma pessoa que acabara de tomar conhecimento de sua existência minutos antes. Um homem de meia idade ilustre, letrado, possivelmente culto, mas que parecia encontrar razões para todo e qualquer ato que havia ele cometido em sua vida pregressa. O odiava, sem possivelmente conhecê-lo. Como num texto de Sheakespeare. Era um porque aqui, outro ali e mais um acolá. Como aquele senhor tomara conhecimento de cada pormenor de sua existência? Quem lhe dava o direito de conhecer mais dele do que ele a si próprio. Por ele intitulava-o um mal filho, um insano aluno, um deprimente pai de família e um assassino frio e premeditado?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">E tudo isto vindo de um sujeito alto, magro, com cabelo embasado em gomalina e de unhas polidas. Usava um ostensivo relógio de ouro e uma gravata que deveria ter custado mais do que um salário mínimo. Devia ter camisas com monogramas, pijama de seda, fumar charuto e dirigir um conversível. Em qualquer filme de ficção ele seria o crápula. Aquele a quem não se devia confiar. O cínico inveterado. Porém, naquela pantomima armada que tornaram sua existência, o gomalina era o mocinho. O herói que ali estava, com o único intuito de desmascarar o bandido. Ele, o réu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">E a ele, a razão de tudo, era proibido o simples recurso de retrucar. De defender-se. De expor as verdadeiras razões que o levaram a fazer isto ou aquilo. Tinha suas mãos atadas por algemas. Seus pés unidos por correntes. Usava um ridículo uniforme laranja. Mas na verdade o coação maior perante a seu corpo era a inabilidade que haviam criado dele usar seus sentidos. Estava proibido de falar. Em sua boca haviam esculpido um invisível zíper. De mover-se. Era mantido acorrentado. Esperava apenas pela ordem de parar de respirar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: 11pt;">Quando sentia que era hora de intervir, seu advogado obstruía suas intenções e de forma grave retrucava: </span><span style="font-family: "bookman old style"; font-size: 11pt;">“</span><span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: 11pt;">não deteriore ainda mais sua situação”. Em que mais sua situação poderia ser deteriorada? Se j</span><span lang="PT" style="font-family: "bookman old style"; font-size: 11pt;">á</span><span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: 11pt;"> era tratado como nitrato de pó de merda. Mas aquele a seu lado, era o homem a quem fora aconselhado ouvir. E sempre que possível, confiar e obedecer seus preceitos. Afinal, era idoso, gordo, pequeno, careca e usava lentes que mais pareciam o fundo de uma garrafa. Uma enciclopédia jurídica. Como, uma pessoa com estas descrição, não poderia ser vista como um homem de respeito?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Mas da mesma forma, como poderiam aquelas doze pessoas que a tudo ouviam caladas e qual entes apalermados, saber quem ele realmente era se era ele o único ser humano naquela abafada sala, que não era ouvido? Sentia que os olhares de alguns daqueles doze, procuravam assuntar sua personalidade de forma furtiva. E ele, que teoricamente deveria ser o centro das atenções por se tratar do réu, não era ouvido. Sequer consultado. Notado? Duvidava. Então o que fazia ali? Não teria sido mais prático, ao invés de transladar-lo de sua cela com todo aquele aparato policial de segurança, colocar uma foto sua sentada naquela cadeira? Pois, era como se sentia. Uma imagem pétrea. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">O passo seguinte seria imputar-lhe a culpa pelos gastos que o estado estava fazendo para que ele tivesse aquilo que chamavam de um julgamento justo. Julgamento justo, onde ele não falava, apenas ouvia. Aquele era a sua primeira experiência em uma sala de tribunal. Pela maneira que o caso estava se conduzindo, previa ser igualmente a última.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Era uma sensação estranha. Ver sua vida dissecada por estranhos a quem nunca vira ou sequer dirigira a palavra no decurso de seus 42 anos de vida, ainda incompletos, e ser obrigado a manter-se à margem. Aquilo o incomodava vagamente. Tudo se desenrolava sem a sua permissão e intervenção. Falavam de seu passado, imaginavam suas intenções e previam o seu destino sem sequer lhe pedir uma opinião. Do momento em que fora preso, até ali, perdera a capacidade de gerar seus próprios movimentos. Passara a ter hora de andar, tomar banho, fazer suas refeições e dormir. Regraram-lhe a vida como ele fosse um bezerro a espera de sua hora de corte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Estava tentado a intervir. Gritar qual um maníaco, como aquele promotor iludia aos 12 ele ser, perguntando: Mas que merda é esta? Quem são estas pessoas que testemunham sem nunca sequer um dia terem me dito um alô ou um bom dia? Que credibilidade tinham eles em opinar sobre seus sentimentos e obsessões? Mesmo no banco dos réus, deveria haver uma complacência para com aquele que ainda não fora julgado culpado. Alguém perguntar se queria um cafezinho, ou se estava bem, se o ar condicionado estava na temperatura ideal. Um mínimo de civilidade, já que saber o que ele achava sobre o caso e o que estavam a ele imputando, parecia ser humanamente impossível. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Instintivamente, virou sua cabeça e olhou para sua mulher sentada na segunda fila. Ela tinha os olhos baixos. Sentia em seus ombros a humilhação de ter casado com um pervertido, inescrupuloso, pusilâme assassino, que friamente matara um homem a sangue frio. Até ali sendo omitido que o citado ser do sexo masculino era um proxineta, homossexual, marginal e traficante de drogas, reconhecido na Lapa, como Última Flor do Lácio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">- Vejam, como este senhor não se preocupa nem a ouvir o que dele acusam! Em nenhum momento sequer este homem a quem acuso de um frio e premeditado crime pareceu abalar-se ou estar arrependido da falta que causou a um seu semelhante...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Como alguém poderia se considerar semelhante a Última Flor do Lácio...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Última flor do Lácio, inculta e bela,<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">És, a um tempo, esplendor e sepultura:<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Ouro nativo, que na ganga impura<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">A bruta mina entre os cascalhos vela...<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">O tal do Orestes Benevides da Fonseca, nada tinha ver com a fonte de inspiração de Olavo Bilac. Era um proxineta que na voz do promotor, passara a ser, de uma hora para outra, um ser honrado, trabalhador e que sustentava sua pobre e velha mãe no morro do Salgueiro. E ele que até ali pagara todos seus impostos, trabalhara de sol a sol, que sustentava não só sua mãe no Leblon, como sua sogra em Copacabana, sua mulher e três filhos em Ipanema, um dos quais, insustentável. Ninguém se comovia com suas agruras?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Mas o Orestes fora a vitima. O promotor não estava interessado em debruçar-se sobre sua alma, como estava fazendo em relação à sua. Não parecia igualmente curioso em examinar os princípios morais da vitima. Não lhe parecia oportuno qualificar a intenção de acessibilidade ao vazio do coração do assassinado, como o fazia em relação a seu órgão. Na verdade não conseguia entender qual a razão daquele portador de tão valioso relógio, estar tão irado para com a sua pessoa. Seu dedo em riste, sempre em direção à sua testa, era fulminante. Qual um aríete pronto a derrubar uma possante porta. Cobrava-lhe arrependimento e não se preocupava a analisar a existência ou não de arrependimento do Orestes em relação a aquelas quinze mulheres que explorava, a maioria das quais presentes na galeria e que hoje ansiavam que a Última Flor do Lácio estivesse queimando em uma das escaldantes grotas do inferno.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">- A forma com quem este senhor tirou a vida de Orestes Benevides da Fonseca, foi cruel, desumana. Nem a um animal é esperada tão inescrupulosa força!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Esta certo que ele poderia ter parado no primeiro tiro. Aquele que varou o coração da flor e que segundo os legistas levou o Orestes desta para a pior. Concordava e até comentaria de forma afável, que os outros seis tiros que desferiu contra o crânio do marginal poderiam ter sido evitados. Mas deformar aquele rosto lhe pareceu a melhor idéia no momento. Não estava transtornado ou tomado de uma loucura repentina, como seu advogado tentou convencer-lhe no inicio do processo, como uma excelente manobra de defesa. O fez ciente do que estava fazendo. Era necessário apagar-se da face da terra aquela imagem cínica. Ele o fez, muitos aplaudiram, mas nenhum estava ali para salvar-lhe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">- E vejam! Ele se mantém imperturbável contra as acusações que pesam em seus ombros. Tudo o que fez foi premedito e desnecessário. Apenas para saciar sua doentia fome assassina.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">A voz cruel do promotor, não era o que mais lhe afligia, mas sim aquele dedo que agora para ele mais uma vez apontava. Fez menção de exprimir o que sentia, outrossim, a cutucada de seu advogado à altura de suas costelas o impediu momentaneamente. Da mesma forma que o deixou ainda mais enervado. Chegara a seu limite. Passou a sentir todo aquele calor que o cercava. Não se contendo, afavelmente e em tom conciliatório.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">- Por acaso o senhor teve relações de negócios com a Última Flor do Lácio, a quem o senhor intimamente chama pelo nome de batismo, Orestes?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">O promotor estupefato, ficou como por milagre sem palavras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">- O senhor por acaso perguntou a aquelas meninas que ali acima estão, quem era na verdade o seu Orestes?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Imediatamente uma meia dúzia de putas, levantaram-se e passaram a aplaudir a aquele que as libertara da escravidão sexual.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">O juiz bateu com seu martelo e esbravejou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">- Ordeno que o réu se cale!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">- Estou feliz meritíssimo que o senhor e todos aqui presentes, finalmente tenham notado minha presença.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Risos espalharam-se pelo recinto e multiplicaram-se, quando à terceira excitada batida do martelo do juiz, sua cabeça (a do martelo, não do meritíssimo) abandonou seu tronco, e voando foi dar aos cromados e caros sapatos do almofadinha acusador. Este deu um pulo, pois de alguma forma um de seus calos deve ter sido atingido. Falseou em seus calcanhares e foi ao chão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">- Deus seja louvado!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">O sarcástico grito do réu acabara de despertar toda hilaridade que aquela cena, até ali contida, representava. De uma dramalhão de terceira a insanidade de uma ópera bufa! Desviando-se da nova cotovelada que seu advogado tentava impetrar, Mario Tobias de Aguiar Mello e Silva, sentiu que de réu passou a ser o centro das atenções. Todos agora ali naquela sala pareciam esperar por sua nova participação. Ele dera vida a aquela enfadonha representação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: 11pt;">Em segundos o recinto saiu daquele <i>noir blazé</i></span><span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: 11pt;"> dos filmes dos anos quarenta, para o brilhantismo das cores da época atual. Teve vontade de levantar-se e agradecer a aqueles que riam, mas achou melhor conter-se. Todavia, seu olhar para com seu próprio advogado fez crer ao referido senhor, que qualquer outra tentativa de uso de seu cotovelo contra suas costelas, seria respondida a altura que o ato merecia. No mínimo com uma mordida que o transformaria na versão moderna de Van Gogh.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">O promotor foi trazido a seu próprios pés, com o auxilio de um de seus assessores. O centro de todo aquele acidente, a cabeça do martelo, foi levada de volta a seu corpo, por um auxiliar da justiça, que ajudou a fixá-lo. E o juiz, agora com um pouco de mais cautela, fez ver a todos que a comicidade teria que ter o seu fim, ou todos seriam retirados do recinto. Senhoras de família e prostitutas voltaram a acalmar-se. O promotor com a testa gotejada em suor e cônscio de seu vexame, procurou controlar-se. Agora mais do que nunca, iria querer a cabeça do réu, já que a do juiz e da porra daquele martelo, lhe seria impossível.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">- Volto a ressaltar a todos os aqui presentes, da periculosidade que um individuo destes representa para a nossa sociedade. No curso de minha carreira vi crimes hediondos, compartilhei de situações grotescas para com o discernimento humano, mas nada e vos repito NADA, me parece igual ao que este senhor veio a cometer de maneira fria, premeditada e desumana, naquela fria madrugada de Agosto. Seis tiros na cabeça e um no coração. Execução sumaria, sem direito a defesa. Peço-vos que escutem meu brado de alerta e a este homem não lhe proporcionem, um milímetro sequer da piedade que seu advogado clamará.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Findo o infindável discurso de abertura daquele que exigia a cabeça do réu, para a felicidade do último, foi pedido um recesso por parte da defesa, para depois do almoço. Barrigas rugiam de fome, e isto poderia causar um decréscimo na atenção daqueles doze elementos em relação ao projeto de defesa do gordinho careca, que iria elevar pontos de suma importância na ilibada vida familiar e profissional do réu, e as razões que levaram ao mesmo, em um ato de passageiro desatino, a descarregar todas as balas de sua 45 no rosto da vítima. Todas não, pois, uma fora destinada ao coração.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">O ar condicionado não estava dando vazão as necessidades dos presentes. Leques, abanadores, pedaços de jornais e no caso de um, o chapéu, eram usados como artifícios para a manutenção da temperatura do corpo humano em condições quase desumanas. O crime fora em Agosto, o julgamento estava sendo levado a efeito, as vésperas do carnaval. Sob uma canícula insuportável. Coisas do Rio de Janeiro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Mas pelo menos era agradável, mesmo na posição de réu, ouvir da parte daquele que o defendia, quão grande sujeito ele realmente era. Como atento e diligente fora para com os seus e dentro de sua áurea profissional. Todas as suas virtudes, sem nódoas de defeitos, por menor que eles fossem. Até o fato de ter ser coroinha, não passara desapercebido, bem como não fora esquecido ser sua mãe uma filha de Maria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Já dizia o velho Archimedes, que muito aprontara em sua vida. Na justiça brasileira, vence quem tem o melhor advogado. Os dois que se opunham pareciam eloqüente e bons naquilo que pregavam. Um tinha feito dele o assessor número um do demônio. O outro, como se ele estivesse sentado ao lado direito do senhor. E os doze atônitos à frente, pareciam boiar em águas esplendidas. Mário, por sua vez, ouvia a ladainha com os olhos presos no martelo do juiz.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Nunca um peça de tamanha insignificância corpórea havia lhe causado tanta impressão. Sua fuga do corpo principal, a procura do calo alheio, o sucesso em seu alvo e a consecução de seus objetivos, inebriavam-no. Fora mais certeiro que a bala de sua 45. Mas ninguém iria culpar o meritíssimo por aquele atentado físico ao promotor. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Do martelo desviou sua atenção ao dono do mesmo. Tinha idade mas era muito bem cuidado. Pele bronzeada do sol, rugas inexistentes previamente retiradas de forma cirúrgica. Mãos igualmente polidas, e um óculos que parecia ser artigo de luxo. Enfim, um juiz nos trinques, daqueles que deviam vender sentenças nas horas vagas e reverter o lucro destas vendas em coberturas em Miami.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Foram duas horas de defesa das qualidades que o réu possuía. As putas da galeria aplaudiram de pé, tão logo o gordinho careca terminou sua odisséia. Apenas sua mulher acompanhou a ovação, apenas que com um pouco de mais discrição. O juiz, em toda a sua fleuma, pediu silêncio sem se utilizar de seu martelo. Parecia ainda temer, as verdadeiras intenções da cabeça de seu martelo. Sua voz, assemelha-se a de um tenor rouco. Tinha força, mas pouca sonoridade. Talvez tivesse sido fanho, na adolescência.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">A chamada das testemunhas foi a continuação do primeiro ato. Pessoas depondo quanto a idoneidade da Última Flor do Lácio e demonstrando estupor pela atitude premeditada levada a efeito pelo réu. Interpeladas pelo advogado de defesa, sentia-se a fragilidade da tentativa de um suporte moral a um proxineta, que além de gostar de sentar numa criança, era ainda traficante de drogas. Mesmo sua mãe, que foi transladada do Salgueiro para a corte, não conseguiu convencer sobre as qualidades morais de seu filho e muito menos por que o mesmo havia pertencido as lides da Funabem e tinha cadeira cativa em Bangu um, onde esteve hospedado em quatro oportunidades como convidado da policia local.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Quando as posições se inverteram o réu pode igualmente observar, que suas testemunhas não possuíam igualmente o grau de convencimento necessário para ressaltar suas maiores virtudes. Sua sogra falseou em vários momentos, sua mãe pareceu simplista ao extremo e sua mulher deu os primeiros indícios que sua convivência com ela de há muito estava por um fio. Graças a Deus seus filhos não foram convidados a comparecer. As únicas que pareciam acreditar cegamente em seus nobres princípios, eram as putas da galeria. Infelizmente seu advogado havia se recusado a colocá-las no rol de suas testemunhas, o que até ali Mario não entendia porquê.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Elas seriam altamente convincentes. Aliás, não existe nada mais convincente do que uma puta. Elas fingem que gozam, elas o fazem acreditar que iniciaram aquelas funções dois meses antes, ante o abandono de seu marido, elas provam a você que seu membro é grande, generoso e que as satisfazem plenamente. Enfim, elas têm a capacidade de deixar os homens felizes e confiantes. Porque não colocá-las na cadeira das testemunhas? O Júri era formado de nove homens. Todos com cara de gostarem de pular o muro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Voltou sua atenção a su vizinho que tecia bons comentários a seu respeito, como no dia que socorreu seu cão qu acabara de ser atropelado. Pôs-se a pensar. Seria salvar um cão um fator mais eloqüente do que matar um proxineta com sete balas, seis na cabeça e uma no coração? Em toda a sua vida nunca estivera ciente do que realmente se interessava, mas em contrapartida tinha plena convicção do que não lhe interessava. E aquele julgamento parecia ser um deles, embora ele fosse o ator principal do mesmo. Mas não conseguia entender que os fatores morais de vitima e réu pudessem ser mais importantes do ato e as razões por que ele sucedeu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Ninguém ali estava interessado porque ele tomara aquela atitude? O que realmente o levara a tomar aquela decisão. Que, por sua vez. a vitima ao ser interpelada, havia lhe mostrado um canivete antes que ele puxasse por seu 45. Se bem que um canivete possa ser considerado uma arma de menor calibre que uma 45, David matou Golias com o estilingue da época. Talvez fosse este um ponto que seu advogado tivesse que relembrar a aqueles doze apáticos seres humanos. Teria que lembrá-lo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">O promotor por mais de quatro vezes exortara a necessidade do réu ter que pagar sua divida com a sociedade. E a divida da Última Flor do Lácio fora paga? Ninguém parecia interessado em abordar porque havia drogas nas ruas, violência na cidade, terror nos bairros. Que muitas Últimas Flor do Lácio, não eram tão incultas e muito menos belas, mas que certamente o poderiam levar ao esplendor de uma sepultura. Orestes era menos um. O réu simplesmente higienizara um pequeno ponto da cidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Um frêmito incontido tomou conta de seu ser. Sentiu seu corpo tremer em um calafrio cortante. O fato foi notado por um dos assistentes do advogado que perguntou se sentia-se bem. Mentiu, ao responder que nada sentia. Afinal que lhe valeria dizer a verdade. Não existe remédio para desolação. Como suavizar a consciência que sua vida poderia não valer mais nada se preso a uma cela pelo resto de sua existência?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Foram 8 horas de seção com um pequeno recesso de 45 minutos para o almoço e todos ali pareciam querer da fim a aquele julgamento. Extenuado, juiz, promotor, advogado e júri, foi decidido que a pugna ficaria para o dia seguinte. Pouco teria que ser apresentado, mas fosse o que fosse, o dia seguinte pareceu mais salutar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Para todos, menos para ele que teria que mais uma vez encarar o teto, suportar sua insônia e controlar sua ansiedade. Mais horas de espera sem saber qual o seu destino. Feliz era a Última Flor do Lácio, que não precisava mais esperar ou decidir. Ouro nativo, que na ganga impura...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Ah Bilac, que saudades das aulas de português no Ginásio. Decorar seus versos. Deixar sua imaginação fluir sobre suas palavras. O recreio. A furtiva conversa com as meninas. A troca de promessas. Os sonhos inatingíveis. A volta da escola. As brincadeiras na rua antes do jantar. O suave degustar de uma comida caseira. Os deveres de casa. A oração antes de dormir. A esperança que um novo dia haveria de trazer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Não pregara olhos. Sua fisionomia estava cansada, como a de um condenado a espera de sua sentença. Não poderia sugerir mais a convicção que seu advogado exigia dele na tentativa de demonstrar durante as seções sua inocência. Convicção dos inocentes que clamam por justiça. Teria Al Capone demonstrado pouca convicção? E o bandido da luz vermelha?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Notou que poucos elementos do júri ousavam sequer notá-lo. Pareciam envergonhados por serem donos de seu destino. Não queriam cruzar seus olhos com os seus. Para que então demonstrar convicção em seus atos? Era o ator principal invisível aos olhos da platéia. Na verdade era a Última Flor do Lácio, o mais importante artista. O centro gravitacional que dava equilíbrio ao espetáculo. Ele que entrara como coadjuvante na peça mas que morrera antes mesmo da seção ter seu inicio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Uma estranha sensação tomou conta de seu ser quando o júri foi convidado a se retirar para deliberar com relação a seu destino. Teve vontade de ouvir um samba. Qualquer coisa de Martinho da Vila. Algo suave que fluísse bem ao ouvido de todos. Levado a uma sala, ficou a sós com seus advogados que tentaram inutilmente vender um sensação de vitória. Seu gordinho careca não o havia convencido. Seu voto, se jurado fosse, seria contra ele próprio. O Gomalina saíra-se melhor. A tese da premeditação e da fria execução pareciam mais sólidas que a dos motivos e da auto defesa, inspirados pelo discurso de finalização.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Ninguém estava levando em conta que as razões de um de seus filhos estarem hoje hospitalizados em um centro de recuperação de adeptos as drogas, tenha sido a vitima. Justiça não se faz com suas próprias mãos, incendiara o recinto o promotor. No que ele tinha em parte razão. Mas a justiça divina em Sodoma Gomorra não foram feitas por mãos próprias e divinas? E o que eram os tsunamis, os terremotos, as erupções os furações e as pestes do que justiças divinas? Alguém um dia iria colocar o Todo Poderoso atrás das grades para pagar sua divida com a sociedade?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">Pensando bem seu argumento não teria força se levado a corte... Era ateu, nunca dera bola para Deus, mas depois que viu seu filho no estado em que se encontrava, vendendo seu corpo para ingerir drogas, sentiu que havia um Deus que a tudo assistia, mas eram eles, os seres humanos, que deveriam tomar suas decisões. Infelizmente ele tomara a sua, mas agora teria que pagar sua dívida com uma sociedade. Sociedade esta, que estava sendo dizimada por elementos como a Última Flor do Lácio. Durma-se com um barulho destes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: large;">A campainha tocou. Ele estava pronto para enfrentar o destino reservado por aqueles doze elementos que em momento algum tiveram a coragem de olhar em seus olhos. Ajudado por seus advogados e pelos guardas que lhe esperavam fora da sala, voltou ao palco principal da peça de sua nova existência. Foi quando olhou para sua mulher. Ela parecia não estar ali. Olhava-o através. Sua mãe a seu lado esquerdo chorava. O fazia discretamente como sempre fora em toda a sua vida. Sua sogra fingia estar olhando para outro lugar. Melhor assim. Nunca tivera por ela o menor carinho. Outrossim, havia pessimismo naquele trio. O trio que teria que conviver pelo resto de sua existência se alcançasse a liberdade. Liberdade? Era realmente um otimista...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "bookman old style"; font-size: 11pt;"><span style="font-size: large;">O júri não tardou de voltar a sala. Nenhum de seus membros o fitou. Sentiu que fora condenado. O papel foi passado ao juiz que o leu em silêncio por alguns segundos. Sua expressão não sugeriu absolutamente nada. A verdade é que a decisão fora rápida demais. Não passara de uma hora. O que deixara seus advogados apreensivos. Foi dada a ordem para que o réu se levantasse. Ele o fez, fechou os olhos e agradeceu a Deus por finalmente ter um destino. </span><span style="font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
Friends of Hallandale Beach Clubhttp://www.blogger.com/profile/10565044858800447212noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-355405200958981661.post-65103471222820979012010-04-15T20:31:00.003-04:002010-04-15T20:36:24.491-04:00O DONO DA PIROKAH<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Mardel acabara de ser deportado dos Estados Unidos. E desta forma veio a dar novamente no Brasil. Primeiramente no Rio de Janeiro, depois em Porto Alegre. Por sua sorte, muita gente havia se esquecido dele. Pobre Mardel, alguns acreditavam que seu corpo nunca fora encontrado. Triste fim...<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Quando Zequinha Mamute, anos depois resolveu realizar seus próprios prejuízos, se contentando apenas com os pescoços de China e Orlando, esqueceram da existência daquele malandro, que era safado qual o Laércio. Mardel sentiu-se compelido a voltar. Tinha saudades de sua terra natal, de seu idioma pátrio e do Grémio, que fora bicampeão do mundo em sua ausência.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> O Rio Grande do Sul era conhecido por seu filé, mas ele o estado da união em si, era o filé a ser deglutido pelo Mardel. Em sua deturpada mente, todos ali o deviam. Mardel estava pronto para ter a sua desforra e já tinha até um plano elucubrado no avião de volta a terra natal. Não dava para passar por árabe e muito menos por norte-americano. Logo atacou de nobre estancieiro uruguaio, que no Rio Grande do Sul sempre cola. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Deixou o bigode brotar abaixo de seu nariz, aperfeiçoou o seu <i>portunhol</i>, voltou deixar crescer as costeletas usadas quando cantava em um cabaré de Montevidéu quando trabalhou como garçom e passou a se vestir qual um príncipe oriental. Óculos ingleses de aro fino, chapéu irlandês quadriculado, colete com o quadriculado do mesmo padrão do chapéu e até o relógio era de corrente de ouro (na verdade se tratava de um bom banho de ouro). Quem o visse, juraria ser um cantor bem sucedido de tango. A segunda versão de Carlos Gardel. Um pouco mais magro...<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Chegando ao Cristal ele passou a aplicar aquele que seria o seu tiro definitivo. O que Mardel acreditava firmemente que lhe traria a fortuna tão desejada e sem complicações em relação aos <i>bookies</i>. O tiro de misericórdia. Aquele que o tiraria definitivamente do lodo em que se encontrava.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">O nome escolhido desta feita seria don Pero Valdez Aguirre e apresentava-se como nativo de Montevidéu e filho de uma nobre família que o deserdara por seu intenso amor pelos cavalos de corrida. Coisas de velhos nobres da oligarquia uruguaia. Seu plano era simples, como simples sempre são as grandes idéias. Ele conquistava velhinhas desgostosas e ricas do mercado gaúcho e as colocava em sindicatos para a compra de alguns cavalinhos com pinta de ganhadores do Derby. Cavalinhos bem baratos para não atrair suspeitas dos curiosos. Mas estes sindicatos não eram convencionais onde cada membro adquiria ações e estas somadas perfaziam 100%. Aliás, na verdade não eram sequer sindicatos. Mardel vendia a cada uma de suas amantes 100% das ações de determinado animal, e assim alguns sindicatos chegavam a 2800%. Quebrava os animais antes de estrear e quando algum dos sobreviventes corria, o fazia fracassar. Para estes últimos, depois de duas ou três carreiras, simulava uma manquera e os vendia. Nem se dignava a pagar os cara minguados inerentes a venda, às suas apaixonadas investidoras e tome Viagra para agüentar aqueles sarcófagos ambulantes. No inicio pintava o recém adquirido para suas próprias-otárias como as sétimas maravilhas do mundo;<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Una maquina de correr! </i></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Mire como saca las manos. Como mueve las patas. Que petiso. Este nos lleva al derby.</span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Ai quando o cavalo estava às vésperas de estrear, anunciava em ritmo de tango de final de noite no <i>Viejo Almacien</i>. </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Que lástim</i></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">a, piso una piedra y la perdimos. Que pingo! Si no se lastima, estoy seguro que ganaríamos el Derby. Su calidad hera terminante!<o:p></o:p></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">E partia para outra aquisição. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Não havia perigo algum em todo o seu projeto, já que os cavalos na grande maioria das vezes não corriam, e aqueles que contrariando todos os prognósticos agüentavam as intempéries e conseguiam chegar a pista, eram tão matungos, incapazes de sequer levantar as próprias patas. Para manter ainda a garantia do insucesso, a bóia era quase nenhuma, o soro era de água da bica e o jockey redeador era um sobrinho do desaparecido Osório que detinha o recorde de não ter ganhado uma carreira no Cristal nos últimos três anos de sua vida profissional. Recorde este que estava sendo ameaçado neste momento pelo filho de sua irmã, o Osórinho.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> E a coisa era ainda mais perfeita, porque as perdas da parte de cada uma de suas investidoras não eram alarmantes, já que Don Aguirre era um selecionador de cavalos extremamente consciencioso que comprava os mais baratos oferecidos nas vendas, aqueles que tinham menor classe e chance de suceder.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> - </span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Pobre homem. Os cavalos o haverão de levar a falência - comentou a madame Espinoza na altivez de seus 82 anos ainda incompletos. <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Mas como os ama -<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>lamentou a viúva Bernardes Bevilaqua ainda na flor de seus 68 anos mais do que completos.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></span></div><div class="MsoBodyText2"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Dois pais de santos vieram a ser consultados a pedido de uma das proprietárias. O resultado foi nenhum. Foi instalado uma música na cocheira de origem indiana, pois, segundo a viúva Alencar isto acalmaria os pensionistas, mas os cavalos passaram a ter otite e um se suicidou indo de encontro a parede. Duas videntes de Governador Valadares que não haviam conseguido vistos os EUA, tentaram também resolver o problema, trazidas pela viúva Bernardes Bevilaqua, mas nada conseguiram desvendar. E até um terapeuta consagrado em hipnose fora colocado à disposição de Don Aguirre por parte da madame Espinoza, para trabalhar na mente dos cavalos. Mas a urucubaca permanecia. Todos eram craques pela manhã, mas nunca chegavam a pista oficialmente.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Mas pelo menos o terapeuta caiu nas graças de Don Aguirre. Pois, embora o que havia conseguido até ali na realidade, foram mais dois cavalos mortos, que depois de entrar no estado de transe hipnótico caíram e fraturaram seus respectivos crânios. Todavia, este era o tratamento ajustou-se qual uma luva para o nobre uruguaio. O golpe do seguro. Ele embolsava o seguro.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Mas como prova de sua confiança nos dotes do terapeuta, o Dr. Eleutério, don Aguirre cavalheirescamente manteve o seu contrato e passou a fazer seguros altíssimos de suas jóias de quatro patas, com o pequeno detalhe de ser ele o próprio o beneficiário, nos animais a serem hipnotizados. E uma nova fonte de renda estabeleceu-se no <i>PVA Racing Stables</i>. A coleta do seguro.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> E a toda esta bola de neve monetária, teriam que ser somadas as contas de despesa da cocheira, do trato e daqueles longos tratamentos veterinários do Dr. Fritz Gungenheim, um estranho personagem que só medicava os cavalos de Don Aguirre na calada da noite. Mas que mandava suas contas à luz do dia e estas, eram atrozes para os proprietários. Ninguém tivera prazer de conhecer o veterinário alemão até aquela data, além de don Aguirre. E isto estava começando a instaurar uma espécie de curiosidade entre sua geriátrica clientela.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Eu gostaria de conhecer este Dr. Gugenheim, Bibi. (esta era a forma pela qual a viúva Lacerda se reportava afetuosamente a seu treinador).<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Imposible. El hombre es muy nervioso, Xuxu </span></i><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">(era o apelido que Mardel colocara naquela gordinha sapeca)<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> No lo puedo perder y que se valla del stud seria una locura que se fuera. Me costo mucho que vuelva a trabajar. Desde que gano el Derby con Neckar en Hamburgo en el año de 1951, que abandonara la clínica. </i></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Un monstro. Manos milagrosas...</span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Mas eu não diria nada, Bibi. Só o cumprimentaria... - tentou argüir a gordinha curiosa.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Imposible Xuxu. El hombre fue nazista y no quiere ser visto. Muy cegado a Dr. Mengele. Si lo miro a los ojos, desaparece.<o:p></o:p></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">E dia após dia, Mardel enchia mais os seus bolsos. Eram os seguros, eram as contas de manutenção e os fictícios tratamentos do gênio alemão.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> </span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Mas um manhã pintou em sua cocheira uma égua, raquítica, que visivelmente puxava uma perda e que para culminar perdera uma de suas orelhas em uma querela no pasto quando ainda pequena. Colocada no leilão de liquidação de um criador pouco afamado, ela que possuía o sugestivo nome de Pirokah, segundo seu criador, o nome de uma deusa da mitologia grega, não conseguiu sequer um lance, mas Don Aguirre se encantou e a trouxe para seu comando. A comprou reservadamente por 100 Reais, e a sindicalizou em 25 parcelas individuais de $ 1,000 reais de 100% cada. O sindicato presente era dos menos concorridos. Foram vendidas apenas 1400%<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> </span><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> - <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cuando la vi en el remate, me sentí loco. Tenia que comprarla a cualquier precio. </i></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Una fenomena!</span></i><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Mas e a orelha, Bibi? – perguntou curiosa a viúva Lacerda.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Que tiene la oreja?</span></i><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">O problema é exatamente este. Ela não tem a orelha, Bibi.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Estos son detalles. Solamente detalles.</span></i><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Pirokah não tinha realmente uma orelha, mas em contrapartida parecia ser constituída de ferro. Agüentava o tranco, comia a pouca ração, se mantinha no peso e mesmo hipnotizada era incapaz de cair e se transformar em prêmio de seguro. Um dia o sobrinho do Osório ao voltar da pista, ao final dos trabalhos, chegou com aquela cara de pateta e vaticinou: <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Don Aguirre esta tal de Pirokah é muito boa! Dura e difícil de baixar o facho. Nunca montei em coisa melhor. Imagine quanto ela fez nos 600?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Osórito, mi muchacho, no me ves que estoy ocupado. Conversamos después. Si usted quiere anotar la yegüita, la anota. </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Confirmo la papeleta. </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Pero me deja trabajar.</span></i><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">E voltou a atender à aquele monumento da Shirley ao telefone. </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Que mujer... que mujer...</span></i><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Como o Osórinho nunca havia montado em nada decente em sua vida, seu poder de avaliação foi imediatamente subestimado por don Aguirre que não ia mais pela manhã ver seus pupilos treinarem, já que tinha a difícil incumbência de treinar suas próprias investidoras. E isto demandava tempo. Não só pelo excessivo número delas, assim como pela avançada idade das mesmas, o que tornava necessário muito jeito e calma para não desmontá-las em movimentos inesperados. Um dia, o Osórinho chegou para Don Aguirre e vaticinou de forma solene. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Se ela estréia, ganha.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-left: .5in; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- <i style="mso-bidi-font-style: normal;">De que hablas, Osórito?</i><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-left: .5in; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Da nossa Pirokah.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Esquecendo-se por um segundo de sua condição de nobre uruguaio, don Aguirre escorregou e acabou dando uma de Mardel. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Baaa, você esta vendo estrelas tché!<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">A sorte é que o Osórinho era daqueles que necessitavam mais de dez segundos para que a mensagem assimilada por seus ouvidos fosse transmitida para o cérebro e este por sua vez, montasse uma intrincada forma de discernimento. Rapidamente Mardel voltou a ser don Aguirre e demoveu o jockey da coudelaria (forma sutil e pomposa de chamar a cocheira) de seus sonhos.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Pero que si, pero que no, la vamos correr igual . Pero no te la vamos a dar a vos. El exceso de confianza es la enemiga de la perfección.<o:p></o:p></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Mesmo triste, Osórinho aceitou o fato que don Aguirre era um homem das letras e que sabia das coisas. Paciência. Mas dar a sua querida Pirokah para o Bustamante, também já era demais. Logo o Bustamante... </span><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Surdo e com artrite no braço esquerdo, Bustamante não parecia ser a melhor opção. Aliás o Bustamante nunca fora a primeira opção para nada. Ainda mais que para Osórinho, o Busta (como era conhecido nas rodas turfísticas) só não batera o recorde de seu amantíssimo e desaparecido tio, porque ganhara uma carreira num páreo de cinco concorrentes. Nesta carreira dos cinco participantes, quatro caíram e só o pupilo do Busta não fora prejudicado, já que vinha tão atrás que teve tempo mais do que suficiente, para se desviar dos demais. Mas vida de jockey era assim mesmo e o Busta era um bom sujeito. Tão bom que ainda era casado há 20 anos com a mesma mulher.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Alguém tinha alertado a Osórinho que a razão de tão harmonioso matrimonio era porque o Busta era surdo e a dona Marilda cega. Aquelas duas deficiências físicas uniram o casal para sempre. No momento em que a voz de dona Marilda era pior do que cana rachada e Bustamante era feio como a peste. Mas o que o olho não vê e o ouvido não escuta, faz o coração não sentir.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Mas a sorte começou a virar-se contra Mardel. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoBodyText2"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Dona Firmina, que era umas 14 proprietárias absolutas de Pirokah resolveu comparecer ao jockey na tarde de estréia de sua pupila, contrariando o pedido de don Aguirre, que sempre proibia aos proprietários de assistirem seus cavalos correr ao vivo.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> </span><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> - En la televisión se ve muy mejor. Porque también no quiero que mi gatita este en un ambiente de levante.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Don Aguirre era excessivamente ciumento e por que não dizer extremamente supersticioso. Pregava achar que a presença de suas proprietárias no hipódromo em dia de carreiras, trairia má sorte ao cavalo. Por isto todas assistiam pela televisão, quando o milagre de um de seus cavalos ter conseguido escapar do massacre matinal. E as velhinhas obedeciam, principalmente vaidosas pelo ciúme doentio, daquele nobre cavalheiro uruguaio.</span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> </span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Mas dona Firmina que era uma rebelde por natureza, tanto que havia liderado a ala feminina conservadora na revolução de 32, não deu bola a proibição. E afinal que superstição era aquela? Nenhum dos cavalos conseguia correr, que dirá ganhar... ademais o Osórinho lhe havia garantido que a potranquinha era imperdível. Desta forma a rebelde mentiu para seu amado treinador, dizendo que estaria em Petrópolis e desobedecendo-o, colocou o vestido vermelho de formatura e compareceu ao prado, disfarçada. Para tal achou que um simples par de óculos escuros e um chapéu discreto de feltro com uma pena de faisão, seriam mais do que o suficiente para não ser notada pelos presentes.</span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Há de se convir que uma senhora de 90 anos acondicionada em um vestido vermelho, três números menores, com óculos escuros e chapéu de feltro, com uma pena de faisão, não eram uma coisa muito freqüente nas tardes de fim de semana no hipódromo de Cristal. Mas don Aguirre, que estava sentado na mesa com duas lourinhas de vida difícil e ávidas por dinheiro fácil, não deu a mínima bola. Estava bêbado e entretido com suas companhias. Não notou a presença da investidora e muito menos foi ao paddock ver sua Pirokah.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Você não vai ao <i style="mso-bidi-font-style: normal;">paddock</i> ver sua potranca, Perito</span><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">? - perguntou a mais ordin</span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">á</span><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">ria das duas.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- No mia cachita. Estoy en lo paraiso com usted…<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Seu pai, o saudoso Aristides, uma vez havia lhe dito que dinheiro não comprava felicidade. Mas Mardel sabia, que este mesmo dinheiro poderia pagar sua Mercedes, seu apartamento em Bela Vista e principalmente o cachê daquelas duas lourinhas no final daquela tarde. E isto era o que importava naquele exato momento de sua vida. O resto eram meros detalhes. Meros e desprezíveis detalhes até que aquela potranquinha que acabara de entrar na pista saltitante, a Pirokah, começou a lhe causar calafrios. O primeiro alerta do desastre que poderia estar por acontecer foi um comentário à suas costas, de dois caras que a primeira vista o Mardel não conhecia, mas cuja voz do que acabara de falar, não lhe pareceu estranha.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Como esta linda esta estreante.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Mardel não se preocupou, com o comentário. Com a voz sim. Naquela carreira haviam quatro outras estreantes e continuou a cafungar o pescoço de uma das meninas, a oxigenada da esquerda, sem dar a mínima bola para quem comentava às suas costas. Mas o segundo brado de alerta veio logo a seguir.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Que nome estranho para se dar a uma potranca.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Respirou fundo. A coisa não era ainda alarmante, já que das cinco estreantes, três tinham nomes pouco comuns; Pirokah, Gonorinda e Xexelenta. E Mardel se limitou a mudar de pescoço. Agora estava no a sua direita. O castanho escuro de pelos eriçados. Mas foi justamente quando ele chegou naquela outra massa de carne embargada de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Fleur de Rocaille</i> que sentiu de quem aquela voz conhecida às suas costas estava se referindo. Ele não só reconheceu a voz, como também o perigo.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- E olhem que barraram este menino promissor do Osórinho para colocar o surdo do Busta.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Ambos estavam mesmo falando de Pirokah e a voz era do Osório, aquele filho da puta que havia puxado a Blue Gardênia, jogado na Grand Orient e fugido com uma nota preta para as Bahamas. Aquele filho da puta que o fizera passar o que fora obrigado a passar em solo uruguaio. A voz estava um pouco mais rouca, mas só poderia ser ele, afinal só uma múmia como aquela, poderia achar o Osórinho promissor. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Mardel estava a ponto de voltar a sua cabeça e encarar o traidor, quando um comentário do acompanhante de Osório Duque Estrada o fez esfriar por completo. Ele igualmente conhecia aquela voz...<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> - Isto me lembra um golpista que havia há muito tempo atrás por aqui no Cristal chamado Mardel. Um sujeito novo e até simpático. Ele uma vez descarregou na minha banca numa tal de Blue Gardênia e quando pensávamos que ele ia para a cabeça, na realidade o salafrário estava jogado na Grand Orient que acabou ganhando o páreo. Descarregamos na pedra a tempo, mas a emenda foi pior que o soneto. Pois, só então descobrimos que o Mardel havia aprontado um belo de um enxerto. A égua que ele queria que ganhasse era a Grand Orient. Se meto os olhos naquele vagabundo o esfolo vivo. Sou capaz de reconhecê-lo até debaixo d'água! - a voz deu alguns segundos de pausa e completou - Você conheceu o tal de Mardel, comendador?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Felizmente não. Mas ouvi falar de sua fama. Terrível. De sujeitos como estes procuro sempre manter uma certa distância. Ademais neste tempo eu não freqüentava o Cristal. Estava tratando de meus negócios em São Paulo.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Que Judas! Mentira com total indiferença! E logo aquele comendador de uma figa, que na realidade era o traidor do Osório. A única razão de seu calvário em Montevidéu, aonde até latrinas teve que limpar para sobreviver. Mas será que a Pirokah tinha mesmo chance, pensou Mardel agora se desinteressando daqueles dois pescoços e fixando seus olhos no totalizador? Era o seu que acabara de entrar na reta. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Pirokah estava não só bem jogada, como era a franca favorita. Aquilo não era possível! Como estavam jogando numa égua que comia 1/3 de ração, tomava soro de água de bica e estava montada por um surdo? Teriam todos enlouquecidos? Mas a resposta as suas dúvidas foram imediatamente sanadas quando ele se dignou em fixar suas lentes nela. Não é que aquela potranca sem orelha estava linda. E os dois as suas costas, confirmaram a outra razão.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Não te disse. Ela tinha que ser a favorita. Com aquele seu último apronto de 34" para os 600, é impossível de perder. Só o Estensoro fora capaz de algo semelhante.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Eu não sabia, comendador que o senhor conhecera o Estensoro.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- ... de nome, só de nome... consertou o Osório, pigarreando a seguir.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> 34" para os 600. E o Osórinho não lhe havia dito nada! Ou melhor ele tentara dizer e ele não dera ouvidos. Estar de trela com aquela destrambelhada da Shirley o fizera perder o fio da meada e pelo jeito, iria perder a meada inteira até o final daquela tarde. Aquela égua não poderia ganhar ou ele estaria frito.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Ela não só ganha, como o faz em recorde.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Escute o que vou lhe dizer, comendador. Se a Pirokah ganhar hoje em recorde, vou direto neste tal de Aguirre e a compro por qualquer preço. Aliás o senhor conhece este Aguirre?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Não. Sei que possui uma cocheira cheia de cavalos, mas poucos são aqueles que chegam a pista. E quando chegam fracassam.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Isto também me lembra muito aquele desgraçado do Mardel - completou o banqueiro expelindo fel em seu hálito.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-left: .5in; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Hora de picar a mula.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Con permiso. Vuelvo en unos minutitos.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">E se afastando das duas lacraias sanguinolentas, Mardel desceu as escadas aos trancos e barrancos, na tentativa de avisar ao Busta de sua nova intenção; A de segurar a Pirokah, antes que esta se tornasse um veículo para arrombar a sua região glútea. Chegou a tempo a cerca, gritou pelo Busta, mas só então se deu conta que se esquecera do problema auditivo de seu jockey. O máximo que conseguiu com seus acenos foi um aceno de volta do surdo que sorria e parecia confiante.</span><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Agora era tarde. Só havia uma derradeira alternativa. O negócio era retirá-la da carreira por ordem veterinária. Mardel se encaminhou rapidamente ao edifício ao lado aonde se encontrava a comissão de corridas reunida. Lá chegando foi recebido por um dos comissários de carreira.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Que barbada não don Aguirre que o senhor tem neste páreo?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">O cumprimentou o chefe da comissão de corridas.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Una yegüita preciosa, Pero en el paseo la vi que estaba rota. Una lastima Tenemos que retirarla.<o:p></o:p></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span></i><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Como retira-la, don Aguirre</span><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">?</span><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> </span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Sua Pirokah é a franca favorita e já está a caminho do largador. Se a retiramos o público quebra tudo. Desculpe mas é totalmente impossível. Fora de propósito!<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Mas la sanidad del la yegüita?</span></i><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Não se preocupe. Vou me comunicar com o veterinário de plantão junto ao largador e peço para ele fazer uma avaliação. Se ela estiver sentida, como o senhor notou, ele também irá notar e a retira. Um momento.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Avaliação? O que o Mardel naquele momento necessitava é que um raio caísse bem no meio da cabeça da sua Pirokah. Como aquilo poderia ter vindo a acontecer? Todas as éguas estavam agora rodando por trás do partidor e por seu binóculo, Mardel podia ver que sua Pirokah era a mais robusta, cheia de vida, e certamente a mais excitada de todas. O surdo quase que não a conseguia manter em suas mãos. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Cai filho de uma égua… cai… - balbuciava entre dentes, quase mordendo os lábios. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Mas a bosta do Busta não caía. Ela pulava que nem cabrito e ele mantinha-se no dorso com a Pirokah espumando... Melhor, assim. Talvez houvesse a chance dele cair no percurso, ou quem sabe a Pirokah pulasse a cerca...<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Tenho boa noticias, don Aguirre.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">La van a retirar?</span></i><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Não. Ela está sã.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Como sã se ela puxava de uma perna?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Sanita?<o:p></o:p></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Sim.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mas la pierna...</i><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> - Ah, o fato dela o puxar do posterior esquerdo, o Busta garantiu ao veterinário que nunca foi problema<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Nenhuno problemita?<o:p></o:p></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Surdo desgramento!<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Nada, nada, nada! Nosso veterinário garantiu que não há nada de errado com a sua Pirokak. Ela esta tinindo e o Josias me segredou também que não vê jeito dela perder esta carreira. O Busta está gozando todos os demais adversários dizendo que hoje a Pirokah dele faz a festa. Não se preocupe, homem de Deus. Acredite, sua Pirokah está um colosso. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Nenhumo conosco la Pirokitah como yo.<o:p></o:p></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Acalme-se homem, tudo dará certo. Hoje é o seu dia.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Era o que Mardel mais temia. Talvez hoje fosse o seu último dia...<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Fique aqui para assistir a carreira conosco.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Gracias, mas me tengo que ir.<o:p></o:p></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"></span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Mardel queria estar o mais perto possível do portão de saída, quando a catástrofe viesse a acontecer. Mas seus temores foram dissipados logo na largada. Ou melhor na largada das outras, já que o Bustamante não ouviu o grito do juiz de largada e saiu do partidor com um grande atraso.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Deus seja louvado. Juro que não apronto mais<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Mardel, fez o sinal da cruz, espalmando a seguir beijou suas mãos em ritmo de oração. Como sacou que dera bandeira, pois, alguns notaram o seu gesto, completou agora com o semblante cravejado de preocupação: <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- <i>Que azar... que azar... com mi pirokitah...</i><o:p></o:p></span></div><div class="MsoBodyText" style="text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt; font-style: normal;">Pirokah, que dera cerca de dez corpos de vantagem as suas nove outras adversárias, chegara ao final da reta oposta já colada na penúltima, mas embora aquilo inquietasse um pouco a Mardel, não havia jeito dela alcançar as ponteiras e ainda ter resistência para chegar ao disco na primeira colocação. Não comendo o que ela comia e sendo injetada de água da bica como se fosse soro. Era eqüinamente impossível. Ainda mais que o surdo havia decidido mantê-la junto à cerca aonde dificilmente iria encontrar passagem. Estava salvo, pensou Mardel, graças à incompetência do Bustamante.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Mas é aquela velha estória. A gente só se lembra que esqueceu o guarda-chuva, quando o temporal já está caindo sobre a cabeça. De tanto galopar para ver se quebrava Pirokah, Mardel fez com que sua pupila adquirisse uma estamina (capacidade de se chegar à distância) bárbara. Uma a uma, Pirokah foi as passando na cara, sem que o surdo necessitasse sequer fazer uso de seu chicote e a 200 metros do disco só tinha duas adversárias a sua frente e uma colada em seu lado. Um caixote que nem o David Copperfield seria capaz de se desvencilhar. Mardel sorriu e abaixou o seu binóculo. Não havia mais jeito. Graças ao bom Deus, o surdo tinha jogado mais uma fora.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Caminhava de volta para a social, quando um brado da galera o fez trazer de volta o binóculo a seus olhos. Meu Deus, o desgranado do surdo conseguira uma passagem junto aos paus, usara seu chicote com a esquerda e sua Pirokah estava arrebentando com todos. Tomara de golpe a segunda colocação. Amaldiçoado seja o senhor, ela iria ganhar.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> - Deus por favor, me livra só desta. Por favor...<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">E suas preces foram ouvidas. Há 20 metros do disco a cansada ponteira veio para dentro e por um segundo Pirokah afrouxou, recolheu sua cabeça e cruzou perdendo por uma diferença mínima. Mardel respirou aliviado. Graças a Deus ele fora salvo pelo Gongo. Não o tradicional gongo e sim o Pedro Gongo, o jockey da Xexelenta. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Dois turfístas que cruzaram com Mardel o consolaram: <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span></i><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Que pena don Aguirre. </span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Sua potranca correu uma barbaridade. Se tivesse orelha, poderia ter ganhado na foto. Na próxima é barbada.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Que le vamos a hacer? - </span></i><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">respondeu ele com aquela cara de desconsolado, mas sabendo que não haveria uma segunda vez. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Aquela filha da mãe ia ter um ataque de coração ainda aquela noite. Era só colocá-la no seguro no final da tarde.</span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Mardel já estava na parte inferior da arquibancada quando um outro turfista vindo em sua direção, tentou lhe incutir algum ânimo. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Acho que o senhor leva esta. O Busta acabou de reclamar. Vão desclassificar a Xexelenta.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> O coração de Mardel disparou. Aquilo não podia acontecer. O que aquele surdo de merda tinha na cabeça? Mardel correu de volta em direção a comissão de corridas e quando lá chegou se viu barrado na entrada pelo negão Alcibíades. Colorado e como tal fedorento.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- A comissão está reunida com os jockeys e estão decidindo o que vão fazer - </span><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">objetou aquela porta de ónix humana, postada a sua frente com os braços cruzados a altura do peito.</span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Yo quiero explicarles...</span></i><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Não se preocupe, don Aguirre. Antes dos jockeys subirem, ouvi um dos comissários dizer que é desclassificação na certa. O senhor já levou esta. Não se preocupe. Vá para o caixa recolher o seu.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Caixa? Recolher o seu. Baaaaaaaaaaaaaa! Como se ele não se dera nem ao trabalho de jogar? Tinha que interferir naquela decisão antes que fosse tarde. Mas era tarde. A porta se abriu e pela cara do Gongo, o resultado não lhe fora favorável. Atrás dele, abraçado com o chefe do comissariado estava o pateta do surdo, sorrindo qual um louco, pela sua segunda vitória em três anos. Quando todos o viram, convidaram-no a entrar.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Vamos brindar uma champagne, don Aguirre, por sua primeira vitória aqui no Cristal.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Don Aguirre cruzou com Bustamante, que emocionado lhe deu um abraço e lhe beijou as mãos com as lágrimas escorrendo de seus olhos. Parecia por demais agradecido. Mardel sentiu vontade de estrangular-lhe lentamente. Não lhe faltaria a oportunidade.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Com a sua Pirokah patrão, vamos ganhar o Grande Premio Brasil. Tri legal! - </span><span lang="PT" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">e desceu para tirar a fotografia.</span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Você não vai para a foto, don Aguirre?<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>- perguntou um.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">No, no. No me gusta hacerme ver. </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Ademas la propietária no vino.</span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Feliz com a desclassificação? - perguntou outro.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Penso ser anti deportivo. </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Deberíamos mantener el resultado. No lo quería perjudicar a Gongo menos a los otros propietarios...<o:p></o:p></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Que nobreza. Que espírito. Don Aguirre são de treinadores como o senhor que nós precisamos por aqui no Cristal. E não desta corja de Juvenals, Laércios, Euclides e Mardeis da vida, que graças a Deus foram daqui corridos -comentou o chefe do comissariado.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Si, si, como no</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">? </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Mas...</span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Ponha algo em sua cabeça Don Aguirre. O Gongo é que prejudicou. Não o seu jockey a ele. Esta é uma das melhores potrancas já aparecidas no Cristal. Pirokah vai arrebentar com todos. Só uma<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>fenomena poderia dar a vantagem que deu, atropelar pela cerca e ainda chegar aonde chegou montada pelo Busta. E só o senhor também com a sua nobreza peculiar de espírito, podia dar uma chance como estas ao surdo. O senhor tinha uma barbada e apelou para seu espírito humanitário dando uma verdadeira chance ao pobre coitado. Isto é mais do que nobre. Isto é humanitário, quase divino.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Abraçado pelo chefe do comissariado, Mardel só pensava numa forma de sair dali o mais rápido possível. Suas quatorze proprietárias já deviam estar pulando em frente à televisão e procurando localizá-lo no celular. E Mamute a caminho de sua cocheira para arrancar a sua Pirokah. Ele tinha que picar mula...<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Qual das três é a dona de sua Pirokah?<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> - </i>perguntou inocentemente o Dr. Camacho, um dos comissários sérios daquela junta de vadios. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Mas o que realmente havia conseguido fora arrancar de todos uma gargalhada e do extrovertido Valério, um comentário, a mais: <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Deve ser uma das louras, ou quem sabe as duas. Não acredito que seja a terceira<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Ninguna. Son apenas unas amigas que vinieron conmigo... Tercera? Usted dice tercera?<o:p></o:p></span></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="ES-TRAD" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> A velhota de vermelho com chapéu com pena de ganso.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Velhota? De vermelho com chapéu com pena de ganso? Mardel fez uso de seu binóculo e quase o deixou cair ao vislumbrar Fifi (o apelido amoroso pela qual Dona Firmina gostava de ser chamada) acariciando e beijando sua Pirokah à frente do hipódromo inteiro.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoBodyText"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"></span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt; font-style: normal;"> Imediatamente veio a cabeça de Mardel o que as outras treze proprietárias estariam pensando naquele exato momento vendo sua égua sendo fotografada e ladeada por três outras mulheres. A presença das louras era fácil de se despistar, já que Mardel diria tratarem-se respectivamente da mulher e da cunhada do Bustamante. Normalmente jockeys tem esposas louras e com o dobro de sua altura. E naquele específico caso, coincidia. Mas a Fifi... Como ele justificaria a presença de Fifi? Ia ser difícil engolirem a Fifi ainda mais que agora ela estava pendurada em sua Pirokah. Não a largava nem por decreto.</span><br />
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt; font-style: normal;"> Talvez justificasse como sendo a mãe de uma das meninas? Ou quem sabe uma tia afastada? Algo assim. Até lá ele arrumaria uma desculpa. Sua maior preocupação no momento era o Mamute. O crime seria perfeito se o locutor não tivesse a terrível idéia de fazer uma entrevista e Fifi afirmar exultante ser ela a única proprietária daquela Pirokah.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- </span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Ai don Aguirre. Amassa as louras e faz a velhinha pagar as contas de sua Pirokah - gozou o desbocado do Valério, se valendo como sempre da Pirokah alheia.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- E olha o Zequinha Mamute com aquele seu amigo. O comendador de São Paulo. Já chegaram na velha para lhe arrancar a Pirokah de suas mãos. Don Aguirre, desculpe lhe informar, mas estes dois vão retirar sua Pirokah antes do final desta tarde. Ela vai hoje mesmo para a cocheira do Edmundo Bastos. Duvido que a velha não venda para o<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>Mamute. Quando o Mamute cisma, não tem jeito. Ele compra mesmo!<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Não há Pirokah que resista... - voltou a gozar o Valério, que por estas coincidências era primo de outro homônimo que careca como ele havia cagado com a fama do PT. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"></span></i><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> - Não fique assim Don Aguirre. O senhor arruma outra Pirokah, logo, logo. Já provou ter olho clínico. Comprou uma égua sem uma orelha e que puxava de uma pata e viu aquilo que ninguém havia notado. Uma craque. O senhor é gênio.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Don Aguirre estava tão desnorteado que caiu sentado em uma das cadeiras. Seu fim era eminente. Paraguai agora? Talvez... Alcebíades interrompeu o incentivo do comissário de corridas.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Uma tal de dona Firmina e o Zequinha Mamute com um amigo comendador de São Paulo, estão ai embaixo e pedem para subir pois, necessitam falar com Don Aguirre. Parece importante.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Melhor Venezuela. Se a besta do Hugo Chávez colava lá, porque ele não</span><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">?<o:p></o:p></span></div>Friends of Hallandale Beach Clubhttp://www.blogger.com/profile/10565044858800447212noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-355405200958981661.post-77272020014688094092010-04-08T10:08:00.000-04:002010-04-08T12:40:33.006-04:00OLHOS DA COR DO MAR<div style="text-align: justify;">Maria das Graças conheceu o Rio de Janeiro, acompanhando uma importante família política de São Luiz do Maranhão. Tudo numa rápida visita. Desceu moça pressurosa naquele que um dia viera a ser conhecido como o cais Pharoux. Em dois dias tornou-se mulher sem entender ainda o porque. Era o Rio de Janeiro que seus inocentes olhos de menina mulher de quatorze anos constataram, choraram, secaram e compreenderam. Era um Brasilzão que ela pela primeira vez tomava conhecimento existir fora do local que nascera. Um Brasil sem perdão. Bem maior que o Maranhão. Infinitamente mais populoso que Guimarães. Repleto de luzes, trânsito, comércio, gente... Um total despropósito. Devassidão. Sem vergonhice. Coisa do demo... do encapetado! Em Guimarães não havia disso não!</div><div style="text-align: justify;"><br />
Apaixonou-se pelas luzes, mas ao mesmo tempo sentiu que aquele mundo não lhe pertencia. Pelos olhos com quem cruzou, que nunca a aceitaria. Era uma songamonga, de inteligência duvidosa e de inconsciência no saber. Tinha muque, perna forte, mas pensamento curto e por isto fora desde o inicio rejeitada, ridicularizada, seviciada e o pior de tudo, ignorada. O Rio de Janeiro era um outro mundo. Um mundo do qual ela nunca conseguiria introduzir-se e que, provavelmente, não a queria por perto. Um mundo de olhar torvo e de instintos travessados. </div><div style="text-align: justify;"><br />
- Tá comendo vidro peste, eu não mãe tô comendo gelo!</div><div style="text-align: justify;"><br />
Como o carioca gostava de mangar de nordestino. Buliam quando ela esgaravatava as unhas. Ou de seus pés espalmados, chatos e de dedos excessivamente separados, que durante anos a fio não conheceram o uso das alpargatas. Pés de pato, como dinda dizia. Como eram buliciosos o tal dos cariocas. Trela sebosa. Coisa de suçuarana cheia de veneno. Sentiu-se macambira, banzeira perante aquela gleba de desocupados. Todos na praia de papo para o ar. Ninguém saía ao mar para pescar. Iam na casa de peixe pagar por aquilo que podia ser conseguido no mar. Teve abuso. Doía em seu jovem peito. Dor pequena, mas que não sara nunca. Que nem piolho. Quis voltar e voltou a São Luiz e a seguir a Guimarães. O Rio de Janeiro, não lhe deixou saudades. Apenas rancor. Um dia iria lhe pagar. <br />
<br />
Mas o que acontecia no Brasil, não afetava a colônia de pesca de Guimarães. A única coisa que tinham em comum, eram um idioma e uma moeda desvalorizada. Neste mesmo período, o Brasil passava por uma importante reforma monetária onde os mil-réis seriam substituídos pelo cruzeiro. Estes últimos, eram impressos no exterior, e como tal, perderam-se em grande volume, nas profundezas do Atlântico, vitimas de um destes ataques, ao qual os submarinos alemães vieram a ser acusados.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Sabedor deste fato Raimundo Ribamar, um maranhense nascido em Barreirinhas nos Lençóis Maranhenses, criado às margens do Rio Preguiça, e vivido sob o céu de São Luiz do Maranhão, achou que ali estava a chance de sua vida. O eldorado de sua emancipação financeira. Era achá-lo e pela primeira vez viver. Queria ser rico não! Mas não queria mais depender do trabalho de todo dia, para colocar comida em sua mesa.Dispensado do serviço militar por ter pés chatos, mas pés estes que funcionavam qual as membranas de um pato, Riba era reconhecido como um bom mergulhador, dono de um fôlego nunca antes visto e possuidor de um espírito indômito e aventureiro. Cabra retado, como diziam em sua terra! Tinha pacto com o demônio. Seu corpo era fechado. Nada de mal podia com ele acontecer. Rebelde por natureza, Riba não seguira a vocação de sua família em plantar babaçu e viver de sua venda. Ou ainda como seus primos copaibeiros. Extrair óleo de Copaíbas nunca esteve em seus planos. Riba gostava do mar, da solidão da espera pelo peixe, do reflexo da lua, da maresia corroendo suas entranhas, do salitre, do vazio do infinito, do azul que o poderia tragar e desta forma, não conseguia viver longe de seus sonhos e de sua realidade. O mar era a sua vida. Os peixes sua subexistência. A brisa seu horizonte. Aqueles cruzeiros a se achar, o seu futuro.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Ainda quando muito jovem Riba se transferiu para a colônia de pesca em Guimarães. Lá se formou como homem, pescador e posteriormente como mergulhador. Suas qualidades tornaram impressindiveis, seus serviços no coral Manoel Luis, uma extensão rochosa de 28 quilômetros, cerca de 80 quilômetros da costa. Lá conheceu turistas, ouviu suas estórias, vislumbrou suas fotografias e assim teve a oportunidade de descobrir que havia um mundo afora de seu horizonte visual. E dentro deste mundo um tal de Rio de Janeiro. A capital federal fora a cidade que maior impressão lhe causara. Era grande, importante, linda da gota! Decidiu. Não importava quando e como, mas era para lá que um dia ele iria se transferir. Com mala e cuia. Nem o papagaio iria levar. Seu filho haveria de nascer no Rio e ser gente importante. Questão apenas de tempo, mesmo a das Graças não gostando da idéia.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- O Rio não gosta di nós, Riba. Tive lá. Vi com estes oios que a terra há de comer. Eles mangam di nós. Tem piedade não! Umas sussuaranas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Deixe de tacanhisse muié. Com dinheiro vair dar certo. Dinheiro compra respeito</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Sei disso não....</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Deixe de abuso. Isto aqui é que não tem futuro não. É morte prometida.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Aqui nós é feiz. Feiz que nim bode veio!</div><div style="text-align: justify;"><br />
- das Graças. Escuta eu. Aqui não se vive, o tempo só passa.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Arreda de sonho besta, homi. O Rio não é pra nós não. Tive lá. Foi lá que deixei de ser menina.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Das Graças dava um muxoxo e voltava a seus afazeres. Homi louco, que só sonharva com cidade grande. Merecia um cocorote no cucuruco. </div><div style="text-align: justify;"><br />
Mas a noite chegava e na cama de varas, cheia de nós, todas as divergências eram esquecidas nas primeiras caricias de seu Ribamar. Ô homi de mão leve. Calosa, mas que que sabiam tocar como ninguém. Caricias que lhe davam impressão de repouso. Fazia bem. Pouco a pouco a zanga era esquecida. </div><div style="text-align: justify;"><br />
Como galo novo, Ribamar adorava o silêncio e acordava mais cedo do que todo mundo no arraial, para desfrutar o dia melhor. A solidão da madrugada, o orvalho ainda presente nas folhas, o piscar sereno dos vagalumes e o zumbido da maré cedendo aos desejos da lua que se ia, determinavam para ele os primeiros movimentos do alvorecer. Quem conhecia como ele conhecia o nascer do sol, não tinha dúvidas que Deus existia. E se existia, haveria de o ajudar a achar aquele tesouro. E olhando o vai e vem das marolas sentia-se atraído para o mar. Contava os minutos para bater a porta do cumpadré Zé, para sentar velas. O que haveria do outro lado? Um dia haveria de saber.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Guimarães era um lugar pacato, insosso que nem o café da cumadre Benta. Onde céu, montanha e mar se uniam em uma mesma cor. Em dia de tempestade, quando todo mundo arreliava-se e nenhum pescador tinha coragem de se embrenhar mar adentro, era Ribamar que fazia as vezes de todos. Trazia o sustento da comunidade, sem ônus algum para quem quer que fosse. Repartia o que pescara sem preocupação de lucro ou agradecimento. Afinal, ganhar o que? Coisa nenhuma podia esperar, pois, ninguém ali em Guimarães tinha algo a dividir, que dirá a pagar. Mas isto não lhe importava. Era pescador por convicção, não por necessidade.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Magro, pele esturricada pelo sol, de pouca estatura olhos lânguidos, Ribamar não era aquilo que poderia ser considerado um homem bonito. Mas servia de bom grado para Maria das Graças. Tinha asseio, era respeitador, dava cheiro no cangote e tinha pouco calo no pé. Costelas aparentes, maxilares salientes, cabelo ao vento em total desalinho, barba rala por fazer e poucos dentes para roer a rapadura. Ribamar igualmente não procurava por companheira, nem estava preocupado com que os outros podiam achar de sua aparência. Era homem do mar, que se sentia pouco confortável em terra firme e saído da água se enfurnava em seu casebre a espera da oportunidade a voltar a pescar. Maria das Graças era o inicio e o fim de seu dia. Sem medo ou documento, hasteava sua vela e desafiava as ondas até encontrar mar aberto. E lá lutava contra peixe de qualquer tamanho, pois, não levava abuso para casa. Nem as rajadas de tempestades próximas o faziam desistir. Cabra macho que acreditava no destino, sempre dizia aos seus: se for hoje, nada posso fazê.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Mas sua vela era sempre vista no final do dia e com ele a certeza de mais uma aventura vencida. O mar o respeitava. Seu destino era ter peito fechado. Mas foi este mesmo destino que o colocou um dia de domingo, a frente de Maria das Graças. Mulher infatigável como as formigas que passavam junto a seus pés descalços, chamou, imediatamente, a atenção do pescador. Se sentiu suspenso no ar. A luz do sol branda, rala e descompassada, coada através das nuvens, caía aos pés daquela visão que enchia suas pupilas, como um manto bordado. Ela era linda. Braços e pernas bem torneados como alguém capaz de trabalhar qual um mouro. Daria boa mãe e melhor companheira.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Viera de São Luiz do Maranhão mulher, onde sua mãe trabalhara por muitos anos na casa de familia de políticos. Fora criada como da familia. Possuía esperteza de movimento, lentidão no olhar e falava como gente estudada. Ribamar não se preocupou. Afinal ele não era nenhum Rui Barbosa. Das Graças era viajada. Conhecia o Rio, o Pará e Pernambuco. Andara de navio e de carro. Tinha noção do mundo e jeito com a gurizada. Até babá havia sido. Era zelosa e esperta, pois, em casa de político quem não o for, não dura muito. Poderia criar os rebentos que iriam vir as dúzias. Boa arrumadeira, coisa que aquela xoça precisava e não era muié que tava de oio no sustento.</div><div style="text-align: justify;"><br />
E aonde se deu o encontro? Aonde ninguém parecia poder conhecer alguém; em Guimarães. Foi exatamente lá, onde o vento faz a curva e siri se recusava a andar de costas, que Ribamar conheceu Maria das Graças, que de tão pobre não tinha dentes ou mesmo um sobrenome, mas que era capaz de deixar qualquer homem fora de órbita com seu corpo curvilíneo e sua maneira de cozinhar cheia de tempero. Lábios carnudos, nádegas salientes, olhos brejeiros e bochechas salientes, determinando em todos os seus mínimos detalhes, significativos vestígios mulatais.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- O vi na praça junto da sé, com os oínhos posto ni mim. Parecia cachorro magro atrás du osso. Desconjuro - contava ela a todos, sobre o primeiro encontro que tivera com seu Ribamar. </div><div style="text-align: justify;"><br />
Expressão safada, sorriso matreiro abaixo daquele seu buçozinho trigueiro e que ela recusava em aparar e Riba adorava acariciar.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Parecia um robalo a sair da água. Lisinho e graúdo. Mas com jeito de carne boa - completava ele certo que as palavras encobriam seus pensamentos, naquela eterna luta de quem quer não querendo, a espera do safanão desferido pela mulher, que sempre seguia aquela sua observação. </div><div style="text-align: justify;"><br />
Mas era um safanão carinhoso, que não causava dano nem desprezo. Coisa que só nortista sabia fazer. E Ribamar se punha rir. das Graças tinha seus dias de amanhecer nos seus azeites e quando isto acontecia era melhor não dar trela as suas inconveniências. Mas era moça boa, bem intecionada, prendada e fiel. Assim a vida os fez juntar seus trapinhos e morar no mesmo casebre, que então era só de sua serventia. </div><div style="text-align: justify;"><br />
A choupana era resistente. A prova de chuva e vento forte, como seu dono. Os esteios de aroeira mantinham-se eretos, fincados no solo e estavam bem amarrados com cipó. O enchimento de taipa era novo. Ribamar o renovava a cada chuvarada braba. Só deixava passar o som. Mas o casal era monossilábico. Não eram de tagarelice. Pouca arenga, muito beijo. Que nem murissoca. O encarquilhado comodo iluminou-se, coloriu-se com a presença de das Graças, e se fez lar. O que era para dividir-se, mutiplicou-se. Riba se sentiu mais livre para aventurar-se mar a dentro. Tornara-se homem de bem. Homem de destino traçado, de corpo fechado e com um sonho a sonhar.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O tempo provou que das Graças era mulher para toda serventia. Não levava desaforo para casa, não era chegada a conversê e embora roncasse (fato nunca admitido), era de chamego, de namoro de pé e cheirava a mato molhado. Por sua vez, das Graças tinha uma vitalidade difícil de ser equiparada. Não possuía a indolência própria dos demais habitantes de Guimarães. E não era a toa que diziam as más línguas que seu pai não era aquele moribundo do Caetano e sim um muito bem afeiçoado caxeiro viajante que passara pela capital e que segundo, dona Maricota sem nada conseguir vender, enquanto o podre do Caetano estava no mar lutando pelo sustento de sua familia.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Não vendeu nada e saiu com um sorriso de orelha a orelha... - deixava claro Dona Vevé, que tinha miopia mas não era cega, muito menos burra e ademais tinha a credibilidade de quem morava em casa de frente.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- E Maricota, saiu logo depois, cantarolando Vicente Celestino. Vejam só, logo o Vicente Celestino! - complementou Dona Zininha, da casa dos fundos, piscando o olho, o único que lhe sobrara da diabete nunca curada.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Tava na cara que nove meses despois, criança ía chorar - Foi mais direto ao ponto a Dona Avelina, que embora fosse nova nas redondezas, já conhecia aquele filme de outros cinemas. <br />
Avelina mulher calejada de cidade grande. Mulher de São Luiz, que vira o crescimento de uma cidade, o achatamento das classes sociais e fora expulsa com o progresso, como a família de das Graças, muito a contra gosto, a procura da sobrevivência. Ela e todas as outras fofoqueiras que falavam mal de sua maínha. Das Graças as odiava.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">E mais criança estava por chorar. Grávida de Ribamar ainda muito jovem, das Graças foi até a praia se despedir de seu companheiro, quando este resolveu sair em sua jangada com o cumpadre Zé e dois amigos, afim de resgatar aqueles Cruzeiros novinhos em folha, afundados pelo submarino dos tais de alemão. Era tesouro, já que o Cruzeiro ainda não havia entrado em circulação e por isso mesmo ainda não tinha se desvalorizado.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Mar tá revolto, Riba. Tem cheiro de tespestade no ar.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Liga não. Isto para mim é ventinho de proa.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- O vento é peçonhento que nem cobra traiçoeira. Perdoa não. Tu tem fio pra criá!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Esse não. Esse é vento sul, maroto. Incapaz de torar sono de ninguém. Só quer bolir com a saia das moças. Si preocupa não, meu quindim.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Num brica com isso não. É vento traiçoeiro. Muda sem avisar.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- É vento sonoro, que traz sussuro misterioso e uma ou outra travessura. Coisa pequena. Se preocupa não. Tenha a reza do meu lado.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Tá dizendo isto, para eu pude dormi.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Né isso não, muié. É vento amigo que ensina o caminho de volta.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Deixa de ser teimoso, homi de Deus, que vai vir um mar tempo da gota! O vento tá arrevesado. Deixa para lá o tesouro. Num precisa disso não.<br />
</div><div style="text-align: justify;">Ribamar tinha consciência que quando das Graças embatucava, vinha muito despropósito de reboque. Mas ele era homem de palavra fácil e de pouca pabulagem. Deixava as zuretagens para a muié.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Se preocupa não das Graças. Já vi negrume pior. E depois, temos que pensar no bacuri - consolou ele, batendo suavemente com sua mão espalmada na protuberância que se avolumava abaixo de seus seios. </div><div style="text-align: justify;"><br />
Ventre mutante, que crescia e reverberava com os movimentos do rebento que em poucos meses iria expelir.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Cabeça de Jegue. O que me adiantará este tal de tesouro, se ocê não vorta? Como vou atomar conta do bacuri? </div><div style="text-align: justify;"><br />
E fez cara de trombuda.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Se achar o que procuro, nós arruma a trouxa e poe perna na estrada para a capitá.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Diga isto não! Conheço aquela joça. Não é pra nois não! - Ribamar sorriu com a cara feia que das Graças fez. Beijou o beicinho de raiva - Desafasta, o estropim.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Meu doce de açaí.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Tribufu!</div><div style="text-align: justify;"><br />
Ele arredou-se com aquela falsa tristeza no ar. Olhinho pequeno, cabeça baixa. das Graças comoveu-se e o puxou de volta. Ele arreganhou os dentes. </div><div style="text-align: justify;"><br />
- Cabra safado. Enganando eu.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Vorto sim. Não tome abuso de mim.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Tomo - resmungou ela sem convicção aparente.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Tome não. De aqui um cheiro cheirado.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Dô não!</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Dê!</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Vá pro inferno, cabra da pesta. Tu tá de coisa com o demo - e fez cara de quem tivesse tomado água salobra.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Vem cá meu juazeiro cheiroso.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Pegue não! Tu sabe que não tô pra coisa.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Mas ele cafungou em seu pescoço. das Graças sentiu aquela quentura e ali mesmo deu-se nova prova do amor. Com a iluminação minguada das Graças, abraçou-se a Ribamar e durante o ato não deixou que ele visse as lágrimas que se formavam nos cantos de seus olhos. Marejaram felinamente mansos.<br />
Pela manhã, das Graças despertou com o barulho de Ribamar abrindo a porta do casebre. Estava pronto para enfrentar o mar. Mas como que pressentindo ele voltou-se para ela e a olhou. das Graças se perdeu na imensidão daqueles olhos verdes envolventes. Os olhos de Ribamar tinham o chamado do mar, o apelo das ondas revoltas, a necessidade de desbravar o desconhecido. Eram misteriosos e imensamente profundos. Eles eram o oceano em toda a sua imensidão e incertesas. Tinham a vítrea matiz azul-esverdeada de rara docilidade. Olhos da cor do mar...</div><div style="text-align: justify;"><br />
A porta se fechou e ao mar, ele se deu. O minutos se passaram. Maria das Graças olhou para o céu e não gostou do que viu. Nuvens negras, galopando de forma feroz. As primeiras rajadas sufocantes do noroeste encontraram seu corpo quando ainda na janela de sua casa. Teve aquele prenúncio de coisa ruim. Encolerizou-se. Tinha que demove-lo. Correu para a praia, sem ao menos calçar a alpargata. Particulas microscópias de areia enfestaram os seus cabelos soltos em desalinho quando afogados pelo vento que soprava forte. Rebrilhavam que nem lantejoulas aos primeiros raios de sol. Era tarde, a jangada já se derá ao mar.</div><div style="text-align: justify;"><br />
O barulho dos ramos das árvores era um outro prenúncio que as coisas iriam piorar, ainda mais que os passarinhos de uma hora para outra haviam desaparecido. As ondas estavam se avolumando. Esculturas mutantes de espuma vinham beijar seus pés descalços. Em segundos, Maria das Graças não pode ver mais a vela da jangada de seu companheiro. Varara o horizonte. Desaparecera antes do infinito, na bruma densa que se toldava sorrateira de uma hora para outra. Uma dor profunda assolou seu peito. A dor de quem nunca mais iria ver aqueles olhos da cor do mar...</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Desconjuro. Vaia-me Deus, nossa senhora - bramiu fazendo o sinal da cruz, com aquele pensamento. </div><div style="text-align: justify;"><br />
- Vem pra casa das Graças, que a chuva vai cair - observou a cumadre, cujo marido ao mar se deu com Ribamar.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Mas dali não arredaria pé! E na praia das Graças ficou. Não arredou pé um segundo sequer, nem quando quarenta minutos depois a chuva caiu qual uma cascata sobre seu corpo. Tremia de frio, mas se manteve ereta, com a mão espalmada sobre os olhos, a procura de qualquer indicio que a levasse a crer que tudo estava bem com seu companheiro. Olhava para o nada, vendo tudo o que não queria ver. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> - Vem pra dentro, muié! O céu vai desabá! - ordenou a cumadre Odiléia pela segunda vez.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Vô não. Chuva nunca mata ninguém. Quanto mais uma aparvalhada que nem eu. Fico aqui.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Escureceu antes da hora e as descargas elétricas se tornaram ainda mais constantes. O céu parecia furioso, revoltado. O mar agigantou-se e o soar da tempestade aterrorizou seus ouvido. das Graças temia o truvão e nunca fora muito amiga do escuro. No céu, estrela alguma bateu ponto naquela madrugada. E nada do Ribamar.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Coisa do desconjuro! - pensou consigo controlando-se para não entregar-se ao temor. </div><div style="text-align: justify;"><br />
Novamente fez o sinal da cruz de forma mecânica. Truvão era coisa do rabudo! Do pessonhento, do escarro desumano. Cada relampâgo iluminava melhor aquele perfil roliço e destituído de qualquer juventude e nem as visinhas mais chegadas, a conseguiram dissuadir de sua desmedida vontade de permanecer na praia até que Ribamar voltasse. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> - Venha para dentro muiê. Isto faz mal ao menino? - apelou Póla Negri.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Vô não! Daqui não arredo pé até o desgramado do Riba vortá.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Pensa no bacuri que tá para nascer - intercedeu a corcunda Matilde. </div><div style="text-align: justify;"><br />
- Tô bem aqui. O menino tem a coragem do pai. Não tem medo de truvão nem de chuva molhada. Vai ser cabra retado.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Ôce não tá com frio, muié? - perguntou a cumadre</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> - Frio da gota, num matá. Daqui não arredo pé, até Riba vortá!</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Cabeça de jegue! - esbravejou Olegária, vencida em seus apelos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Vaia-me Deus! - benzeu-se dona Zefinha, que sempre acreditara que tempestade era maldição divina para punir gente pecaminosa. </div><div style="text-align: justify;"><br />
E como ela naquela sexta-feira tinha pecado... correu para casa. As visinhas igualmente desistiram. Uma compadecida, uma cadeira deixou. Mas das Graças não a usou.</div><div style="text-align: justify;"><br />
A luz pálida da tarde sôfrega se dissipou novamente. A nova noite varreu a praia sem lua e sem piedade. O tempo passou rápido, pois das Graças perdeu a noção do mesmo. Um novo dia amanhaceu, se fortaleceu, a tarde dissipou as nuvens. A chuva parou, o céu avermelhou-se, mas com o tempo perdeu sua luz e das Graças não arredou pé e enfrentou o novo negrume espigada, em seu corpo moreno fechado e cansado pela fadiga da maratona pela qual estava sendo obrigada a passar. Dois dias e nada. </div><div style="text-align: justify;"><br />
- Coma algo muié. Se não for por você, pelo menino – apelou a sempre prestativa Olegária, que não tinha inveja no coração.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Tô com fome, não.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Não adiantava discutir. das Graças quando empacava era pior que mula cega, pensou a cumadre deixando a seguir o prato aos pés da amiga perante sua total recusa. Maria das Graças era a mesma mulher, dois dias mais velha ainda ereta, e não resignada. Riba haveria de voltar. </div><div style="text-align: justify;"><br />
Outros ventos, outras velas, mas não aquela que ela ansiava rever. das Graças continuava açodada pelas intempéries, mas não arredava um milímetro do chão conquistado. Nem o apelo e o consolo linitivo trazido pelos outros pescadores, a faziam mudar de idéia. Velas ao mar, procura incessante, mas nem vestígio de Riba e seus três companheiros.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Dona das Graças, não achamos o Riba não - desculpou-se Aparício ao final do quarto dia com os olhos buzuntados de lágrimas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Escafundou-se - justificou-se o Zelão, pelo cansaço que sentia depois de dois dias de busca sem pregar olhos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Procurem, que o desgramento está lá! - ordenava das Graças sem fita-los, tendo seu olhar perdido no horizonte. </div><div style="text-align: justify;"><br />
E eles obedeciam, pois, tinham no coração que Ribamar faria o mesmo por eles. Dia após dia, o procuraram. Uma semana se passou. Outra mais. O que aconteceu? Ninguém podia responder. Só havia uma realidade no ar, Sebastião Ribamar foi e não voltou. Nada dele, nem de seus amigos e muito menos da jangada. </div><div style="text-align: justify;"><br />
Jangadas voltaram a ser lançadas incessantemente ao mar. Semana após semana. Braços voltavam cheios de peixes, mas nem vestígio de seu Riba. As buscas nunca trouxeram as respostas que das Graças gostaria de ouvir. O tempo passou e Ribamar não voltou. Mas das Graças não desistiu e se quedou. </div><div style="text-align: justify;"><br />
Perdeu peso, ganhou cor, foi tomada de febre e de dor até que o corpo cedeu a força do fragelo e ela desabou. Em sua cama por três dias e três noites tremeu ante uma temperatura de 41 graus. Seus lábios queimados pelo sol, recusavam-se ainda a comer, mas a sopa era trazida e despejada goela a dentro. Até rezadeira foi chamada. No quarto dia, das Graças sarou e se conformou. Riba não iria voltar.</div><div style="text-align: justify;"><br />
A população de Guimarães rezou mas esqueceu-se. Pobre não pode se dar ao luxo de sonhar, quanto menos esperar pelo leite já derramado. Mas as estórias proliferaram-se como fofoca no plenário. Os admiradores, diziam que Riba e seus companheiros foram devorados pelos tubarões, outros nacionalistas acreditavam que um torpedo de um submarino nazista os levara pelos ares e haviam até aqueles maledicentes de olho no corpo e nos quitutes de das Graças, que arriscavam a afirmar que o malandro havia achado o tesouro e se mandado para o Rio Grande do Norte com os amigos, para tentar uma nova vida cheios de tutu.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Tão cheios de tutu. Pra que vortá?</div><div style="text-align: justify;"><br />
Tinha que ser o Eriovaldo, que sempre teve uma queda pela muié dos outros, principalmente as viúvas, pensou a cumadre, que embora igualmente desesperançosa com o desaparecimento de seu marido, sabia que não havia perdido muito. O Zé era frouxo e não dava no couro de há muito...<br />
<br />
“Ê, ê, ê, é de doer!<br />
Na Índia, quando zangam<br />
Deixam de comer...”<br />
<br />
Era a voz do rádio de dona Clorinda chamando pelas modinhas do carnaval do ano próximo. O único do vilarejo. Mesmo sem ser índio, quem ficou sem comer foi a das Graças que simplesmente não sentia mais vontade de viver. Sem um teto, um futuro e muito menos um pai para o seu filho que iria nascer em semanas, das Graças aceitou o convite de ser cozinheira em um cargueiro grego que partia para a Ásia com uma carga completa de babaçu e borracha. A batalha fora perdida, mas a guerra ainda não. Em algum lugar daquele mundão que ela conhecia, haveria de encontrar Riba e ademais nada era mais feio e tão triste do que Guimarães sem aqueles olhos da cor do mar...</div><div style="text-align: justify;"><br />
Na viagem ela tomou conhecimento pelo rádio da existência de uma tal de Carmem Miranda. Voz brejeira, cheia de vida. Vida de um mundo que estava a sua espera e que seu filho iria conhecer. Um mundo que havia engolido suas realidades, mas não suas esperanças. E todas as manhãs fazendo sol ou caindo chuva, antes de enfrentar o fogão, das Graças corria até a balaustrada do navio e por minutos ficava com os olhos perdidos no horizonte na esperança de um dia avistar a vela da jangada de seu Riba. Fato que se repetia na calada da noite após o termino de sua faina diária. Sua barriga crescia, e sua esperança mais ainda. Sentia o cheiro do riba. Esquecia-se que era o cheiro do mar... E dia após dia a cena repetiu-se. De pé no chão, sem orgulho ou dignidade, das Graças se mantinha ereta junto a balautrada, em sua procura insana, ciente que talvez nunca mais iria ver o pai de seu filho. Com o passar dos dias, um torvelhinho de toques. Será? Pensou ela, sem se deixar levar pelo temor. </div><div style="text-align: justify;"><br />
O novo Brasil que ficara para trás, vivia uma tropical anarquia institucionalizada, onde o caudilhismo e o paternalismo confundiam-se e esmeravam-se em ofuscar a verdadeira situação reinante. Mas isto nada importava a das Graças, cujo país e vida só tinham um sentido e este se chamava Ribamar. Havia uma guerra, que ela não tinha nem tomado conhecimento. Havia aquela vontade louca de Riba em achar aquele tesouro e ir para o Rio de Janeiro. Aquilo amargou-lhe a boca. Só tinha um pensamento na telha. Ribamar desaparecera e mais uma vez aquela terra maldita do Rio de Janeiro fora culpada.<br />
Das Graças, desaprendera a chorar. Todo o seu pranto, todas as suas lágrimas haviam extinguindo-se naquelas semanas de espera. Endurecera sua expressão. Enrigecera sua maneira de pensar. Emparedara qualquer tipo de sentimento. Tornou-se uma mulher de pedra. Sem sentimentos, sem recordações, apenas um objetivo. Dar a vida a aquele que estava em sua imensa barriga. Faltava pouco. Não mais que dias.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Tentava recordar-se de Ribamar, já que suas feições pareciam estar dissipado-se em sua lembrança. Borrões como nódoas negras e profundas rabiscavam seu cerebro. A única coisa que das Graças não conseguia desgravar de sua memória, eram aqueles olhos verdes, densos qual aquele mar que agora tinha a sua frente, e que quase também iria lhe sugar a existência. Pois, nada da jangada. E sim um torpedo perdido, que pós a pique aquela embarcação e seus sonhos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Acordou com o salitre em sua boca. Estava sobre um grande pedaço de madeira que a fazia flutuar. Nada a sua volta. Sentia-se perdida, sem rumo, mas com a esperança que seu Riba a iria encontrar. Voltou a olhar em torno de si. Apenas a imensidão do mar. Sentiu aquela dor profunda e em minutos pariu seu rebento. Trouxe-o a seus braços. Seus olhos encheram-se de lágrimas. Era Riba que estava de volta. Não tinha como se enganar, pois nunca pudera esquecer aqueles olhos da cor do mar... </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: right;">Renato Gameiro</div>Friends of Hallandale Beach Clubhttp://www.blogger.com/profile/10565044858800447212noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-355405200958981661.post-88314264403720592712010-03-26T00:08:00.000-04:002010-03-26T00:08:51.040-04:00O SUÍCIDA DA PISCINA<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Lucida Grande'; font-size: small;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 11px;"><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: auto; text-indent: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style';"><span class="Apple-style-span" style="font-size: xx-large;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Lucida Grande'; font-size: small;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 11px; font-weight: normal;"><br />
</span></span></b></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Então era aquele, o famoso mar do Caribe? Parecia realmente limpo e brando. Tudo como fora prometido pelo pacote que havia comprado pela Internet. Mas seria mesmo? Olhou com mais cuidado.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Aquelas águas que agora beijavam os pés do jovem casal, não lhe pareciam diferentes a de outros oceanos como o Atlântico, o Pacifico, ou mesmo o Indico. Conhecera a todos. Quem não lhe garantia que aquela água, meses antes não estivesse na costa da Califórnia ou cerca de Portugal? Os dois jovens pareciam pouco se importar com esta possibilidade. Quando se é jovem, principalmente recém casados, tudo soa como as mil maravilhas. Até molhar as barras de suas calças.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Sabia como funcionava. Quatro foram os seus casamentos. Quatro foram suas luas de mel. E quatro foram os advogados que lhe limparam o cofre. Estava liso. Lisinho, na acepção da palavra. Pobrezinho de “marré de ci”!<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A crise que ora se implantara no governo Bush o pegara em cheio. De frente. Sem piedade. Qual uma britadeira desgovernada a procura de um poste que estancasse com a sua vertiginosa queda. E ele agira qual o poste. Sentira a aproximação do problema e simplesmente mantivera-se rígido. Sem se mover. A espera de um milagre. Que nunca veio. Quem apareceu foi o primeiro advogado. Urrava qual um animal desvairado por aquela pensão alimentícia não paga. A de sua primeira mulher. Ao, veio o segundo, o terceiro e antes que o quarto batesse à sua porta decidiu: se mataria.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Quando se está por baixo, com merda até o gogó, não falta gente para afundar sua cabeça com o salto de suas botas. E ele estava endividado, arruinado. Mas não mais. Que as quatro serpentes venenosas arcassem com suas dívidas. Ele decidira. Partiria desta para uma melhor. Mas sempre tivera um problema para com a dor. Nunca iria enfiar uma bala em sua cabeça, muito menos se atirar do trigésimo segundo andar do edifício em que tinha seu escritório na Lincoln street em Chicago. Morava em casa, logo da janela de seu quarto, nada surtiria efeito. Tinha que achar uma maneira. Pensou primeiramente em envenenamento. Algo definitivo, mas sem dor.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Veneno? Não. Isto causaria muitas dores no estômago e sangos lamentáveis. Usar o gás, era uma opção. Outrossim, tudo em sua casa e em seu escritório era elétrico. Maldita modernidade! O carro? Como, se o perdera? O banco havia lhe tomado seis dias antes. Eletrocutamento? Uma banheira, um rádio e fim. Mas havia dor. Veio à sua mente, imediatamente a imagem de alguém tremendo, com olhos esbugalhados. Desistiu. Foi aí que decidiu pela<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>asfixia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Era lenta, mas praticamente sem dor. Mas de que forma? Enforcar-se estava fora de cogitação. Devia doer muito. Foi a única vez que o Saddan Hussein nem impropérios expeliu. Assim sendo, ninguém lhe poderia convencer que pescoço quebrado não lhe traria dor. Como era difícil tirar a sua própria vida... Como era duro a vida de alguém que queria tirar a sua própria.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Quando achava que não existia mais uma forma de se suicidar sem dor, lembrou-se do filme em que a escritora Virginia Wolf se mata entrando lentamente em um rio. Seu semblante estava sereno. Talvez fosse esta a solução: afogamento... Mas não em Chicago a trinta graus abaixo de zero! A dor que sentiria ao entrar na água seria terrível. Congelaria seus ossos, pararia com sua circulação. Ficaria roxo. Irreconhecível. Totalmente fora de cogitação.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Mas sempre havia a possibilidade de procurar por águas mais quentes. Mas como se estavam em pleno inverno? Brasil. Sim aí talvez estivesse a solução. Leu tudo sobre Ipanema, Copacabana e Leblon. Praias do Rio de Janeiro. Funcionaria. Mas era longe para burro. Sempre detestara viagens longas. Causavam-lhe tédio e desolação. Ademais havia muito crime nas ruas do Rio de Janeiro. Poderia ser baleado antes de alcançar o mar. Foi quando decidiu pelo Caribe. Entrou na internet e escolheu o mais caro pacote existente na mesma. Cancun. Gran Mélia Cancun. United primeira classe. Dinheiro nunca fora o problema. O problema era agora a falta do mesmo.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Mas este seria um problema da United, da rede Mélia e do American Express, pois, não estaria ali para pagar. Aquelas quatro vagabundas é que se virassem em suas camas para fazê-lo. O provedor já era. Fora! Que respeitosamente enfiassem em seus respectivos orifícios anais aqueles papéis erigidos por seus advogados de cobrança de pensões alimentícias. Pela primeira vez em suas vidas, aquelas quatro víboras iriam suar para conseguir colocar comidas em suas mesas. O parvo se fora e em grande estilo. Num <i style="mso-bidi-font-style: normal;">resort</i> catalogado na propaganda da Internet como seis diamantes e deixando uma garrafa de Don Perignon recém aberta nas areias frias e alvas do México.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Final digno de quem um dia foi alguém, mas que confiara em Wall Street e que se quebrara de azul, vermelho e branco, ao som do hino norte-americano. Ele que conseguira escapar da convocação do Vietnam, da queda das torres gêmeas não fora capaz de sobreviver a ânsia especulativa dos homens de Wall Street e das burrices do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">little</i> Geoge.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Sentiu o lado irônico da questão. Bin Ladden havia explodido com Wall Street. Agora era Wall Street que explodia com o resto da humanidade. Sorriu qual uma hiena. Não tinha uma carniça a devorar, mas mesmo assim algo lhe fazia feliz. Talvez fosse este o último prazer de um condenado. Sua última refeição. O que aliás ele o fizera e não poupara com a mesma. Carregara sua conta de hotel com tudo que tinha direito, ali naquele restaurante metido a besta e que pouco tinha de cozinha mediterrânea. E se dera ao luxo de levantar, fazer um brinde e alertar a todos os outros de sete mesas completas, que toda a despesa daquela noite era por conta dele. Pela primeira vez foi aplaudido de pé.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Houve um que lhe perguntou o porque de tão despojada atitude. A ele e a todos que esperavam curiosos por sua resposta, bradou: “ganhei na loteria, estou multimilionário. Caprichem em suas sobremesas!</span><span style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">”<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Mas isto era passado. Ele teria agora que esperar que aquele casal saísse dali para ele penetrar no mar e dar fim a sua existência. Consultou seu relógio. Passava da meia noite. Sentou-se em uma das <i style="mso-bidi-font-style: normal;">palapas</i>. Grandes invenções mexicanas. Tequila e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">palapa</i>...<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Bebeu mais uma taça da champanha e sentiu que aqueles dois não iriam arredar pé dali tão cedo. Estavam seduzidos pelo barulho do mar e aquela lua em quarto crescente ou decrescente, que postava-se a frente deles. Pareciam hipnotizados com o rastro prateado sobre a superfície oceânica. Era realmente arrebatador. Voltou a consultar seu relógio. Passaram-se quinze minutos e eles permaneciam de mãos dadas. As vezes beijavam-se outras abraçava-se. Não ia funcionar. Pelo jeito iriam fazer bodas de prata e não lhe dariam a privacidade que necessitava para suicidar-se. Sim privacidade. Suicídio é coisa séria e para ser levado a efeito de forma solitária. Foi ai que lhe veio em mente o fato que talvez seu corpo nunca viesse a ser encontrado. Este é o problema do mar. Seja ele do Caribe ou do Mediterrâneo. Te leva para onde quer e no caminho você não está livre de ser abocanhado por um tubarão. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O American Express e suas quatro ex-mulheres achariam que ele entrara como México a dentro e desaparecera para viver em alguma republiqueta da América do Sul. Ameaçara a Margareth em uma oportunidade, ao negar-lhe a pensão ao dela se separar naquele verão em Acapulco. A desgraçada estava dando para o instrutor de tênis e ao ser flagrada armou um escândalo para reverter toda a situação. E o pior é que a reverteu... Como não pensara nisto antes. Mar era realmente um problema. Seu corpo poderia não ser achado e aquelas quatro vampiras de sapatos altos, não pagariam rapidamente por seus pecados e suas dividas. Levariam anos, a espera da certeza de seu corpo ser encontrado. Que mancada! Viajara todo aquele chão e agora chegava a conclusão que sua opção não fora a perfeita. Talvez sua terceira mulher estivesse a razão: ele era uma besta! Não é a toa que com ela casara...<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Mas havia a piscina... Olhou para trás. Afinal quem não tem mar, caça com piscina. Ademais, suicidar-se em águas doces, salgadas ou cloradas não iria fazer a mínima diferença. E aquele baita hotel tinha duas. Duas enormes e compridas piscinas. Uma nem tão comprida, mas pelo menos reservada aos clientes reais como ele. Não importa. O importante é que eram igualmente fundas. Levantou-se, subiu as escadas com a garrafa e o cálice em suas mãos e chegou ao patamar superior. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Macacos me mordam! Eram iluminadas a noite. Se alguém estivesse em uma das varandas, o veria suicidar-se e poderia chamar por socorro. Seria por demais ridículo ser retirado da piscina ainda vivo e depois de ter dito a todos que ganhara na loteria. Mas quem estaria àquela hora da noite na varanda? Só um maníaco. Mas apenas maníacos iriam pagar o preço daquele hotel. Seis diamantes... Sua torre, a cinco, estava cheio deles. Caminhou em direção a dois. Remediado dormia cedo.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- QUE MERDA!<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Onde a desgraçada da piscina tinha seis pés de profundidade o que equivaleria a um homem de 1,82 de altura havia igualmente muita luminosidade. Na extremidade, onde a visão de quem estivesse na torre 1 era parca, estava destinada o espaço das crianças, a parte rasa da mesma. Tinha que ser ali mesmo em frente a dois. Pelo menos não parecia haver ninguém por perto. Deu uma geral. Todos deviam estar recolhidos. Pouquíssimas luzes acesas. Hora de agir. Pousou a garrafa e o cálice ao chão, olhou novamente ao redor para se certificar que ninguém estava na espreita e iniciou seu descenso ao fundo da piscina. Iria afundar que nem o Titanic. A água estava fria. Tremeu do fio do cabelo ao dedão do pé. Seis diamantes e a piscina não era sequer aquecida.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Mas deixou de frescura e foi deixando seu imenso corpanzil afundar lentamente.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- O que o senhor está fazendo?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Assustou-se. A voz era de criança e o corpo também. Logo, tratava-se de uma criança. Encarou o menino. O que crianças daquela idade estariam fazendo por ali a aquela hora da noite? Não tinham pais? Que aquele guri estava aprontando ali sozinho, na beira de uma piscina? Tinha a intenção de igualmente afogar-se?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Vá procurar seu pai! – ordenou com tom de pouco amigos.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- É o que estou fazendo. O senhor não o viu?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O </span><span style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">“</span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">desgraçadito” devia ser argentino. Faltava-lhe um dente na arcada superior e seus olhos estavam vermelhos como recém chorosos. Não tinha mais que oito anos. Era franzino, remelento e com cara de argentino. Trajava uma camisa surrada de um time de seu pais. Azul, com uma barra amarela. Fraco gosto cromático.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Não.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Então me ajuda a procurá-lo?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Negar-se faria aquele filhote de Maradona chorar ou quem sabe pentelhá-lo pelo resto de sua existência, que ansiava apenas por ser breve. O jeito era concordar e se livrar daquele chato.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Talvez esteja no fundo da piscina. Vou procurar e volto já.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Estava gordo. Não conseguia submergir com facilidade. A força de suas banhas o fazia voltar a tona antes que seus pulm</span><span lang="PT" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">õ</span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">es cedessem.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Achou?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Era o pentelho do guri. Será que perdera seu <i>game-boy</i>?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Ainda não. Vá a outra piscina e veja se ele está por lá. Deixa que por aqui procuro eu.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Tenho medo do escuro. Não quero ir lá sozinho.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Que mala sem alça era aquele bastardinho.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- E como veio até aqui?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Vi o senhor e me senti com coragem.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O guri tinha resposta para tudo. Devia ser filho de político ou advogado.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Começou a sentir frio. Se não se afogasse logo, talvez morresse de pneumonia. Uma vontade imensa de urinar estava tomando conta de seu ser. Comprimiu as pernas. Mijar ali? Mas aí já era muita sacanagem. Urinar na piscina era coisa de desclassificado. Se bem que morrer nela, era uma sacanagem ainda maior. No mínimo interditariam a mesma e isto deixaria os hospedes alucinados, pois, estava programado 36 graus para o dia seguinte.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Sair da piscina para catar um banheiro lhe pareceu igualmente ridículo. Mas que merda aquela vontade de urinar logo agora que estava a beira de dar fim a sua vida. Pensou melhor: porque estaria se preocupando se o seu encontro com a morte tardaria não mais do que alguns minutos. Cedeu a pressão de sua bexiga. Seu rosto desanuviou-se<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Paeeeeeee<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Seguiu a direção dos olhos do menino. O paieeeeee era branco, alto, forte e tinha cara de poucos amigos. Esquecera-se de fazer a barba e tinha um dos botões de sua camisa, perdidos. Divorciado ou viúvo. Tinha cara de argentino, tipo de argentino, cheiro de argentino. E como todo argentino que dera certo nascera no Uruguai. Mas mesmo demonstrando ter posses, parecia um búfalo que acabara de ser rejeitado sexualmente por uma de suas búfalas. Os dois homens entreolharam-se. A reação do que acabara de chegar foi imediata:<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- O que o senhor está fazendo?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Tal pai tal filho. Pareciam pertencer ao mesmo gravador.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Mijando.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Foi a resposta sem sentido, mas cheia de sentido que conseguiu proferir. Talvez a proximidade da morte o estava fazendo pela primeira vez em sua vida, a falar a verdade.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Mijando? E isto é lugar de se mijar, ô cara? E na frente de meu filho?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Não me venha me dar lição de moral seu abandonador de crianças.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O grandão arregalou seus olhos. O que um merda ridiculamente baixinho, gordo e careca estava tentando insinuar? Que ele abandonara seu próprio filho? Aquilo não iria ficar por ali só.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Eu acho que você está querendo que eu lhe quebre o nariz.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Não será preciso se dar a este trabalho. Pois saiba, que eu queria apenas me suicidar, mas este pentelho encravado do seu filho não está me deixando. Agora que se encontraram, porque vocês não levantam acampamento e me deixam acabar com minha vida?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Acabar com a própria vida? Numa piscina? Um pelotudo! Com um oceano a sua frente escolhe uma piscina e agora culpa meu filho por não ter ainda conseguido se suicidar. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Trata-se de uma história longa, mas resumindo gostaria de ter certeza que irão achar o meu corpo. No mar não teria esta garantia. Ademais não consegui me suicidar no mar, porque...<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Que loucura é esta que o senhor está dizendo?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A voz era feminina. O sotaque brasileiro. E a dona da mesma era a que a poucos minutos era amassada por seu jovem marido, abaixo na praia. Os dois haviam resolvido subir justamente naquele momento.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- E mijando na piscina? - atalhou aquele que a amassava a pouco.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Olhou para ambos. Se queriam a verdade a iriam ter!<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Vocês não sabem o que é um casamento e estão querendo agora me aplicar uma lição de moral. Pois saiba você – e disse olhando fundo nos olhos castanhos do jovem que acabara de entrar em cena – daqui alguns anos será você mesmo que estará mijando em alguma piscina e tentando suicidar-se. Pois esta que agora você venera e o trata qual um príncipe, se tornará amarga, cobradora e terá dor de cabeça toda hora que você quiser sexo. E depois que você lhe der um filho, lhe mostrará sua verdadeira face. Vai lhe tirar até o último centavo de sua conta bancária. Falo isto com conhecimento de causa. Na lua de mel elas são esplendidas. Seja aqui ou no Tahiti. Mas no frigir dos ovos nenhuma vale a merda que cagam. Não é a toa que saíram de uma costela. E nunca fizeram parte da santíssima trindade. Deus preferiu uma pomba a uma mulher. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Paeeeee.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Cala a boca pentelho. Não vê que estou falando? As quatro com que me casei agiram todas de uma mesma forma. Elas aprendem com as mães desde garotinhas.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Os quatro coadjuvantes da cena se entreolharam. Aquilo estava mais parecendo uma cena de filme de Fellini do que propriamente a realidade que estavam sendo obrigados a participar. Um mijão suicida que detestava o casamento. Provavelmente um corno. Certamente um baixo caráter.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Olha cara, eu só não vou aí dentro te cobrir de porrada, pois, você vai se suicidar e assim poupar meu trabalho! Mas nesta coisa de mulher, você está certo. São todas iguais.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Porco chauvinista - como seu companheiro permanecesse calado, complementou irada – E você Raul não diz nada? Está concordando com este suíno mijado e com este cafajeste cucaracho?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Raul que tinha a metade do tamanho do Gardel e não estava afim de se molhar, pegou sua mulher pelo braço e sussurrou a baixa voz:<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Querida, o senhor está a beira de suicidar-se...</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Que se mate. Ele sim não vale um minuto sequer de nossa atenção. Vamos subir.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Você vê. Ela já tem as rédeas do casamento. Você não passa de um polichinelo no picadeiro da vida de sua esposa. Que vai o trair com o primeiro professor de tênis.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Instintivamente Raul largou a mão da esposa sem nome.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Pai porque o senhor me abandonou como o senhor disse?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- Cala a boca pentelho – E por vias das dúvidas assegurou-se de fazê-lo com um tapa na boca do menino.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O menino, o que menos entendia de toda aquela pantomina e que tinha sua mão até ali atada a de seu pai, fê-la desprender-se. Estava desiludido com seu pai. Queria apenas subir para seu quarto. Correu para dentro do seis diamantes. Seu progenitor não tinha dúvidas que o mijão à sua frente tinha mesmo que morrer. Era um criador de discórdias! E onde já se viu mijar numa piscina na frente de crianças. Que exemplo estava ele dando para seu filho? Seria um pedófilo? </span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A recém casada arrependera-se da repentina piedade que fora acometida para com aquele grosso que acabara de colocá-la no mesmo patamar das galinhas com quem foi casado. Também um traste gordo e careca como este o que poderia ter como esposa? Qual a mulher que iria para a cama com aquilo? Só puta! E quem ele pensava que ela era? Uma pobretona que nem aquelas que casaram com ele? Pois, ficasse ele sabendo que ela era a rica na união. Pobre era o seu marido. Deixou isto claro num português, que ele na piscina, mijado não pode entender, muito menos o pai irado que agora seguia o caminho de seu pentelho mirim.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Raul encrespou-se. O que Sheila pensava que ele era? Um polichinelo no palco de sua riquinha existência? E seriamente passou a pensar duas vezes sobre o que tinha acabado de fazer na tarde anterior na igreja da Glória. Seriam todas elas iguais? Quem nem feijoadas? Boas no inicio, pesadas no final?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Em segundos, os quatro cavalheiros que visualizavam o apocalipse desapareceram de suas vistas. A única que manteve até o final seu olhar de maçarico para com ele foi a mulher. Os demais simplesmente o ignoraram. História de sua existência.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Mijado, ignorado, mas pelo menos sozinho, sentiu que era hora de dar um ponto final em seu destino. Já que lhe era impossível afundar, boiaria. Porém de cabeça para baixo. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Olhou para a lua que assistia a tudo aquilo impávida. Altaneira como sua segunda mulher. Sem luz própria como a terceira e distante como a primeira e redonda que nem a última. Olhou a volta da mesma. O céu permanecia cheio de estrelas, já que até as nuvens haviam se negado a comparecer a aquela que seria sua cena final. Hora de ir desta para uma outra melhor. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 15px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Sorriu. Terminara com chave de ouro sua existência. Possivelmente acabara com um casamento, certamente marcara de forma definitiva o relacionamento entre um pai e um filho, mijara na piscina de um seis diamantes e iria deixar um pepino enorme para o <i>American Express</i> descascar e outro para as suas quatro hidras sanguinolentas<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>engolir. Restava-lhe agora apenas morrer. Boiou ao contrário.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">E assim se foi para sempre, pelo menos desta vez, feliz da vida. <o:p></o:p></span></div><!--EndFragment--> </span></span> <br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: .5in;"><br />
</div><!--EndFragment-->Friends of Hallandale Beach Clubhttp://www.blogger.com/profile/10565044858800447212noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-355405200958981661.post-79819386978215607922010-03-11T22:48:00.001-05:002010-03-12T13:05:02.265-05:00O MORCEGÃO DE VILA VELHA<span class="Apple-style-span" style="color: #ffdfbf; font-family: 'bookman old style', 'new york', times, serif; font-size: 13px;"></span><br />
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;">Carlos Eduardo Prates de Oliveira, sentado atrás daquela pequena mesa podia se sentir, o mais infeliz entre os quase vinte jornalistas alocados naquele andar. Era o seu primeiro dia no grande jornal. Seu pseudônimo fora vendido e alardeado durante uma semana, juntamente com aquele seu currículo fajuta, escrito por gente que conhecia todos os truques da mídia, em seus mínimos detalhes. Ele não tinha nome, ele não tinha sequer sexo. A ele fora dado o pseudônimo de uma mulher.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="color: black;"><br />
</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;">Eram os anos 60. O Brasil passava por uma transformação e os mineiros felizes com seu conterrâneo JK. O simpático pé de valsa levara adiante o seu sonho de construir uma nova capital, Brasília. Mas todos ansiavam por coisas ainda mais novas. E a doutora Elizabeth propunha-se ser um deles. </span><span style="color: black;">Mas em contrapartida era, igualmente, de se ficar enojado como o público podia ser enganado da forma como certa parte da imprensa o fazia. Pior ainda, como ele estava enganando a si próprio, para poder manter aquele estilo de vida ao qual acostumara-se. De que adiantara ter se formado em literatura inglesa, em história e jornalismo? Não estava conseguindo emprego no cinema, no teatro, na televisão, no rádio e na mídia escrita. </span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="color: black;"><br />
</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;">Culpa sua. Jogara tudo por água abaixo por ter dormido com a mulher de um grande editor. Queimara-se no mercado de verde e amarelo. Tivera que pastar por meses e a única posição que conseguira para si, fora a de consultor sentimental de um jornal marrom, mas que pagava bem, e segundo o amigo que lhe conseguira o emprego e igualmente ali trabalhava, o mais importante de tudo: em dia.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">Elizabeth Loren Kennedy. Que nome arrumaram para ele. Inglesa, psicóloga, com doutorado em Harvard e uma pós-graduação em Yale. A ordem inversa teria sido melhor, mas felizmente, aqui no Brasil, não sabiam da diferença. E ele que nunca passara de Fortaleza e nem conhecia os Estados Unidos. </span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="color: black;"><br />
</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;">Nascera, crescera e se formara em Minas. Fizera duas viagens ao norte e ao nordeste e em apenas uma oportunidade fora ao Rio de Janeiro e outra a São Paulo. Pisara na jaca junto a “cariocada” e voltara a terra que nascera, com o rabo entre as pernas, a procura de sobrevivência. E de uma hora para outra, transformara-se em psicóloga com os mais importantes e renomados cursos de aperfeiçoamento naquele setor. Xavecada da grossa! Era o preço que estava tendo que pagar por comer a mulher errada. Até que seu nome fosse esquecido, tinha que ter duas refeições diárias e um teto para dormir. E se era de Elizabeth Loren Kennedy que iria atacar, que assim o fosse. Estava pronto para enfrentar as cartas que um dia viriam a pousar a sua frente.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">Passou o espanador em sua máquina de escrever. Não era nova, mas também, não de se jogar fora. Como Alexandra, a mulher que o levara ao cadafalso.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">- E ai, já recebeu alguma?</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">Olhou para o amigo e salvador da pátria. José Augusto o chefe do setor de classificados. Sorriu:</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">- Estou pronta para o que der e vier.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">- Este é o espírito, doutora Elizabeth. Dias melhores hão de vir. Dê um tempo que tudo vai se ajustar como antes. Não dou dois anos e você estará assinando com o seu próprio nome criticas de livros e cinema. É só ter calma.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">- Obrigado mais uma vez. Estou aqui a espera. O menino da correspondência pelo que soube passa as dez. Está por chegar.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">E quem lhe informara, o informara certo. Miquimba, o pretinho sestroso e rápido qual um raio, passou jogando duas cartas sobre sua mesa de trabalho. Mas a caminho de outras mesas, não deixou de saborear sua primeira gozação:</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">- Bota para quebrar, ô Beth.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">- Ciao Beth, te deixo com os problemas sentimentais alheios. – despediu-se o amigo.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">O que havia de se fazer...</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">Carlos Eduardo fitou aquelas duas cartas que agora faziam parte de sua existência. Duas pessoas que confiariam em seus conselhos. Ou melhor da pós graduada Elizabeth Lauren Kennedy. Respirou fundo, encheu seus pulmões de ar rarefeito e tomou coragem antes que desistisse. Abriu a primeira. Era de uma mulher. Podia sentir pela folha em que foi escrita e pelo tipo de letra constante na mesma. Uma mulher jovem.</span><br />
<br />
<span style="color: black;"><i>Doutora Elizabeth,</i></span><i><br style="color: black;" /></i><span style="color: black;"><i>Desculpe a franqueza, mas não sei se uma mulher de sua estatura, procedência e formação profissional possa resolver o meu dilema, ou melhor o meu problema, pois, a decisão crucial eu já tomei e assumi de corpo e alma. Diria que mais de corpo do que propriamente de alma...</i></span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"><i></i></span><i><br style="color: black;" /></i><span style="color: black;"><i>Sou de família mineira, conservadora, rica e de forte projeção social. Tenho dezesseis anos, sou vista como virgem e prodígio, por meus pais, que a mim nada negaram. Mas desde os doze anos me achei uma garota diferente. Nunca fui atraída pelos rapazes. Sempre me senti melhor em companhia feminina. Namoro um rapaz de ótima família, quatro anos mais velho do que eu e sinto que há muito gosto entre ambas famílias que nos casemos. Como, igualmente, tenho certeza que ele gosta de mim.</i></span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"><i></i></span><i><br style="color: black;" /></i><span style="color: black;"><i>Todavia, de uns tempos para cá ele vem tentando forçar uma situação. A senhora entende o que estou falando. Quer sexo. Tenho fugido do comprometimento com a desculpa que sou virgem. Ele entende, mas não aceita. Como lhe disse anteriormente não sinto o menor prazer em qualquer atividade sexual com ele. Tenho nojo de beijá-lo e me sinto mal quando ele acaricia meus seios e minhas partes íntimas. Arrumo todo o tipo de desculpa e sinto que elas já não surtindo o efeito de antes. Ele está se impacientando.</i></span><i><br style="color: black;" /></i><span style="color: black;"><i>Antes de pedir por seu conselho gostaria que a senhora tomasse conhecimento da segunda parte de minha história. Conheci no colégio uma moça de um outro estado e nos tornamos muito amigas. O tempo nos fez ver que éramos almas gêmeas, uma feita para a outra. Não conseguimos ficar um minuto sequer uma longe da outra. Minha família gosta dela e inclusive perguntou-me porque não fazê-la minha dama de honra, se eu resolvesse casar com o Cesar. A senhora há de aceitar que este não é o verdadeiro nome de meu namorado por razões óbvias. Pois bem, semana passada, bebemos um pouco mais, e eu e esta amiga acabamos em minha cama. Foi a mais significativa noite de minha existência. Senti coisas que supunha não ser possível sentir e sei que a recíproca foi verdadeira. Estamos definitivamente apaixonadas e decidimos contar para minha família e para meu namorado, a felicidade em que vivemos. Sinto que o Brasil está avançando em todos os sentidos. Todavia, ao lermos que a senhora assumiria esta posição no jornal, achamos melhor primeiro consultá-la. Afinal a senhora viveu em países mais desenvolvidos onde as mentes parecem ser mais abertas.</i></span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"><i></i></span><i><br style="color: black;" /></i><span style="color: black;"><i>Acreditamos que não possa haver nada de errado em duas pessoas de mesmo sexo se amarem. Tabus precisam ser quebrados e nós, na flor de nossas adolescências, estamos prontas a fazê-lo. Contamos com o seu auxílio. O que a senhora nos aconselha a fazer?</i></span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"><i></i></span><i><br style="color: black;" /></i><span style="color: black;"><i>Virgem das Mercês. </i></span><i><br style="color: black;" /></i><br />
<span style="color: black;">Que pepino. Lesbianismo freudiano. E logo na primeira correspondência. Pensou um pouco. Seu editor, o senhor Alencar fora claro. Queria uma coluna para frente, com muito otimismo e cheia de modernidade. Nada de baixo astral e comprometimentos, pois, de processos o jornal já estava cheio até a tampa. Encarou sua nova companheira, a Remington à sua frente, e partiu faceiro para a sua primeira resposta a uma consulta sentimental.</span><br />
<br />
<span style="color: black;"><i>Minha cara Virgem das Mercês,</i></span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"><i></i></span><i><br style="color: black;" /></i><span style="color: black;"><i>Você tem toda razão. Não existe nada de errado em duas pessoas do mesmo sexo se amarem, porém, você igualmente há de convir que nem todos pensam desta forma. Principalmente em Minas. Nos Estados Unidos, onde me pós graduei, existem movimentos de emancipação sexual, tanto na costa oeste como na costa este. Mas estão ainda em seu inicio. Esta mudança de comportamento leva tempo e são necessárias gerações para que se cristalizem em novas leis morais de cada povo. O pioneirismo nem sempre soa salutar. Paga-se um preço pesado pelo mesmo. Talvez sua família e seu noivo não aceitem esta sua nova forma de se sentir feliz. Mas creio que será a sua própria consciência que deverá decidir o rumo a tomar.</i></span><i><br style="color: black;" /></i><span style="color: black;"><i>Não se deixe abater e lembre-se que a melhor forma de se estar bem com sua família, seu namorado e sua amiga é primeiro estar feliz consigo própria. Mas não esqueça que talvez se torne impossível de se agradar a todos.</i></span><i><br style="color: black;" /></i><br />
<span style="color: black;">Pronto! Não dissera nada com nada. Enfeitara o maracá e saíra de fininho. Realmente aquilo poderia dar certo para ele. Era só escrever bonito, demonstrar altivez e deixar que os outros tomassem suas próprias decisões. Tirou a página da máquina e a colocou na cesta de assuntos a se publicar. Agora era partir para a segunda. Sorriu ao colocar nova página na máquina.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><br />
<span style="color: black;">- Pronta para o prelo! – exclamou otimísta.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">Sopa no mel... Abriu animado a segunda carta. Era de um homem. Ou melhor de um rapaz.</span><br />
<br />
<span style="color: black;"><i>Cara Doutora Kennedy, </i></span><i><br style="color: black;" /></i><span style="color: black;"><i>Não sou uma pessoa erudita e muito menos afeita a escrever cartas. Mas creio que o problema que vivo deva ser endereçado a senhora que parece ter muita experiência em casos como o meu. Tenho 25 anos, trabalho duro e prezo a minha vida e tudo que consegui com o suor de meu esforço.</i></span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"><i></i></span><i><br style="color: black;" /></i><span style="color: black;"><i>Vou direto ao assunto. Gosto de uma menina. Ela me parece boa, honesta e virgem. É de boa família. Com bem mais dinheiro do que a minha e sinto que os pais delas me olham com extrema reserva. Talvez pensando que queira estar dando o golpe do baú. Não é o caso, como nunca o será. Mas este também não é o problema que me traz à senhora.</i></span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"><i></i></span><i><br style="color: black;" /></i><span style="color: black;"><i>Tenho tentado junto a minha noiva convencê-la a testarmos nosso amor e consumá-lo antes de nosso casamento. Penso que é melhor se ter uma idéia antes do que possa ser depois e assim não cometer os erros de outros e tudo um dia acabar em um desquite. Como o acontecido com meus pais. Ela não coaduna desta minha idéia e creio que estamos a beira de um impasse.</i></span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"><i></i></span><i><br style="color: black;" /></i><span style="color: black;"><i>Confesso que possa existir uma outra razão para ela estar hesitando. Pode não ser mais virgem ou quem sabe ter um outro amor. Se assim o for, teria que vingar minha honra em sangue.bO que a senhora me sugere a fazer?</i></span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"><i></i></span><i><br style="color: black;" /></i><span style="color: black;"><i>Morcegão de Vila Velha.</i></span><br />
<br />
<span style="color: black;">Se pudesse responder aquilo que, realmente, pensava, Carlos Eduardo certamente iria contrariar o que seu editor lhe prescrevera. O negócio era mandar a idiota por espaço com seu hímem incólume. Tinha um lema que aplicava para si próprio. Casar era que nem comprar um carro zero quilômetro. Não se podia fazê-lo sem testar a máquina. Mas tinha que remar conforme a maré, pois, a última coisa que poderia arriscar era perder aquele emprego. Partiria para outra vasilinada.</span><br />
<br />
<span style="color: black;"><i>Caro Morcegão de Vila Velha,</i></span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"><i></i></span><i><br style="color: black;" /></i><span style="color: black;"><i>Primeiramente, diria que honra alguma deve ser defendida com o sangue de quem quer que seja. Já passamos da era medieval. Logo, vamos a parte sensata de sua missiva. Não posso dizer que você não tenha a sua razão. Mas essa é tão somente sua. É uma ótica masculina e como tal moldada na forma prática em que os homens encaram suas existências. Como mulher que sou, digo que a mente feminina é distinta. Pensa de uma forma diferente. Diria que em muitas oportunidades, diametralmente oposta. </i></span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="color: black;"><i><br />
</i></span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"><i>Menos prática e mais romântica. Agora, ponha-se no lugar de sua noiva. Se ela for fazer o aludido teste “da máquina” com todo aquele que com ela almeje casar, quando o encontrar poderá não ser mais um carro zero quilômetros e sim um já bem rodado. E aí eu pergunto, como fica o machismo de vocês? Aceitariam um carro rodado que não satisfez a outros motoristas?</i></span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"><i></i></span><i><br style="color: black;" /></i><span style="color: black;"><i>As coisas não são simples. Tenha primeiro bastante certeza de seu amor para com a sua noiva é real, pois, ao contrário do que você afirmou em sua missiva, amor não se testa. Amor é um sentimento que está dentro de si. Você tem ou não tem e quer dá-lo e ser retribuído em relação a uma determinada pessoa.</i></span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"><i></i></span><i><br style="color: black;" /></i><span style="color: black;"><i>Depois de ter esta certeza, convide sua noiva para uma conversa e exponha seu caso de maneira franca e aberta, pois casamento não tem devolução ou garantia de bom funcionamento por determinado prazo. Casamento, é para sempre. Carro se muda de quatro em quatro anos.</i></span><br />
<br />
<span style="color: black;">Sorriu ao terminar, Realmente era muito mais fácil do que ele suponha no inicio. Juntava-se um bando de palavras bonitas, tentava-se dar um mínimo senso ao raciocínio e jogava de volta tudo nas mãos daqueles que haviam escrito, eximindo-se assim do problema que na verdade nunca fora de dona Elizabeth. Afinal, estavam em Minas Gerais, onde politicamente todos gostavam de estar corretos. Era isto aí. Resolveu que Elizabeth Loren Kennedy, de uma vez por todas, seria a versão feminina de José Maria Alkimin.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">Os dias se passaram e cartas e mais cartas eram trazidas pelo Mikimba que as jogava em sua rápida passada, na mesa de doutora Elizabeth. Sua coluna colara. Ia de vento em popa. Eram cartas até de outros estados, pois, a fama da cursada psicóloga estava começando a atravessar fronteiras. Todos pareciam felizes com as respostas de Doutora Elizabeth. O editor, os leitores e ele próprio. Ganhara um aumento e consolidara seu prestigio perante seus companheiros de trabalho, que não mais o tratavam qual uma pilhéria. Como disse o Juvenal Mascarenhas da página policial, “o cara sabe das coisas”, ou mesmo a Letícia Petrossiam das sociais, “ele tem alma de mulher”, mas que depois devidamente testada em sua própria cama, aquiesceu “que era igualmente possuidor de uma extraordinária força máscula”.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">Tudo ia as mil maravilhas, quando um dia no café o Juvenal Mascarenhas veio a ele com a última edição em suas mãos. Parecia preocupado, mas manteve o clima afável:</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">- Você leu o que publicamos ontem na página policial?</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">Carlos Eduardo não quis parecer esnobe e dizer a verdade. Não lia aquele pasquim. Quanto mais sua página policial. Preferia enfurnar-se, em suas noites vazias – que na verdade eram muito poucas - em Ibsen, Proust, Chaucer, Byron ou mesmo Sheakespeare. Nunca em Juvenal Mascarenhas. Mas tinha que maneirar, pois, a maré estava muito boa para si e ele não precisava colecionar mais inimigos. Já bastava os que fizera no Rio de Janeiro, por causa de uma boa trepada. Que na verdade não havia sido nem tão boa assim.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span class="Apple-style-span" style="color: black;"><br />
</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">- Juro que não tive tempo ainda de ler. Estive estudando umas cartas que levei para casa...</span><br />
<br />
<span style="color: black;">- Não precisa se justificar. Sei que sua coluna está pegando fogo e fico feliz com isto. Ninguém parece interessado mais na página policial. Tem crime todo o santo dia e todos soam iguais. Mudam apenas nomes e locais. A tua funciona. Símbolo da modernidade. Mas para mim está ótimo, pois, garante vendagem e com isto uma garantia a mais para com todos os nossos empregos. Jânio vem ai e penso que a coisa possa ficar preta para o nosso lado. O homem é maluco e pode varrer com toda a imprensa. Principalmente com o nosso jornal que infelizmente apoiou o general Lott. Mas acho bom você dar uma olhada e depois dê uma passadinha pela minha mesa. Assunto de seu interesse.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">- Certamente o farei, tão logo terminar meu café.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">Assunto de meu interesse??? Duvidava.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">Juvenal se afastou. Era muito jovem e puxava de uma perna. Diziam ter sido policial dos bons que levara um tiro de um marido traído, mas poderoso politicamente e com isto jogara pela janela uma profissão no qual era tido como um meteoro. Uma lástima... mas para sua felicidade, o senhor Alencar era seu tio e desta forma arrumou um emprego pelo menos naquilo de que entendia.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">Mulheres sempre um problema na vida dos barba azuis: Numa sociedade fechada como a mineira, as que gostavam e podiam dar, eram normalmente casadas, falavam muito e deixavam rastros. Uma combinação letal para os provedores da felicidade alheia, como ele e o Juvenal, numa cidade provinciana como Belo Horizonte, que era bela, mas não parecia ter horizontes.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">Que saco ter que ler matéria policial, mas o Juvenal era um cara legal. O faria e depois passaria pela sua mesa para dar qualquer satisfação. Aprendera desde cedo que jornalista gosta de ser lido e adulado. Ele e Juvenal, embora ainda bastante jovens, não seriam exceções.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">A medida que ele lia a matéria sobre um assassinato de uma menina da alta sociedade, sentia que o caso da Virgem das Mercedes tinha talvez algo a ver com a personagem principal daquela tragédia. Nomes e idades eram diferentes, mas quem diria a verdade em uma carta que seria publicada? Passou a ter mais atenção aos detalhes da noticia. Estava bem escrita. De forma objetiva e clara. Tinhas as impressões digitais do Juvenal. Quando terminou, levantou-se e foi ter a mesa do companheiro de trabalho. Sentiu que durante o seu trajeto, muitos foram os olhos que o encararam. Todavia, desta feita, de uma maneira distinta das anteriores. Havia uma certa pincelada de ódio nos femininos e de reprovação nos masculinos. Será que todos haviam sacado as vitimas naquele crime hediondo? Sentiu ao chegar ao final do corredor que sim.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">- Li e gostei. Você escreve muito bem e dá sempre um sentido psicológico de criminologia em seus artigos. Notei isto em vários outros.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">Ele sorriu ao receber o jornal de volta. Porém, em sua face estava escrito que sabia que ele não havia lido sequer sua página policial até aquele momento. Juvenal era astuto e não parecia ser uma pessoa fácil de se enganar.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">- Poupe seu elogios. Agradeço-os mas não massageiam meu ego. Nasci policial e policial o seria, se não tivesse escolhido amar uma mulher que já tinha dono... – Pelo menos ele a amou, com Alexandra fora apenas sexo - ... mas isto é outra questão. Vamos ao que interessa. Por acaso você não reconheceu na vitima alguém, que lhe escreveu uma carta, pedindo ajuda?</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">Estava contra a parede. Não funcionaria tentar mentir. Não com um cara perspicaz como o Juvenal. E afinal se a metade de seus colegas já parecia ter matado a charada, porque negar? Nada tinha a temer. Ou teria?</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">- Confesso que vi similaridades com minha primeira paciente – respondeu com cara de inocente e fazendo questão de com os dedos demonstrar aspas na última de suas palavras.</span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><span style="color: black;"></span><br />
<span style="color: black;">- Similaridades... Como soa poético vindo de você, doutora... Pois saiba, que existem mais do que similaridades meu caro Carlos Eduardo. Está na cara que é ela. Tudo se encaixa. A família, a amante lésbica de outro estado, o convite para ser sua dama de honra no casamento por parte dos pais e o papo que ela teve com os mesmos e o namorado com jargões como “Acreditamos que não possa haver nada de errado em duas pessoas de mesmo sexo se amarem” E que tal esta “Tabus precisam ser quebrados e nós na flor de nossas adolescências estamos prontas a fazê-lo”. Isto não lhe toca um sino?</span><br />
<br />
<span style="color: black;">- Ela assim o escreveu em sua missiva.</span><br />
<br />
<span style="color: black;">- Porra! Porque vocês jornalistas de formação teimam em usar palavras mortas. Aonde já se viu chamar carta de missiva? O que esta pobre menina escreveu foi uma carta! E a infeliz foi assassinada, com sua namoradinha, pelo ex-namorado que “quis lavar sua honra em sangue”, como o dito pelo Morcegão de Vila Velha - fora ele, agora, a utilizar-se com os dedos, do artifício das aspas.</span><br />
<br />
<span style="color: black;">Juvenal pareciadesnorteado. Mas porquê? O que ele tinha a ver com uma desmiolada tentar ser o exemplo para uma humanidade que não estava ainda pronta para sequer discutir o assunto, que dirá analisar exemplos? O Morcegão não era o namorado assassino, pois, se o assim o fosse diria. Fora apenas uma coincidência o fato dele querer lavar sua honra em sangue. Aliás, um fato que estava se tornando uma constante entre maridos mineiros traídos. Ele, ou melhor a doutora Elizabeth, tentara demover tanto o Morcegão quanto Maria Helena Ramos de Albuquerque Lima... Tinha a consciência tranqüila. Olhou novamente para o jornal. A virgem tinha um nome composto e um sobrenome que mais parecia um trem e agora uma face... Tinha a expressão de um anjo, agora gravada em sua mente, para sempre. Tinha que desfazer a inquietação:</span><br />
<br />
<span style="color: black;">- Desculpe-me mas não vejo razão para você se exasperar...</span><br />
<br />
<span style="color: black;">- Ah! Quer dizer que a doutora Elizabeth não vê uma razão para eu me exasperar... Olha aqui Carlos Eduardo, pode ser que lá nas universidades você cursou não tenha tido tempo de lhe ensinar o que eu aprendi nas ruas e nas sarjetas. O pai desta menina é poderoso e vai querer achar um bode expiatório. Nunca irá admitir que possa ter existido uma falha na educação em sua filha única. Que acobertou uma amizade que se transformou em mais do que íntima. Não vai levar em consideração que Maria Helena era mimada e que resolveu levantar a bandeira do lesbianismo no seio da católica família mineira. A falha nunca será dele. Terá que achar um bode expiatório.</span><br />
<br />
<span style="color: black;">- Mas o que eu tenho com isto? Eu inclusive aconselhei que ela...</span><br />
<br />
<span style="color: black;">- Carlos Eduardo, será que você se transportou definitivamente para o mundo fictício de sua doutora? Cara a garota era virgem. Não se dá conselhos a uma virgem. Principalmente a uma perturbada mental de dezesseis anos que acabou de assumir seu lesbianismo. Você escreveu que não vê nada de errado em duas pessoas do mesmo sexo se amarem. Que o mundo não está preparado ainda para o que ela está fazendo. Que ela deve agir por sua própria consciência. Pois é, ela agiu e hoje está morta! - Juvenal tinha razão... - Virgem é alguém que está fora da realidade. Uma pergunta: quantas virgens você descabaçou? - na realidade não se lembrava de nenhuma... - Pois é, provavelmente nenhuma. Eu também. Virgens são seres de outro planeta, amarguradas e descontentes com a sua própria existência. Por isto, a maioria depois que se casa, passa a dar mais do que xuxu na serra. E nós é que acabamos de pagar o pato com seus maridos traídos...</span><br />
<br />
<span style="color: black;">Conhecia bem aquela história, mas não gostaria de interromper ao Juvenal. A coisa parecia mais grave do que preverá inicialmente. Que confusão aprontara!</span><br />
<br />
<span style="color: black;">- ... pois é minha querida doutora Elizabeth, teremos que enfrentar um problema, maior que nós mesmos.</span><br />
<span style="color: black;">- Teremos? Você quer dizer eu e a doutora?</span><br />
<br />
<span style="color: black;">- Não. Eu e você - Juvenal certificou-se que ninguém estava ligado naquela conversação, mas mesmo assim abaixou o tom de sua voz. Olhou firmemente nos olhos de Carlos Eduardo e decretou a nova surpresa de toda aquela esdrúxula situação: - Eu sou o Morcegão de Vila Velha - pela primeira vez baixou os olhos e perdeu aquela sua característica objetividade.</span><br />
<br />
<span style="color: black;">- Escrevi de sacanagem aquela carta. Queria ser o primeiro. Uma espécie de boas vindas, pois, achei que não pingariam tão cedo, cartas em sua caixa postal. Brinquei com fogo e para variar amanheci mijado.</span><br />
<span style="color: black;">Não seria queimado?</span><br />
<br />
<span style="color: black;">- E daí. Ninguém vai ligar seu nome ao pseudônimo que você criou e ademais o Morcegão não matou ninguém, nem influenciou em nada no crime cometido contra Maria Helena. Bem, diríamos que influenciou em parte com aquela história de lavar a honra em sangue...</span><br />
<br />
<span style="color: black;">Pobre Maria Helena. Tinha um nome... uma face... uma família... quatro tiros na cabeça e sete palmos de terra sobre si...</span><br />
<br />
<span style="color: black;">- Antes fosse assim. Na policia todos sabem quem é o Morcegão de Vila Velha. Era meu apelido na chefatura.</span><br />
<br />
<span style="color: black;">Mas Carlos Eduardo tentou ainda assim vislumbrar o lado positivo da coisa:</span><br />
<br />
<span style="color: black;">- Espero que os pais delas tenham bom senso...</span><br />
<br />
<span style="color: black;">- E que meu tio, segure a barra de nossos empregos...</span><br />
<br />
<span style="color: black;">- Que bom que encontrei a ambos – era o editor, o senhor Alencar, que os interrompia – tem alguém cercado de advogados por todos os lados, a procura do Morcegão de Vila Velha e da doutora Elizabeth Loren Kennedy. Vocês podem imaginar quem seja, não? </span><br />
<br />
<span style="color: black;"> </span><br />
<br style="color: black;" /></div>Friends of Hallandale Beach Clubhttp://www.blogger.com/profile/10565044858800447212noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-355405200958981661.post-25807157557637599452010-03-02T00:05:00.001-05:002012-07-03T23:12:20.517-04:00ELIAS O HEMORROIDÁRIO<div style="text-align: justify;">
Elias era um garoto bonito. Bonito até demais. Cheio de vida e conhecido nas redondezas como a ilha. Sim exatamente isto que vocês leram, a ilha. E não por ser recluso, anti-social ou mesmo solitário. Ele era assim reconhecido, pois, mantinha-se cercado por gatinhas de todos os lados. Mulher para ele era como pingo de chuva, caía a rodo. Na boléia de sua mota, havia passado o que de melhor havia da Glória à Barra da Tijuca. E sua vida era uma maravilha! Invejado por flamenguistas e mangueirenses ele vivia a sua vida sem empáfia e muito menos soberba. Era um cara simples e legal. Até que um belo dia, daqueles que não há nada para se fazer, resolveu ir a um médico para ver se poderia contornar um pequenino problema que vinha lhe atazanando a paciência. Principalmente quando na moto. E o inferno teve o seu inicio. Suas hemorróidas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Aquilo não era concebível. Estava totalmente fora de questão. Afinal ele não tinha sequer 24 anos completos. Como poderia ter sido atacado pelas hemorróidas, ainda no inicio de sua vida? Logo, na flor da idade, quando fisicamente você está no pico de sua existência e com a pica funcionando a mil por hora. Comia a tudo e a todos. E agora aquele louco do Dr. Albuquerque vinha taxativamente decretar aquele horrendo diagnóstico. A culpa de suas hemorróidas eram aquele raio do computador e a porra de sua motoca. Sentou, hemorroidou! Triste destino. Elias de Mattos se transformara num hemorroidário por causa da <i>Apple</i> e da <i>Kawasaki</i>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Que merda! Poderia ele acionar judicialmente qualquer das duas companhias? Poderia esta ação atingir o patamar de perdas e danos, morais e financeiros? Afinal cu é coisa séria!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas ele não poderia nunca supor, que o simples ato de se manter sentado, agiria como agente no desenvolvimento de veias varicosas na região anal. Para Elias, as razões básicas de hemorróidas seriam o esforço físico, a evacuação de fezes ressecadas, a obstipação crônica ou até o abuso excessivo de laxantes. Ele se certificara destes sintomas após a sua consulta, em suas pesquisas naquele que fora um dos causadores de seu declínio anal. A Internet... Era verdade que a grande realeza da estória da humanidade, fora igualmente atacada por problemas constantes de hemorróidas e isto era agora fácil de se entender. Passavam muito tempo sentados em seus tronos, ouvindo seus ministros e súditos e muitas vezes dali mesmo, resolvendo os destinos de seus impérios e reinados. Clinicamente segundo o Dr. Albuquerque, o ato de manter sua bunda estática por horas numa superfície plana que não deixe ventilar seu feófo, pode gerar hemorróidas. O pior de tudo é que Elias descobriu que o tratamento das hemorróidas era muito mais complexo do que ele inicialmente poderia supor. Não havia uma pilulazinha antiinflamatória capaz de fazê-las ceder instantaneamente. O problema tinha que ser atacado in loco, isto é, lá em baixo mesmo. Na dita cuja!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E as gatinhas doutor?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Problema algum. Seria um problema se você tivesse de olho nos gatinhos. Se bem que se este fosse o caso, não ficaria tanto tempo com seu traseiro na posição horizontal.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Pó, sai dessa doutor! Desconjuro! Tô nessa não!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
E achando um pedaço de madeira bateu insistentemente até ter certeza que aquela praga não pegara. Parando de rir, o debochado doutor, que o vira nascer, complementou; </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Elias, o seu caso, graças ao bom Deus, não é dos mais cabeludos e por isto mesmo não será necessário a cirurgia ou a utilização penosa daquelas ligaduras elásticas mas é bem mais complicado que a média..</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- E...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E, meu velho é que acredito que o infra-vermelho seja inevitável. Ou então cirurgia ou a liga. Você escolhe. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Cirurgia? To fora, doutor. Na bundinha de Elias Ilha Grande, marmanjo algum põe a mão. Que dirá Zé mané de bisturi ou ti-ti-ti de liga elástica. Tá louco Zé bedeu? Imagine doutor...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Então?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Pô, infra-vermelho é dose! Este corpinho que Deus fez, ficar agora num consultório médico horas a fio, com a bunda para o ar e com um aparelho emissor de raio infra-vermelho atochado no rabo. Tô gostando disto não! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Mas lembre-se Elias, se este for realmente o caso, pelo menos estas desgraçadas seriam coaguladas, para posterior cicatrização num sistema de foto coagulação. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Concordo Dr. Albuquerque. Sei que o senhor é considerado craque em doenças anais. Mas no cu dos outros, negão! No meu neca de pitibiriba. Neste que maínha passou talco, degenerado algum vai passar a mão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Você é que sabe, Elias.<br />
<br />
- O homem é gênio em cu! <br />
Garantira-lhe o Sebinho que um dia tivera uma infecção anal advinda de uma ameba instalada em seu intestino. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Mas cirurgia estava fora de cogitação. Ele podia ser o Pelé do reto, que Elias não ia concordar. Trataria-se com compressas quentes. Mas numa relação com sua noiva, lá bem na hora de gozar, as desgraçadas dilataram-se de tal maneira que ele simplesmente brochou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- O que foi querido?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- As desgraçadas das hemorróidas. Agora toda vez que estou para explodir, são elas que explodem e acontece o que você acabou de presenciar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Então esta foi a razão de na última vez...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- E na penúltima também. Estas desgraçadas estão fazendo da minha vida um verdadeiro inferno. E agora este doutor que meu pai indicou e o Sebinho garantiu que é o Pelé das hemorróidas quer castrar meu cu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Mas se não há outro jeito, querido...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Tem que existir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Espero, porque na quarta brochada você pode se acostumar e virar cacoete. Você me entende, não benzinho.<br />
<br />
- Se você acha que com compressas quentes e ervinhas familiares a sua situação vai melhorar, tire o seu cavalinho da chuva, Elias. Vai ter um dia que você não terá nem condições de evacuar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- E trepar, doutor?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Um dia, quando estiver pronto para gozar, elas se avolumam e você brocha. Acredite no que eu estou lhe dizendo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Ninguém precisava lhe provar o fato. O importante é que parecia que o Dr. Albuquerque sabia das coisas, pensou Elias que de desesperançoso passou ao estágio de desesperado. Se ele parasse de cagar, para a onde a merda iria ir? Para o cérebro, como seu pai sempre lhe dizia ser o mesmo formado? E de gozar, para onde sua noiva lhe mandaria? Será que aquele homem que o virá nascer, ia desvirginar aquele anus que ele tratava com tanto carinho, sem papel, só no bidê? Faca ou Infra-Vermelho? Que dilema.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
E o cu foi para o ar. Trinta minutos, três vezes por semana. Mas isto não foi nada. Depois de várias aplicações, para a tristeza de Elias ficou constatado que as malditas, não haviam coagulado e conseqüentemente não regrediram na proporção desejada pelo Dr. Albuquerque. Ao contrário, evoluíram e se proliferaram. Tratavam-se de hemorróidas galopantes, que cresciam numa progressão geométrica que nem inflação de país de terceiro mundo. E assim, mesmo a contragosto, e depois de brochar mais três vezes em uma única semana, o pobre do Elias teve que passar ao estágio seguinte, o das hediondas fitas elásticas. E isto foi simplesmente dilacerante. As bichas latejavam, supuraram mas não de modo algum regrediram um milímetro sequer. Cagar estava cada vez mais difícil. Gozar, impossível. Marlene já falava em férias em Mangaratiba. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
E depois de semanas a fio de sofrimento o abominável veredicto do Dr. Albuquerque foi decretado de forma solene e piedosa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Isto é mesmo congênito como eu supunha, meu caro Elias. Nada mais posso fazer. Você tem mesmo é que entrar na faca.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Mas como? Se meu pai nunca teve hemorróidas, nem mesmo a minha mãe, como isto pode ser congênito?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Ninguém assume ter hemorróidas. Tem gente que aceita ser diabético, outros serem portadores de câncer, mas ninguém tem coragem de confessar ter hemorróidas. Desculpe-me mas seu pai tinha duas putas hemorróidas e a coisa teve que também ser resolvida numa mesa cirúrgica.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Mas ele nunca nos disse nada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Cu de coronel da policia Militar é segredo de estado. Questão de segurança nacional, acredite-me.<br />
Mesa cirúrgica! Até seu pai passara por aquilo... </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Elias se desesperou. Seu cu seria dissecado por mãos alheias. Mãos inescrupulosas e muita das vezes, não convenientemente limpas. O que seria de seu anus? Passaria ser de domínio público? E sua reputação de macho? E quando aquilo caísse na boca do Sebinho? As gatinhas iriam debandar. E a Marlene? Eles haviam acabado de ficar noivos. Mas não houve jeito, uma consulta veio a ser marcada.<br />
<br />
Pequenas bagas úmidas de suor correram-lhe pelas laterais e de seu rosto, apreensivo em face da espera. No consultório do Dr. Bago ele contou os segundos. O tempo simplesmente não passava. Com aflita pontualidade ele havia comparecido naquele que seria o cirurgião responsável pela extirpação das horrendas. Após minutos que pareciam dias, finalmente a terrível constatação; o Dr. Albuquerque tinha razão. A cirurgia era necessária.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
O tempo o fez resignar-se. Marcou a data, despediu-se de Marlene como se estivesse a caminho do Iraque e na hora marcada compareceu cabisbaixo para o seu sacrifício anal. Porém, para a sua grande surpresa, lá chegando foi notificado que o Dr. Albuquerque e não o Dr. Bagô, exigia a sua presença no consultório, não mais na sala de cirurgia. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Aleluia! O que havia acontecido? Mudança de planos? Por segundos o rosto de Elias se iluminou. Talvez, aquela sabedoria anal ambulante, tivesse achado uma outra solução. Quem sabe o Dr. Albuquerque descobrira uma pílula milagrosa capaz de resolver o seu problema. Deus era realmente grande. Brigadinho!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Elias estive estudando o seu caso, após a biopsia que fizemos e cheguei a uma conclusão. Simplesmente retirar cirurgicamente suas hemorróidas irá apenas resolver o seu problema temporariamente. Pois, como já lhe disse anteriormente, seu problema é congênito.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- E daí?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Que não resolverá o seu problema definitivamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- O senhor poderia ser mais especifico?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Uma cirurgia não resolveria o seu problema de forma definitiva. Apenas temporária.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Mas pelo que entendi, resolveram a de meu pai.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Com certeza que sim, mas o caso dele não era tão alarmante qual o seu. O computador e a motocicleta aceleraram o seu processo degenerativo. Desculpe-me, mas não acredito que haja outro jeito.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Se as tiro, elas voltam. Creio que isto é o que o senhor está querendo me dizer?- como a sumidade anal concordasse com a cabeça, ele voltou a perguntar aflito – E quando elas estariam de volta?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Impossível de predizer. Um mês, um ano, ninguém lhe poderá garantir com certeza. Mas que voltarão, voltarão!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- E o que fazer, se não há solução?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Na realidade existe uma solução. Para que você entenda o âmago da questão, trata-se de algo que nunca antes veio a ser tentado...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Há solução? E qual seria ela? - perguntou eufórico com a nova possibilidade. <br />
O Doutor era mesmo gênio! Seu cu tinha solução.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Estas hemorróidas são originárias, devido a formação das paredes de seu ânus. Se simplesmente as extirpamos, elas irão voltar com o tempo...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Isto o senhor já me disse. Tenho hemorróidas crônicas? Por favor vamos direto ao ponto. Que solução é esta que nunca veio a ser testada antes? - interrompeu ele irritado com todo aquele tro-lo-ló.<br />
- Algo semelhante a uma mudança...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- E o que faço então, Dr.? Lacro o cu? Paro de comer?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Não de seu hábitos, trata-se de uma nova técnica..</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Nova técnica? E qual seria ela? - interrompeu mais uma vez Elias, mas desta feita eufórico com a possibilidade de não ter que entrar na faca. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Ele odiava aquelas desgraçadas hemorróidas, mas pensando bem, elas eram parte de seu corpo e ser mutilado não estava em seus planos imediatos. Quem sabe um antibiótico ou mesmo uma massagem...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Um transplante de anus.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Elias franziu o cenho. O chão simplesmente abandonara seus pés. O tal do Albuquerque era mesmo uma besta!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- O senhor pode repetir?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Isto mesmo o que você ouviu, Elias. Um transplante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Transplante, de cu doutor? – na pronta concordância médica ele desabafou – No cu, negão !</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Eu usaria o temo anal...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Anal é o seu cu!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Ia ser um pouco mais difícil, pensou o médico. Era hora de descer de seu pedestal e procurar falar a mesma lingua.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- É transplante no cu mesmo e não há outra solução. É pegar ou viver eternamente com o problema. Que lhe asseguro que vai aumentar. E isto irá afetar seu estado sexual.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Aumentar? Sentar por si só era um sacrifico. Cagar, um inferno. Só de bolinha. Gozar, jamais. Logo como poderia sua situação ainda piorar? Mas ao mesmo tempo, nunca em momento algum, ouvira semelhante estória. Parecia estar vivendo um pesadelo. Em sua surfadas constantes pela Internet, não chegara a tomar conhecimento de um caso sequer, de cu transplantado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Mas eu nunca li algo a respeito...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
A fera, acalmara-se.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Como lhe disse, será o primeiro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
As meninas dos olhos de Elias deram duas voltas em suas órbitas. Além de tudo ele seria a cobaia! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Decida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
O Albuquerque estava realmente falando sério e queria ainda uma resposta rápida. O pior é que sondara e tinha agora a mais convicta certeza que aquele médico era a autoridade máxima em questões anais. Sem relutância aceitou o seu desígnio. Ele teria o seu cu transplantado e resolvido de uma vez por todas aquele problema que tanto o atormentava. A Madalena iria gostar, pois ele teria de volta a sua virilidade. Seu pai, igualmente haveria de aceitar o fato. Sabia que não seria fácil, mas afinal quem vê cu não vê alma! E ademais cu é cu. Só merda por ali passa! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Mas, ao mesmo tempo, um turbilhão de pensamentos afluíram a seu aturdido cérebro. Seria ele mesmo o primeiro caso? Não haveriam sido feitos outros transplantes sem sucesso e por isto encobertos publicamente? E se fosse ele realmente o primeiro, entraria para a estória clínica como o pioneiro recebedor do cu alheio? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
E quem seria o doador? De que defunto seria arrancado aquele cu? Seria um cu largo, estreito e de que cor? Moral da estória brochou. Nem mais ereções conseguia. De uma passara ao estágio do não consumar ao de simplesmente nem iniciar. Marlene foi a primeira a pular fora. A ela se seguiram a Margot, A Elizabeth e até a Suzy que sempre fora vidrada nele. E de Ilha Grande passou a ser chamado ali no final de Copacabana, de Ilha da Bananeira. Era demais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Assim decidiu. Era o cu ou a pica. Optou pela pica em detrimento do cu. E na faca entrou, tão logo um doador veio a ser achado.<br />
<br />
O transplante foi um sucesso. Toda a imprensa foi congregada para que o feito inédito da medicina brasileira, tornasse público. E todos, sem exceção exigiam que o cu de Elias viesse a ser fotografado.<br />
Propostas da revista Playboy e Men, apareceram sobre a mesa, mas Elias estava irredutível. Nenhum milhão o faria mudar de idéia. O cu era seu e não queria que de maneira alguma, o dito se tornasse de domínio popular, principalmente pelo fato do doador ter sido um pessoa de coloração negra que morrera atropelada num dos cruzamentos da Cinelândia. Havia muito contraste entre seu novo e recém implantado cu e o resto de seu corpo e isto deixava Elias sem jeito. E querendo ou não, como dizia seu pai; Meu filho, cu é peça sagrada de seu corpo. Não é para se tornar página do meio da revista Playboy.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Como tudo no Rio de Janeiro, depois de um arrastão aqui, uma briga de facções de favelas ali e mais uma derrota do Botafogo acolá, até o cu de Elias de Mattos deixou de ser notícia. Em seu período de convalescença, ele estava proibido de sequer tentar uma relação sexual e vivia de sopinha. Logo perdeu o viço, bem como seu estado atlético. Seus primeiros fios de cabelos brancos nasceram nas laterais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
O ti-ti-ti limitou-se ao Dr. Albuquerque, que com o feito alcançou notoriedade e uma imensa clientela. Não eram agora poucos, os homossexuais que o assediavam em seu consultório, para transplantar seus respectivos cus, por outros mais novos, rosáceos e apertadinhos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Todavia, o transplante de cu havia igualmente transformado a vida de Elias. Primeiramente porque ele não voltaria a cometer o erro de outrora de ficar horas sentado a surfar na Internet. Seu novo cu necessitaria ser ventilado. Vendeu a moto e passou a surfar no mar ao em vez da Internet. Segundo, porque a simples sensação de defecar, agora era diferente. Depois de dois meses, Elias podia até tomar leite norte-americano que nenhum esforço era necessário para cumprir com suas funções fisiológicas. Até porque, aquele era um cu lubrificado e de muito maior porte. E terceiro porque aquele novo cu parecia estar mudando até sua maneira de ser.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Deixara de assediar as meninas, mas em compensação sentia-se mais alegre, com um muito melhor humor e acima de tudo com vontade de se exercitar e participar mais da vida. Deixou de ser aquele personagem apenas ligado ao sexo. Sentiu-se impelido a intelectualidade. Estabilizado, corado pelo sol e com os músculos finalmente aflorando de sua pele, Elias parecia ser um novo homem. Voltou a chover mulher na sua horta mas ele não parecia se interessar e muito menos fazer pazes com o pinto. Haviam coisas mais importantes no mundo do que simplesmente se preocupar em hastear suas bandeiras como outrora. Chegou até a esnobar a Marlene, que estava de volta rondando o seu quarteirão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Mas seu pai, o Arquibaldo, sentiu que estas ótimas mudanças de comportamento eram acompanhadas por outras de atitudes que não lhe pareciam agradar a primeira vista. E dia a dia, as segundas pareciam maiores.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
A voz de Elias se tornara mais esganiçada, seus gostos mais femininos, trocara a moto pelos livros, a noite pelo dia e até a sua forma de andar era outra. Elias agora rebolava e isto já era nitidamente notado não só por ele, como também pela Marlene que sentiu que o molejo de seus quadris fora ofuscado pelo jogo de cintura que seu ex-noivo. E deixou isto claro para o coronel. Foi ai que o coronel Arquibaldo resolveu procurar o Dr. Albuquerque.<br />
<br />
O velho médico a tudo ouviu atentamente e coçando o seu cavanhaque de bode, confessou. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Meu caro Arquibaldo. Foi uma titânica luta para se conseguir um doador para o seu filho. Neste pais existe ainda um tabu para com a doação de órgãos, principalmente em se tratando de cu. Ninguém quer dar o seu cu a um desconhecido. Olhos, rins, bexigas, corações e estômagos, não existe problema. Todavia, cu, nunca. Coisas de brasileiros.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- E a quem pertencia o cu que agora meu filho está portando?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Em nossa profissão, a ética não nos permite tornar público quem são os doadores.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Não preciso de nomes, apenas aspectos gerais como idade, o que fazia, quais eram as suas características. Enfim, fatos gerais?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Impossível coronel. Este cu, tem seus segredos e estes deverão ser mantidos para o bem da ciência.<br />
- Não aceito! Eu exijo saber de quem era este cu! Meu filho não pode viver eternamente do cu alheio, sem saber sua origem!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
O experiente cirurgião sentiu que devia haver algum problema no ar. O homem era coronel da ativa da Policia Militar. Tinha amizades no Palácio e perdia o humor com facilidade. Assim enveredou por um caminho paralelo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Porque, você quer esta informação, ô Arquibaldo? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Tenho minhas razões.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Quer dizer que eu posso descortinar as minhas, mas você não as suas? Por acaso está havendo algum problema de rejeição?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Não! Rejeição propriamente não...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
-Então o que o aflige, homem de Deus?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Já disse. Mudança de comportamento.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Do anus???</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Antes fosse. Do Elias é que estou me reportando!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
A coisa estava começando a se desenhar bem mais complicada do que ele pudesse imaginar. O medico coçou a cabeça.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- E o coronel poderia me dizer que mudanças são estas?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Meu filho está agindo qual uma mulher.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
O Dr. Albuquerque gelou. Será? Em seus estudos nunca foi sequer aventada a possibilidade de mudança de comportamento. Haviam muitas discussões sobre a possibilidade de rejeições e até inadequabilidade operacional com o intestino. Mas mudança de comportamento... </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Pensou um pouco. Talvez não fosse indiscrição de sua parte em segredar alguns detalhes do doador, para aquele pai que parecia preocupado com o cu de seu filho. O Dr. Albuquerque era também pai e por isso podia igualmente entender o teor de toda aquela preocupação. Cu de filho é que nem amor de mãe; coisa sagrada. Assim sendo, pegou o dossiê de Elias em seu arquivo e abrindo-o o estudou por segundos. Pelas barba do profeta! Ele, a pressa e a excitação foram tantas que ele não atentara a certos detalhes do doador. Afinal não era todo dia que se encontrava alguém afim de dar seu cu rapidinho. Pigarreou. Aquilo deveria ser dito com muito cuidado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Primeiramente eu queria lhe dizer que o doador em questão, na realidade não era um doador... </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Como Albuquerque? Quer dizer que tiraram o cu do cara na marra? Isto é inconstitucional...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não Arquibaldo, o doador em questão era na verdade uma doadora.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
O coronel Arquibaldo Pederneiras de Matos. Sentiu seus joelhos fraquejarem. Empalideceu, mas o experiente doutor não lhe deu tréguas para explodir; </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Seu nome de batismo era Joana e ela era conhecida no centro da cidade como Mãe Joana.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Mãe Joana?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Sim. Mulher de muita saúde e beleza. Diziam até que em seus áureos tempos foi mulata no Oba Oba do Sargentelli...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Mas o coronel não queria ouvir mais nada. Que lhe interessava se ela fora boa para burro? Era uma mulher. A dona daquela cu, poderia ter sido até a ama de leite da rainha da Inglaterra, que nada iria diminuir a sua ira. Era uma mulher. Seu Elias tinha um cu de mulher. Inadmissível!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Caguei se ela era bonita ou não, ô Buca! Quer dizer que o Eliaszinho agora portava entre suas nádegas o cu da Mãe Joana? Isto é um ultraje. Um verdadeiro acinte a moral e aos costumes. Imaginem se a procedência do cu de meu filho for descoberta por algum jornalista? Como ficaria a moral do Elias? E de seu cu? Ou o cu da Mãe Joana? Recuso-me terminantemente a aceitar o fato. Meu filho é cabra macho, moleque conquistador e agora seja obrigado a portar o cu da mãe Joana.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Agora não posso fazer absolutamente nada. O fato está consumado. E na hora em que o doador foi achado, você Arquibaldo ou mesmo o Elias, não fizeram nenhuma restrição a que tipo de cu seu filho iria portar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Mas nem me passou pela cabeça que pudesse ser o doador uma mulher...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- E porque o preconceito? Existem corações de mulheres pulsando dentro do peito de homens.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Porra ô buca! Coração é coração. Cu é cu!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Desculpe, mas eu lhe disse tratar de uma pessoa atropelada. O sexo nunca esteve em discussão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Evidente. Quem poderia supor que você meu amigo de mais de quarenta anos fosse implantar o cu da mãe Joana em meu filho. Quem? Quem? Logo a você que há vinte anos atrás entreguei o meu cu sem restrições.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Dona Lygia, virgem, sexagenária e filha de Maria, que acabara de entrar no consultório particular do doutor Albuquerque a quem auxiliava nas horas vagas, ao ouvir aquela última e revelante confissão, achou melhor fingir que esquecera um dos documentos em sua sala e fechou a porta atrás de si.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Como resolveremos este problema?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Que problema?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Ah! Você acha que ser portador do cu da mãe Joana não é problema, porque então não transplanta o seu e usa o do Madame Satã daqui para frente?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Esqueça-se, por um momento desta pequena anomalia. E me responda. Seu filho defeca bem?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Muito bem e mais rápido.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
-Ótimo. Seu filho não se sente mais jovial e mais ativo?<br />
- Confesso que sim. Perdoe-me, mas este não é o âmago da questão. Tenho muito apreço por você Buca. Você solucionou definitivamente o problema de minhas hemorróidas e sou-lhe grato por este fato também. Mas o que fizeram com o cu do meu Elias, foi uma tremenda barbeiragem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Você está exagerando.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Porque o cu não é teu e não sabe quanto dói a mim um pai de família!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Dona Lygia, que estava de volta, desistiu de uma vez por todas a participar daquela libertinagem. Voltou a sua sala lívida. Tomou imediatamente uma decisão. Pela manhã o Dr. Albuquerque teria em sua mesa, sua carta incondicional de demissão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Você precisa quebrar preconceitos... mas não se preocupe Arquibaldo. Mãe Joana era uma mulher sadia, sem doenças e que possuía uma vitalidade inigualável. Ao envelhecer, vendia cocadas na baixa do sapateiro e desfilava na ala das baianas de Mangueira. Foi pega por um ônibus, e como seu filho precisava urgentemente de um cu, foi o dela do que nos utilizamos. Não se preocupe. Não há problema algum. Trata-se de um bom cu. Sadio e correto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Fácil para você achar que não há problema algum quando não é propriamente o seu filho que carrega consigo o cu da Mãe Joana. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
E dizendo isto o coronel se retirou daquele consultório indignado, marchando como um oficial de alta patente ferido em sua honra o devia fazer. <br />
E eu que o achava o coronel e o doutor, homens distintos, pensou com seus botões dona Lygia, fingindo não notar a sua saída.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
O coronel Arquibaldo estava pelas tampas. Estava naquele momento pensando seriamente em consultar um advogado sobre aquele caso. E tão logo abandonou o consultório do ex-amigo, procurou a outro que lhe devia muitos favores.<br />
<br />
O Doutor Agildo Parreiras era um advogado especialista na área de problemas médicos. Agia como consultor de vários órgãos de saúde e hospitais dentro do território brasileiro, mas mesmo ele com toda a sua vasta experiência, nunca havia ouvido falar de um caso tão cabeludo como o do cu de Elias... ou melhor da mãe Joana. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Vou ter que examinar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- O cu de meu filho ninguém examina!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Sossega, Arquibaldo. Ninguém quer colocar a mão no cu da mãe Joana... desculpe-me do Elias. Vou examinar o caso, mas de cara lhe asseguro que não vejo muitas saídas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Como não há saída?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Para o bem da verdade, pelo que sei não existem problemas de rejeição ou mal funcionamento – o coronel assentiu com a cabeça, embora aquele assunto lhe enojasse – Pelo o que também entendi o citado cu , além de cagar maravilhosamente bem, não coça e ainda por cima apresenta estatisticamente um fluxo bem maior – o coronel voltou a concordar – Possibilitando, segundo seu próprio depoimento, que Elias não ficasse mais horas a fio como antes, no único vaso sanitário existente naquele apartamento de dois quartos que vocês dois dividem na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, ali perto da Real Constant – parando um pouco para tomar fôlego, continuou com os olhos pregados no processo – Segundo você, em uma oportunidade, o Elias quando ainda menino lera 2/3 do romance Guerra e Paz numa tentativa de evacuação. Logo, não é por ai que poderíamos responsabilizar o Dr. Albuquerque. Temos que buscar outro ângulo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Outro ângulo Paranhos. Implantam no meu filho o cu de uma crioula, que nem sabe atravessar uma rua e você acredita que nós ainda precisemos buscar um ângulo? Paranhos, preste atenção. Existem três agravantes. Elias está agora com trejeitos femininos. Segundo acredito que qualquer ser humano, independentemente de cor, sexo ou religião, jamais em sã consciência, sonharia em ter seu cu relacionado como o da Mãe Joana. E terceiro sou coronel da Policia Militar. O que a turma da minha corporação vai fazer quando souber disto? Como fica a minha moral? – Paranhos demonstrou consternação - Assim, o Dr. Albuquerque é culpado e tem que dar uma solução ao caso. E que o ângulo que você procura vá para a puta que lhe pariu!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
A situação estava se tornando melindrosa e Paranhos macaco velho do tempo que a Lapa era antro de vagabundos, não ia colocar sua mão naquela cumbuca. Ele tinha que achar uma solução que acalmasse o amigo, mas que ao mesmo tempo solucionasse o problema do filho do mesmo. Pois, caso contrário, iria sobrar para ele próprio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Com todos o respeito que o cu de seu filho merece, mas gostaria de lembrá-lo que tem muita gente que muda de trejeitos com a idade sem transplante algum. Simplesmente porque vira a mesa. Sei que não é o caso de seu filho. Garoto macho como o pai, desde menininho. Evidente que para ele houve um agravante, logo só vejo uma solução. Vamos tentar um acordo e obrigar ao Albuquerque a fazer um novo transplante, livre de qualquer despesa, e com um doador reconhecidamente macho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- É isto aí! Macho com M maiúsculo!<br />
<br />
A batalha judicial perdurou quase um ano, mas finalmente o Dr. Albuquerque cedeu aos caprichos do coronel e de seu advogado. O cu de Elias teria que ser novamente transplantado. O problema é que agora, Elias havia se apegado a aquele cu. O tratava com carinho, respeito e o dito cujo em troca o estava servindo bem. Não haviam mais hemorróidas, prisões de ventre ou sangramentos de nenhuma forma. Era um grande cu, largo, em tamanho e eficiência. O problema era que pertencera a Mãe Joana e se um dia mais pessoas tomassem conhecimento deste fato, efetivamente seu pai tinha razão. Sua vida se tornaria um inferno.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
A indecisão de Elias se desfez, quando ao sair rebolando um dia do tribunal foi assediado por um mulatinho magrelo, servente da corte, que lhe sapecou uma proposta indecorosa. Indignado, Elias respondeu nas fuças do mulato. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- O que você pensa que meu cu, é?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
E a resposta foi imediata, o fez cair na real. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Da Mãe Joana.<br />
<br />
A nova cirurgia transcorreu como a primeira. Perfeita. O doador era branco, macho, nordestino e pai de três filhos. Morrera do coração mas segundo sua esposa, quando vivo, cagava que era uma beleza. Seu cu era perfeito, praticamente imaculado. Um cu macho! Porque nordestino pode ser tudo, menos baitola!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Feliz com o seu novo cu, que pelo menos cromaticamente não contrastava com sua pele, Elias voltou a ter seu andar regularizado e sua voz masculinizada. Não rebolava mais, perdera os trejeitos e além de demonstrar virilidade em suas atitudes, passou até a ter uma certa rispidez em seu relacionamento com outras pessoas. O coronel estava exultante com o novo cu de seu filho. Aquilo sim era um cu. Um cu ríspido que não levava abuso para casa. Um cu retado! Um cu de macho!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Mas as coisas foram mudando e o coronel apavorou-se com o que via, dia após dia em seu apartamento. Até que num final de tarde, voltando mais cedo do que o normal, flagrou seu filho com as calças arriadas e a bunda para fora da janela. Sua reação de indignação não pode ser contida. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Elias, filho meu, o que você está fazendo com sua bunda ao relento, para toda a vizinhança ver?<br />
Elias de um pulo se recompôs e levantando o zíper de sua bermuda tratou de se explicar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Juro que não sei o que foi, papai. Acabei de ouvir na televisão que vai haver um tempestade. Vai chover o grande caralho e seremos assolados por um vento de foder. Instintivamente me senti impelido de colocar a bunda para fora da janela. Foi algo mais forte que a minha própria vontade. Será que estou sendo dominado pelo cu?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Aquilo estava cheirando mal. O coronel foi atacado pelas primeiras suspeitas. Será que aquele nordestino, macho, pai de três filhos e cônscio de seus deveres de chefe de familia, na verdade sentava numa boneca? A partir daquele momento ele passou a seguir os passos de seu filho mais de perto e foi então que descobriu que a emenda era pior do que o próprio soneto. Ao ver a banda de Ipanema passar, Elias com as mãos nas cadeiras e aquela atitude máscula de Lampião, o rei do cangaço, simplesmente se transformou ao ouvir um crioulo pernóstico ordenar a chefe de sua bateria. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Orga, não vamos dar forga! Pau no samba!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
O Elias se empinou, olhou para um lado e para o outro e saiu rebolando a cantar qual uma Carmem Miranda arrependida de ter abandonado o Brasil.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
- Eu sou o samba, sou natural aqui do Rio de Janeiro... <br />
<br /></div>
Que saudades das hemorróidas e do cu da Mãe Joana foram os últimos pensamentos do nefando coronel segundos antes de ter o enfarte que ceifou a sua vida, ali mesmo na Avenida Vieira Souto, na véspera do carnaval de 2002Friends of Hallandale Beach Clubhttp://www.blogger.com/profile/10565044858800447212noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-355405200958981661.post-17460162568513369482010-02-13T00:04:00.002-05:002012-07-03T11:11:16.699-04:00O PEIDO NO ELEVADOREstavam todos os nove, presos no elevador de um hotel de luxo em Recife, há poucos minutos do início de mais um jogo da Copa. Um casal brasileiro, dois maranhenses, um japonês que escapou centimetros de ser um anão, um árabe, um norte-americano, um executivo paulista e uma aeromoça portuguesa.<br />
<br />
Orozimbo, um dos que estavam no elevador, nunca fora um ser abonado pela sorte. Mas tinha senso e sabia exatamente quem era o responsável por aquele terrível odor que rapidamente expalhara-se pelo apertado elevador.<br />
<br />
O peido saíra sem som e pegara a todos traiçoeiramente. Peido sem som é que nem torpedo de submarino, explode com tudo quando menos se espera. Pouco a pouco foi tomando o nariz de cada um com aquele aca própria das flatulências contidas. Imediatamente um misto de pânico e desespero tomou conta de todos. Cada um começou a suspeitar do seu vizinho. Olhares foram trocados, mas ninguém tivera a coragem de acusar ao próximo. Sem som, não há culpado.<br />
<br />
- <i>What is that</i>? – perguntou indignado o norte-americano com aquela total falta de respeito humano emitida por um dos passageiros do elevador.<br />
<br />
- O porco - exclamou o árabe de dedo em riste. <br />
<br />
Peidar num elevador cheio, enguiçado, num calor infernal e com uma circulação de ar precária, era um atentado a integridade física. Merecia no mínimo denúncia. E assim Orozimbo não teve a menor complacência. Olhou para o acuado rabino, corroborando a denúncia do árabe.<br />
<br />
- Trata-se de um peido clerical - comentou entre dentes Orozimbo.<br />
<br />
-<i> What?</i> (O que?)<br />
<br />
- <i>Was him.</i> (Foi ele). <br />
<br />
O árabe saciou a curiosidade norte-americana, apontando diretamente para o rabino que agora suava e tinha a face roxa.<br />
<br />
- O que este cara comeu? Um urubu? - perguntou o executivo, que por estar agachado, tinha suas narinas mais próximas da área de produção daqueles gases mortíferos.<br />
<br />
- Com peidos como estes, o Arafat não agüenta mais do que quinze minutos na Palestina - deixou claro o maranhense, rindo a seguir para sua esposa.<br />
<br />
- Lá eles usam gases piores que estes contra nós - enunciou o árabe que espumava de raiva e deixando antever que seu hálito não era muito melhor do que os gases expelidos pelo rabino. <br />
<br />
Orozimbo estava vendo a hora que o árabe iria partir para cima do rabino e o gringo iria achar um jeito de telefonar para seu advogado para abrir um processo contra o peidão. Mas foi o executivo paulista que tomou a iniciativa. <br />
<br />
- Peidar não! Ô de Israel!<br />
<br />
Fora uma súplica exasperada, cheia de irritação, embasada em protesto e regada ao fato dele estar possesso por não ter podido completar a sua ligação.<br />
<br />
- Chelo luim…luim! Pum! Pum! - esperneou o japonês com os dedos espremido suas narinas.<br />
<br />
- Non lo posso crer… solo en Brasil… - demonstrou desagravo o argentino que estava de terno e gravata, como todo habitante de Buenos Aires.<br />
<br />
- O gajo precisa de um copo d’água - exclamou a hospedeira se esquecendo do fato que ela não tinha uma cozinha à sua disposição no fundo do elevador como possuía no avião. <br />
<br />
- Eu sabia, eu sabia. Tudo culpa sua! - reclamou Cristina, apertando ainda mais o braço de Orozimbo.<br />
<br />
O rabino se manteve calado em total estado de enrustição, mas sabia que se desse outro daqueles cheirosos, iria sair por aquele pequeno orifício. <br />
<br />
- O Ariel Sharon deve estar pensando no muro das lamentações - comentou mal humorado o árabe -<br />
Mas se der outro peido eu te faço passar por este buraco - completou a seguir.<br />
<br />
O executivo de volta a seus pés, havia desistindo de completar a sua ligação. E agora tinha seu nariz na altura da boca do árabe e o fogo cruzado de odores o deixou tonto por alguns segundos.<br />
<br />
- Mas que merda é esta? - tonitruou demonstrando total impaciência e quase inconciência. <br />
<br />
Mas alguém estava se aproximando e isto atraíra a atenção de todos. Era um empregado do hotel, acompanhado de outro que trazia um ventilador e um rádio de pilha as mãos.<br />
<br />
- Todos ai? - perguntou o beócio.<br />
<br />
- Não. Dois saíram para ir ao banheiro, mas voltam já, - respondeu Orozimbo, cutucado por Cristina, que mais uma vez o lembrou que a culpa era toda sua de estarem na situação em que se encontravam.<br />
<br />
- Ao em vez de ficar a dizer gracinhas para o pobre do rapaz que está tentando nos ajudar, devia se lembrar que poderíamos ter descido pela escada e não estaríamos neste sufoco. Tudo culpa sua.<br />
<br />
- Aqui estão o ventilador e o radinho. O técnico já deve estar a caminho... Mas que cheiro é este?<br />
<br />
- A merda do judeu peidou - vociferou o árabe.<br />
<br />
Mas Orozimbo não se preocupou com o fato. Havia algo mais perigoso solto no ar do que aqueles bacilos fecais. Era aquele “deve” do ajudante. Conhecedor como era da indolência nordestina, Orozimbo pressentiu que aquele deve poderia ser mortal. Para sempre. Talvez segunda-feira… <br />
<br />
Domingo. Dia de jogo do Brasil na Copa. Soou qual uma sentença de morte para o Orozimbo que parecia ser o único entre os aprisionados a conhecer o psique do nordestino. Dormia com uma há 25 anos. Aquilo iria ser pior que uma tortura. O “deve” era normalmente sinônimo de “esquece negão, você sifu”.<br />
<br />
O executivo esbravejou a todo pulmão. <br />
<br />
- Se este seu ‘deve’ for mais de dez minutos eu vou arrumar um barraco neste hotel que vocês nunca irão esquecer. Tenho compromissos e não posso sequer usar meu celular. Vocês sabem quanto isto pode me custar?<br />
<br />
- Que emissora vocês querem ouvir? - perguntou um dos prestativos empregados sem se importar com as ameaças do jovem executivo.<br />
<br />
- O jogo do Brasil é claro! – exclamou o maranhense.<br />
<br />
- Mas é que existem varias emissoras…<br />
<br />
- Coloca qualquer uma, cabra da peste - ordenou a nortista apenas para acelerar o processo.<br />
<br />
Os dois empregados do hotel não tardaram a desaparecer da presença daqueles pobres dez coitados em cativeiro gasoso. Provavelmente haviam corrido para assistir o jogo na televisão. Imediatamente a voz do locutor foi ouvida. O Brasil acabara de perder um gol. Orozimbo suou frio.<br />
<br />
- Estar preso aun así tener que oír el Brasil jugar.<br />
<br />
- Que mala este cara! Até quando o Brasil vai deixar estes flagelados virem para cá? Olha aqui o meu.<br />
Cala a porra da boca ou eu não respondo por mim. - era o executivo perdendo efetivamente sua paciência e demonstrando estar louco para executar o Gardel ali mesmo. Para bem de todos e felicidade geral dos presente, o argentino mais uma vez afinou. Ele afinou e o Orozimbo cresceu.<br />
<br />
- E você tem sorte que só entrou no 5th andar. Estou agüentando este paletó desde o décimo nono. O cara não é uma mala. É uma bagagem inteira! <br />
<br />
- Não vá me criar mais encrenca. Estamos aqui por sua única e exclusiva culpa. Nunca me ouve e depois sou eu que tenho que pagar pelas suas cagadas. Você não aprende nunca - lembrou Cristina o cutucando mais uma vez a altura das costelas. <br />
<br />
Orozimbo detestava aquelas cutucadas. Ser pé frio já era dose. Mas ser lembrado diariamente do fato por intermédio de catucadas era demais.<br />
<br />
- <i>Why they did not come yet? I have a plane to catch.</i> (Porque não vieram ainda. Eu tenho um avião para pegar)<br />
<br />
- <i>Because brazilians are complet idiots.</i> (Porque brasileiros são uns completos idiotas)” - provocou o argentino.<br />
<br />
- Olha aqui o Maradona. Na tua terra, já teriam roubado o elevador para pagar a divida externa. Logo, cale a boca, escute o jogo antes que eu lhe faça sair por esta frestinha.<br />
<br />
Até a hospedeira da TAP havia concordado com o executivo paulista. O Gardel já estava passando dos limites. Orozimbo concordava. Ele e o rabino peidão estavam na marca do pênalti. E ademais o executivo era uma porta. 2,20 por 90, cercado de músculos por todos os lados. Com estas dimensões e características, ele tinha não só direito a opinião, como pleno apoio de quem quer que seja. Pelo menos ele o tinha do Orozimbo.<br />
<br />
E o radiozinho colocado piedosamente por um dos funcionários do hotel avisou pela primeira vez que o Brasil já ganhava de dois a zero.<br />
<br />
- Já está dois a zero. Gols de quem?<br />
<br />
- Não interessa de quem. Fizemos dois e isto é que interessa! - retrucou Orozimbo sorrindo para o casal maranhense, porém temeroso que agora que estava ouvindo o jogo, a coisa engrossasse.<br />
<br />
- China luim, luim. Blasil gana de 10 a zero.<br />
<br />
Aquele ruidosinho típico do peido contido mas não retido pode ser ouvido vindo da área aonde se encontrava o rabino. Veio fininho que nem a turbina de um avião quando colocada em movimento. E o odor não tardou a tomar as narinas apertadas, mas ainda presentes a aquele elevador.<br />
<br />
- Outro peido não! - exclamou o maranhense.<br />
<br />
- O Sharon se segura - ordenou o Orozimbo.<br />
<br />
- Mas um e te arranco estas meleixas - avisou o árabe em forma de ultimato, já babando de desejo. <br />
<br />
E para culminar a China quase marca.<br />
<br />
- Orozimbo, eu acho melhor pedir para desligar este rádio.<br />
<br />
- Se segura amorzinho, pois aqui ninguém sabe...<br />
<br />
- Sabe o que? - perguntou o executivo curioso com toda aquela preocupação da esposa do vara pau.<br />
<br />
Orozimbo gelou dentro de suas veias, pois, conhecia sua esposa, que respondia antes e pensava depois. Mas Cristina, pela primeira vez, conteve-se. Nada adiantaria todos ali saberem que tudo que estava acontecendo era culpa única e exclusiva de seu marido, um azarado de caderneta.<br />
<br />
O executivo estava possesso. Suava e a brilhantina que anteriormente domesticava à força os fios rebeldes da vasta cabeleira, não conseguia mais fazer o efeito esperado. O argentino, expremido contra a parede do elevador borrifava saliva para todos os lados. O árabe, possuidor da argúcia de olhos farejadores, acostumados as altas temperaturas do deserto, mostrava-se pronto para atacar. Orozimbo pode prever que em breve as víceras do judeu estariam aparentes, viscosas e putrefatas aos olhos de todos. Mas foi o executivo sulista que advertiu a todos.<br />
<br />
- Se vocês dois tentarem transformar este elevador num campo de batalha Palestino, não respondo por mim - e olhando fixamente para ambos, deixou claro que não estava brincando - Se você peidar e você abrir mais uma vez esta sua boca fétida, vou começar a distribuir porrada a torta e a direita. Entenderam?<br />
<br />
A poeira pouco a pouco voltou ao chão.<br />
<br />
- Alguém ai fora sabe quem fez os gols do Brasil? - perguntou de forma suplicante a maranhense. <br />
<br />
- Precisamos sim urgentemente são de máscaras de oxigênio. Alguém tem uma mascara de oxigênio? - suplicou Cristina que tinha certamente o mais apurado olfato entre os presentes e estava apavorada que aquele odores a pudessem contaminar. <br />
<br />
Mas a curiosidade da maranhense tinha que ser sanada o mais rápido possível, caso contrario viraria agulha de vitrola emperrada.<br />
<br />
- Alguém ai fora sabe quem fez os gols do Brasil?<br />
<br />
Nenhuma resposta.<br />
<br />
- Alguém ai fora sabe quem fez os gols do Brasil?<br />
<br />
- O Maranhão, por favor mude o disco - reclamou o executivo.<br />
<br />
- Es lo momento propicio para hacerle frente a los acontecimientos.<br />
<br />
- E o que você quer que façamos, o argentino de merda? - perguntou o executivo – Você quer que iremos invadir as Falklands, para levar aquela sova que vocês levaram dos britânicos? Que cantemos o hino argentino, para ver se esta porra despenca de vez que nem o Peso? <br />
<br />
- Alguém ai fora sabe quem fez os gols do Brasil?<br />
<br />
A agulha da vitrola realmente emperrara, mas graças a Deus, desta vez alguém a ouviu.<br />
<br />
- Roberto Carlos de falta e Rivaldo de cabeça. <br />
<br />
A voz era do mecânico do elevador que acabara de chegar.<br />
<br />
- E como estamos jogando? - voltou ela a perguntar enquanto seu marido pedia para calar-se.<br />
<br />
<br />
- Não sei madame. Estava dando show até me chamarem para consertar esta geringônça. mas que cheiro é este? Alguém morreu?<br />
<br />
- Teria sido melhor nós termos ficado em São Luiz. Lá não tem elevador e a gente estaria vendo o jogo pela televisão.<br />
<br />
O mecânico deixou claro sua abalizada opinião futebolística para quem quisesse ouvir.<br />
<br />
- Estamos jogando uma bola da gota. Os chineses não existem. Como todos estão ai?<br />
<br />
- Peidando. Se vocês não tirarem a gente daqui rápido este judeu vai sufocar a todos aqui. -era desta feita o executivo sulista que pingava dentro de sua gravata já desabrochada.<br />
<br />
Orozimbo notou mais um detalhe: executivo paulista sem poder usar seu celular e com a gravata desabrochada, não funcionava 100%.<br />
<br />
- Se aquietem. Não se avexem não, que vai demorar um pouco.<br />
<br />
Aquele um pouco é que tirou novamente o Orozimbo do sério. Ele sabia muito bem o que representava um pouco num fim de semana com um jogo do Brasil rolando na Copa. Seria no mínimo uma eternidade.<br />
<br />
- Se preocupem, não. Estamos fazendo todo o possível. Se assentem, escutem o jogo e se preocupem não. Volto já.<br />
<br />
<br />
Ele tinha ido para sempre, pensou Orozimbo. <br />
<br />
Aos 41minutos, Ronaldo recebeu um cruzamento dentro da área e cabeceou por sobre o gol. Raspando a trave como diria o locutor. Aliás, as bolas sempre raspavam a trave quando ouvidas pelo rádio. E principalmente quando o Orozimbo estava na escuta.<br />
<br />
- No mínimo passou a dois palmos - comentou o doce maranhense para a sua esposa, que só conseguia ficar emudecida em situações como aquelas. <br />
<br />
Mas faltando dois minutos para o encerramento da primeira etapa o Brasil marcou o terceiro. A dupla Ro-Ro tabelou e o "Fenômeno" foi derrubado na área: Pênalti. <br />
<br />
- Ninguém pula se for gol! - advertiu o executivo e completou antes que a penalidade viesse a ser convertida. - Não pulem que esta porra despenca de uma só vez. Estamos em Pernambuco, lembrem-se!<br />
<br />
Cristina apertou o braço do marido em pânico. Só faltava perderem o <i>penalty</i>. Rezou a todos os seus santos, para perdoarem o fato de seu marido estar escutando aquela narração. <br />
<br />
- Tape os ouvidos.<br />
<br />
- Mas querida...<br />
<br />
- Tape os ouvidos Orozimbo!<br />
<br />
Não haveria margem para discução. Orozimbo obedeceu a contragosto.<br />
<br />
Ronaldinho Gaúcho marcou. Três a zero e terminou o primeiro tempo. Que alivio.<br />
<br />
- E ai Gardel? Brasil tá dentro e a Argentina vai ter que cagar sangue com a Dinamarca para continuar na disputa - gozou o executivo.<br />
<br />
- <i>Sangue? Blood? What is going on? </i>- preocupou-se o norte-americano agora realmente aflito com o que poderia acontecer. <br />
<br />
- Chelo luim... muito luim...<br />
<br />
O gringo não só perderia o avião como também teria que ser testemunha de algo sanguinolento. Aquilo realmente não estava dentro dos seus planos. Sentiu saudades de Idaho.<br />
<br />
- <i>Do not worry is only an expression.</i> (Não se preocupe isto é apenas uma expressão)” - apaziguou a aeromoça com aquela voz típica. <br />
<br />
Porque aquelas moças sempre pensam que necessitam agir como as mãezinhas da humanidade? O que dava a elas esta vontade de achar que até num elevador teriam que acalmar os passageiros? O que aquela portuguesa entendia de elevadores?<br />
<br />
- <i>Quagarrr sangue? What is Quagarrr?</i><br />
<br />
- Cagar. <i>Attention please</i>. CAGAR. Let me spell to you. (Deixa em soletrar para você) C de Charles, A de Apple, G de Gary, A de Appel, R de Robert! Repeat! (Repita) - assumiu o executivo a tradução para o apavorado gringo.<br />
<br />
- GACAR!<br />
<br />
- Não. <i>Not Gagar. It is CAGAR With C. C of Charles, Cincinnati, Connecticut. Did you understand ?</i> (Você entendeu?)<br />
<br />
Orozimbo não conseguia acreditar naquele diálogo desenvolvido entre o executivo e o pobre americano de Idaho frente aos olhos esbugalhados de uma hospedeira portuguesa e tudo isto tendo os resquícios do peido de um judeu e o mau hálito de um árabe, com pano de fundo. O gringo que agora mais parecia uma batata, pois, além de gordo, estava pegajoso, estava a pronto de aprontar também.<br />
<br />
Mas os olhos de Orozimbo se mantinham pregados no rabino que a seu ver estava pronto para soltar outro bombástico. Pelos sons advindos de barriga roncante seria desta feita um trovão. O árabe estava pensando em emitir uma opinião mas ao ser encarado pelo executivo, manteve a sua boca fechada. Só o japona nada notava, pois até pos maranhenses passaram a sentir a gravidade em que todos se encontravam.<br />
<br />
Orozimbo tinha que pensar em algo que estancassem aquela onda de gases, mau hálito e pressão psicológica. Uma distração que mantivesse a atenção do rabino em outra coisa que não fosse o funcionamento de seu intestino. Que fizesse o árabe manter sua boca fechada e o norte-americano com os olhos fora do decote da aeromoça. E assim perguntou se dirigindo ao executivo. <br />
<br />
- Quando você entrou no elevador estavas falando de Mercosul. E ai, isto vai vingar ou não?<br />
<br />
Cristina olhou para o marido perplexa. Da onde ele tirara aquele súbito interesse por assuntos econômicos?<br />
<br />
- Como sem falar uma mesma linguagem, se o produto interno bruto do Uruguai inteiro é menos da metade do que a Cidade de Campinas? E na Argentina não há dinheiro circulante, s<i>ó pero que si, pero que no!</i> E tudo no <i>corralito</i> para receber daqui há dez anos. Dá para acreditar? O Brasil não pode agüentar tudo nas costas. Temos que dar uma banana para estas cucarachas e nos alinhar com os norte-americanos.<br />
<br />
- Não sei como vocês podem falar de economia numa hora como esta, ora pois, pois - atalhou a hospedera.<br />
<br />
- Tristinha porque ainda não conseguiu pescar o bagre <i>yankee</i>, queridinha?<br />
<br />
Ela olhou para o executivo com uma expressão lasciva. Estaria a lusitana inclinada aos prazeres do sexo ali mesmo naquele elevador? Ela abrira sua blusa e o gringo tinha agora seus olhos pregados e o nariz quase enfronhado dentro daqueles seios que quase pulavam fora no apertado algodão branco. O japonês sentiu algo tocar seus fundilhos. O norte-americano, empolgado com as formas da zona mamária da portuguesa, acabara de iniciar uma ereção e apertados como todos estavam, o pobre do japona é que levou com a rebarba.<br />
<br />
- Enlabar não. Enlabar não. <br />
<br />
E deu uma cotovelada no gringo. Outra Hiroshima não iria suportar. Mas o efeito foi dominó. O gringo refugando bateu no argentino e este acabou por espremer a Cristina que ao proteger-se da investida levou o corpo de seu marido a ir contra o do judeu que não mais pode suportar. O estrondo foi mais do que convincente. Foi cruel.<br />
<br />
O japonês, que de veado não tinha nada, arfava com violência. Logo foi o que aspirou com mais intensidade aquele gás quase venenoso. Ele ia aprontar outro <i>Pearl Harbo</i>r se o <i>red neck </i>não voltasse logo a seu estado normal de inércia sexual.<br />
<br />
- <i>What are you doing?”</i> (O que você está fazendo?). - reclamou o gringo sem entender patavina do porque daquela agressão e do porque daquele cheiro asfixiante. <br />
<br />
- Japonês não e vilado não.<br />
<br />
O tempo passou e o segundo tempo começou e o Brasil fez o seu quarto gol, mas ninguém mais parecia estar interessado no jogo, ou mesmo no resultado positivo brasileiro. Todos suavam em bicas e sofriam com os odores. Só quando faltavam quinze minutos para o término da peleja os enclausurados daquele elevador definitivamente vieram a ser liberados. Neste ínterim todos tiveram que conviver com mais três peidos do judeu e duas aberturas de boca do árabe. Mas entre mortos e feridos todos se salvaram. Intoxicados mas ainda vivos.<br />
<br />
O norte-americano perdeu o avião mas ganhou o cartão pessoal da lusitana. O executivo conseguiu fazer o seu celular funcionar e comprou as ações que despencariam dois dias a seguir. O maranhense jurou que nunca viria mais ao Recife assistir a uma Copa do Mundo. O japonês chamou a segurança para tentar prender o gringo por assedio sexual. O árabe seguiu de forma suspeita o judeu até a rua. E o Orozimbo levou o maior esporro da Cristina. Que exigiu que mudassem para o segundo andar.<br />
<br />
Mas o melhor é que durante a disputa, ninguém morreu, ninguém roubou, ninguém traiu, ninguém seqüestrou e ninguém se reuniu para protestar contra o assassinato de Tim Lopes. O único evento anormal naquelas duas horas, foram os peidos do judeu. <br />
<br />
O Brasil ganhou. Vendo mais tarde o vídeo Orozimbo tomou conhecimento que o seu herói Dada Maravilha era mesmo um profeta. Ele estava mais uma vez certo; <br />
<br />
- Ganhar da China era mais fácil do que comer macarrão.<br />
<br />
Nem pé frio podia reverter aquela situação.Friends of Hallandale Beach Clubhttp://www.blogger.com/profile/10565044858800447212noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-355405200958981661.post-77957012548398501512010-02-05T00:08:00.000-05:002010-02-05T07:32:50.860-05:00AMÉLIA ERA QUE ERA A MULHER DA VERDADEEra duro agüentar a turma daquela redação. Só tinha gozador e gente metida a intelectual. Poucos ali sabiam escrever, mas todos tinham seu público cativo. E ele como o responsável da seção de turfe, era o que mais apanhava. Pois, seu público era ínfimo.<br />
<br />
Não fora assim 20 anos antes, quando ele tinha uma página inteira a seu dispor e a granfinagem se engalfinhava para ter seu nome, ou a sua fotografia, estampada na primeira semana de Agosto, quando então era disputado o Grande Prêmio Brasil - onde até presidente da república comparecia. Os ricos lhe agraciavam com caixas de vinho francês, gravatas importadas à Itália e outros presentes. Só para ter certeza que seu nome e a foto da mulher estariam publicados na manhã de segunda-feira. Mas o turfe decresceu, o futebol tomou conta e houveram outros esportes que igualmente ganharam projeção.<br />
<br />
Imaginem alguém na década de 60 gastando meia página com vôlei e outras duas meia páginas com fórmula 1 e tênis. Quem fizesse isto teria que fechar o jornal. Hoje quem fizer ao contrário o fecha mais rápido ainda. Modernidade, como diziam os jovens chefes de seção, quase todos pálidos, cabeludinhos, de barba, sandálias de dedo, com calcanhares encardidos e saídos no ano anterior de suas respectivas universidades. Prontinho para revolucionar a humanidade...<br />
<br />
Mas a verdade nua e crua, é que ninguém mais se interessa pelos cavalos e muito menos por seus jóqueis. Foi-se o tempo do violinista Rigoni. De Pancho Irigoyen, de Oswaldo Ulloa, todos importados a peso de ouro de países vizinhos para defender as sedas dos Peixoto de Castro, dos Paula Machados, dos Seabras... Hoje nem mais de seda as fardas são feitas... Materiais sintéticos... Potrancas com crinas de anjinhos barrocos encharcadas em perfume francês... era um tempo que não volta jamais. Para se ter uma idéia, hoje, tinhamos o recordista mundial de carreiras ganhas neste planeta, que se chama Jorge Ricardo, filho de outro grande jóquei chamado Antônio Ricardo, e que teve que ir para a Argentina fazer grana, pois, aqui no Brasil os prêmios inviabilizavam que ele viesse a ganhar mais do que o beque central do Madureira. No mundo inteiro estaria milionário. <br />
<br />
Hoje, restava-lhe no jornal pouco mais que o espaço de um anúncio barato. E quando pintava o anúncio, nem espaço lhe sobrava. Mas ele mantinha a mesma qualidade de texto, embora muitas vezes o espaço a ele reservado, mal dava para imprimir o programa do hipódromo da Gávea. E evidentemente todos aqueles ricos que o pajeavam, desapareceram, assim como as caixas de vinhos, as gravatas importadas, os tapinhas nas costas e tudo mais, que um dia teve direito.<br />
<br />
Mas gostava de escrever e lançara um livro por conta própria, que nada tinha com assunto de turfe.<br />
<br />
Produção independente, como rotulavam os moderninhos da redação. Quebrara a cara. Ninguém o comprou. Afinal o pequeno público que tinha, só queria dele ler sobre cavalos e corridas. Que lhe interessavam um romance passado no Cairo? Lá, haviam camelos, não cavalos e as pirâmides na realidade estavam <i>off-broadway</i>. Ai veio aquele amigo que sempre o incentivara e disse. Você tem talento, a forma que escreve é boa. Existe humor em seu texto, sua formatação é agradável e a maneira como você expõe esta ficção histórica, agrada. O que você tem que achar é o seu público.<br />
<br />
- O grande público lê Jorge Amado pelos palavrões e Paulo Coelho pelo nonsense. Ah, ia me esquecendo, o Jô Soares porque ele tem um programa de televisão. Todos os três eram a seu ver, ótimos escritores, mas possuíam atrativos maiores para cativar público. Pelas barbas do profeta! Onde vou achar eu público, Malaquias?<br />
<br />
O amigo deu ombros. Não sabia como aconselhá-lo, mas pelo menos demonstrava boa vontade.<br />
<br />
Todo mundo daquela redação torcera contra. Onde já se viu um cara que escreve sobre um esporte que somente meia-dúzia acompanham, ter a petulância de lançar um livro de ficção histórica? Que ele pensava da vida? Nenhum de seus colegas de trabalho, alguns de 30 anos de convivência, sequer compareceram a noite de autógrafos em uma livraria da Tijuca. As desculpas foram as mais esfarrapadas. Da morte da avó a uma súbita dor de dente. E ele que tivera a pachorra de separar um grupo de livros, que não seriam cobrados, para aqueles que se dignassem a comparecer. A pilha se manteve intacta. Paciência. Todavia, isto não era o pior. Como o livro pouco apareceu em outros jornais e nenhum programa de televisão se deu ao trabalho de divulgá-lo, as vendas foram ridículas.<br />
<br />
Ridículas não, vexantes. Pois, para serem ridículas, você tem que no mínimo vender 10% da edição. E o livro vendera 32 volumes na noite de lançamento e dali para frente mais doze. Ai, ter que agüentar os comentário dos companheiros de jornal, foi ainda pior. <br />
<br />
Paulinho Sued das sociais, só o chamava de meu doce Paulo Coelho. E depois disto lhe beijava a careca. A Nilzinha Braga, da área das artes e poesia, perguntava toda semana como iam as vendas do <i>bestseller</i>. Ela que reconhecidamente dava para um dos donos dos jornais e nunca conseguira entender a diferença entre Monet e Manet. Até o pobre coitado do Josival (que nem sobrenome ninguém dali sabia) da coluna dos óbitos, o sacaneava: quando vamos ter o segundo? Era revoltante. Mas ele agüentava o pau quieto, qual um coelho amestrado. Um dia quem sabe, alguém o leria e o transformaria em um filme com Hugh Grant e Julia Roberts como ele sonhara. Mas eles fizeram o Notting Hill e seu Aconteceu no Cairo, continuava mofando nas prateleiras das poucas livrarias que se dignaram a aceitá-lo por consignação. Um desastre. E pior: uma humilhação.<br />
<br />
Pelo menos criticas não houveram, pois, nenhum dos críticos - 72 ao todo - espalhados pelas principais capitais brasileiras sequer o leu. Mas o desgosto maior foi duas semanas depois do lançamento, ver todo o seu trabalho de pesquisa e de longas horas não dormidas ser oferecido na Amazon, novo por 5 reais, quando o preço nas livrarias era de 29... Deviam ser aqueles que receberam de graça os volumes promocionais para a divulgação, mas que preferiam receber 5 reais a ter o trabalho de o abrir e o guardar em uma estante. Poucos seriam aqueles que colocariam uma obra de Oracy Coelho (dai a brincadeira do Paulinho Sued, que escrevia pior do que o Ibrahim) junto dos volumes de Ibsen, Jorge Amado, Virginia Wolf e William Faulkner. <br />
<br />
Mais eles que esperassem. Sempre haveria um dia melhor do que o outro... O que era seu, o seria por direito. E gato nenhum o iria comer. Apoio tivera apenas de sua mulher. Amélia, jazia em uma cama em processo terminal de câncer. Foi dela que veio aquela idéia maluca. Lembrava-se quando ela a teve, quando o viu chorar pelo insucesso da empreitada.<br />
<br />
- Oracy. Escreve outro, com muito palavrão, excesso de promiscuidade, sexo e principalmente com o vilão se dando bem no final. Isto é que o povo quer. Assina o livro em meu nome, pois estou no final. Tenho certeza que escritor brasileiro vende bem, só depois de morto.<br />
<br />
- Mas Amélia, isto não seria honesto...<br />
<br />
- Hoje no Brasil honestidade não enche a barriga de ninguém. E da mesma forma que você afirma que não é honesto, afirmo que não é desonesto. É apenas dúbio. E dúbio cola! Sempre colou. Veja o Lula. Se faz do povo, mas ele e o filho estão milionários com passaportes italianos.<br />
<br />
- Mulher nunca afirme aquilo que não pode provar...<br />
<br />
- Oracy, o filho do Lula era fiscal de zoológico e hoje é dono de canal de televisão, de empresa de celular e sei lá de mais o que. Acorda Oracy. O pais das oportunidades não é o Brasil. É os Estados Unidos. Aqui arruma quem estiver no poder. Saem os leopardos e entram os chacais. Você se lembra daquele filme italiano com o Burt Lancaster?<br />
<br />
- Lembro, mas não acredito que possa dar certo...<br />
<br />
- Faça-o por mim. É meu último pedido<br />
<br />
Os olhos de ambos encheram-se de lágrimas. Último era uma palavra que lhe doía ao peito. Virou-se para que sua mulher não o visse chorar. Sabia que não iria lhe furtar aquele pedido. <br />
<br />
Oracy pegou firme na labuta. Pesquisou nas páginas policiais da biblioteca do jornal, pediu ajuda ao Clemente, o responsável pela seção e montou a boneca da ação. Tendo em mente a promessa que fizera a sua mulher, que a cada dia definhava mais. Meteu palavrão, sacanagem, promiscuidade, incesto e no final de tudo a vitória do mal contra o bem. O bandido levou a melhor e fugiu para o Paraguai.<br />
<br />
Apavorou-se com o resultado final, mas mesmo assim o leu para a Amélia que fez questão de colocar mais algumas coisas que o arrepiaram. Ao final o veredicto de sua amada:<br />
<br />
- Ficou mais pesado que Rubem Fonseca. Vai ser sucesso na certa.<br />
<br />
O passo seguinte foi procurar outra editora, pois, na que editara seu primeiro livro, ninguém parecia estar desocupado quando ele ligava. Tomou coragem e deixou o trabalho assinado por Amélia Coelho, numa grande.<br />
<br />
- Minha mulher está muito doente e não pode vir aqui entregar sua obra.<br />
<br />
Os olhos da matusquela, brilharam. Talvez sua mulher tivesse razão. Escritor em estado terminal era quente. Quatro meses depois, pelo correio veio a resposta. Eles editariam o livro e precisavam de um currículo da escritora. Amélia já não mais ouvia e pouco se comunicava nos parcos momentos de lucidez. Era mantida em morfina e pela presença de Oracy sempre na cabeceira de seu leito hospitalar. Mal conseguiu assinar o contrato, cedeu a doença.<br />
<br />
Oracy se desligou do jornal. Não sentia a mínima vontade de sequer viver. E nem se preocupou em seguir de perto o andamento do livro, até que um dia alguém da editora lhe telefonou e perguntou quando e como gostariam de fazer a noite de autógrafos. Oracy só então deu a noticia que sua esposa já estava morta a dois meses. O lançamento foi um sucesso. Em Ipanema, com um retrato de Amélia ao fundo e uma mídia nunca antes vista. Colunáveis aos borbotões. Políticos alguns e principalmente a turba ipanemense e do Leblon. Saia gente pelo ladrão. 316 livros na noite de estréia e esgotamento da primeira edição em apenas seis semanas. O sadismo do livro fizera sucesso. As criticas eram altamente favoráveis. Não havia ninguém que não o quisesse adquirir. Um critico taxou Amélia de a François Sagan carioca. Não quiseram colocar do Grajaú, porque nada do Grajaú colava. E a coisa seguiu de vento em popa.<br />
<br />
Quando Oracy foi chamado para assinar o novo contrato na editora para a edição de número seis, dois anos e meio depois, pode, finalmente, ter pela primeira vez um melhor contato com aquele que era responsável por Amélia dentro da editora. Uma espécie de agente. Seu nome era Carlos. Ou melhor José Carlos Felinto de Andrade. Rapaz novo, bem afeiçoado, vindo de boa família e com formação em administração e marketing.<br />
<br />
Conversa vai, conversa vem em uma determinada hora, Carlos – como gostava de ser chamado, pois lhe detestava o José – achou que era hora de entrar naquele assunto que vinha esperando a muito.<br />
<br />
- Senhor Oracy. Há muito tenho pensado em conversar com o senhor sobre uma idéia que me veio à cabeça. O senhor teria um tempinho?<br />
<br />
- Sou todo ouvidos meu filho, pois, tempo é o que não me falta.<br />
<br />
- Vou tentar explicar de uma forma que o senhor não se ofenda...<br />
<br />
- Por favor, direto ao assunto. Esta é a forma que nunca irá me ofender.<br />
<br />
- Assim me sinto melhor. Tomei conhecimento que o senhor escreve...- Quem escreveria se tivesse algo melhor para fazer?- Esta frase é sua?<br />
<br />
- Infelizmente não. É de Byron. Li recentemente em um livro de Rubem Fonseca e entendi perfeitamente o conteúdo.<br />
<br />
Carlos cada vez mais se afeiçoa a aquele homem. Exalava integridade pelos poros, tinha extrema facilidade de expor seu ponto de vista e o mais importante de tudo: deixava a todos a sua volta a vontade. Principalmente ele.<br />
<br />
- Como você descobriu isto, se não foi colocado no currículo de Amélia? Por acaso é amante dos cavalinhos de corrida?<br />
<br />
- Fui duas vezes ao Jockey Club. Mas não foi por ai que descobri esta sua qualidade. Tomei conhecimento que o senhor, anos atrás, publicou um livro chamado Aconteceu no Cairo. E este livro na realidade vendeu pouco.<br />
<br />
- 42 exemplares ao todo. Onde você quer chegar?<br />
<br />
- Eu li o seu livro. Sou um dos 42.<br />
<br />
Oracy procurou controlar sua expressão facial. Mas era difícil à frente de alguém que se dignara a abrir seu livro e o lera. Pigarreou.<br />
<br />
- Você é a terceira pessoa que conheço que o fez.<br />
<br />
- Posso lhe dizer uma coisa extremamente pessoal e honesta?<br />
<br />
- Gostaria que não fosse de outra forma.<br />
<br />
- O livro é ótimo. Ri em seu inicio, chorei ao seu final e não consegui parar um segundo sequer de lê-lo. O fiz em uma noite. E custa-me crer que tenha vendido tão pouco. Dois a meu ver, devem ter sido as razões: falta de marketing e outra falta, está na narrativa. Como vou me expressar...?<br />
<br />
- Faltou sexo, promiscuidade, palavrões, incestos, enfim toda e qualquer sacanagem que fizeram do Os Ardentes Desejos de Isaura, um sucesso.<br />
<br />
- 72,318 livros vendidos em menos de três anos. Poucos são os autores que conseguem vender este volume...<br />
<br />
- E apenas dois Coelhos o fizeram.<br />
<br />
Carlos soltou a gargalhada. Agora tinha certeza. Fora ele que escrevera Isaura. A mesma picardia, o mesmo toque refinado em abordar as questões. Seu primeiro livro não merecia ter vendido tão pouco.<br />
<br />
Como odiava aquele mercado prostituído e manipulado por uma meia dúzia de pessoas que só pensavam em promover aos já promovidos ou reeditar os já mortos e consagrados. Olhou o velho bem no fundo de seus olhos. Não queria de forma alguma que ele se sentisse humilhado ou usado. Não era este o seu intuito. Tinha que vender a mutreta, mas de forma honesta. Ou melhor, semi-honesta. <br />
<br />
- Senhor Oracy, reeditar o Aconteceu no Cairo seria impossível e não creio que um terceiro Coelho pudesse chegar ao sucesso. Dois coelhos já são <i>enough</i>. Ou melhor...<br />
<br />
- Não se preocupe, entendo inglês, e mais do que isto, sei exatamente onde você quer chegar...<br />
<br />
- Melhor assim. Com todo respeito a dona Amélia, eu não tenho dúvidas que foi o senhor que escreveu o Isaura...<br />
<br />
-Antes que você continue quero esclarecer uma coisa. É muito importante e não creia que eu esteja a usando como justificativa para o ato pouco honesto que cometi, ao usar como pseudônimo, o nome da coisa mais importante que aconteceu em minha vida: minha mulher. Creia-me, Amélia era uma mulher suave e que nunca em sua existência foi capaz de proferir um palavrão sequer. Seria incapaz de gerar tanta obscenidade quanto a posta no livro. Mas a idéia foi dela, quando me viu alquebrado com as péssimas vendas do Aconteceu no Cairo. Ela fez a proposta. Eu recusei a principio. Ela me fez ceder, como sendo seu último pedido. Não tive outra alternativa. Escrevi, o que de mais sórdido podia escrever e li para ela. E sabe o que ela me disse - Carlos sorriu, meneando negativamente a cabeça - Ficou mais pesado que Rubem Fonseca. Vai ser sucesso na certa - Carlos soltou outra estrondosa gargalhada - Quantas anomalias como o Isaura vocês irão necessitar?<br />
<br />
- O ideal seriam quatro. Mas talvez quatro seja demais...<br />
<br />
Oracy coçou a cabeça. Já não lhe sobravam sequer um fiapo de cabelo. Eles haviam ido como Amélia e tudo que tivera de bom em sua existência. Inclusive seu nome como escritor.<br />
<br />
- Vamos fechar em três, pois, confesso que mais do que isto eu prefiro o suicídio.<br />
<br />
Carlos voltou a gargalhar pela terceira vez. Oracy era um senhor envolvente e Amélia certamente deveria ter sido uma pessoa especial. Lembrou-se de seus pais e isto o fez esmorecer. E tão logo, que conseguiu controlar-se, assumiu aquela sua máscara diária, a de uma séria postura profissional.<br />
<br />
- Três está de excelente tamanho. Obras póstumas de manuscritos achados no porão de sua casa.<br />
<br />
Sua voz falseou em sua últimas palavras. Incerto se o sarcasmo havia sido bem colocado, numa situação delicada e que deveria ser tratada com tal.<br />
<br />
- Os manuscritos estavam em excelente estado e eu relutei bastante em liberá-los, depois que os achei no porão, pois, eram livros que não tinha certeza se Amélia os queria publicar.<br />
<br />
- Soa muito bem seu Oracy e desculpe se possa ter me excedido ...<br />
<br />
- Você nada tem que se desculpar. Tenho certeza que Amélia apoiaria esta nossa pequena traquinagem.<br />
<br />
- Como o senhor mesmo diria, não poderia ser de outra forma.<br />
<br />
O rapaz além de bem educado sabia como lidar com situações delicadas. Merecia estar na posição que ocupava. Ascendeu levemente com a cabeça.<br />
<br />
- E é claro que isto fica entre nos dois.<br />
<br />
- Não haveria de ser de outra forma.<br />
<br />
Carlos se sentiu aliviado. A faixa vermelha fora ultrapassada e cada vez mais ele admirava aquele velho homem à sua frente. Para muitos o senhor Oracy poderia representar desilusão. Para ele apenas uma luz que se esvaía.<br />
<br />
- O lado triste desta posição é que isto automaticamente implica que o senhor não poderá escrever mais nada assinando em seu nome...o que para mim é uma perda para a nossa pobre literatura nacional.<br />
<br />
- Como você bem posicionou anteriormente, não existe lugar para três coelhos na literatura brasileira.<br />
<br />
- E dois deste coelhos poderiam ser reconhecidos se juntados em uma mesma cartola. Como eu reconheci, outros tranquilamente o poderiam fazer.<br />
<br />
- Acho muito difícil, mas não lhe tiro a razão.<br />
<br />
Era necessário alertá-lo.<br />
<br />
- Algo me preocupa senhor Oracy. O senhor ainda tem alguns dos exemplares do Aconteceu no Cairo em prateleiras e acredito que um armário inteiro em sua editora. Penso que deveríamos...<br />
<br />
- Não mais.<br />
<br />
Os olhos de Carlos arregalaram-se.<br />
<br />
- Como não?<br />
<br />
- Amélia me convenceu a comprar todo o lote da editora antes de trazer nosso manuscrito para o parecer de seu conselho editorial. Venderam para mim o Aconteceu no Cairo pela metade do preço de custo, simplesmente para ganhar espaço de estocagem. Amélia pensava em tudo. Mesmo com seus dias contados...<br />
<br />
Carlos sentiu que Oracy iria começar a chorar. Levantou-se e indo as costas de seu interlocutor levou suas mãos aos ombros do mesmo. Fez uma ligeira pressão e complementou:<br />
<br />
- Senhor Oracy, tenha certeza de uma coisa. O Mário Lago é que sempre esteve certo. Amélia sempre foi a mulher de verdade...<br />
<br />
<br />
- O Mário era gênio, Carlos. Um gênio... - comentou ele não conseguindo mais conter suas lágrimas.Friends of Hallandale Beach Clubhttp://www.blogger.com/profile/10565044858800447212noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-355405200958981661.post-48219534592231034342010-01-29T03:01:00.000-05:002010-01-29T09:09:35.623-05:00NÃO ME DEIXE MAL, Ô PHILOMENA<div style="text-align: justify;">Sentiu em resposta a seu convite, um olhar cítrico. Como podia alguém encarar um outro ser humano como se suas pupilas fossem limões? Ficou estupefato.<br />
<br />
Desta vez com o fato de alguém, como ele, ainda ser capaz de usar o termo estupefato. Controlou sua vontade de rir. Ela poderia encarar como um deboche ante a sua negativa. Estupefato... Talvez fosse esta a razão que aquela menina não fosse com ele para a cama. Pertenciam a séculos distintos. Quem sabe a raças distintas. Pouco se importou. Estava bêbado e aos bêbados tudo é válido. Até mijar em suas próprias calças. </div><div style="text-align: justify;"><br />
Instintivamente desceu seus olhos em direção a brarriguilha de sua bermuda. A coitadinha fez o mesmo, talvez imaginando ser ele um tarado. Seu membro continua lá, quieto, encolhido que nem uma couve-flor, embora minutos antes tivesse tido efêmeros instintos de tomar-se de uma barroca excitação. Tão logo, aquela colombina suburbana sentara-se a seu lado naquele balcão do bar. </div><div style="text-align: justify;"><br />
Seria a fantasia dela de colombina? De deusa do mares do sul? Ou quem sabe o último pássaro do paraíso? Não saberia como definir. Isto também pouco o importava. Ela chegara, ele se excitara. Ela pedira uma vodka, ele se oferecera, imediatamente, para pagar-lhe o drinque. Ela sem agradecer recusou, ele a convidou para irem para a cama. Ela soltou aquele olhar cítrico, ele conferira o estado em que se encontrava sua bermuda. Felizmente não se mijara, como de outras oportunidades.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Era diabético e uma das coisas que atacam os diabéticos é aquela vontade eterna de mijar. Quando menos se espera vem aquela dor fininha e se um banheiro não estiver em seu raio visual de ação, o membro pinga, pinga, pinga até que jorra sem que você o possa controlar. Uma merda. Logo, ele um cara tão cônscio de sua aparência, tão vaidoso com as roupas que comprava.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Eu me encanto, com o canto, deste recanto e por isto canto... – rima barata, mas fora o que melhor lhe veio a cabeça.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Levantou seus olhos e notou que ninguém lhe dera bola. Isaías enxugava um copo. Era o que todo <i>barman</i> fazia, quando nada tinha a fazer. A menina engolia de uma só vez o liquido transparente de seu copo. Era uma profissa. Só profissionais bebiam daquela forma. Se não o fosse, acabara de ser traída. Mulher quando se sente traída faz coisas muito estranhas. Adalgisa se masturbava. Carmem trancava-se no banheiro e chorava até não haverem mais lágrimas a escorrer. Gildinha emudecia. Norma agia qual uma pedra: mantinha-se imóvel e dura. Eleonora procurava o primeiro homem para dar. Gertrude cantava uma ária de Aída. Eneida lia a Iliada. Mas aquela parecia se contentar em beber. Talvez fosse apenas um alcoólatra. Uma profissa alcoólatra que acabara de voltar de algum baile de carnaval de mãos vazias. Perdera a noite.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Isaias, coloca mais um para mim. Mas exagera...</div><div style="text-align: justify;"><br />
Porque todo homem que trabalhava atrás de um balcão de bar tinha nome de profeta? No final da rua, no Mal Cheiro, o rapaz se chamava Moisés. Teria sido Moisés um profeta? Não tinha certeza. Sabia apenas que recebera os mandamentos em condições até hoje não muito bem explicadas. Matou seu patrão, abandonou o Egito levando com ele a sua tribo, abriu um rio, em condições igualmente não muito bem explicadas e morreu sem chegar a terra prometida. Uma terra prometida, mas sem petróleo. Pobre promessa. Viveu 120 anos e nunca conseguiu chegar a Israel. Não devia ter muito senso direcional. Ou bebia que nem ele. </div><div style="text-align: justify;"><br />
- Me dê uma outra vodka - ordenou a menina, com uma voz rouca de tenor de ópera bufa.<br />
<br />
Tinha decisão em seu pedido. Isaías obedeceu. Esta era a sua função, obedecer. Tinha que aturar bêbados, escutar suas histórias e no final lhes dar a conta. E depois de tudo, pegar um ônibus para o Méier. Não era um profeta. Era um santo.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Olhei para a suburbana. Ela tinha cara de suburbana, jeito de suburbana e bebia qual uma suburbana. Tinha vastos peitos, braços fortes e cílios postiços. Fumava e bebia e estes não pareciam ser seus únicos vícios. Suas mãos e seus pés eram maiores que a média. Perdera uma sandália e sua meia, que mais parecia uma rede de pescar, tinha dois furos aparentes. Suas unhas estavam pintadas de um vermelho quase escarlate. Algumas descascadas. Mas ela parecia não se importar. Agia qual Cleópatra. Só lhe faltava o Egito.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Não sabia o que o atraíra. Talvez a indiferença. Quem sabe aquela sua cor brasileira, café com leite. Mas para café, do que propriamente para leite. Talvez se sóbrio estivesse, não houvesse havido uma atração sequer. Ereção nem pensar. Mas num domingo de carnaval no Rio de Janeiro, duas coisas tinham que ficar claras: primeiro é impossível se estar sóbrio e segundo, todo peixe que caía na rede parecia apetitoso, principalmente a aquela hora da manhã.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Me faça uma caricia, não tenha malicia, me deixa entrar...</div><div style="text-align: justify;"><br />
Consultou seu relógio. Eram oito e quinze da manhã. A aquela hora da manhã ninguém o deixaria entrar. Não dormira. A zinha com certeza que também não e o Isaías muito menos. Na atual crise, os bares ali daquela área da zona sul se mantinham abertos, tentando faturar cada centavo que lhe caísse sobre o balcão. O Jóia não podia ser exceção. Ele era o ponto de concentração do bloco Suvaco de Cristo. Na verdade colocara a rua Faro no mapa. Uma rua pequenininha que ligava nada a porra nenhuma. Que nem viaduto em cidade pequena do nordeste. Será que a menina estava a espera do desfile? Era cedo. No mínimo quatro horas para os primeiros foliões começassem a chegar. Foliões... será que alguém ainda usava aquele termo? Soava como estupefato. Antediluviano. Tudo produto de sua terminologia pré-histórica. Tinha pouco mais de quarenta, agia como tivesse sessenta e em aspecto parecia ter oitenta. Pelo menos naquela madrugada, em que fora colocado para fora de casa. </div><div style="text-align: justify;"><br />
Está certo que a casa não era sua. Era de Adalgisa, que devia estar se masturbando. Mas quem mandou voltar de sua viagem antes da hora? Fora para a Bahia. Durante semanas lhe mostrara acintosamente os <i>tickets</i> aéreos e a reserva de hotel. E em menos de 48 horas, ficou atacada pela saudade e voltou. Voltou e deu com a Carmem de quatro sendo por ele possuída, na cama de sua avó. A cama e a avó eram de Adalgisa. E o pior vexou-se com a resposta que dera. Mas o que ela poderia esperar? Ele estava tendo com Carmem uma relação anal e ela lhe perguntara ao escancarar a porta o que estava eu fazendo. O que poderia responder: comendo o cu da Carmem!</div><div style="text-align: justify;"><br />
Foi um Deus nos acuda. Carmem correu para o banheiro para debulhar-se em lágrimas, ciente agora que aquele não era o seu apartamento e sim da mulher que lhe sustentava. Adalgisa lhe sentou a frasqueira nos cornos e ele com as poucas peças que pode recolher desceu as escadas do prédio nu, em fuga desabalada. Imaginem uma mulher que ainda usava frasqueira se indignar com um coito anal. Há de se convir que o anus não era dela, mas a cama, o apartamento e o amante o eram. Talvez esta fosse a razão de sua ira.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Na rua, em um final de noite onde todos pareciam se divertir ele refugiou-se naquele bar. Não tinha um puto sequer no bolso, mas o Isaías, como todo homem com nome de profeta, era generoso. O conhecia e o serviria fiado. Mais tarde, com os ânimos apaziguados, ele faria as pazes com a Adalgisa, reaveria seus pertences e saldaria a divida. Se assim não o fosse, existia a Gildinha, que já devia ter lhe perdoado de sua traição com a prima mineira, a Eleonora. Quem sabe a Norma que aceitava qualquer desaforo. E gertrude, que de há muito não encenava uma ária...</div><div style="text-align: justify;"><br />
Que culpa tinha ele, se as mulheres se encantavam com sua forma de ser. Mamãe passou açúcar em mim... Como não trabalhava tinha tempo de as cortejar... Será que existia gente que usava a palavra cortejar? Meu Deus. Ele estava parado no tempo e no espaço!</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Vou voltar, sei que ainda vou voltar, para o meu lugar... – será que a Adalgisa seria da mesma opinião? Dificilmente nas próximas 24 horas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Mais um Waldercy?</div><div style="text-align: justify;"><br />
Ele olhou para o doce e impávido profeta.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Se meu crédito ainda estiver bom.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Isaías serviu mais uma dose de whisky. Desta vez caprichada. O liquido dourado foi até o gogó daquele copo, que fazia parte de sua vida naquelas últimas oito horas. Com certeza os dois casais de paulistas sentado a mesa do fundo pagariam pela diferença. Foi isto que sentiu com a piscada de olho do velho companheiro de noites mal dormidas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Como alguém pode se chamar Waldercy?</div><div style="text-align: justify;"><br />
A voz rouca lhe fez sentir quem fora a mentora daquele comentário.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Sentou-se melhor no banco e conseguiu ter uma melhor visão daquela que agora lhe dirigia a palavra. A profissa alcoólatra. Não valeria a pena perder tempo em explicar para aquela desmiolada que quando sua mãe de chama Dercy e seu pai Waldemar, é melhor se chamar Waldercy do que Dercywal.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Porque Daniela? Você não gostou?</div><div style="text-align: justify;"><br />
Os olhos da víbora tornaram-se incandescentes como os de Norma, quando tomou conhecimento que ele estourara com seu cheque especial.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Quem lhe disse que me chamo Daniela? </div><div style="text-align: justify;"><br />
Tratava-se de uma profissa, alcoólatra e completamente destituída de massa cefálica. Perfeita para a ocasião.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Ninguém, para dizer a verdade. Porém, eu diria que toda suburbana metida a besta tem nome cafona. Nome de miss. Daniela, Monique, Adalgisa. </div><div style="text-align: justify;"><br />
Ela o encarou no fundo dos olhos. O álcool já lhe tomara os sentidos. Porejava em sua testa e uma fina baba de saliva lhe escorria nas laterais de seus lábios, que agora pareciam dois borrões de um antigo vermelho. Ela não era feia. Não chegava a ser bonita. Resumindo, servia para o gasto. Mas era dona de trejeitos estranhos. Seu peito arfava, suas mandíbulas tremiam e seu nariz parecia iniciar aquele processo de expelir fogo. Talvez fosse um dragão.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Suburbana é a vaca da tua mãe.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Era afiada na língua, só esperava que o fosse também na cama. Era degluti-la e colocá-la em um taxi.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Por incrível que pareça, você acertou. Minha mãe era uma ruminante que morava em Ramos. Logo, suburbana que nem você. Tu é do ramal da Central ou da Leopoldina, ô Monique?</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Monique é o scambal, seu velho nojento. Moro aqui na Gávea. E tenho nome de pedra preciosa.<br />
<br />
Devia fazer ponto na porta do Flamengo ou das Sendas e chamar-se Esmeralda.</div><div style="text-align: justify;"><br />
- O papo está muito bom, mas tenho o que fazer. Entendi, que uma trepada nos próximos minutos está totalmente fora de cogitação?</div><div style="text-align: justify;"><br />
Enfureceu-se. De pé, Daniela, Monique ou o nome pela qual atendesse parecia ser bem maior do que sentada e sua mão espalmada em direção a seu rosto, tinha a mesma forma e circunferência de uma raquete de frescobol. Como Bush, ele conseguiu se desviar daquela tabefe e esperou pelo segundo sapato. A suburba se equilibrou novamente, e agora mais perto tentou acertá-lo, desta feita, com a mão cerrada.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Quarenta anos de zona sul do Rio de Janeiro, equivalem a 150 anos de zona norte. Com um passo atrás baixando a cabeça, apoiando sua mão esquerda no banco que antes sentara, ele lançou sua perna rasa em um movimento rápido. Com um leve toque, fez a menina ir ao chão. Era o famoso rabo de arraia que tantas vezes o salvara no desfile do cordão do bola preta e o fizera famoso nas rodas de capoeira.</div><div style="text-align: justify;"><br />
O baque foi firme e surdo. Qual uma melancia que rolara da mesa onde estava postada. Caída seus olhos se tornaram mais arregalados. Parecia não estar acreditando o que o destino lhe reservara. Estava bêbada, abandonada e no chão. Derrubada por um bêbado de bermuda descamisado, que mais parecia um pedinte na estação da central do Brasil.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Ela tentou se levantar, mas o índice etílico a impossibilitou de levar avante seu desejo. Sua expressão se tornou turva. Como se estivesse acabado de ter um choque anafilático. </div><div style="text-align: justify;"><br />
Isaías, como todo bom samaritano, veio em seu auxílio. Ele conhecia a noite e os freqüentadores de seu bar. Existiam gente de bom caráter. Gente de mal caráter e o Waldercy, que não era dotado de caráter algum. Waldercy, era gente boa, mas quando bebia se excedia. Mas a menina não facilitara as coisas e ainda por cima era pesada. O pobre do Isaías franzino do jeito que desajeitado deste pequenininho, bem que tentou. Mas foi impossível. A mulher era forte e estava encharcada de álcool. E desta forma, ele foi ao chão. Dois corpos no assoalho frio e viscoso.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Os dois casais paulistas se levantaram. Não estavam acostumados a aquelas cenas de pugilato, bem tipo de cariocas. De fininho deixaram o recinto, sem antes jogar sobre a mesa algumas cédulas surradas. Recinto, nunca conseguira se afastar do seu linguajar de delegacia. Com certeza os indivíduos estavam a caminho de suas respectivas viaturas. Coisa de delega. Riu ao lembrar da cara do delegado Nicanor, quando o expulsou da corporação depois de tomar conhecimento que sua filha virgem e freqüentadora do Sacre Coeur de Marie, estava dele grávida. </div><div style="text-align: justify;"><br />
Duas pessoas que passavam pela rua, diminuíram o ritmo de suas passadas para entender o que estava acontecendo naquele bar. Um mulher grande e um homem pequenos deitados no piso, um sobre o outro. Não conseguiam a chegar a um ponto comum. Coisa de carnaval, devem ter pensado, pois, seguiram, logo a seguir, o seu caminho.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Este é o grande retrato da zona sul do Rio de Janeiro. Eu tô na minha. Tu fica na tua. E assim estamos na nossa!</div><div style="text-align: justify;"><br />
- Não me deixe mal ô Philomena, pois isto não vale nunca a pena, deixa de lado esta sua cena e ... </div><div style="text-align: justify;"><br />
A suburba havia desmaiado e o pobre do Isaías não a conseguia içar. Por segundos, teve a nítida impressão de estar assistindo ao capitão Ahab tentando fazer o mesmo com Moby Dick.</div><div style="text-align: justify;"><br />
Parou de cantarolar mas não voltou a se sentar. Muita água ainda haveria de rolar. Pegou o copo, olhou para aquele whisky que lhe deixava ver através. Nada viu. Bem que tentou. Fechou então os mesmos e engoliu o liquido de um só vez. Ele desceu mais morno que os anteriores e sua garganta agradeceu o gesto. Colocou o copo sobre a mesa e foi dar na rua. </div><div style="text-align: justify;"><br />
- Não me deixe mal ô Esmeralda, pois isto pode derrubar a calda, e com isto molhar a sua fralda ...<br />
Espreguiçou-se. Aquele seria um longo carnaval.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: right;">Renato Gameiro</div>Friends of Hallandale Beach Clubhttp://www.blogger.com/profile/10565044858800447212noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-355405200958981661.post-986387648285790312010-01-15T00:07:00.000-05:002012-07-03T19:41:41.727-04:00BELINHA A FRATULENTA<div style="text-align: justify;">
Pirilo e Belinha eram casados há pouco tempo. Para ser preciso, há sete meses, quatro dias e pouco mais de 12 horas, levando em consideração a hora exata em que o Pirilo deu o sim. Belinha mantinha este números em sua cabeça e os <i>update</i> todos os dias. Quem diria! O velho Pirilo, finalmente, sossegando o facho…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Belinha Castenheda era magrinha, quase raquítica, abstinha-se de carnes, gorduras, carboidratos, qualquer coisa que tivesse sódio e salgados. Vegetariana por convicção tinha ainda verdadeira obsessão pela higiene bucal. Todos os dias ela escovava a língua após as refeições e a esterilizava pelo menos uma vez por mês. Trocava de escovas de dentes, de 15 em 15 dias, tal o uso que fazia delas e gastava 2,3% de seu salário em fios dentais e líquidos coloridos para gargarejo e matança de possíveis bactérias que escapassem ao poder da escova e ao criterioso crivo do fio dental.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“A boca é o maior foco de infecções” - dizia ela a suas amigas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Belinha era tão Caxias, que quando ainda noivos, em mais de uma oportunidade esquecera de levar as camisinhas para o fim de semana na praia. Pirilo sofrera. Mas em compensação, nunca deixara para trás a escova de dentes, o fio dental, os três tipos de dentifrícios e o desodorante bucal. Nos restaurantes, entre a entrada e o prato principal, ela ia ao banheiro para escovar os dentes e antes da sobremesa, voltava para dar uma nova passada de fio dental. Detalhe e organização eram pontos fortes em sua personalidade. Tratava a vida como um teclado que tinha que ser minuciosamente dedilhado devido a sua rígida formação musical.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pianista que começou os estudos no instrumento em sua cidade natal, Recife, com Waldemar de Almeida, ela já havia representado o Brasil no Concurso Internacional Frédéric Chopin e, por isso, recebera uma bolsa de estudos em Varsóvia, para completar sua formação. Foi, exatamente ali, que se tornou vegetariana, mais pelo alto custo dos alimentos e por causa das filas às portas dos açougues existentes na era comunista, do que, propriamente, pela necessidade de limpeza do organismo. De volta ao Brasil, dois anos depois, no entanto, essa passou a ser sua meta. Tornou-se vegetariana.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O Pirilo, menino bonito da Tijuca, mantinha uma razoável higiene bucal, embora seu apreço por esse item não fosse tão espartano quanto o de sua jovem esposa. Em contrapartida, embora não aderisse ao vegetarianismo, cuidava demais da dieta e do corpo. Malhava de três a quatro horas por dia, após o trabalho, e corria cinco quilômetros muito cedo pela manhã, antes mesmo de pegar no batente. Era conhecido na Praça Saens Pena como, o maratonista. Não fumava, nunca colocara uma gota sequer de álcool na boca e era avesso a frituras. Gostava de vez em quando de uma carninha, mas tinha que ser na grelha sem óleo, com batatinha sequinha, quase esturricada. Bem ao gosto da Belinha. Um atleta em potencial.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pirilo, ao contrário de Belinha, não era um erudito. Preferia o chope ao Chopin. A única mania que cultivava era o desenvolvimento do corpo e por isso mesmo, trabalhava como assessor da gerência de vendas em uma grande multinacional. Sua empresa vendia vitaminas que atrofiavam o cérebro e os testículos, mas que faziam os músculos masculinos saltarem das pernas e dos braços e tornavam os corpos femininos, masculinos. Entretanto, a diversidade de formação e gostos de maneira alguma tornara-se um impasse para que aquela relação prosperasse e se tornasse sólida. Nos fins de semana, os dois passeavam de mãos dadas, iam à praia, ao cinema, tomavam refrescos no mesmo canudinho e dificilmente discutiam. Pareciam almas feitas uma para a outra, como Adão e Eva antes da maçã, ou mesmo a outra Eva e Juan Domingo Peron antes da primeira discussão a respeito de uma futura partilha de bens. Não havia ninguém em seu círculo de amizades que pudesse supor, que um dia eles, iriam se separar. E, o pior de tudo, num divórcio litigioso e mau cheiroso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“O Pirilo? Meu Deus, parece cego pela Belinha. Chega até a ter nojo de mulher. Só fala da Belinha. É Belinha para aqui, é Belinha para acolá. Se tornou um verdadeiro babaca! Tem urticária só de pensar sacanagem!” - comentava indignado o Afrânio, seu antigo colega de farras nas noites cariocas e hoje seu superior imediato na empresa em que trabalhavam no centro da cidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“A Belinha mudou também da água para o vinho. Antes parecia até lésbica. Não se interessava por homem algum, só tinha partituras na cabeça e, sempre que era cortejada por alguém, tremia e pulava fora apavorada. Tinha medo de pênis como o diabo da cruz. Agora não fica duas horas sem trepar com o Pirilo. Parece uma gata ninfomaníaca. Olha como eles não conseguem ficar sem roçar um segundo sequer um no outro” - reclamou Miriam com dor de cotovelo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela dava mais do que chuchu na serra, mas ainda mantinha-se solteira, enquanto aquela desenxabida de sua amiga arrumara um cara lindo e disputado como o Pirilo. Logo o Pirilo, que ela sempre desejou e nunca a possuiu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Eu acho que amor é pele. Esses dois têm o chamado da pele. Do cheiro, do sabor, do tato. Veja como não conseguem largar as mãos. Chega a ser doentio. Quando se beijam, juntam as amídalas. Elas dão um nó! Observe como ele está a toda hora levantando aquela franjinha que cai na cara dela. Que escrotidão. Logo o Pirilo, que era conhecido por bater em mulher. E ela não pára de cheirar o cangote dele. Que atração!” - esse foi o comentário do Arruda que, no verão, como a árvore homônima, ficava vermelho com listras escuras, principalmente quando era testemunha ocular das cenas românticas entre Belinha e Pirilo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Não sabia que você era epidemiologista” - contemporizou Rabelo tentando não demonstrar rancor. Logo o Rabelo, que tinha cabelo em todos os lugares e por isso nunca conseguira ir adiante em seus galanteios com a Belinha. Seu colóquio unilateral se transformou, numa incompatibilidade epidérmica.</div>
<div style="text-align: justify;">
Enfim, como qualquer relação perfeita e harmoniosa, tinha todos os amigos em volta torcendo contra. Era bom demais para se suportar. Chegava a dar caspa o simples fato de contemplar a felicidade daqueles dois.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Perfeição demais, para mim, dá câncer” - sempre fora a teoria do Rabelo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Coisa tão certinha acaba em monotonia. Olha como ela está magrinha, alquebrada, melancólica como nas garras da tuberculose” - replicava Miriam.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“É tudo para inglês ver. Aposto como, na cama, é cada um para seu lado. Ela só pensa em asseio e ele em desenvolvimento muscular. Ela sonha com um piano, ele com um halteres. Não dou mais um mês para eles se separarem” - deixou claro o Arruda, com aquela certeza granítica de militar no poder.</div>
<div style="text-align: justify;">
“Cama? Ela não agüenta cinco minutos com o Pirilo. Ele a verga em duas” - voltou a opinar o Rabelo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Vocês disseram isto há mais de dois meses e eles ainda estão por aí inteirinhos e apaixonados”. - lembrou Miriam.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Um halterofilista e uma pianista, como isso poderia dar certo?” - perguntou em voz alta, meneando a cabeça consternado, o Rabelo que de tão transtornado já estava falando sozinho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Existe tanta harmonia que, no dia em que esses dois resolverem brigar, vai ser uma só! E cada um para o seu lado” - vaticinou o Afrânio que tinha fama de ser um profeta, pois, um dia acertara o América contra o Flamengo em sua loteria esportiva.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tanto a turma agourou que um dia a coisa aconteceu. Evidentemente, com um empurrãozinho do despeitado do Afrânio. Foi numa festa na casa do chefe do Pirilo, o Pereirinha, na Barra da Tijuca. Ou melhor, na mansão do Pereirinha, porque aquela casa era maior do que o estádio do Botafogo. Está bem que ser maior que o do Botafogo não era muita vantagem. Mas, com certeza, a mansão do Pereirinha regulava com as Laranjeiras. A princípio a Belinha não estava querendo ir. Torceu o narizinho afilado. Comer fora de casa era coisa que ela não gostava de fazer. Mas o Pirilo insistiu tanto que ela acabou cedendo. Afinal, não havia ainda aprendido a dizer não para o seu Fofó.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Você sabe que sou vegetariana.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu sei disso muito bem, meu bombom de coco-bingolê.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela adorava aquelas escorregadelas que o marido dava ao relembrar seus quitutes favoritos do tempo de férias de infância no Ceará. Porém a situação ainda lhe parecia nebulosa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Vou acabar não comendo nada e vão me chamar de antipática, de esnobe, até de desmancha-prazeres. Você sabe disso. É sempre assim. Lembra-se lá na casa do seu amigo Arruda?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Esqueça o Arruda. Na casa do Dr. Pereira é diferente. O homem é podre de rico e a mulher dele também é magrinha. Deve haver umas chicórias, beterrabas e quem sabe até uma berinjela daquelas que você adora.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os olhinhos de Belinha estavam dando voltas nas órbitas. Aquilo era tudo o que ela queria. Chicória, beterraba, berinjela, que maná! Tudo como em Varsóvia...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Será que eles não têm pamonha, tapioca, humhumhumhum…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Belinha vinha lá de cima do Brasil, já estava no Rio de Janeiro há mais de dez anos, mas nunca conseguira se afastar em forma definitiva dos hábitos alimentares de sua região. Quando via uma acerola, uma serigüela, um inhame-gudu ou um jerimum-paranapuçá, entrava em êxtase. Era melhor que sexo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Essas coisas eu não garanto, meu bombomzinho caramelado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Nãoimporta. Por você sou capaz de qualquer sacrifício, meu Fofó”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Obrigado, minha serigüela amazônica.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Meu sorvete de gengibre.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Minha baba-de-moça.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Meu jerimum-paranapuçá.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E completaram a cena, juntando como sempre os narizes e se beijando qual esquimós. E assim foram, felizes e fagueiros para a Barra da Tijuca. A felicidade era tanta, que a sorte os seguia, e conseguiram passar pelo Vidigal, sem que uma bala perdida os encontrasse. Mas na festa, para o desespero da Belinha, não havia raízes, vegetais e muito menos produtos macrobióticos. A mulher do chefe do Pirilo podia até ter sido magra um dia. Hoje, porém, parecia mais um cubo. E as razões estavam sobre a mesa: carnes, frituras e molho para tudo que era lado. Belinha franziu o nariz, entortou os beiços e, olhando para seu jerimum que não parecia naquele momento tão paranapuçado, reclamou:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Já senti que não vou ter o que comer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Desculpe, meu jasmim. Nunca poderia imaginar que, com uma mulher magra como a que tem o Pereira, não pudesse ter umas verduras na grelha ou um arrozinho integral.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Você acha que ela é realmente magra, Fofó? Para mim, ela deve tomar remédios para emagrecer, pois a vi minutos atrás devorando uma costela de porco com uma caneca de chope. A mulher parece um cubo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não é possível. Não posso crer. Era tão magrinha. Deve estar grávida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O Pereirinha se aproximou do casal que se mantinha até aquele momento a um canto e, ao ver seu funcionário com a linda esposa, ambos de mãos abanando, ordenou de forma veemente:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Vocês dois aí. Não vão me fazer cerimônia a esta altura do campeonato. Isso aqui é uma casa portuguesa com certeza e, como tal, não comer é um insulto imperdoável. Igual a xingar a mãe. Aqui estão dois pratos. Quero vê-los cheios. O Afrânio me garantiu que vocês dois comem de tudo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sempre o Afrânio! Aquele sem-vergonha, balofento, putrefato, fétido, pestilento do Afrânio, pensou a Belinha sem dizer nada, mas olhando para seu jerimum com a cara fechada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aquilo não iria ficar assim. E o Pirilo tinha consciência, que cabeças iriam rolar. Mas se conteve. Ele sabia que o Afrânio adorava pregar aquelas peças e, de vez em quando, pegava pesado demais. Na verdade, irritar a Belinha era um de seus passatempos prediletos. Mas apelar para aquilo também já era demais. Principalmente à frente de seu chefe. Ele iria à forra, mais cedo ou mais tarde.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Vamos até a mesa, embromamos e fingimos que comemos - cochichou ela tentando manter a calma. Pode deixar que o Afrânio me paga.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela voltou a sorrir. Nada como ter um marido que, além de apaixonado, era um companheiro e tanto. Capaz de ir contra o melhor amigo de infância, e agora seu superior imediato, em sua defesa. Era realmente uma mulher de muita sorte... Mas junto da mesa, seu estômago embolou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não consigo ver nada que dê para, pelo menos, embromar. Só de imaginar estas coisas gordurosas no interior de meu corpo, já sinto náuseas. Se comer, é impaludismo na certa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pirilo concordou com a cabeça. Quem escolhera aquele menu tinha preferências escandalosas por uma morte breve e dolorosa. Naquela mesa havia mais gordura que na cintura da Wilza Carla, pensou o Pirilo que quando ainda muito jovem, teve uma queda pela vedete quando a mesma ainda era magra e fazia parte das certinhas do Stanislaw Ponte Preta. A posterior obesidade da citada, o havia traumatizado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Foi mamãe que bolou e preparou toda esta comida. - e dizendo, o Pereirinha se afastou para receber outros convidados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ôche que sorte - comentou Belinha que ansiava que o anfitrião não tomasse conhecimento da embromação que ela iria aprontar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pensamentos escabrosos passaram a seguir pela mente de Belinha. Tais como, quem poderia ser a mãe do Pereirinha. Uma bruxa agourenta? O que aqueles venenos seriam capazes de fazer a seu estômago? Mas ela tinha que se controlar. Xô stress, xô stress...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Notando a preocupação estampada na face da esposa, Pirilo deu força:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Güenta firme, meu quindim. Comida não dá febre amarela. Que tal uma batatinha?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Aquela ali? Deus o livre! Está empaçocada em óleo. Olha que coisa pegajosa. Eca!</div>
<div style="text-align: justify;">
- E essas alfaces…?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ôche! Você sabe muito bem que eu não como alface fora de casa. Acha que as pessoas se preocupam em lavá-las como eu? Tenho um medo da gota que não as tenham lavado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E o ovo? Pelo menos está cozido.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Vigê Maria! Você acha que eu sou mulher de comer ovo, Pirilo? Tá me desconhecendo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Belinha o chamara pelo nome. Aquilo era um mau sintoma, pensou ele, engolindo em seco. Em que enrascada o Afrânio o colocara! Não custava nada ele ter dito para o Pereira que a Belinha era vegetariana e uma batata cozida e um arrozinho integral já estariam mais do que suficiente para saciar a fome daquela canarinha nordestina. Ela tinha o estomagozinho de uma cambaxirra. Qualquer verdurinha lhe satisfazia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aquela batatinha não estava sequinha como ele gostaria que estivesse, mas pelo menos tinha com cara boa, quase honesta e o Pirilo arriscou colocá-la no prato, pois, acreditava que poderia encará-la sem arrependimento futuro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Fofó, você me ama muito?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Mais do que o céu e a terra, Quiquinha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Então não coma esta batatinha que está empaçocada de gordura. Imagine isso em seu estômago, Fofó.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu tenho que comer algo, Quiquinha, senão o Pereira vai notar e perco ponto lá no trabalho. Ele é filho de português, lembra o que disse?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Pega, então, umas folhas de alface que eu levo ao banheiro e lavo tudinho. Eu trouxe aqui na bolsa o meu limpador de legumes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Como você quiser, minha vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E desistindo de trazer para o prato as batatinhas que, para ele, não estavam tão paçoquentas quanto a Belinha achava, Pirilo substituiu-as pelas desinteressantes alfaces. Pensando bem, dentro dos aspectos culinários, o Pirilo não acreditava que pudesse existir algo que fosse mais desinteressante que uma folha de alface. Talvez o rabanete...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não posso acreditar. Dr. Pereira, olha aqui esses dois com cerimônias. Não estão comendo nada! Vão ficar apenas na alface! - era o Afrânio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Já estamos no segundo prato, Afrânio…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Que mentira, Pirilo. Você é lá homem de comer alface. O rei da buchada de bode da Lapa.</div>
<div style="text-align: justify;">
Um piano caíra sobre a cabeça de Belinha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Buchada de bode? - perguntou quase em vômitos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Sim, buchada de bode. Ele comia duas de madrugada e raspava o prato com as migalhas do pão. Você vai agora me desmentir, Pirilo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Isto é coisa do passado…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Quer dizer que você já comeu buchada de bode? - perguntou Belinha com uma cara de nojo. Não podia creditar. Era ultrajante. Repulsivo. Eca! Como poderia ter beijado aquela boca que um dia saboreou os restos de um bode? Não é à toa que em diversas oportunidades achara a saliva de seu marido um pouco salgada. Era a buchada. Só poderia ser aquela maldita buchada que ficara entranhada para sempre em suas gengivas. Talvez por isso ela tivera aquela infecção na boca há dois meses... Só podia ser a buchada...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Buchada? Buchada é pouco. Esse cara era doido por língua de boi, orelha de porco e testículos de carneiro. Os testículos ele chupava-os como se fossem cerejas. Se lembra, ô meu? Na porta do Maracanã…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Orelha de porco, testículos de carneiro à porta do Maracanã? E esse era o homem que ela escolhera para compartilhar a vida, até os últimos dias de sua existência? Aquilo não era um homem. Aquilo era um depósito de lixo! Eca!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O Pereirinha se aproximou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E fazendo cerimônia aqui na minha casa, Pirilo? Me dêem seus pratos, que eu vou fazê-los para vocês. E quero vê-los vazios para a repetição. Vou ficar melindrado se encontrar restos de comida.</div>
<div style="text-align: justify;">
Belinha não podia acreditar. O tal do Pereirinha praticamente havia arrancado o prato de sua mão relutante e agora o enchia como se ela e seu Fofó fossem dois estivadores do cais do porto. E com todas aquelas coisas horrendas e pegajosas, que só uma mãe desnaturada podia ter preparado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Vamos ver. Essas costelinhas de porco, essas batatinhas que estão estalando, o quiabinho que é receita de minha avó, macarrão que é a especialidade da casa. Isso para começar. Porque, depois, os dois vão se esbaldar no carneiro que está sendo cozido na gordura dele próprio, ao estilo grego. Receita de minha mulher. Para você, Pirilo, vou mandar separar os testículos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao receber o prato em suas mãos, Belinha não conseguiu conter o grunhido de asco:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eca!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Se segura, Belinha. Por favor - ordenou consternado Pirilo entre dentes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Segura você, Pirilo. Ô chente! Ou você acha que eu vou comer esse macarrão nadando em óleo, esse quiabo que tem a baba grudenta e essas batatinhas que parecem uma paçoca? Nem morta, nem morta…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Mas foi a mãe do Pereirinha que fez...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Que fosse ele próprio. Nem morta!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O Afrânio tentou se chegar para ouvir melhor o que os dois pombinhos estavam discutindo em voz baixa. Mas o olhar reprovador de Pirilo o fez estancar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Arreda daqui demônio! – vociferou Belinha que estava possuída.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Afrânio obedeceu incontinente. Sua brincadeira fora longe demais. Os olhos da Belinha haviam deixado isto mais do que claro. Pirilo tentou contornar a situação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Pelo menos engana, minha gatinha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Como enganar? A não ser que eu tropece e deixe este lixo paçoquento cair no tapete desta grega porca.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tinha que ser grega aquela falsa magrela, pensou Belinha completamente fora de si. E o cheiro? Aquela comida cheirava a restaurante de terceira categoria no centro da cidade. O odor do óleo e o aroma sebento da gordura estavam agora entranhados nas narinas de Belinha que mal conseguia respirar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Belinha! Cuidado que ela é mulher do Pereira…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E só por isso deixa de ser porca? Carneiro assado na própria banha. Isso é fétido, Pirilo. Imagine o que deve ser o banheiro dessa porca? Um esgoto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E aí? - era o Pereirinha de volta, doido para saber a opinião de ambos - Gostaram do quiabo? - voltou a perguntar ansioso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Uma delícia, especialmente o quiabo. - respondeu o Pirilo, enchendo a boca com aquela gosma verde.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Receita de minha velha avó. Que Deus a tenha num bom lugar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Provavelmente no inferno, pensou Belinha emburrada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu sabia que você iria gosta Pirilo. Homem que não gostar deste quiabo é porque não tem cérebro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Coma que tem muito mais. Fazemos aqui de latões. Dia um dia para o outro. E você, minha querida Lindinha, do que mais gostou?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Belinha. O nome dela é Belinha, dr. Pereira. Belinha come muito devagar. Ela é do tipo macrobiótica. Mastiga bastante antes de engolir. - tentou atenuar Pirilo, pois, sabia que Belinha estava por explodir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Detesto coisas macrobióticas - deixou claro o Pereirinha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Nós também - concordou imediatamente o Pirilo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Mas entendi que sua esposa era macrobiótica...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Foi. Há alguns anos. Hoje mantém apenas certos hábitos como mastigar quiabo bem devagar e coisas assim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Quero sua opinião. Volto já - e o Pereirinha se afastou com o indicador em pé, a girar de um lado para o outro, sem ouvir o colossal “Eca!” de Belinha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Opinião? Que presunçoso da gota! Não é a toa que a avó dele deve estar nos quintos dos infernos. Eu não vou comer essa merda, nem morta. Nem vou ficar aqui ouvindo você se desmanchar qual um tapete, para este seu chefe.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Come um pouquinho, só um pouquinho, Quiquinha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Nem morta, Fofó. Só porque seu chefe cochichou todas essas baboseiras você acha que eu vou assumir um suicídio alimentar? Se ele ficar com abuso terá dois problemas. O de ficar e deixar de ficar! Isto se sobreviver a diarréia que terá amanhã pela manhã com todo este veneno.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Faça isso por mim Quiquinha, por favor.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Escuta aqui, ó Pirilo. Você comer buchada de bode e nunca ter me avisado já me deixou maluca.</div>
<div style="text-align: justify;">
Testículos de carneiro, orelha de porco, língua de boi… O que mais você comeu? Bosta de vaca, cérebros de macacos, olhos de serpentes, asas de morcegos? E beijando sua boca por todos esses meses?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não exagera, Belinha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Belinha? Pirilo? Aqueles dois chamando-se pelos próprios nomes. Hum! Tinha caroço naquele angu. Eles estavam prontos para entornar o caldo era só dar uma mexidinha... Afrânio, sentiu que a briga era iminente. De onde estava deliciava-se com aquele inicio de discussão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não exagera você, Pirilo! Não vou comer e pronto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Pois vai!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Belinha olhou com incredulidade. Era a primeira vez naqueles sete meses, quatro dias, 12 horas e alguns minutos que o seu Fofó aumentava o tom da voz e se dirigia a ela em tom imperativo. Teria sido a buchada que deixara seqüelas irreversíveis em seu cérebro?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Você está comendo queijo escondido. Seu cérebro o</div>
<div style="text-align: justify;">
está traindo, ou por acaso você acredita que manda em mim, ou no que eu como ou deixo de comer?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Você vai comer e pronto!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aquilo era demais. O caldo acabara de ser entornado!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não vou - respondeu ela batendo o pé, indignada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Vai, e vai comer agora, senão eu vou perder o emprego e, se isso acontecer, quem vai sustentar a sua esquizofrenia de fios dentais? Quem vai ter que sair de madrugada com chuva para comprar desodorantes bucais? Quem?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Esquizofrenia de fios dentais? Por acaso ser asseada com a boca agora é pecado? Você sabe quantos germens ficam acumulados em uma boca após as refeições? Não, você não deve saber. Afinal, como você poderia saber se raspa o prato de buchada de bode na Lapa e chupa testículos de carneiro à porta do Maracanã, como se fossem cerejas? Você e esta aquela grega, são porcos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Vê como você fala comigo, Belinha. - ameaçou ele de dedo em riste, engolindo a seguir tudo o que estava no prato para deixá-la ainda mais irritada e mostrar quem mandava naquela relação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Baixe este dedo Pirilo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Venha baixar!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Como estão os meus dois pombinhos? - perguntou o Afrânio sorrindo qual um vampiro, ao sentir o suave aroma de sangue no ar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Vá à merda! - responderam ambos a uma só voz.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Afrânio se retirou, pois sentiu que sua presença não estava agradando os afilhados de casamento, mas o fez satisfeito, ciente de que conseguira o seu intento. Aqueles dois modelos de virtudes hoje iam se engalfinhar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pirilo respirou fundo e chegou a conclusão que perdera a calma e que a Belinha não merecia ser tratada daquela forma. Belinha estava arrependida, mas não seria ela a primeira a dar o braço a torcer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Quiquinha, desculpe-me. Exagerei. Mas por favor pense no seguinte. Se você não comer eu vou acabar perdendo o emprego. Faz esse sacrifício por seu Fofó. Uma vez só. Eu juro que não caio mais numa arapuca como essa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E você quer que me suicide para que você não perder seu empreguinho?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Pense positivamente. Amanhã tudo estará no esgoto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Belinha fez cara de nojo só de pensar naquilo que seu Fofó havia sugerido. Como alguém poderia ser tão frio ao analisar uma refeição daquela forma? Mas pensou por alguns segundos, e chegou a seguinte conclusão. Valeria a pena ela criar problema em uma relação que era perfeita, por causa daquela pasta subaquática? Daquele despeitado do Afrânio? Decidiu que não. Não seria um prato de quiabo ou de macarrão que terminaria o seu casamento, muito menos com o seu estômago. Mas a cabeça do Afrânio tinha que estar naquele acordo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Você jura que briga de uma vez por todas com o Afrânio?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ele já está fora de minha vida. Não quero ver mais este filho da puta nem pintado de ouro. Agora entendo o porquê de sua ojeriza por ele. Ele quer criar discórdia entre nós. Você tinha razão. Aliás, você está sempre com a razão, meu jenipapo silvestre.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Você jura que esta será a primeira e a última vez?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Juro, meu Toblerone.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Você jura que nunca mais coloca na boca um testículo de carneiro, uma orelha de porco e todas aquelas coisas nojentas que um dia você comeu?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Juro pela alma de minha mãe. Isto é passado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Pela alma de sua mãe não vale, porque você nunca gostou daquela víbora. Jure pela sua potência sexual.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Exigiu ela fazendo menção de que ia derrubar o prato no tapete persa da grega porca.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Juro! Juro!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Ok, mas lembre-se que esta é a última vez que você me faz passar por uma situação semelhante. Seu Fofó endiabrado!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Sabia que poderia contar com você, minha quiquinha doidinha. Ti amo!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- E eu a você, meu jerimum-paranapuçá.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Seus narizes se encontraram num colóquio amoroso e logo a seguir ela engoliu um pouco do macarrão. Eca!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Afrânio do outro lado da sala estava inconsolável. Seu plano escorrera por água abaixo. Aqueles dois estavam de novo trocando caricias e juras de amor. Era pegajoso. A seu lado Rabelo esticou a mão cobrando a aposta. Aqueles realmente não iriam mais brigar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Horas depois, Belinha e Pirilo, ou Quiquinha e Fofó, já haviam se esquecido daquele entrevero. Uma rusga sem importância. Belinha havia engolido parte da comida horrenda, sem deixar que nada tocasse em sua língua e, logo a seguir, correra para o banheiro onde escovara os dentes e passara quilômetros de fio dental. Sua estada naquele banheiro fez com que uma fila se formasse à porta, o que, além de causar transtorno, já que o chope rolava solto, trouxe certa apreensão ao anfitrião da festa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Alguma coisa errada com a Terezinha? - perguntou o chefe apreensivo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Belinha. Ela se chama Belinha, dr. Pereira.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Sim, Belinha...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não, apenas uma leve indisposição. Está grávida. Adorou o quiabo. Aliás, quer a receita.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Essa é de família. Não posso ceder. Mas, sempre que fizermos, juro que chamo vocês dois. Parabéns, sempre é bom ser pai.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pirilo perdera uma boa oportunidade de ficar calado. Belinha saiu a seguir.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Como foi lá no banheiro? - perguntou ele, preocupado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Desinfetei tudo. Só espero que amanhã esteja ainda viva. Tudo culpa sua.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu sei. Você quer dançar?.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Nada me agradaria mais do que isto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Dançando no salão principal da mansão, eles haviam deixado para trás os problemas e estavam acabando de provar para o Afrânio que não havia seqüelas. Aquela união era para sempre.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Por essa não esperava. Esse casamento é indissolúvel. Desisto. - comentou Afrânio com Miriam que estava de mau humor, pois já não dava para ninguém há mais de uma semana.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não há indissolubilidade que se mantenha após um peido como estes - comentou a mal comida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Como assim? - assustou-se Afrânio, que resfriado como estava, não notara o odor, mas que agora parecia estar realmente interessado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Você não sentiu?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Não...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Era verdade. Um estranho odor estava agora presente naquela sala e vinha de Belinha. Ela sorria, mas sua face perdera aquela castidade alva e se mostrava um tanto esverdeada. Só podia ser o quiabo fazendo efeito, pensou o Afrânio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pirilo se mostrava tão feliz que não notara o que estava acontecendo. Como bebera chope, o que estava fora de seus padrões habituais, simplesmente ria à toa. O peido para ele cheirava como Bulgari e o barulho, como uma sonata de Beethoven. Pouco a pouco, no entanto, a situação foi se agravando. O quiabo estava se engalfinhando com a costela, para deleite do macarrão, e a bateria antiaérea comeu solta. Um torpedo após o outro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Existem três tipos de peidos na classificação dos chamados sonoros. O Peidinho, o Traque e o Rojão. Belinha, furtivamente, escalou aquela contenção hierárquica. Depois de dois ou três peidinhos, que cheiravam mais do que zumbiam, ela veio com o seu primeiro Traque. Foi rápido, seco e curto. Qual uma bomba de São João! Porém, capaz de criar um espaço em torno de si, com o afastamento dos casais mais próximos. Alguns outros presentes notaram, riram, mas relevaram. Afinal, a moça estava grávida, pois o Pereirinha tinha tratado de espalhar a boa notícia pelos quatro cantos da casa. Todavia, devido aos movimentos que fazia dançando, Belinha não tardou muito a soltar seu primeiro Rojão. E Rojão ninguém agüenta. Aliás, ninguém pode sair impunemente depois de ter brindado a todos com um rojão sonoro e fedorento como aquele. Parecia que a Belinha havia engolido um porco inteiro e este acabara de explodir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Imediatamente, um espaço se formou entre ela e o resto da festa. Houve uma debandada geral e o pobre do Pirilo, que o álcool parecia ter ensurdecido e privado do resto do olfato, perguntou inocentemente, com a idiotice própria dos bêbados apaixonados:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O que houve?</div>
<div style="text-align: justify;">
E o Afrânio não livrou a cara. Estava ai a chance de sua vingança. Partiu direto para a consumação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Tua mulher peidou!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Infâmia. Eu? - exclamou Belinha piscando os inocentes olhos azuis e provando que havia realmente perdido por completo o controle sobre suas paredes glúteas. E soltou outro ainda pior, de ampla sonoridade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Você agora ouviu? - desafiou o Afrânio, cujo suor gotejava na fronte.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Desta feita nem o grau etílico em que se encontrava o Pirilo fora capaz de deixar passar a desapercebido a flatulência de sua amada. A ele nem aos outros convidados que restaram na sala ao lado. O estampido soou qual um torpedo ao atingir seu objetivo e o cheiro a seguir, fez as moscas saírem em debandada. Algumas caíram sufocadas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Fofó, foi apenas uma flatulência...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Quiquinha, desculpe-me, mas isto foi um peido. Ou melhor isto foi mais do qual um peido. Isto foi um rojão!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Mas Fofo, só pode ter sido o quiabo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pereirinha que achegara-se, não pode conter-se.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Como você é capaz de falar mal do quiabo de minha avó dona Rosinha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Belinha, que não agüentava mais o Pirilo, o quiabo e muito menos a degenerada da avó do Pereira, deitou a boca no mundo:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Rosinha é a puta que te pariu, seu porco! Meu nome é Belinha!</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Fofó entrou com um pedido de divórcio litigioso. Pirilo nunca aceitou o fato de ter passado por aquela vergonha logo na casa de seu chefe e, posteriormente, ter perdido o emprego. Inserido no mesmo havia um pedido de indenização por perdas e danos contra a ex-mulher. O Pereirinha podia aceitar tudo, menos que o quiabo de sua avó fosse o acusado de toda aquela baixaria. Sua família tinha um nome a zelar, assim, não só despediu o Pirilo, como também o Afrânio. O Afrânio, que depois teve descoberta sua enrustida preferência homossexual e seu amor nunca confessado pelo amigo de infância, o Pirilo, não foi sequer aceito como testemunha ocular, auditiva e olfativa no divórcio. Passou o resto de sua vida carregando estandartes em passeatas gays. Belinha, embora vexada, tomou uma decisão. Não iria mais viver mesmo com um ser que a obrigara a se envenenar e que, além disso, era capaz de comer buchada de bode, saborear orelha de porco, deliciar-se com língua de boi e ainda por cima, chupar testículos de carneiro. Entrou com uma ação contra seu ex-marido, por tentativa de envenenamento e por transmissão de infecções bucais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E todos viveram tristes para sempre.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
Renato Gameiro </div>
</div>Friends of Hallandale Beach Clubhttp://www.blogger.com/profile/10565044858800447212noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-355405200958981661.post-39913516136994136612010-01-01T03:17:00.000-05:002010-01-01T03:17:00.305-05:00UM NOVO ANO, UMA NOVA MANHÃ, MAS TUDO MOFA...<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Mais um ano se passara. Mais uma coisa não se modifica:</span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> </span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">tudo mofa. O pão mofa, a carne mofa, a casa mofa, o cérebro mofa. Você mofa! Para alguns existe pelo menos a chance de recuperação ou mesmo de adiamento se houver manutenção contínua. Mas no geral tudo mofa. Fato irreversível na existência. Lei da vida.</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Velho mofa. Por maior que tenha sido a sua manutenção um dia ele mofa. E quando isto acontece tudo dói, tudo o irrita, tudo o faz se sentir com vontade de acabar com qualquer coisa em volta de si.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> O desprazer de saber que num dia foi capaz de fazer aquilo, mas hoje seja por conta de sua mente ou de seu corpo seja impossível concretizá-lo, torna-o cada dia mais inseguro. A dependência o humilha, o desumaniza. Você regride à situação do cão de estimação, velhinho, que dá mais trabalho do que alegria a aqueles que tomam conta. Uma bosta!<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Aristides assim pensava ao abrir seus olhos naquela manhã. O fez lentamente, sem pressa nenhuma, pois, a única coisa que velho tinha em excesso era tempo. Tempo para não fazer absolutamente nada. Mas sem saber porque, tinha um pressentimento que aquela manhã e aquele dia seriam distintos. Era um novo ano. Uma nova manhã que podia sentir que seria bela pelo aroma e pela luminosidade que adentravam pela janela semi-aberta de seu quarto. Uma desobediência que fazia todas as noites depois, que sua filha se retirava de seu quarto e se assegurava que ele estava deitado e dormindo. Onde já se viu o fato de se deixar uma janela aberta ser ocasionador de uma pneumonia. O problema era a idade do pulmão. Quando ele está nas últimas até banho frio dava pneumonia. Ademais, janela fechada trazia mofo. E o que ele menos queria era se sentir mofado.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Acordava antes da filha, fechava a janela e assim a mantinha até que a desmiolada saísse para o trabalho, quando então voltava a abrir. A escancarava. Adorava o movimento das cortinas leves, agindo qual sílfides em seu esvoaçar sereno e descompromissado. Que movimento. Que leveza. Que suavidade no contacto com o ar...<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Sentiu-se feliz que não havia mijado em sua própria cama. A disfunção lhe dera uma trégua. Bom sinal. Fez o sinal da cruz, tomou forças e lentamente soerguer seu tronco, conseguindo sentar sem a dor habitual que sentia em sua coluna. Outro excelente sinal. Tudo seria diferente naquele dia. Era um novo ano. Uma nova manhã. Uma nova fralda intacta... Sentia isto no interior de si próprio. Podia respirar o fato. Tocá-lo até. Tocou-o. Estava seco. Fora o sonho. Agora tinha a irrevogável certeza que o sonho que tivera naquela madrugada poderia cristalizar-se em realidade. E haviam um idiotas que dizia que velho não sonhava. Velho sonha. Sonha, vegeta e mofa! Três verdades que o acompanham.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Estar sentado, era mais uma vitória e lentamente ele com os pés alcançou seus chinelos. Sentiu inicialmente o frio do piso, mas logo a seguir a suavidade da pelúcia que envolvia aquele seu velho companheiro de todas as manhãs. Era a segurança que sempre sentia antes de chegar ao banheiro. Decidiu dar continuidade a seu destino. Era um novo ano. Uma nova manhã. Mas o velho chinelo... Sorriu e seguiu lentamente, mas ciente que aquela caminhada o levaria a um estágio distinto em sua existência. Afinal, era um novo ano. Uma nova manhã. Um novo mijo...<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> O ato de urinar por controle próprio o fez sentir-se novamente dono de si. Balançou lentamente seu membro. Fazia tempo que não o mirava. Como o chinelo, sempre estava lá quando precisava. Sentiu prazer até o último pingo, que não foi o da cueca, pois não a usará naquela noite, nem o fraldão que sua filha teimava que lhe seria útil. Este estava seco. Não dormira nu, da forma que chegara ao mundo e gostaria um dia, se despedir do mesmo. Mas estar nu, agora mesmo dentro de um banheiro que nem janelas tinha, era ao ver de sua filha outra forma de se contrair pneumonia. Ela parecia ter neuroses com pneumonias. Mas não com mofo. Já que era virgem e beata, aos 57 anos de idade. Logo, estava mofada dos cabelos aos pés. Só falava do padre, da igreja, do sermão, das atividades beneficentes, do que a congregação comentara a respeito dos últimos crimes apresentados no Jornal Nacional. Um bando de inúteis, mofados em toda suas mediocridades, que nada faziam, produziam ou geravam. Apenas discutiam coisas que não os levariam a lugar algum. Não haviam acordado para o fato que era um novo ano. Uma nova manhã...<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> De volta ao quarto, arriscou-se a chegar a janela nu como estava e pretendia permanecer. O fez lentamente, como tantos outros prazeres sentira desta mesma forma. A brisa que soprava branda e constante não tardou a encontrar o seu corpo e a sensação tenra de uma vida afora o fez sentir-se mais novo. Ela o pegou em cheio. O atingira no rosto e no peito cada vez mais franzino e destituído de músculos. Era uma brisa nova. Produto de um novo ano. De uma nova manhã. Seria ela capaz de lhe trazer a tão temida por sua filha pneumonia? Acreditava que não. Livrar-lo-ía sim, do mofo que estava tentando tomar conta de si devido aquela reclusão imposta por aquela virgem recalcada ao quarto que conhecia de cor e salteado, mas que não mais conseguia suportar. Odiava-o.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Ser velho era uma merda. Ser tratado como tal pior ainda. Mas aquele dia tudo seria diferente. Era um novo ano. Uma nova manhã e ele tivera o sonho. Não um sonho. Ele tivera o sonho. A revelação. Fora um aviso divino. A luz que necessitava para achar o final de seu túnel. Ou melhor daquele quarto que odiava, daquela cama que era sua maior inimiga... Ou melhor sua segunda maior inimiga. <o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Filha... nem mesmo de seu sangue ela o era. Desdemona era filha de sua mulher, produto de um primeiro casamento curto, e de um viuvez longa. Não tinha a sutileza, nem a beleza, nem mesmo o destemor da heroína de Shakespeare. Sempre fora uma tonta, temente a Deus e a pneumonia. Nunca notara o mofo que a recobria. <o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Conhecera-a com 14 anos quando já era uma pateta e nada se podia fazer para retroceder seu processo de imbecilidade mental. Tornara-se sua enteada depois de dois anos de namoro com Iara, e Iara valia todo e qualquer sacrifício. Mesmo o de ter sob seu próprio teto aquela parva. Primeira colocada no ginásio, no cientifico, no vestibular e na faculdade. E tudo isto para que? Para ser uma funcionaria de um banco mofado, a duas quadras de sua própria casa e ter sua carreira limitada a uma mesa com uma flor e dois porta-retratos. Todos igualmente mofados. E era virgem. Logo igualmente mofada.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Mofo... como odiava o mofo...<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Desdemona não namorara, não casara, não constituíra família e agora se achava no direito de culpá-lo pelo fato. Achava que a doença que levou sua mãe à morte ainda muito cedo e aquela outra que os médicos não sabiam diagnosticar, mas que fazia ele permanecer na cama a maior parte do tempo, eram os responsáveis por ela nunca ter tido tempo de procurar por um companheiro. Leda mentira. Ela era feia, chata, magra que nem um vara pau e mofada. Lia apenas a Bíblia e gostava tão somente de igrejas e orações. Da casa para o trabalho. Do trabalho para a igreja. Da igreja para o supermercado. Do supermercado para a casa. Quem poderia se interessar por uma coisa como esta? Talvez o padre. Mas este tinha seus votos a cumprir. <o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Era o primeiro dia do ano. O único dia que Desdemona se dignava a deixá-lo em paz. Não vinha checá-lo pela manhã. Mas o telefonava para saber se tudo estava bem. Entrava cedo no banco para aquelas enfadonhas reuniões de discussão de diretrizes. Ou melhor de como os bancos iriam ganhar mais dinheiro naquele ano, daqueles que conseguiam seu ganha pão honestamente com o suor de seu próprio trabalho. Bancos: uns sangue sugas. Uns parasitas. Uns mofados.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Ela ligaria em minutos. E eles não respeitavam sequer o que deveria ser um feriado. Contra senso infernal! O que lhe dava o direito de achar que um velho mofado como ele não poderia passar mal ou mesmo morrer no primeiro dia de um novo ano. De uma nova manhã. Seu ótimo relacionamento com o Senhor? Quem lhe dava o direito de determinar quando ele poderia ou não passar mal ou morrer? O simples fato dela ter aquelas reuniões e estar bem com as ordens do paraíso? Pois, que ela tomasse conhecimento que velhos morrem de Domingo a Domingo. Qualquer dia era dia e o primeiro dia de um novo ano não era exceção. E ele pedia todos os dias a Deus, que se um dia tivesse que ser levado a seus braços, o fosse no primeiro dia de um novo ano, só para aquela santa de pau oco, ter remorso e tomar ciência que toda aquela sua preocupação nos outros 364 dias, onde não haviam as reuniões de diretrizes, fora inútil. Mas para aquele aprendiz de santa, ele teria que estar bem no primeiro dia no primeiro dia de um novo ano, já ela tinha aquelas inoperantes e mofadas reuniões, antes da abertura das portas do banco. Que na verdade não seriam abertas ao público. Mas sim para ele...<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Olhou para o pulso. Estava fino e sem o seu relógio. O havia deixado na mesinha de cabeceira junto ao copo da dentadura. Olhou para aquela peça fictícia que tentava passar por real, mas que pelo menos o fazia ainda conseguir mastigar alimentos mais leves. Ela se mantinha impávida e mergulhada na água que assumia uma cor estranha. Era degradante, mas pelo menos submersa, não mofaria. Ele já tinha partes suficientes em seu corpo mofadas para ter outra em sua boca.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Baixou as vistas e mirou a mais mofada de todas. Seu órgão genital. Afinal foi assim que sua mãe o ensinou a se dirigir a seu membro. Que eufemismo. Pica soava mais real, menos pomposo e mais efetivo. Talvez ela tivesse mofado entre as suas pernas, por ter sido sempre tratado ridiculamente de órgão genital. Ou quem sabe por seu excessivo uso, afinal tivera uma saudável mocidade e Iara nunca negara fogo. Até mesmo pouco antes de fenecer.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Lentamente caminhou em direção de volta à sua cama. Apossou-se de seu relógio, assumiu sua dentadura, botou as calças e calçou suas antigas botas. Foi quando teve aquela dúvida. Não seria mais fácil se calçar as calças e se botar as botas? A língua portuguesa era mesmo deveras complicada. Nunca a entendera. Por isto estava repleta de acentos e definitivamente mofava. Como tudo naquele pais de merda que não tratava condignamente aposentados, como ele. Mesmo no alvorecer de um novo ano, de uma nova manhã...<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> Trabalhara, defendera com bravura sua bandeira em terras italianas, fora condecorado mas nunca recebera uma pensão condizente com o suor que deixara, na escola, nos campos de batalha e mesmo depois na chefatura de policia. Ganhara aquele relógio de ouro, com uma gravação a fogo que todo dia tocava sua pele, escrita por seus subalternos por ter sido, segundo eles próprios, sempre um exemplo de integridade, honestidade e destemor. E o que isto lhe trouxera? O que aquela honorabilidade o levara? Ao mofo. <o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify;"><br />
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Ninguém se lembrava mais dele, ninguém o visitava. Enquanto isto, aqueles que conhecera tão bem, que nunca foram brindados com relógios de ouro, mas roubaram muitos dos mesmos durante as suas pouco honestas vigências profissionais, hoje gozavam um final melhor, com muito dinheiro e a garantia que o mofo nunca os iria atingir. Mofo não atinge rico.<o:p></o:p></span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> </span><br />
<br />
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Caminhou lentamente, quase que se arrastando até o armário onde não teve dúvidas de pegar aquela camisa que Iara lhe presenteara, no dia de sua aposentadoria. Dois meses antes de fenecer. Que para ele era de muito maior valor do que o relógio de ouro que cada dia se fazia se sentir mais pesado em seu pulso. Colocou a gravata. Não tinha certeza se ainda saberia como dar o nó na mesma. Ficou feliz que sua ecmnésia não o havia feito esquecer. Existiam realmente coisas que seu pai lhe dissera que um homem nunca esquece. Andar de bicicleta e dar um nó em uma gravata eram duas delas. A terceira não tinha tanta certeza: o de ter sempre orgulho de si próprio. Talvez seu pai assim o pensasse por ter morrido cedo, em um desastre aéreo, antes de ter sido atacado pelo mofo.<o:p></o:p></span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> </span><br />
<br />
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Após colocar o velho paletó de tantas fainas, abaixou-se lentamente e com muito cuidado para não quebrar ao meio. Naquela caixa de sapato que mantinha escondida abaixo de outros sapatos que não mais usava, apossou-se de sua velha amiga: a Ritinha. A velha quarenta e cinco que como Iara nunca falhara, era uma das únicas coisas que possuía que não estava mofada. Trabalhara muito, como seu órgão genital, mas na realidade fora mais bem cuidada por ele. Nunca tivera uma gonorréia. O órgão, várias. Por isto mofou.<o:p></o:p></span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> </span><br />
<br />
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Voltou a encarar Ritinha. Bela. Sentiu prazer em empunhá-la. Ela mandara vários de volta para o lugar de onde nunca deveriam ter nascido. Orgulhava-se do fato. Não se deu ao luxo de colocar sua cartucheira. Ela era também uma velha amiga e entenderia o desconforto que aquilo causaria em seu ombro. Apenas deixou Ritinha assentar-se no fundo do bolso de seu paletó. Para manter o mesmo simétrismo em seu corpo, colocou o não mais usado cinzeiro, - presente de Iara - no outro bolso. O peso de ambos era quase idêntico. Trabalho perfeito. Ele ainda não esquecera de seus macetes.</span><br />
<br />
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Iara nunca mofara, pois era eternamente viva e jovem em espírito. Lhe presenteara com aquele cinzeiro, mesmo sendo contra seu vicio, que hoje fazia apenas um de seus pulmões funcionarem. Quis o destino que ela fosse antes, com um câncer no pulmão, sendo abstêmia, vegetariana e sem nunca ter tido vontade sequer de colocar um cigarro em seus lábios. Crueldades daquele que sua parva filha tanto respeitava e idolatrava. Muitos anos haviam se passado e iara nunca mais teve o ensejo de viver um novo ano, uma nova manhã.</span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> </span><br />
<br />
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Olhou-se no espelho. Não reconheceu-se. De há muito deixara de lado o hábito de olhar-se. Estava realmente mofado. Não era apenas impressão, ou coisa de velho bobo que não tinha nada para fazer, como a parva costumava dizer. Uma mofada bíblica...<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Consultou o de ouro. As portas do banco estariam fechadas, mas em vinte minutos que ele calculava ser o tempo necessário que levaria para vencer aquelas duas quadras, ele estaria lá. Acenaria para sua filha e já imaginava o torpor de sua expressão em imaginar como ele saíra da cama. Imediatamente faria o guarda o deixar entrar. Afinal mesmo em um novo ano em uma nova manhã, a rua era uma geradora de pneumonias. O sonho fora perfeito.</span><br />
<br />
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;"> </span><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Não saía fazia muito tempo. Muito tempo era maneira de dizer. Eram anos. Quase uma década. Outrossim, distâncias não mudam nem mofam... Outrossim, o que está a sua volta, sim...<o:p></o:p> </span><br />
<br />
<span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Como a si próprio, o velho Antônio da portaria não o reconheceu. Melhor assim. Seria uma inchação no saco escrotal ficar dando explicações de coisas que não tinham a menor explicação. Ele tinha uma vida a viver e Antônio, como toda aquela portaria de cara nova, estava mofado. E quase cego. <o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Afora, sentiu o calor que tanto sentia falta. Como era bom suar. Evitava o mofo. Olhou a seu redor, lentamente. Não conseguiu reconhecer aquela rua que fora durante quase toda a sua existência, parte de seu dia a dia. Havia uma nova farmácia na esquina e tinham acabado com a sorveteria do Lopes. Porque aquela parva não lhe avisara? Não lhe trazia sorvetes porque dizia que lhe poderiam causar pneumonia, diarréia e outras invenções de sua pervertida mente bíblica. Se tivesse dito que a sorveteria do Lopes fechara, ele não teria sofrido tantos anos com a ânsia de poder saboreá-los. Pérfida criatura. O mofo já lhe atingira realmente o cérebro. <o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Lembrou-se de quantas vezes de mãos dadas por ali passeou com Iara. Sentiu seus olhos úmidos. Em pouco se encheriam de lágrimas. Conteve-se. Estava mofado mas não derretido. Empertigou-se e seguiu a direção que achava ser a do seu banco. Caminhou lentamente, desviando-se das bostas dos cachorros, dos buracos no pavimento e dos pára-choques dos carros estacionados indevidamente na calçada. O Rio de Janeiro, realmente não mudara absolutamente nada em certos detalhes. Neste ponto não mofara. <o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Conseguiu atravessar a primeira rua. Teve o cuidado de dar alguns segundos para si, depois que o sinal abriu. Apenas por garantia. Estava certo. Duas viaturas haviam avançado o sinal. Um taxi e um esporte conversível que não conseguira reconhecer o modelo ou sequer a marca. Devia ser importado. Rico sempre adorou avançar o sinal. Nas ruas e em seus negócios. Rico era a única coisa que não mofava no Brasil. Estavam ilesos ao mofo e as leis. As desrespeitavam, pois, a eles não se aplicavam, mesmo em um novo ano e em uma nova manhã.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">No segundo quarteirão descobriu que a casa Mattos havia sido também extirpada em sua existência. Talvez tivesse mofado, afinal estava cheia de livros e papéis. Coisas que perecem com extrema facilidade. Quando então, quase foi alcançado por dois meninos em alta velocidade. Voavam sobre pranchas de rodas. Nunca as tinha visto. Não eram os velhos patins. Eram pranchas de jacaré minimizadas e com rodas. Talvez os patins tivessem igualmente mofado. <o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Novas lojas apareceram à sua frente. Não as reconhecia. Todo o velho comércio de Ipanema desaparecera. Era outro mundo. Outra Ipanema. Outra vida. Onde estariam seus antigos donos? Provavelmente mofados em seus quartos a espera de partir desta para uma vida melhor. Doce ilusão...<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Lembrou-se de Iara. Ela sempre quis um apartamento de frente. Se a tivesse ouvido, teria acompanhado da janela a evolução pelo menos de sua rua. De seu único contato com o mundo afora, via apenas as áreas de serviço dos apartamentos de um prédio vizinho. Conhecia todas as empregadas. Elas riam ao vê-lo passear nu pelo quarto.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Divisou a entrada do banco. Mudara. Era agora de vidro e mais moderna. Tinha até um individuo uniformizado e armado por trás dos mesmos. Segurança. Sabia que a cidade ficara ainda mais violenta. Via televisão de vez em quando. Adorava saber das desgraças. Elas o faziam sentir-se menos infeliz. Onde se mantinha cativo, tinha segurança. Mofava mas sobrevivia. <o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Fez um sinal para o guarda contatar-se com sua filha. O mesmo tinha as mesmas características de um símio. Físicas e mentais. Custou a entender. Mas um pouco e ele teria realmente sido atacado pela pneumonia. Mas sem o auxilio de uma banana ele finalmente entendeu. Sua filha teve a parte inferior de suas mandíbulas insustentáveis. Deixo-as pendentes. Mas pelo menos teve o reflexo de ordenar o guarda que o deixasse entrar.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Penetrou no recinto. Recinto... viatura... individuo... Meu Deus, sentia-se como em seus tempos na décima terceira da Nossa Senhora de Copacabana. Que deveria estar igualmente mofada, ou demolida.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Quando entrou a geringonça apitou. Haviam criado detectores de metal para as entradas dos bancos. Que modernidade. O guarda se aproximou dele. Tinha a mesma expressão de sua filha: parva.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- O senhor trás algum metal? Chaves? Moedas?<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Evidente que sim, senão aquela porra não teria apitado.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Um revólver – respondeu cinicamente.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">O individuo arregalou os olhos. Faltavam-lhe vários dentes em ambas as arcadas e um considerável volume de massa cefálica entre suas orelhas. Não tinha mais dúvidas. Era o par perfeito para sua filha. Dois mofados. Um macaco e uma banana! Mofados não, pútridos. Talvez fornicassem no final do expediente. Fez uma cara de velho bobo e sapecou:<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Estou brincando. São meus joelhos. Restaurados em metal. Não dá para retirá-los, o senhor há de convir...<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Ele como todo bom parvo acreditou. Afinal o que um velho murcho e mofado estaria fazendo armado? Sorriu e o convidou a entrar. Pobre idiota. Era mais que um símio. Era um símio retardado.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Reconheceu sua filha em uma das salas de vidro da esquerda. Tinha dois elementos de origem árabes à sua frente. Provavelmente estava extorquindo os últimos centavos de ambos, com os juros indecentes que aquele banco cheio de frescura deveria cobrar. Ela rezava a noite e extorquia durante o dia.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Todos os funcionários ali presentes eram mais jovens do que ele e tranquilamente o poderiam render. Mas a vida lhe ensinara que todos os poderes foram obtidos pela força. A fraqueza e a covardia, incitam a opressão e o despotismo. Ninguém deu bola para ele. Porque haveriam de dar? Era um velho mofado? Só os coveiros lucravam com pessoas como ele. Todos mais pareciam interessados em seus tarefas, suas máquinas que usavam sem o menor constrangimento. Seria mais fácil do que no sonho. E afinal era um novo ano, uma nova manhã...<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Sentiu que o guarda deu as costas para ele. Sua filha levantou-se. Ambos nunca iriam pressentir qualquer perigo. Era um parvo, com cérebro de mico retardado e que nunca deveria ter tido a oportunidade de empunhar uma arma consigo. E uma banana podre que só pensava na Bíblia.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Em um movimento ágil apossou-se da arma do vigilante e deu um tiro para cima. Com a outra, trouxe Ritinha para fora do bolso de seu paletó. Todos os olharam. Inclusive sua filha que não parecia acreditar no que seus olhos lhe diziam. Agora é que aquela sua mandíbula inferior não voltaria mais para o seu lugar. <o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Bom dia macacada!<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Sem exceção todos os ali presentes o olharam com estupor, mesmo sendo um novo dia, de um novo ano, de uma nova manhã.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">- Todos no chão. De bruços. Isto é uma assalto seus mofados!<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">Obediência geral e irrestrita.<o:p></o:p></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;"><br />
</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><span lang="PT-BR" style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: 11pt;">A única que desobedeceu a principio foi sua própria filha. Ela estava branca qual cera. Mas logo deitou-se igualmente ao solo, pois, tinha convicção que nenhum homem esquece de como portar uma arma de fogo. Seu pai muito menos. E ele agora tinha duas em suas mãos.</span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 0.5in;"><span style="font-family: 'Bookman Old Style'; font-size: medium;"><span style="font-size: 15px;">Renato Gameiro</span></span><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0in; text-align: justify; text-indent: 0.5in;"><br />
</div>Friends of Hallandale Beach Clubhttp://www.blogger.com/profile/10565044858800447212noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-355405200958981661.post-41672711341960174232009-12-09T11:31:00.000-05:002009-12-22T10:15:36.761-05:00DIA 01 DE JANEIRO NO AR<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBmnES3xJlbMIFeFZdCYZEA0xeVXzf5sD7_QO_LxdfV_cYxtY9RxJupyVmYscaekjWhcE2NO0sebdlQRqbBHT8gRpdtXWtZGg1OCSLDaZYUqWfEwPI_LJKFiTPUtrzbkeKe_sugjv0zPA/s1600-h/Renato+Gameiro+e+Kako+-+DSCF0965.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBmnES3xJlbMIFeFZdCYZEA0xeVXzf5sD7_QO_LxdfV_cYxtY9RxJupyVmYscaekjWhcE2NO0sebdlQRqbBHT8gRpdtXWtZGg1OCSLDaZYUqWfEwPI_LJKFiTPUtrzbkeKe_sugjv0zPA/s320/Renato+Gameiro+e+Kako+-+DSCF0965.jpg" /></a><br />
</div>CAROS AMIGOS<br />
<br />
O <span style="color: lime;"><b>MEUS CONTOS, MINHAS CONTAS </b></span>ENTRA EM VIGOR NO DIA 01 DE JANEIRO<br />
<br />
A CADA SETE DIAS, TODA SEXTA FEIRA UM CONTO PARA VOCÊ SE DELICIAR NO FIM DE SEMANA.<br />
<br />
É PROIBIDO PARA MENORES DE 18 ANOS E PARA MAIORES DE 70 ANOS.<br />
<br />
SE TORNE JÁ UM SEGUIDOR, POIS, <br />
ACHO QUE VOCÊS VÃO GOSTAR.<br />
<br />
RENATO GAMEIROFriends of Hallandale Beach Clubhttp://www.blogger.com/profile/10565044858800447212noreply@blogger.com1