sexta-feira, 26 de março de 2010

O SUÍCIDA DA PISCINA



Então era aquele, o famoso mar do Caribe? Parecia realmente limpo e brando. Tudo como fora prometido pelo pacote que havia comprado pela Internet. Mas seria mesmo? Olhou com mais cuidado.

Aquelas águas que agora beijavam os pés do jovem casal, não lhe pareciam diferentes a de outros oceanos como o Atlântico, o Pacifico, ou mesmo o Indico. Conhecera a todos. Quem não lhe garantia que aquela água, meses antes não estivesse na costa da Califórnia ou cerca de Portugal? Os dois jovens pareciam pouco se importar com esta possibilidade. Quando se é jovem, principalmente recém casados, tudo soa como as mil maravilhas. Até molhar as barras de suas calças.

Sabia como funcionava. Quatro foram os seus casamentos. Quatro foram suas luas de mel. E quatro foram os advogados que lhe limparam o cofre. Estava liso. Lisinho, na acepção da palavra. Pobrezinho de “marré de ci”!  A crise que ora se implantara no governo Bush o pegara em cheio. De frente. Sem piedade. Qual uma britadeira desgovernada a procura de um poste que estancasse com a sua vertiginosa queda. E ele agira qual o poste. Sentira a aproximação do problema e simplesmente mantivera-se rígido. Sem se mover. A espera de um milagre. Que nunca veio. Quem apareceu foi o primeiro advogado. Urrava qual um animal desvairado por aquela pensão alimentícia não paga. A de sua primeira mulher. Ao, veio o segundo, o terceiro e antes que o quarto batesse à sua porta decidiu: se mataria.

Quando se está por baixo, com merda até o gogó, não falta gente para afundar sua cabeça com o salto de suas botas. E ele estava endividado, arruinado. Mas não mais. Que as quatro serpentes venenosas arcassem com suas dívidas. Ele decidira. Partiria desta para uma melhor. Mas sempre tivera um problema para com a dor. Nunca iria enfiar uma bala em sua cabeça, muito menos se atirar do trigésimo segundo andar do edifício em que tinha seu escritório na Lincoln street em Chicago. Morava em casa, logo da janela de seu quarto, nada surtiria efeito. Tinha que achar uma maneira. Pensou primeiramente em envenenamento. Algo definitivo, mas sem dor.

Veneno? Não. Isto causaria muitas dores no estômago e sangos lamentáveis. Usar o gás, era uma opção. Outrossim, tudo em sua casa e em seu escritório era elétrico. Maldita modernidade! O carro? Como, se o perdera? O banco havia lhe tomado seis dias antes. Eletrocutamento? Uma banheira, um rádio e fim. Mas havia dor. Veio à sua mente, imediatamente a imagem de alguém tremendo, com olhos esbugalhados. Desistiu. Foi aí que decidiu pela  asfixia.  Era lenta, mas praticamente sem dor. Mas de que forma? Enforcar-se estava fora de cogitação. Devia doer muito. Foi a única vez que o Saddan Hussein nem impropérios expeliu. Assim sendo, ninguém lhe poderia convencer que pescoço quebrado não lhe traria dor. Como era difícil tirar a sua própria vida... Como era duro a vida de alguém que queria tirar a sua própria.

Quando achava que não existia mais uma forma de se suicidar sem dor, lembrou-se do filme em que a escritora Virginia Wolf se mata entrando lentamente em um rio. Seu semblante estava sereno. Talvez fosse esta a solução: afogamento... Mas não em Chicago a trinta graus abaixo de zero! A dor que sentiria ao entrar na água seria terrível. Congelaria seus ossos, pararia com sua circulação. Ficaria roxo. Irreconhecível. Totalmente fora de cogitação.

Mas sempre havia a possibilidade de procurar por águas mais quentes. Mas como se estavam em pleno inverno? Brasil. Sim aí talvez estivesse a solução. Leu tudo sobre Ipanema, Copacabana e Leblon. Praias do Rio de Janeiro. Funcionaria. Mas era longe para burro. Sempre detestara viagens longas. Causavam-lhe tédio e desolação. Ademais havia muito crime nas ruas do Rio de Janeiro. Poderia ser baleado antes de alcançar o mar. Foi quando decidiu pelo Caribe. Entrou na internet e escolheu o mais caro pacote existente na mesma. Cancun. Gran Mélia Cancun. United primeira classe. Dinheiro nunca fora o problema. O problema era agora a falta do mesmo.

Mas este seria um problema da United, da rede Mélia e do American Express, pois, não estaria ali para pagar. Aquelas quatro vagabundas é que se virassem em suas camas para fazê-lo. O provedor já era. Fora! Que respeitosamente enfiassem em seus respectivos orifícios anais aqueles papéis erigidos por seus advogados de cobrança de pensões alimentícias. Pela primeira vez em suas vidas, aquelas quatro víboras iriam suar para conseguir colocar comidas em suas mesas. O parvo se fora e em grande estilo. Num resort catalogado na propaganda da Internet como seis diamantes e deixando uma garrafa de Don Perignon recém aberta nas areias frias e alvas do México.

Final digno de quem um dia foi alguém, mas que confiara em Wall Street e que se quebrara de azul, vermelho e branco, ao som do hino norte-americano. Ele que conseguira escapar da convocação do Vietnam, da queda das torres gêmeas não fora capaz de sobreviver a ânsia especulativa dos homens de Wall Street e das burrices do little Geoge.

Sentiu o lado irônico da questão. Bin Ladden havia explodido com Wall Street. Agora era Wall Street que explodia com o resto da humanidade. Sorriu qual uma hiena. Não tinha uma carniça a devorar, mas mesmo assim algo lhe fazia feliz. Talvez fosse este o último prazer de um condenado. Sua última refeição. O que aliás ele o fizera e não poupara com a mesma. Carregara sua conta de hotel com tudo que tinha direito, ali naquele restaurante metido a besta e que pouco tinha de cozinha mediterrânea. E se dera ao luxo de levantar, fazer um brinde e alertar a todos os outros de sete mesas completas, que toda a despesa daquela noite era por conta dele. Pela primeira vez foi aplaudido de pé.

Houve um que lhe perguntou o porque de tão despojada atitude. A ele e a todos que esperavam curiosos por sua resposta, bradou: “ganhei na loteria, estou multimilionário. Caprichem em suas sobremesas!

Mas isto era passado. Ele teria agora que esperar que aquele casal saísse dali para ele penetrar no mar e dar fim a sua existência. Consultou seu relógio. Passava da meia noite. Sentou-se em uma das palapas. Grandes invenções mexicanas. Tequila e palapa...

Bebeu mais uma taça da champanha e sentiu que aqueles dois não iriam arredar pé dali tão cedo. Estavam seduzidos pelo barulho do mar e aquela lua em quarto crescente ou decrescente, que postava-se a frente deles. Pareciam hipnotizados com o rastro prateado sobre a superfície oceânica. Era realmente arrebatador. Voltou a consultar seu relógio. Passaram-se quinze minutos e eles permaneciam de mãos dadas. As vezes beijavam-se outras abraçava-se. Não ia funcionar. Pelo jeito iriam fazer bodas de prata e não lhe dariam a privacidade que necessitava para suicidar-se. Sim privacidade. Suicídio é coisa séria e para ser levado a efeito de forma solitária. Foi ai que lhe veio em mente o fato que talvez seu corpo nunca viesse a ser encontrado. Este é o problema do mar. Seja ele do Caribe ou do Mediterrâneo. Te leva para onde quer e no caminho você não está livre de ser abocanhado por um tubarão.

O American Express e suas quatro ex-mulheres achariam que ele entrara como México a dentro e desaparecera para viver em alguma republiqueta da América do Sul. Ameaçara a Margareth em uma oportunidade, ao negar-lhe a pensão ao dela se separar naquele verão em Acapulco. A desgraçada estava dando para o instrutor de tênis e ao ser flagrada armou um escândalo para reverter toda a situação. E o pior é que a reverteu... Como não pensara nisto antes. Mar era realmente um problema. Seu corpo poderia não ser achado e aquelas quatro vampiras de sapatos altos, não pagariam rapidamente por seus pecados e suas dividas. Levariam anos, a espera da certeza de seu corpo ser encontrado. Que mancada! Viajara todo aquele chão e agora chegava a conclusão que sua opção não fora a perfeita. Talvez sua terceira mulher estivesse a razão: ele era uma besta! Não é a toa que com ela casara...

Mas havia a piscina... Olhou para trás. Afinal quem não tem mar, caça com piscina. Ademais, suicidar-se em águas doces, salgadas ou cloradas não iria fazer a mínima diferença. E aquele baita hotel tinha duas. Duas enormes e compridas piscinas. Uma nem tão comprida, mas pelo menos reservada aos clientes reais como ele. Não importa. O importante é que eram igualmente fundas. Levantou-se, subiu as escadas com a garrafa e o cálice em suas mãos e chegou ao patamar superior.

Macacos me mordam! Eram iluminadas a noite. Se alguém estivesse em uma das varandas, o veria suicidar-se e poderia chamar por socorro. Seria por demais ridículo ser retirado da piscina ainda vivo e depois de ter dito a todos que ganhara na loteria. Mas quem estaria àquela hora da noite na varanda? Só um maníaco. Mas apenas maníacos iriam pagar o preço daquele hotel. Seis diamantes... Sua torre, a cinco, estava cheio deles. Caminhou em direção a dois. Remediado dormia cedo.

- QUE MERDA!

Onde a desgraçada da piscina tinha seis pés de profundidade o que equivaleria a um homem de 1,82 de altura havia igualmente muita luminosidade. Na extremidade, onde a visão de quem estivesse na torre 1 era parca, estava destinada o espaço das crianças, a parte rasa da mesma. Tinha que ser ali mesmo em frente a dois. Pelo menos não parecia haver ninguém por perto. Deu uma geral. Todos deviam estar recolhidos. Pouquíssimas luzes acesas. Hora de agir. Pousou a garrafa e o cálice ao chão, olhou novamente ao redor para se certificar que ninguém estava na espreita e iniciou seu descenso ao fundo da piscina. Iria afundar que nem o Titanic. A água estava fria. Tremeu do fio do cabelo ao dedão do pé. Seis diamantes e a piscina não era sequer aquecida.

Mas deixou de frescura e foi deixando seu imenso corpanzil afundar lentamente.

- O que o senhor está fazendo?

Assustou-se. A voz era de criança e o corpo também. Logo, tratava-se de uma criança. Encarou o menino. O que crianças daquela idade estariam fazendo por ali a aquela hora da noite? Não tinham pais? Que aquele guri estava aprontando ali sozinho, na beira de uma piscina? Tinha a intenção de igualmente afogar-se?

- Vá procurar seu pai! – ordenou com tom de pouco amigos.

- É o que estou fazendo. O senhor não o viu?

O desgraçadito” devia ser argentino. Faltava-lhe um dente na arcada superior e seus olhos estavam vermelhos como recém chorosos. Não tinha mais que oito anos. Era franzino, remelento e com cara de argentino. Trajava uma camisa surrada de um time de seu pais. Azul, com uma barra amarela. Fraco gosto cromático.

- Não.

- Então me ajuda a procurá-lo?

Negar-se faria aquele filhote de Maradona chorar ou quem sabe pentelhá-lo pelo resto de sua existência, que ansiava apenas por ser breve. O jeito era concordar e se livrar daquele chato.

- Talvez esteja no fundo da piscina. Vou procurar e volto já.

Estava gordo. Não conseguia submergir com facilidade. A força de suas banhas o fazia voltar a tona antes que seus pulmões cedessem.

- Achou?

Era o pentelho do guri. Será que perdera seu game-boy?

- Ainda não. Vá a outra piscina e veja se ele está por lá. Deixa que por aqui procuro eu.

- Tenho medo do escuro. Não quero ir lá sozinho.

Que mala sem alça era aquele bastardinho.

- E como veio até aqui?

- Vi o senhor e me senti com coragem.

O guri tinha resposta para tudo. Devia ser filho de político ou advogado.

Começou a sentir frio. Se não se afogasse logo, talvez morresse de pneumonia. Uma vontade imensa de urinar estava tomando conta de seu ser. Comprimiu as pernas. Mijar ali? Mas aí já era muita sacanagem. Urinar na piscina era coisa de desclassificado. Se bem que morrer nela, era uma sacanagem ainda maior. No mínimo interditariam a mesma e isto deixaria os hospedes alucinados, pois, estava programado 36 graus para o dia seguinte.

Sair da piscina para catar um banheiro lhe pareceu igualmente ridículo. Mas que merda aquela vontade de urinar logo agora que estava a beira de dar fim a sua vida. Pensou melhor: porque estaria se preocupando se o seu encontro com a morte tardaria não mais do que alguns minutos. Cedeu a pressão de sua bexiga. Seu rosto desanuviou-se
- Paeeeeeee

Seguiu a direção dos olhos do menino. O paieeeeee era branco, alto, forte e tinha cara de poucos amigos. Esquecera-se de fazer a barba e tinha um dos botões de sua camisa, perdidos. Divorciado ou viúvo. Tinha cara de argentino, tipo de argentino, cheiro de argentino. E como todo argentino que dera certo nascera no Uruguai. Mas mesmo demonstrando ter posses, parecia um búfalo que acabara de ser rejeitado sexualmente por uma de suas búfalas. Os dois homens entreolharam-se. A reação do que acabara de chegar foi imediata:

- O que o senhor está fazendo?

Tal pai tal filho. Pareciam pertencer ao mesmo gravador.

- Mijando.

Foi a resposta sem sentido, mas cheia de sentido que conseguiu proferir. Talvez a proximidade da morte o estava fazendo pela primeira vez em sua vida, a falar a verdade.

- Mijando? E isto é lugar de se mijar, ô cara? E na frente de meu filho?

- Não me venha me dar lição de moral seu abandonador de crianças.

O grandão arregalou seus olhos. O que um merda ridiculamente baixinho, gordo e careca estava tentando insinuar? Que ele abandonara seu próprio filho? Aquilo não iria ficar por ali só.

- Eu acho que você está querendo que eu lhe quebre o nariz.

- Não será preciso se dar a este trabalho. Pois saiba, que eu queria apenas me suicidar, mas este pentelho encravado do seu filho não está me deixando. Agora que se encontraram, porque vocês não levantam acampamento e me deixam acabar com minha vida?
- Acabar com a própria vida? Numa piscina? Um pelotudo! Com um oceano a sua frente escolhe uma piscina e agora culpa meu filho por não ter ainda conseguido se suicidar.

- Trata-se de uma história longa, mas resumindo gostaria de ter certeza que irão achar o meu corpo. No mar não teria esta garantia. Ademais não consegui me suicidar no mar, porque...

- Que loucura é esta que o senhor está dizendo?

A voz era feminina. O sotaque brasileiro. E a dona da mesma era a que a poucos minutos era amassada por seu jovem marido, abaixo na praia. Os dois haviam resolvido subir justamente naquele momento.

- E mijando na piscina? - atalhou aquele que a amassava a pouco.

Olhou para ambos. Se queriam a verdade a iriam ter!

- Vocês não sabem o que é um casamento e estão querendo agora me aplicar uma lição de moral. Pois saiba você – e disse olhando fundo nos olhos castanhos do jovem que acabara de entrar em cena – daqui alguns anos será você mesmo que estará mijando em alguma piscina e tentando suicidar-se. Pois esta que agora você venera e o trata qual um príncipe, se tornará amarga, cobradora e terá dor de cabeça toda hora que você quiser sexo. E depois que você lhe der um filho, lhe mostrará sua verdadeira face. Vai lhe tirar até o último centavo de sua conta bancária. Falo isto com conhecimento de causa. Na lua de mel elas são esplendidas. Seja aqui ou no Tahiti. Mas no frigir dos ovos nenhuma vale a merda que cagam. Não é a toa que saíram de uma costela. E nunca fizeram parte da santíssima trindade. Deus preferiu uma pomba a uma mulher.

- Paeeeee.

- Cala a boca pentelho. Não vê que estou falando? As quatro com que me casei agiram todas de uma mesma forma. Elas aprendem com as mães desde garotinhas.

Os quatro coadjuvantes da cena se entreolharam. Aquilo estava mais parecendo uma cena de filme de Fellini do que propriamente a realidade que estavam sendo obrigados a participar. Um mijão suicida que detestava o casamento. Provavelmente um corno. Certamente um baixo caráter.

- Olha cara, eu só não vou aí dentro te cobrir de porrada, pois, você vai se suicidar e assim poupar meu trabalho! Mas nesta coisa de mulher, você está certo. São todas iguais.

- Porco chauvinista - como seu companheiro permanecesse calado, complementou irada – E você Raul não diz nada? Está concordando com este suíno mijado e com este cafajeste cucaracho?

Raul que tinha a metade do tamanho do Gardel e não estava afim de se molhar, pegou sua mulher pelo braço e sussurrou a baixa voz:

- Querida, o senhor está a beira de suicidar-se...

- Que se mate. Ele sim não vale um minuto sequer de nossa atenção. Vamos subir.

- Você vê. Ela já tem as rédeas do casamento. Você não passa de um polichinelo no picadeiro da vida de sua esposa. Que vai o trair com o primeiro professor de tênis.

Instintivamente Raul largou a mão da esposa sem nome.

- Pai porque o senhor me abandonou como o senhor disse?

- Cala a boca pentelho – E por vias das dúvidas assegurou-se de fazê-lo com um tapa na boca do menino.

O menino, o que menos entendia de toda aquela pantomina e que tinha sua mão até ali atada a de seu pai, fê-la desprender-se. Estava desiludido com seu pai. Queria apenas subir para seu quarto. Correu para dentro do seis diamantes. Seu progenitor não tinha dúvidas que o mijão à sua frente tinha mesmo que morrer. Era um criador de discórdias! E onde já se viu mijar numa piscina na frente de crianças. Que exemplo estava ele dando para seu filho? Seria um pedófilo? 

A recém casada arrependera-se da repentina piedade que fora acometida para com aquele grosso que acabara de colocá-la no mesmo patamar das galinhas com quem foi casado. Também um traste gordo e careca como este o que poderia ter como esposa? Qual a mulher que iria para a cama com aquilo? Só puta! E quem ele pensava que ela era? Uma pobretona que nem aquelas que casaram com ele? Pois, ficasse ele sabendo que ela era a rica na união. Pobre era o seu marido. Deixou isto claro num português, que ele na piscina, mijado não pode entender, muito menos o pai irado que agora seguia o caminho de seu pentelho mirim.

Raul encrespou-se. O que Sheila pensava que ele era? Um polichinelo no palco de sua riquinha existência? E seriamente passou a pensar duas vezes sobre o que tinha acabado de fazer na tarde anterior na igreja da Glória. Seriam todas elas iguais? Quem nem feijoadas? Boas no inicio, pesadas no final?

Em segundos, os quatro cavalheiros que visualizavam o apocalipse desapareceram de suas vistas. A única que manteve até o final seu olhar de maçarico para com ele foi a mulher. Os demais simplesmente o ignoraram. História de sua existência.

Mijado, ignorado, mas pelo menos sozinho, sentiu que era hora de dar um ponto final em seu destino. Já que lhe era impossível afundar, boiaria. Porém de cabeça para baixo.

Olhou para a lua que assistia a tudo aquilo impávida. Altaneira como sua segunda mulher. Sem luz própria como a terceira e distante como a primeira e redonda que nem a última. Olhou a volta da mesma. O céu permanecia cheio de estrelas, já que até as nuvens haviam se negado a comparecer a aquela que seria sua cena final. Hora de ir desta para uma outra melhor.

Sorriu. Terminara com chave de ouro sua existência. Possivelmente acabara com um casamento, certamente marcara de forma definitiva o relacionamento entre um pai e um filho, mijara na piscina de um seis diamantes e iria deixar um pepino enorme para o American Express descascar e outro para as suas quatro hidras sanguinolentas engolir. Restava-lhe agora apenas morrer. Boiou ao contrário.
E assim se foi para sempre, pelo menos desta vez, feliz da vida. 


4 comentários:

  1. que suicida maluco é esse, qual seria o nome dele??que morrer e tem medo de bala perdida no Rio de Janeiro?? só rindo . Tantas considerações para morrer e dá de cara com uma criança a procura do pai perdido, coitado..ou será que seria um sinal.
    Mulheres tão amadas e depois as eternas culpadas, sem bem que algumas são culpadas de verdade.
    Adorei, morri de tanto rir na parte da conversa a beira da piscina entre todos os personagens e a dissertação a respeito do casamento..muito bom

    ResponderExcluir
  2. Fiquei atenta do começo ao fim...perfeito!!!
    Me senti a quinta participante da piscina...a garota, o marido, o garoto, o pai, o suicida e eu...bem realista e engraçada. Parabéns, vc sabe muito bem o que faz e melhor...faz com maestria. Beijos!!!

    ResponderExcluir
  3. Adoreiiiii.Mas acho que afogamento deve ser uma morte horrivel.Imagine só vc boiar de bruços pra quem nao quer sentir dor acho pessimo ia levantar rapidinho.Um dia eu quase me afoguei em ilha bela(nao quero nem lembrar)e acho que seria uma pessima morte.Prefiro mesmo ser eletrecutada na banheira rsrsrs.Mas enfim a historia foi otima ainda bem que ele escolheu assim porque caso contario a historia nao teria sido genial e digna de um conto.Parabens Renato

    ResponderExcluir
  4. O proximo conto..... uma vagabunda oriunda de São Paulo perdida na trama das suas mentiras.

    ResponderExcluir